segunda-feira, dezembro 05, 2016

Ainda as Lajes

... mas desta vez nada tem a ver com os militares. Refiro-me à aterragem de emergência, ontem, no aeroporto das Lajes, na Terceira, nos Açores, de um voo da Qatar Airways. (Isto é motivo para um post? Que falta de imaginação!, devem estar a pensar. Mas já verão porquê!). Ao que parece, os traumatizados passageiros, entre eles alguns feridos por uma queda abrupta do avião, foram sujeitos a largas horas de espera. Um jornalista da Al Jazeera, que também nele viajava, filmou a indignação dessas pessoas e foi dando disso conta ao mundo. 

Milhões de cidadãos de várias nacionalidades, que só remotamente tinham até então ouvido falar de Portugal, ficaram a associar o nosso país a um acolhimento de "terceiro mundo", a uma burocracia sem sentido, a uma desorganização qualificadora de um país desagradável. Algum do esforço que por todo o mundo é feito para promover Portugal como um país "idílico" para o turismo, desde logo os próprios Açores, pode ter-se perdido nessa imagem negativa, na boca dos qataris e americanos entrevistados.

E, no entanto, a verdade pode não ser necessariamente essa.

Uma aterragem de emergência é isso mesmo, é uma emergência, que deve ter uma maior dificuldade em ser enfrentada por se tratar de um fim-de-semana. Além disso, aquele nosso aeroporto tem as condições que tem, é uma infraestrutura com um quadro de recursos humanos naturalmente impreparados para operações com aquela dimensão logística, pelo que deve ter tido de improvisar a resposta imediata.

Mas há um ponto que particularmente me impressionou: a queixa sobre o tempo que demoraram os procedimentos de verificação da identidade de todos os passageiros, que só podiam sair do aeroporto, para se instalarem em hotéis, depois de verificado se algum de entre eles estava impedido de entrar em território europeu. Ora, ao levar a sério esses procedimentos, ao não "facilitar", as autoridades aeroportuárias da Terceira deram apenas mostras de grande sentido de responsabilidade e profissionalismo. Imagino que seria "o bom e o bonito" se acaso, numa falha em matéria de controlo de segurança, alguém suspeito se tivesse escapulido...

E, confesso, apeteceu-me responder a um preconceituoso passageiro americano, que passou muito nas televisões, que ter passaporte americano não é sinónimo de não se ser um criminoso e que, em matéria de "racial profiling" em aeroportos, em particular no que respeita a não praticar discriminação contra "pessoas com cor indiana", não recebemos lições dos EUA. Até o nosso primeiro-ministro tem essa cor...

18 comentários:

Anónimo disse...

Mas as cores (meio-indiana, no caso, que o resto é do Seixal) também desagrada aos racistas citadores de alegados Tocquevilles que medram como pústulas extremistas no postado acerca do congresso do PCP.

Joaquim de Freitas disse...

Oh, como as suas palavras soam justas, Senhor Embaixador. Li a noticia e tive o mesmo desejo de escrever ao tal passageiro americano, que considera o seu passaporte um “laissez-passer” imperial, que serve para tudo, incluindo para torturar gente no Iraque e em Guantanamo…

A esse propósito, dá-me licença de postar isto, que escrevi há um ano e hoje? Obrigado.

“RACISMO ABJECTO
Quando li pela primeira vez este comentário sobre o monhé, o cigano, a cega e a negra, dum indivíduo retardado, segundo parece uma jornalista, escrevi algo sobre o assunto. Mas só sobre a negra.
Estando exilado há meio século, tinha completamente esquecido o termo "Monhé"! Tive que pedir a alguém que me relembrasse a significação. E quando me respondeu, o termo fez "tilt" na minha memória: mas claro , cá está, foi esse termo que ouvi em Moçambique, quando fui lá em trabalho comercial. Já lá vão 60 anos ! No tempo em que ainda era "só" Português. Explico : nessa altura vivia em Portugal e era viajante de comércio na indústria têxtil com as "províncias ultramarinas" , onde era necessário um passaporte para lá entrar! Eram "províncias" especiais !
Eu até tinha alguns clientes "monhés"! Por vezes grandes firmas e para mim grandes clientes. Conservei boas recordações deles. Eles faziam parte desse mundo para o qual os vizinhos da África do Sul, tinham inventado uma palavra que os classificava: "Apartheid". Descobri com horror o efeito quando fui a uma estação dos caminhos de ferro, em Pretória, e li a tabuleta: "Whites only" e "coloured only" !
A estes "WASP" , um dia, um "coloured" vai dar-lhes uma lição de tolerância , depois de ter passado 27 anos na prisão de Robben Island: Nelson Mandela.
Um dia , farto de fascismo e hipocrisia religiosa, mudei de vida e de país, e emigrei. E continuei a viajar , na Índia então , e no mundo. E vendia tecnologia , " high tec". mesmo , e não mais produtos têxteis. Os meus clientes chamavam-se Honda, Bajaj, Tata, Maruti, Toyota, Skoda, Hyundai, Ford, Fiat, Daimler-Chrisler, General Motors, etc,etc.
E quando vi os "Monhés" da Índia , de Tata, comprar a firma Jaguar e Land Rover, e investir em UBER - France, entre outros, disse cá comigo : Que pena que Salazar não tivesse cedido a governação de Moçambique aos "Monhés"!
Agora, não estou completamente de acordo com o Senhor Pacheco . Quando Obama foi eleito, os reaccionários da direita, e não só, diziam " O negro Obama" , como se ao Kennedy tivessem chamado "O branco Kennedy". Se continuarmos assim, vão dizer que o sangue dos dois não é igual, isto é, vermelho! As características físicas dos indivíduos não devem ser objecto de marca especial. Quando viajava aos EUA nos anos 60, na ficha que devia preencher no avião, antes da aterragem em Kennedy Airport, devia mencionar a minha religião e o meu partido político. Felizmente que evoluíram e isso desapareceu.
Vivo em França, onde nos dias que vivemos, o problema de pertença a uma ou outra raça ou/ e religião, põe problema. Como devemos dizer : Muçulmano francês ou Francês muçulmano?
Judeu francês ou Francês judeu? Católico português ou Português católico? Budista francês ou Francês budista? Claro que em princípio, para mim o problema não se põe pois que pertenço a uma das principais religiões do país, as duas primeiras sendo a Cristã e o Islão.
Grande problema, entretanto, porque supõe fronteiras que na realidade não existem, ou não devem existir. Porque há 1 500 milhões de muçulmanos no mundo, e 2 200 milhões de cristãos, o maior grupo, sendo metade católicos e metade protestantes, e outros ortodoxos, repartidos em centenas de países, a paz impõe-se entre as religiões. Não esquecer que as guerras de religião foram sempre as mais longas e as mais mortíferas. Algumas começaram há séculos e ainda perduram hoje.

jj.amarante disse...

Também me irritou essa observação sobre a importãncia do passaporte americano, como uma espécie de livre-trânsito. Se esses passaportes garantem um tratamento preferencial nos serviços de fronteiras dos Estados Unidos da América do Norte parece realmente incompreensível para alguns cidadãos americanos que o mesmo não se passe nos serviços de fronteiras dos outros países!

helena Andrade disse...

Publiquei no facebook sem autorização sua. Desculpe

Retornado disse...

Os afrodescendentes lusos agora exigem um tratamento "DIFERENCIADO" e já se queixaram às Nações Unidas contra Portugal.

"Todos diferentes, ninguem igual", deve ser a ideia dos novos portugueses que trouxemos das Áfricas.

Agora que até já temos no Panteão Eusébio ao lado de Amália, vêm estes agora exigir diferençiamentos.

A Europa vai pagar com língua de palmo, o abandono de ÁFRICA.

Aquilo não foi independência dos "filhos", isso é demagogia.

Na realidade foi abandonar "crianças na rua" que agora cresceram e pedem responsabilidades aos pais.

Isabel Seixas disse...

Tem toda a razão, ou seja concordo plenamente.
Aliás o atual presidente do queixoso quando entrar em funções operacionais não vai facilitar, bem isto se a brisa dos seus humores ainda soprar na direção das promessas de campanha, o que eu duvido, já nem sequer há lunáticos como antigamente, ou seja no verdadeiro acesso da palavra sofrem mutações logo desde o inicio e durante a governação que eles próprios nem imaginam,passam logo pelas metamorfoses de girino a sapo e estou mesmo em crer que deveriam fazer estágio no governo antes de encetarem a campanha mas um estágio de 3 anos e só depois dos méritos provados terem nota para se candidatar...

Penso que chumbavam, ou não...

Anónimo disse...

A mim preocupa-me é que abrem a Terceira aos voos baratos mas, depois, praticamente não há transportes públicos entre o aeroporto e Angra! Isso é que é mau serviço!!!

Anónimo disse...

Aliás muitas dessas pessoas de cor escura a nivel mundial já se deram conta de que podem tirar proveito disso ao estarem sempre a queixarem-se de racismo e discriminação para obter vantagens que de outra forma não teriam direito a elas. Quando muitos brancos esses sim são vitimas de todo o tipo de discriminação nos seus próprios Países e toca a calar.

Anónimo disse...

"Retardado" é uma tradução à letra do "americano". Em português diz-se "atrasado [mental]".

Anónimo disse...

"6 de dezembro de 2016 às 11:14"

é um proveito do caraças que os dessas cores têm tirado. Nos EUA, então, enchem até os corredores da morte. Mas do que o ariano Trump - que nem é branco, é cor-de-rosa - se lembrou foi da vitimização branca, que os militantes do Ku Klux Klan e do partido nazi local sofrem bué.

Anónimo disse...

Isabel Seixas parece inocente. Trump apenas fez promessas de campanha, acha. Duvida que continue a soprar para esses lados. Tá bem.

As indicações de nomeação já feitas mostram o pior. Os contactos feitos com contrapartes intrnacionais também, mas Isabel Seixas aposta na esperança, em vez de se cuidar.

Esperança é diferente de ilusão, e o que a comentadora faz é iludir-se.

Que, ao menos, com essa conversa, não ajude a iludir alguns papalvos, que achem em Trump caminhos de redenção não sexistas, não xenófobos, não intolerantes, não amigos da pena de morte, não amigos das deportações de massas.

Anónimo disse...

""Retardado" é uma tradução à letra do "americano". Em português diz-se "atrasado [mental]"."

conductor de taxi ou chauffeur?


-chauffeur é do tempo em que havia uns tipos que punham a lenha na caldeira de uma maquina a vapor... https://fr.wikipedia.org/wiki/Chauffeur

-http://www.priberam.pt/dlpo/retardado

Isabel Seixas disse...

Caro anonimo das 13:30, de forma alguma , nem sou inocente nem despreocupada e obviamente que concordo consigo.

Agora dramatize no como é que é possível após todo o tipo de incontinência verbal de forma e conteúdo a escolha do povo americano, que desespero e desnorte.

Não inflacione a importância de um mero textito irónico e desde logo inócuo, de qualquer forma obrigado pela atribuição da capacidade de persuasão e condutora de massas, mas aí a candura não é minha...Fique descansado, por mim não tema.

Anónimo disse...

Não sou tão optimista quanto Isabel Seixas. Uma Isabel Seixas somada a muitos que fazem tangentes ao que diz acima ajudam a naturalizar o discurso de Trump. Uma só pessoa conduz massas lá em casa, já muitos somados no espaço público(entre os que estão a sério e os que estão a brincar)...

E esse esforço, já denunciado do seu interior ideológico por Pacheco Pereira, tem sido feito por muitos em muitos jornais portugueses. Depois queixem-se.

Anónimo disse...

"conductor de taxi" é coisa que não existe. Primeiro, porque se escreve "táxi" e, segundo "conductor" é coisa que não existia nem antes do AO.

Há sempre uns palermas prontos a justificar a ignorância dos outros.

Anónimo disse...

As promessas de Trump a cumprirem-se http://www.dn.pt/mundo/interior/trump-nomeia-para-a-agencia-ambiental-procurador-da-industria-fossil-5540816.html

Anónimo disse...

Mais Trump entre o conversado e o feito, para memória futura (e de Isabel Seixas - que já aqui não deve vir)

http://www.tsf.pt/internacional/interior/ceo-da-exxonmobil-devera-ser-secretario-de-estado-dos-eua-5545401.html

Anónimo disse...

Mais avisos de Trump, agora com a China:

http://www.dn.pt/mundo/interior/china-seriamente-preocupada-apos-trump-questionar-principio-de-uma-so-china-5547336.html

Liberdade

Já faltou menos para surgir por aí alguém a propor a Ordem da Liberdade para os fundadores do ELP e do MDLP. E também já faltou menos para l...