quarta-feira, janeiro 20, 2010

Hipócrates?


O senhor bastonário da Ordem dos Médicos portuguesa afirmou hoje ser contra a decisão de abertura de mais vagas nos cursos de Medicina e que, se essa tendência se prolongar nos próximos anos, teremos "pessoas a acotovelarem-se nos hospitais".

Não disse qual era a solução alternativa, mas, presumivelmente, ela passaria sempre por um modelo que preservasse a manutenção da capacidade reivindicativa que a actual escassez de médicos dá aos respetivos sindicatos.

O senhor bastonário poderia talvez ouvir as pessoas que penam horas nos serviços de urgência com médicos sobrecarregados de trabalho, as que passam meses à espera de uma consulta especializada ou de uma operação, as que têm de se deslocar muitos quilómetros pela ausência de clínicos nas zonas rurais e periféricas, as que perdem dias nas salas de espera dos consultórios, aguardando que alguns médicos saltitem entre empregos. E poderia perguntar-lhes se essas pessoas acham que há médicos a mais, em Portugal. Mas esses são problemas pelos quais, estou seguro, o senhor bastonário não passa, pois não?

12 comentários:

Julia Macias-Valet disse...

Depois do jantar comentava/comparava com o meu irmao as grandes diferenças entre Portugal e França. Chegamos à conclusao que é na area da medicina que as coisas sao como a distância da Terra à Lua em milimetros.
Aqui fica um exemplo : O meu marido deu hoje uma queda e partiu um braço. Entre a chegada à clinica e a saida da mesma de pois de ter sido acolhido, radiografado, consultado por um especialista e o braço ter sido mobilizado decorreram 1h05 minutos. A minha mae ha quinze dias atras teve uma subida de tensao arterial e levou três horas na sala de espera das urgências de Centro de Saude de Moura (a cidade, 9.500 hab., nao tem hospital) até ser atendida.

Por hoje nao tenho nada mais a comentar !

Anónimo disse...

Se Bem conheço Hipócrates Há Tempos que a essência da Sua Mensagem intemporal não consegue pairar em Portugal sem esconder a sua expressão de perplexidade...

Como se pode Sonegar insidiosamente, a formação de profissionais de saúde,inibindo deliberadamente o acesso á saúde da população mais vulnerável, a qualidade de vida dos referidos profissionais existentes levando-os a sofrer e infligir os resíduos tóxicos dos síndromes de exaustão... Só... Para perpetuar um feudo potenciador de lugares cativos nos altares de hegemonias meramente capitalistas e dissimuladas até pela falta de consistência dos argumentos de impossibilidade...

Também acho que é de bradar aos Céus...Purgatórios e Infernos...

Mas Eu sou suspeita...
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Compete ao Governo tomar as medidas adequadas para combater esse tipo de posições por parte do Bastonário da Ordem dos Médicos. É inqualificável essa atitude do Bastonário. Este tipo de corporativismo, convém recordar, não é novo. É ciclíco.
Albano

José Barros disse...

Vou repetir o que já disse várias vezes noutros sítios: Todas as vezes que em Portugal precisei de assistência médica, para mim ou para os membros da minha célula familiar, sempre consegui atendimento com a urgência satisfatória, e com muita competência dos intervenientes, e isto sem conhecer qualquer “porta traseira” por onde eventuais conhecidos poderão passar com a devida vénia. Isto não me impede também de considerar que Portugal tem ainda muito espaço para evoluir neste domínio. Mas não queiramos comparar a nossa medicina com a de França que nesta última década (ou nestas duas últimas décadas) tem dado machadas cruéis naquilo que era uma das melhores organizações de assistência no mundo... Hoje, também em França, são precisos vários meses de espera para consultar um especialista e mesmo os médicos generalistas nem sempre se conseguem de um dia para o outro... Há certas localidades na província muito mal equipadas e muitos hospitais nos centros urbanos que fecharam andares equipados com dezenas de camas não por falta de utentes que continuam à espera mas por falta de pessoal médico e assistentes. Sei que isto em nada vai reconfortar aqueles que em Portugal precisam de assistência. Estou de acordo que o texto de Hipócrates começa a ser mal compreendido por alguns médicos da nossa modernidade. O presente Post que toca onde “dói” devia chegar aos pontos de decisão para “mexer” com a consciência dos que devem decidir...

margarida disse...

Preocupa-me, sobremaneira, é a formação desses novos clínicos.
Sendo das profissões mais sensíveis, torna-se imperativa a consciência de que, também aqui - ou sobretudo aqui - a qualidade tem de se sobrepôr à quantidade.
E a formação de um(a) médico(a) leva anos e anos e nunca termina verdadeiramente. Talvez de forma mais acutilante do que em qualquer outro mister.
Um(a) médico(a) pode ser uma mão para o céu.
Ou para o inferno.

Anónimo disse...

A imagem que o SNS tem, principalmente entre os portugueses expatriados, está longe de corresponder à realidade.
São enormes as carências, terríveis alguns dos desfechos de problemas, impressionantes os tempos de espera.
Mas já ouvi, também, de estrangeiros, os mais rasgados elogios à eficiência dos serviços e ao nível técnico-científico dos profissionais.
E, se a autora do primeiro comentário me permite, e sem tentar minimizar a gravidade do precalço de saúde de sua mãe, sempre direi que não são casos comparáveis uma fractura e uma baixa de tensão, e que, num caso de atendimento numa urgência hospitalar por um acidente de que resultou uma fractura de perónio, o atendimento e o curativo não ultrapassou uma hora.
A rede hospitalar portuguesa, não sendo excelente, está perfeitamente dentro dos parâmetros aceites na Europa, onde não é das piores.
Dito isto, concordo que as palavras do senhor Bastonário merecem uma resposta à altura. Por exemplo, que é melhor ter médicos a acotovelarem-se do que doentes aos encontrões nos hospitais ou macas espalhdas pelas urgências.
O corporativismo que as suas palavras ressumam é quase uma afronta.
"Hipócrates?" Claro que não: "hipócritas".

Afonso disse...

Este assunto, para se ser sério tem que ser em visto em perspectiva, em particular a temporal. A falta de médicos hoje em Portugal deve-se ao facto de na década de 80 as entradas terem sido muito limitadas e aí, sim, é de criticar os políticos que se deixaram influenciar pelo lobi médico - houvesse só este em Portugal..... Mas hoje com o nível de entradas a situar-se já nos 1750 lugares daqui a uns anos não haverá falta de médicos. E nesta profissão em particular não interessa formar jovens que depois não têm possibilidade de exercer.Em resumo, não se resolve o problema que existe hoje - por uns anos haverá falta de médicos fruto das tais políticas dos anos 80 que só a "importação" colmatará - criando outro para o futuro. De facto nós somos mesmo bipolares...

Helena Sacadura Cabral disse...

A única vez que recorri a uma urgência hospitalar foi em S. José. Tratava-se de um problema oftálmico e fui bem atendida. Acredito que o facto de se tratar de um problema de olhos, especialidade porventura menos procurada e o ter um nome conhecido me tenha ajudado. Pelo menos, na simpatia. Mas não ultrapassei ninguém e demorei ao todo uma hora.
Nesta questão o que me choca é que estejamos a importar médicos estrangeiros - agora até da Argentina - e a exportar os bons alunos que não chegam às médias loucas de quase 19 valores!
E que acabam por ficar no país para onde vão estudar.
É o poder do que antes se chamava de "corporação". Lamentável!

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Estou a gostar de o ver a intervir onde deve.
Absolutamente hipocresia.
A saúde em Portugal segue enferma há muito.
Não vivo lá há mais de trinta anos.
Possu-o o “cartãozinho” da ADSE, mas não o uso, porque vivo na Tailândia.
Ora acontece que quando envio, periodicamente os recibos do hospital para os cálculos e me reembolsarem, devolvem-me uma miséria que acabei de comprar os medicamentos, genéricos, num armazém, porque não vale a pena enviar os recibos.
Felizmente vivo num Reino (que por aí até desconhecem) em que todos os anos são licenciados milhares de jovens médicos dos dois sexos.
Qualquer hospital da Tailândia está juncado de gente nova, quer médicos ou enfermeiras.
Os jovens que pretendem especializarem-se vão à Europa ou a outro país da América.
Poderemos ver por toda cidade de Banguecoque, dezenas de hopitais particulares e sem conto as clínicas em todas as ruas.
A Tailândia é hoje procurada por milhares de estrangeiros (Estados Unidos, Europa e países do médio Oriente), para aqui tratarem da sua saúde e fazerem “checkups” dado aos preços convidativos. Consultórios de dentistas por todos os lados.
Mas o mais interessante é que na Tailândia, todos têm o direito (sejam estrangeiros) a ser tratados, mesmo operados, pagando uma taxa de 30 bates (um euro 49 bates).
Um cunhado meu, fez há dias uma operação de coração aberto, por 30 bates, num hospital do Estado e passado 5 dias estava em casa.
Esperou, pouco mais de um mês, para ser operado.
Quem pretender hospitais privados é logo atendido na hora e a preço convidativo.
Por exemplo há dias fui fazer uma revisão de rotina ao hospital privado de que sou cliente e em duas horas estava atendido pelo médico, com análises de sangue, urina e consulta paguei 1.100 bates (cerca 22 euros).
Portanto não há restrição de vagas nos hospitais e quem quer ser médico é isso mesmo e vai exercer a sua profissão nos hospitais do Estado, nos privados ou na sua clínica. Há dias uma cadela, de minha casa há 12 anos adoeceu. Piorou junto à meia-noite e minha mulher pegou na bicha e foi levá-la ao hospital.
É que neste Reino há um hospital, na faculdade de veterinária da prestigiosa Universidade de Chulalongkorn aberta as 24 horas dos ponteiros do relógio para atender, casos urgentes, de animais. Tratamento e consulta tem uma taxa de 4 euros.
Em Portugal os médicos terão que deixar de entender a sua profissão como de elite.
Enquanto assim for e houverem restrições de vagas, então o povo português vai muito mal de saúde, porque esta está mesmo enferma.
José Martins

Anónimo disse...

Pois aqui pelos lados de Famalicão e com a nova medida do rastreio de Manchester, nunca esperei menos de 4h. A última vez e depois de a minha filha ter dado uma queda de cavalo, que depois de dar entrada nas urgencias muito preocupou os médicos, pois não se lembrava de nada do que tinha acontecido, esperamos mais de 5h na urgência, por não ter febre nem ferimentos com sangue... imagino se tivesse tido fractura craniana...ou internas...mas enfim, aqui já é normal. O meu pai, após espera prolongada nas urgências, foi mandado para casa, por nada acusar, com a idade que tenho agora, 46 anos, veio a falecer de seguida com o 3º enfarte de miocárdio, não detectado pelos
médicos, fazem tudo a despachar. Eu tinha 22 e o irmão mais novo dos 6, tinha 5 anos.
Mas as urgências em Famalicão pioram de dia para dia, sem médicos e mais parece um acampamento de ciganos, os quais querem entrar logo e esmurram os seguranças... enfim, uma lástima.

Anónimo disse...

Um cirurgião vascular que me tratou no privado a 8o euros consulta há mais de dez anos, trabalhou muitos anos em França e aprendeu novas técnicas. Após uma conversa, disse que em Famalicão os médicos eram autênticos carniceiros no hospital e mudavam de personalidade no privado(verídico). Quando lhe perguntei porque tinha deixado França, pois tinha boas condições para exercer, respondeu muito naturalmente:- É que quero enriquecer e depressa e isso é possível em Portugal, não em França.

Julia Macias-Valet disse...

No meu comentario nao ponho de forma alguma em questao a qualidade dos nossos médicos mas sim a quantidade. Da mesma forma que faltam estruturas.
Em 1970 tive que ser operada às amigdalas, e la tiveram que ir os meus pais de armas e bagagens para Lisboa. 40 anos depois a situaçao nao mudou em nada na minha terra. Muito pelo contrario. O Hospital fechou. Ha varios anos que nao nascem crianças em Moura, têm que ir nascer a Evora ou a Beja (quando nao nascem nos veiculos do INEM à beira da estrada), os idosos chegam sem vida ao hospital de Beja, as ambulâncias dos bombeiros operam um autêntico bailado durante toda a semana a caminho de Lisboa para levar doentes aos tratamentos de quimioterapia, hemodialese, fisioterapia...e etc

Em Portugal, ha dois Portugais : o cosmopolita e o profundo.

E os que sempre viveram nos grandes centros urbanos desconhecem uma realidade deveras alarmante.

E por favor nao vejam no meu comentario "a emigranta" que esta em Paris "a armar-se"...
Vivi mais tempo em Portugal do que fora dele para conhecer bem o meu pais.

PS Acredito cara Helena que 1 hora no Hospital de S. José em Lisboa tenho sido o tempo suficiente para resolver um problema oftalmologico. Mas se isso tivesse acontecido na minha terra passar-se-ia desta forma :
1 - Urgência do Centro de Saude para uma consulta de clinica geral (nao existe qualquer tipo de especialidade) onde teria que esperar durante X tempo a sua vez de consulta.
2 - O médico constata um problema oftalmologico e envia-a para a urgência do Hospital de Beja. 56 Km e 45m de caminho.
3 - Nova espera no Hospital de Beja. A qual pode ser muiiiiito demorada porque todo o Baixo Alentejo interior ai recorre.
4 - Consulta
5 - Regresso a Moura + 45 minutos.

Onde é que nao ficou ja "1 hora" ?

Senhor Embaixador, Hipocrates? Sim. Mas qual o de Cos ou o de Quios ?

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