terça-feira, junho 11, 2013

Lúcio Alcântara

Ao tempo em que eu era embaixador no Brasil, havia - e creio que ainda haverá - uma única limitação para a atividade dos representantes diplomáticos estrangeiros, no período que antecedia a sua apresentação de credenciais ao presidente da República, cerimónia que poderia demorar alguns meses a ter lugar: não era formalmente adequado pedirem audiências aos governadores dos Estados, muito embora tivessem toda a liberdade para se encontrarem com ministros ou quaisquer outras personalidades oficiais, imediatamente após a sua chegada ao país.

Num desses meus primeiros dias de Brasília, recebi da portaria da embaixada a indicação de que estava lá o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, que pretendia ver-me. Recebi-o de imediato e disse-me, logo à entrada, esta simpática frase: "eu sei que o embaixador, por enquanto, não vai poder  solicitar qualquer encontro comigo. Mas a mim nada me impede de vir ter consigo, para o cumprimentar e desejar-lhe todas as felicidades no seu novo posto".

Nunca esqueci este gesto de Lúcio Alcântara. Nas várias vezes que fui ao Ceará, oficial ou particularmente, encontrava-o com regularidade, estabelecendo com ele uma sólida relação de amizade, que consagrava também a permanente atenção que ele sempre dava aos interesses portugueses no Estado. Quando deixou o cargo de governador, lembro-me de lhe ter telefonado, cinco minutos antes da meia-noite, hora do termo das funções, para lhe dar um abraço de amizade e respeito. Recordo ainda a sua amável presença no jantar da minha despedida que, em 2008, foi organizado em Fortaleza pela nossa comunidade no Ceará.

Esperava poder encontrar o governador Lúcio Alcântara na cerimónia que teve lugar em Fortaleza, no dia 7, durante a qual me foi entregue um prémio pela comunidade luso-brasileira do Ceará. Fui informado que ele não estaria presente, por estar no estrangeiro, mas não deixei de o mencionar na intervenção que fiz na ocasião, contando, aliás, o modo simpático como nos tinhamos conhecido.

Regressei do Ceará ontem, de manhã. À tarde, nas escadas de acesso a um parque de estacionamento, em Lisboa, com quem deparei? Com o antigo governador do Ceará, Lúcio Alcântara. Ainda dizem que não há coincidências... 

3 comentários:

patricio branco disse...

agradaveis surpresa e encontro. teria ele vindo com a presidente, possivelmente...

Isabel Seixas disse...

Essa coincidência bem exploradinha podia ser atribuida a nossa Senhora da Aparecida, às energias cósmicas, várias teorias explicativas da parapsicologia reforçando a força da Sua mente, ao Seu padroeiro,a elixires etéreos de pais de santo , às leis das probabilidades ... Ao acaso.

Anónimo disse...

As coisas não acontecem por acaso, acontecem porque têm de acontecer ...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...