sexta-feira, junho 07, 2013

Facas

Estar em Nova Iorque, como embaixador, aquando dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, tornou-me testemunha de um agravamento súbito das regras de segurança que passaram a vigorar em toda a sociedade americana e que logo se espalharam pelo mundo. Em particular, assisti à compreensível histeria que passou a marcar as viagens aéreas, dando origem ao modelo, mais ou menos generalizado, que hoje vigora e que transformou a generalidade dos aeroportos em locais desagradáveis, morosos e fatigantes.

(Uma curiosidade: três décadas antes do 11 de setembro, nos anos 70, recordo-me que o "shuttle" aéreo entre Washington e Nova Iorque funcionava da seguinte forma: colocávamos a bagagem num balcão, recebíamos uma senha para a recuperar mais tarde, davam-nos uma outra senha numerada para embarcar, os lugares não eram marcados e pagava-se o bilhete às hospedeiras já a bordo, durante a viagem. Controlo de segurança era um conceito desconhecido. Aqui sim, pode aplicar-se com propriedade a expressão "bons tempos".)

Ontem, ao viajar na TAP entre Lisboa e Fortaleza, dei por mim a refletir sobre o facto dos talheres da refeição serem todos de metal. E a recordar que, aqui há uns anos, no serviço de bordo de muitas companhias aéreas, mesmo em primeira classe e classe executiva, só havia, durante muito tempo, facas de plástico, mesmo já em épocas anteriores ao 11 de setembro. O curioso é que essa medida de "segurança" coexistia com o uso corrente de garfos metálicos e de copos, bem como de pequenas garrafas de vidro, instrumentos que, no caso de uma ação violenta, seriam tanto ou mais perigosos que as facas. Sendo que os riscos não parece terem diminuído, já me tenho perguntado por que raio de lógica, nesses tempos, as facas eram de plástico e sã hoje de sólido metal. Que mudança de critério terá tido lugar na cabeça dos especialistas? E, já agora, qual é a razão pela qual, ainda hoje, não nos permitem viajar com uma navalha ou um canivete mas, logo de seguida, nos põem à disposição facas metálicas?

Não se veja no que acabo de escrever uma qualquer defesa do regresso às sinistras facas de plástico, aliás inusáveis em bifes e com as quais tive "acidentes" gastronómicos que só quero esquecer. Mas devo reconhecer que, tendo hoje direito no voo a uma faca operacional à mão, só os meus bons instintos (e o bom senso) me impediram de a utilizar para ameaçar um bando de energúmenos, exprimindo-se numa conhecida fala ibérica, que arengaram e gargalharam alto durante as mais de sete horas da viagem, não deixando descansar quem o consegue fazer em aviões ou quem, como é o meu caso, não conseguindo dormir, quer simplesmente ler, trabalhar e que ninguém o aborreça. 

11 comentários:

Anónimo disse...

Calme-se Sr Embaixador, calme-se! Facas não são navalhadas.
José Barros

Isabel Seixas disse...

Lamentável Sr. Embaixador...
Espero bem que lhe tenham facultado um questionário do nivel de satisfação pessoal do utente para poder expressar essa lacuna de qualidade...
Agora a Sra assistente de bordo esqueceu-se do seu mandato social, promover o conforto dos utentes , neste caso concreto criar condições para se processar o normal sono e ou repouso.


De qualquer forma Parabéns pela Homenagem , o Sr. é um orgulho para nós.

Somente os verdadeiros lideres carismáticos conseguem manter a admiração das pessoas com quem interagiram, por mérito próprio conquistaram o carisma, e são lembrados mesmo quando não estão no exercicio formal das funções de liderança.

Anónimo disse...

Tampões para os ouvidos. É daquelas coisas básicas em meios com muita gente. Ou com espanhóis.

patricio branco disse...

é possivel que quem vai viajar de avião e leva uma faca tenha já alguma má intenção; e que quem vai viajar e confie as facas e garfos possivelmente de plastico que lhe dão no avião já não tenha tão má intenção...uns levam o instrumento, os outros esperam que lhes forneçam o instrumento.
a mim a air france tirou me um minusculo canivete suisso, daqueles encarnados com a cruz, por ali ficou,em bordeus,tive pena, muita.
o controle da tap é mais dos nossos costumes, vi recentemante um pai com um bebé ter sido convidado a beber do biberon que levava para o filho durante o voo; tendo bebido (mas certificaram se que teria engolido?)foi lhe feito o gesto de poder passar com biberon e tudo...

Anónimo disse...

nuestros hermanos...

Anónimo disse...

Atenção a essas "irmandades": a minha mãe é uma mulher honesta e, que eu saiba, o meu pai nunca frequentou locais de má fama.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador ...

Penso que perdeu uma oportunidade de ouro para reacender a questão de Olivença ....

N371111

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Francisco, as vezes que eu tenho pensado nesta bizarria...

Anónimo disse...

Nunca percebi os "menus" das companhias aéreas para pessoas comerem em espaços tão reduzidos. Até porque muitas vezes o que servem nem é uma alimentção conveniente para uma viagem. Um dia de Paris para Lisboa num vôo Tap era bacalhau assado em azeite no forno. Enfim.... Devia ser para que os passageiros já se sentissem em Portugal.

Anónimo disse...

Isso leva a crer que as companhias aéreas entendem que os eventuais "malfeitores" só viajam em Classe Económica.

Isabel BP

Fernando Frazão disse...

Quer antes quer depois do 11 de Setembro fui confrontado com situações semelhantes quer na TAP quer em outras companhias aéreas.
Não gostando do plástico sempre que essa situação acontece, vem-me á ideia o seguinte slogan:
Não traga armas, nós fornecemos a bordo.

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