quarta-feira, junho 26, 2013

Referências

Em Portugal, convencionou-se dizer que há dois jornais diários "de referência": o "Público" e o "Diário de Notícias". Eu sei que o JN ou "Jornal de Notícias", tal como o "Correio da Manhã" não gostam desta qualificação, que subtilmente os menoriza, tanto mais que vendem muito mais do que os tais "de referência". E imagino que o "Diário Económico" e o "Jornal de Negócios" só não reajam porque vivem no seu nicho específico de mercado. O mesmo acontece, à semana, com o "Expresso", que parece evidente não temer deixar de ser "de referência", em favor de "O Sol" e, muito menos, do "O Diabo". Já as revistas, "Visão" e "Sábado", como se policiam mutuamente, não correm riscos maiores. Dos desportivos já nem se fala: "A Bola" já foi a grande "referência", mas a perda da sua independência, ou melhor, a confirmação plena do seu alinhamento clubista, tal como acontece com o "Record" e, ainda mais desbragadamente, com "O Jogo", deixou esse mercado já sem nenhuma "referência". Poupemos as revistas sociais e cor-de-rosa, onde as "referências" são outras, entre futebolistas, modelos e "big sisters", e, ao sol do dia, já trabalham afincadamente para o bronze e, à noite, para os cartões de ingresso nas festas algarvias. 

Voltemos então aos diários "de referência". Para notar que o "Diário de Notícias" anunciava ontem, com euforia: "DN foi o jornal que mais subiu no trimestre". Bingo! Imbatível! Leia-se agora o "Público", também de ontem: "Audiência do 'Público" cresce 5,7%, em contraciclo com diários generalistas". Caramba! 

Não li as notícias, claro. Haverá por aqui qualquer contradição ou passa-se com os jornais o que se passa com os partidos em noite de eleições? Isto é, todos ganham?

Quando hoje se abrir a edição do dia destes jornais "de referência", já ninguém se lembrará dos exageros eufóricos de ontem. Porquê? Porque, neste meio, funciona a velha máxima: "o jornal da véspera só serve para embrulhar peixe". Ou melhor, hoje nem isso!, porque a ASAE agora não deixa. Nem peixe nem castanhas!

Em tempo: o "Expresso" junta-se às "referências", titulando, modesto, que "O 'Expresso' foi o único jornal a aumentar as vendas"

7 comentários:

Jacinto Saramago disse...

Dantes também serviam para limpar o rabo, mas agora sujam muito...

Abç.

JS

Anónimo disse...

O peixe concordo, agora as castanhas!
Até sabem melhor no cartuchinho do jornal!

patricio branco disse...

tudo isso me parecem cantos de cisne, a imprensa a definhar, quase moribunda, quem compra jornais diariamente? sempre são uns mil € ano, a qualidade deixa muito a desejar, o bom jornalismo já pouco existe, mesmo 1 jornal como o monde pouco tem que ler, o dn e o publico folhei-os em sitios publicos, cafés que os têm, fnac, online, e afinal que adianta saber hora a hora as noticias para o comum dos cidadãos como eu? por isso já não compro jornais, cortei todas as assinaturas que tinha menos de 2 jornais culturais, deixei de ver os tj, leio só o que gosto e não é por isso que deixo de estar informado, de saber e sentir as más noticias, sinto-me melhor cortando com a informaçao directa, é higiene mental, tempo para outras coisas para mim mais intrerssantes, felizmente que posso fazer assim, não tenho obrigações ou imposições profissionais, bem, leio este blog diariamente com gosto, e mais 2 ou 3, etc etc

Anónimo disse...

Os jornais em Portugal são um caso muito peculiar quando se percebe que aqueles que teem maior tiragem, são os que versam sobre "football", com termos muito técnicos que às vezes só os iniciados entendem. Parece-me que está tudo dito.

Anónimo disse...

Cá em casa forram os caixotes do lixo, desde que me conheço como pessoa.

EGR disse...

Senhor Embaixador:cada vez mais me interrogo o que significa isso de ser um jornal de referencia.
De facto não consigo descortinar onde está o padrão para poder aferir.
Defeito meu certamente.

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Quanto às castanhas havia também a variante das páginas de listas telefónicas, umas amarelas, outras meias cinzentas... Não se lembrarem de acabar com a venda de castanhas na rua, já não é nada mau...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...