(De um desses jogos noturnos, defendendo as cores da Caixa em futebol de salão, guardei um episódio divertido. A certo passo, num pavilhão quase deserto, "dei um frango" monumental. Na bancada por detrás da baliza que eu defendia, estava sentado, sozinho, um miúdo com uns doze ou treze anos, provavelmente ali do bairro próximo. Mal a bola se afastou para o "centro do terreno" e eu fiquei isolado e algo humilhado com a minha "nabice", ouvi-o chamar-me, muito à moda lisboeta: "Ó vizinho! Vizinho!!!". De início, não dei atenção. Mas ele insistiu: "Ó vizinho!". Acabei por olhar, de soslaio. E lá o ouvi, com um sorriso trocista, lançar-me uma onomatopeia crítica: "Piu!...")
Anos mais tarde, comecei a notar que o nome de "futsal" passou a ser utilizado nas notícias relativas ao antigo futebol de salão. Para mim, tratava-se de um sucedâneo menor do "desporto-rei", tal como o era o futebol de praia, razão por que nunca atribuí à modalidade mais importância do que aquela que lhe dávamos nas horas de diversão bancária de outros tempos. Mas fui-me dando conta que muita gente se entusiasmava com os resultados, em especial porque o futsal havia passado a ser titulado pelos principais clubes portugueses - e isso era garantia segura, por um processo de emulação clubista, de um reconhecimento público.
Um dia, ao tempo em que era embaixador em Brasília, recebi uma comunicação da federação portuguesa informando que a "seleção nacional de futsal" ia disputar um torneio na capital federal brasileira. Devo confessar, hoje com algum sentimento de culpa, que olhei para a informação como se se tratasse de um campeonato de sueca - porque, tendo deixado de ser leitor regular da imprensa desportiva, desconhecia, em absoluto, que o futsal tinha ganho uma importância desportiva já algo significativa, com dimensão internacional. Quem me conhece sabe que, ao tempo em que exercia funções diplomáticas, nunca foi meu costume furtar-me a estar presente junto de representações nacionais, fosse de que áreas fossem. Mas, porque tinha, "on the back of my mind", essa avaliação depreciativa da modalidade e porque as noites em que os jogos se disputavam estavam já ocupadas, recordo-me de ter pedido a um colaborador para passar pelo local das provas. Tenho, porém, a sensação de ter acrescentado "se puder..." ou coisa idêntica, não o comprometendo totalmente com o encargo. A verdade é que ninguém da representação diplomática portuguesa terá contactado os dirigentes federativos portugueses ou estado presente aos jogos principais, nos quais a seleção portuguesa terá tido um comportamento brilhante. Semanas mais tarde, a federação reagiu por escrito, insatisfeita com a falta de atenção por parte da embaixada. Vistas as coisas à distância, a federação tinha razão e fora eu quem fizera uma má avaliação da importância que, entretanto, o futsal viera a ganhar.
Tudo isto serve apenas para dizer que ontem, dia em que o Sporting ganhou, de forma esmagadora, ao Benfica em futsal, não me senti com grande autoridade para afivelar um júbilo por aí além. É que, para mim, continuo a não ter pela prática do futsal um apreço maior do que aquele que, por exemplo, sinto pelos matraquilhos. Mas deve ser defeito meu, pela certa. Embora eu goste bastante de matraquilhos, note-se!
5 comentários:
No torneio de futsal do Conselho da Europa a equipa "Representações Permanentes", que integrava dois portugueses, foi derrotada esmagadoramente pela poderosa equipa " Gabinete do Secretario Geral". Embora o torneio tenha sido ganho, como de costume, pela imbativel equipa "Funcionarios de distribuição do Secretariado" (antigamente conhecidos como "continuos"), o Centro Norte-Sul deveria ter este torneio em atenção.
O seu texto foi publicado às 00:02 de dia 17(Publicado por Francisco Seixas da Costa às 00:02), portanto, 2ª feira. E, neste caso, o ontem, é domingo. E que eu saiba, no domingo, o Sporting foi derrotado pelo Benfica, em Futsal.
Nada como as coisas no seu devido lugar.
É que... uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
JR
Não representei a CGD em nenhum interbancário mas joguei nos anos oitenta no seu campeonato interno no tempo em que não se podia levantar a bola acima do joelho, se jogava com tabelas, não se podia atrasar para o guarda redes e só se podia chutar de fora da área, suponho com as mesmas regras com que jogou.
Partilho entanto da sua opinião.
Gosto mais de matraquilhos (pelo menos chutam com os dois pés).
E não é que eu também andei no Futebol de salão da CGD? Já somos três!
Já agora, uma pergunta a Fernando Frazão: Quando eu trabalhava na CGD(Cantanhede), aquando da informatização dos serviços, veio uma equipa de Lisboa (DOI, salvo erro) dar formação aos funcionários,em que um dos elementos se chamava Frazão. Seria o Senhor?
Eram três elementos, uma Manuela e outro que já não me recordo o nome.
Perdoe-me esta curiosidade e, caso não seja essa pessoa, as minhas desculpas!
PS-Fiquei a conhecer o seu blog "Bluebarry" e tem que continuar a escrever!
PCoelho
Em primeiro lugar quero pedir desculpa ao Sr. Embaixador de utilizar a sua caixa de comentários para enviar uma mensagem a um antigo colega que, já agora, também é seu.
Amigo Coelho é verdade sou eu.
Belos tempos passados em Cantanhede. Deixemos em paz o Sr. Embaixador. O meu mail é timanelfrazao@gmail.pt.
Abraço
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