No sábado passado, na Casa de Portugal, na Cité Universitaire de Paris, teve lugar uma sessão de divulgação sobre Fernando Pessoa, uma excelente iniciativa que se fica a dever ao entusiasmo de Manuel Rei Vilar, diretor da Casa. Música, cinema, leitura de poemas e, muito em particular, um excelente debate sobre a projeção de Pessoa em França ocuparam algumas belas horas, sem perda de ritmo e com grande interesse do público presente.
Numa das suas intervenções, a especialista pessoana Teresa Rita Lopes, que coordenou o debate, contou uma divertida história, que aqui reproduzo.
A propósito do (des)conhecimento que Pessoa sofria, em tempos, aqui por França, Teresa Rita Lopes referiu que José Augusto Seabra (uma figura intelectual e política de quem, em breve, falaremos com mais detalhe) pretendeu um dia obter de Roland Barthes uma carta de apoio para um pedido de subsídio que queria apresentar à Fundação Gulbenkian, com vista a preparar uma tese sobre Fernando Pessoa. Uma recomendação de uma figura como Barthes seria, seguramente, um elemento muito importante para a consideração do seu projeto.
Seabra "mexeu os cordelinhos" e lá conseguiu obter a almejada carta de Roland Barthes, com que contava abrir as portas à obtenção da bolsa. Dias mais tarde, os seus amigos perguntaram-lhe se já tinha enviado a recomendação à Gulbenkian. Embaraçado, Seabra revelou que não, que decidira não juntar a carta ao processo de candidatura. É que Barthes, no seu texto, ao querer sublinhar a importância do trabalho do investigador, referiu que ele pretendia fazer um estudo sobre a obra de "quatro poetas portugueses": Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis...
6 comentários:
Fascinante...
Se Pessoa fosse vivo levaria de algum critico literário...
(Daqueles de mal com a vida, e que infligem o seu Fel em cada salivação de palavras)
Um rótulo psiquiátrico, qual protagonista do livro do Professor Doutor Pio de Abreu " Como Ser Doente Mental"no seu caso especifico com quatro personalidades qual delas a mais enigmática e aliciante...
Por Mim...
Faz parte dos meus Projectos de encontro Pós morte física.
Espero encontrá-lo, sem ter Sido adulterado, igual a si próprio, e completo sem desagregação de nenhuma das personalidades...
Isabel Seixas
Quando José Saramago escreveu sobre « O Ano da Morte de Ricardo Reis” comprei logo o livro e li-o de uma ponta à outra sempre com a mesma delícia! Assistimos aqui ao regresso de Ricardo Reis do Brasil, para onde Fernando Pessoa nos havia dito que ele emigrara e, francamente, mesmo sabendo que um já tinha morrido e que o outro era pura invenção, o Saramago consegue baralhar de tal ordem a trama que tive dificuldade em compreender qual dos dois era mais vivo e real.
Quanto à “credencial” de Barthes, não vejo como Augusto Seabra poderia analisar Pessoa sem falar dos outros: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis...e por isso penso que Barthes não exagerava porque os quatro estão “intrinsèquement” ligados. Seria por não precisar de “introduções” na Gulbenkian que o Seabra (interveniente de prestigio na emigração) não a utilizou...
Senhor Embaixador, apesar das desgraças que grassam pelo mundo, este seu post fez-me dar outra gargalhada. Que uma personalidade como Barthes faça tal afirmação, já justifica que um aluno meu que fazia mestrado, me tivesse dito que Camus era a versão francesa de Camões. Ia-me dando um treco e zanguei-me.
Agora até fiquei de mal com a minha consciência. Mas como ele anda por aí na política, quando o encontrar peço-lhe desculpa...
Perdõe-me Embaixador, mas de facto a Isabel Seixas, também fez um comentário excelente. Como sou mais velha e de certo vou primeiro, prometo à Isabel que lhe farei, lá em cima, a marcação do encontro. Depois do meu, claro!
E agora mais a sério, julgo dever a este propósito destacar o trabalho que Inês Pedrosa tem desenvovido na Casa Fernando Pessoa, com os parcos meios de que dispõe. Não ficaria de bem com a minha consciência, se lhe não prestasse este louvor.
Ai vai "Helena"
Isso é o que vamos ver...
P`ra já...
Não Sei, é que não Sei mesmo, Se me apetece ter um funeral sem o protagonismo auferido pela vida activa e a presença dos conhecimentos dos amigos, e remeter-me a um funeral cuja audiência seja determinada pelo protagonismo social dos filhos e sobrinhos...
Faltava Essa...
Eu é que decido...
Fique descansada... ainda vou Pensar...
De qualquer forma ... Para Mim
Foi o Homem que criou Deus...
Fazia-lhe Falta...
O Meu, talvez porque é comandado e gerido por Mim... Ás vezes parece Sendeu,só ás vezes... e já herdou por hereditariedade aquela rebeldia incontornável e incontrolável que ás vezes não me obedece...
Quanto à marcação do encontro, não consigo dar-lhe a primazia...
Simplesmente porque O Fernando ao conhecê-la primeiro... Depois para que Me Queria?...Não me remeta para Pau de Cabeleira... por favor, tive que o fazer dos dez aos dezoito anos com a boca cheia de rebuçados para me provocar miopia e mudez, daquela não digas nada do que viste... Já agora ...Atrevam-se a Chatear-me...
Que eu denuncio de imediato o método anticoncepcional que usas, vá lá que és esperta, para cima tudo para baixo nada... Aí Sim, Aí não... quem é que disse que os rebuçados provocam surdez, provocam é cáries...
Quanto à idade então não me conferiu idoneidade para a poder tratar por Helena... Isso na minha interpretação, significa, que ainda que de forma remota, me confere alguma possibilidade de proximidade de idade mental.
Ou seja a idade cronológica não é para aqui chamada...
Isabel Seixas
Caríssimo Embaixador Francisco Seixas da Costa, achei tão interessante e caricata esta história que nos teve o prazer de recontar que a republiquei no blogue do Milhafre com a clara indicação da sua autoria e da proveniência( www.mil-hafre.blogspot.com ) e ainda crei um texto meu intitulado "Econometria e cultura - breves considerações sobre a obsessão mundial com econometria", publicado no meu blogue e no blogue do Movimento Internacional Lusófono, em que o citei neste último episódio hilariante descrito neste post!
Cordiais saudações, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogspot.com
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