Sempre tive amigos jornalistas na área económica. A maioria conheci-os quando estava no governo, outros criei-os quando era embaixador, alguns (poucos) desde que estou ligado ao setor empresarial e passei a escrever com regularidade nos jornais.
A imprensa portuguesa necessita de jornalistas económicos como de pão para a boca. Cada vez mais a vida política anda à volta das temáticas económicas, assuntos que antes eram especializados e só abordados por iniciados, marcados por um léxico próprio e inescapável, passaram a fazer parte corrente da nossa vida e da nossa conversa.
Para ajudar o público a ler essas realidades, com independência mas com rigor, o jornalismo económico é em absoluto indispensável. Há sempre versões em torno dos números, é necessário explicar a perspetiva de A, que contradiz a de B. É importante dar ao leitor, ao ouvinte ou ao telespetador o leque de interpretações possíveis, para que este possa, com total liberdade e sem condicionamento, fazer o seu próprio juízo, sem pretender convencê-lo de que uma visão é melhor do que a outra. Fazer jornalismo económico requer conhecimentos, rigor, independência e respeito pelo utente recetor da notícia.Com o tempo, esses meus amigos e amigas que eram jornalistas deixaram, um dia, de o ser. Isto é, não deixaram de ser amigos, deixaram foi de ser jornalistas, embora continuassm a trabalhar nos "media". Passaram, quase na sua totalidade, a ser comentadores - que é uma coisa muito diferente de ser jornalista.
Agora eles já não enquadram as notícias, não são independentes na análise dos números, não dão crédito equiparado às diversas leituras. Eles tomam partido, "acham", passaram ao "na minha opinião".
Centeno diz uma coisa? Eles permitem-se o "não acredito que". O BCE prolonga o "quantitative easing"? Eles estão "convictos" que, a prazo, a sustentabilidade dessa política anti-deflacionária "não será conseguida". Moscovici dá as previsões da Comissão para o nosso défice em 2017? Eles acham "otimistas" essas notas prospetivas. Centeno, Draghi e Moscovici têm equipas económica a sustentar as suas declarações. Eles têm-se a si próprios: "eu já no mês passado tinha aqui dito que..."
Não têm, esses meus amigos e amigas, o direito a comentar a coisa económica? Ora essa! Claro que sim! Os comentadores são indispensáveis.
Mas a comunicação social necessita urgentemente de, para os lugares deles, contratar jornalistas, gente que nos traga e exponha as notícias, sem tomar partido, sem dar bitaites, à Krugman ou à Stiglitz. É que, por muito despiciendo que isso possa parecer, esses antigos jornalistas não são prémios Nobel da Economia. Ainda.
2 comentários:
Toda a razão. Mas não é só de jornalistas económicos é de jornalistas com qualidades
João Vieira
Discordo em absoluto. A última coisa de que precisamos é de jornalistas e comentadores. Sobretudo económicos. Aliás a estes e fácil acertar. Basta dizer que vem aí uma crise e se viverem mais de 5 ou 6 anos acertam. O que precisamos é de nos livrarmos de pessoas que pensam que a economia é uma ciência. Veja-se um caso. A maioria dos ministros franceses são economistas. Os alemães são juristas. É para dizer: jornalistas e políticos juristas, regressem, estão perdoados.
Fernando Neves
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