terça-feira, maio 03, 2011

Memória

Há dias, o "Público" deu forte destaque, em primeira página, à morte de Vitorino Magalhães Godinho. Tratando-se de uma figura cimeira da historiografia e da nossa vida cívica (demitido da função pública pela ditadura, ministro da democracia) nada era mais justo. Porém, a notícia era ilustrada com uma fotografia... do irmão do historiador, o advogado José Magalhães Godinho.

No dia seguinte, o jornal não retificou o seu erro, Só o veio a fazer posteriormente. O que leva a presumir que aqueles - apesar de tudo, deverá ter havido alguns - que deram conta desse erro crasso já nem se terão dado ao cuidado de alertar o jornal. Ou -  pior ainda! -, se o fizeram, o jornal manteve-se indiferente na sua edição imediata, o que também é grave.

Os jornais são, cada vez mais, importantes arquivos da nossa memória coletiva, agora ajudados pelas suas versões "on line". Pensar-se que é normal que os seus redatores, só porque pertencem a gerações mais novas, não estão obrigados ao extremo rigor histórico-cultural é entrar num inaceitável caminho de facilitismo. Se aqui, em França, o "Le Figaro" ou o "Libération" trouxessem uma imagem de Simone Signoret em lugar de Simone de Beauvoir, ou de Simone Weil em lugar de Simone Veil, garanto que caía  "o Carmo e a Trindade"!

Pois há dias, um jornal português, que me passou pelas mãos, trazia fotografias ilustrativas do período do "marcelismo". Numa delas via-se Américo Tomaz rodeado de representantes de "forças vivas" de qualquer localidade de província. A legenda era: "Marcelo Caetano com alguns dos seus ministros"...

Este é - felizmente! - um défice que escapa à "troika".

7 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

De referência?!

Rui Franco disse...

Um bom exemplo do desleixo nas notícias:

aospapeis.blogspot.com/2011/04/dn-erros-mais.html

Recentemente, o DN "online" congratulava-se com o grande aumento das visualizações. Estas coisas andam sempre juntas...

Helena Sacadura Cabral disse...

Desde que ouvi, na tv pública,uma conhecida - não disse respeitada - pivot desbravar os seus conhecimentos socio musicais e falar do Festival de Beirute, que me preparo para ouvir tudo, até que Marcelo Caetano foi o último rei de Portugal, ou Camus a versão francesa de Camões!
Amar muito o país, de vez em quando, dói...

Anónimo disse...

"o Carmo e a Trindade"!

- Felizmente!Que escapa à "troika".
In (FSC:2011)

E não só...

Ok. concordo que são gafes por displicência...
Isabel seixas

maria climenia disse...

....De facto, alguns jornais, e jornalistas são pródigos em certa (des)informação, e falando em arquivos está no Aljube, uma interessante mostra de como era viver em Portugal no tempo do Marcelo,Salazar e afins, muito pouco publicitada pelos jornais de referência?? (como aliás convém, claro)...É só para lembrar que houve certos momentos e pessoas da nossa história que não convém esquecer..........

EGR disse...

Nas TVs-incluindo as publica-é mais ou menos assim: visualizam,implementam,tem feedback,voltam a repetir,e quando se referem a alguma intervenção do PR dizem que ele mandou recados.
E há um que apresenta o Telejornal com uma caneta em riste, faz constantes esgares faciais,agita-se na cadeira eta.
Enfim verdadeiras delícias.

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Embaixador Francisco Seixas da Costa,

A ignorância histórico-cultural nacional é uma mancha na identidade de um país, por isso afino pelo mesmo diapasão. Vitorino Magalhães Godinho foi um notável historiador e um cidadão empenhado no rumo do seu país e por esta razão o descuido com esse lapso é lamentável. Virá o dia em que estes periódicos de hoje serão fontes históricas importantes, portanto devemos evitar a delonga nas rectificações de lapsos.

Sem dúvida que este défice de conhecimentos históricos da população portuguesa não foi alvo de vistoria da "troika", porque se não ainda voltariamos ao regime de livro único nas escolas. A diferença está em que os franceses têm auto-estima nacional e os portugueses ainda sentem um complexidade de inferioridade que amesquinha o valor da cultura histórica.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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