domingo, janeiro 08, 2017

Daniel Serrão

Os mortos não são como os comboios nas passagens de nível: um não esconde o outro.

Imagino que o professor Daniel Serrão, que hoje desapareceu, nunca tivesse votado em Mário Soares. No entanto, embora oriundo de uma área muito diferente de pensamento filosófico e político, não deixava de representar um relevante setor nacional, integrante do nosso património intelectual como país.

Daniel Serrão, nascido em Vila Real, era presidente do Conselho Superior da AGAVI, uma associação sem finalidades lucrativas criada no Porto para a defesa dos produtos regionais, que também faço parte desde 2012. (Na imagem, Daniel Serrão utiliza a gravata da Confraria do Vinho do Porto, onde também éramos confrades).

No dia em que ambos tomámos posse na AGAVI, na Alfândega do Porto, recordei-lhe um episódio passado no Lar Universitário Gomes Teixeira, na rua da Torrinha, em 1966. Queixas por atos de indisciplina tinham obrigado a Reitoria a uma intervenção de emergência. Daniel Serrão reuniu então com os utentes do lar, para tentar alguma impor alguma acalmia. "Não me diga que o meu amigo era um deles?! Nunca, na história da universidade do Porto, se viu tanta anarquia num lar!", disse-me.

Entre gargalhadas, revelei-lhe que, nesse ano, fiz uma única cadeira do meu curso de Engenharia Eletrotécnica. Àquele ritmo, aliás, estaria a acabá-lo mais ou menos agora, se entretanto não tivesse mudado de agulha...

Deixo o meu pesar pela morte do professor Daniel Serrão.

2 comentários:

Luís Lavoura disse...

Eu não tenho pesar nenhum pela morte dele, mas sim pela forma como morreu: vítima de atropelamento numa passadeira. É uma vergonha, uma ignomínia, que coisas destas continuem a ocorrer em Portugal. E que raramente alguém seja punido por elas, ou então que as punições sejam imensamente ligeiras.

alvaro silva disse...

Era um excelente Homem e óptimo professor, dos tais que marcam os alunos pela sua justeza, imparcialidade e carácter. Por essa razão foi "saneado" em multitudinária RGA de Medicina no antigo IEP, onde o quorum comunista e socialista era assegurado pelas comissões de moradores do bairro de S. Tomé e de alunos desse instituto. O que levou a que a votação dos alunos de Medicina fosse contaminada. Teve um mérito fiquei vacinado para a democracia de mão no ar (sem identificação dos que Têm direito a voto, sem penetras). Eu estive lá!

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