terça-feira, janeiro 19, 2010

Pessoa(s)


No sábado passado, na Casa de Portugal, na Cité Universitaire de Paris, teve lugar uma sessão de divulgação sobre Fernando Pessoa, uma excelente iniciativa que se fica a dever ao entusiasmo de Manuel Rei Vilar, diretor da Casa. Música, cinema, leitura de poemas e, muito em particular, um excelente debate sobre a projeção de Pessoa em França ocuparam algumas belas horas, sem perda de ritmo e com grande interesse do público presente.

Numa das suas intervenções, a especialista pessoana Teresa Rita Lopes, que coordenou o debate, contou uma divertida história, que aqui reproduzo.

A propósito do (des)conhecimento que Pessoa sofria, em tempos, aqui por França, Teresa Rita Lopes referiu que José Augusto Seabra (uma figura intelectual e política de quem, em breve, falaremos com mais detalhe) pretendeu um dia obter de Roland Barthes uma carta de apoio para um pedido de subsídio que queria apresentar à Fundação Gulbenkian, com vista a preparar uma tese sobre Fernando Pessoa. Uma recomendação de uma figura como Barthes seria, seguramente, um elemento muito importante para a consideração do seu projeto.

Seabra "mexeu os cordelinhos" e lá conseguiu obter a almejada carta de Roland Barthes, com que contava abrir as portas à obtenção da bolsa. Dias mais tarde, os seus amigos perguntaram-lhe se já tinha enviado a recomendação à Gulbenkian. Embaraçado, Seabra revelou que não, que decidira não juntar a carta ao processo de candidatura. É que Barthes, no seu texto, ao querer sublinhar a importância do trabalho do investigador,  referiu que ele  pretendia fazer um estudo sobre a obra de "quatro poetas portugueses": Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis...

6 comentários:

Anónimo disse...

Fascinante...
Se Pessoa fosse vivo levaria de algum critico literário...
(Daqueles de mal com a vida, e que infligem o seu Fel em cada salivação de palavras)
Um rótulo psiquiátrico, qual protagonista do livro do Professor Doutor Pio de Abreu " Como Ser Doente Mental"no seu caso especifico com quatro personalidades qual delas a mais enigmática e aliciante...

Por Mim...
Faz parte dos meus Projectos de encontro Pós morte física.
Espero encontrá-lo, sem ter Sido adulterado, igual a si próprio, e completo sem desagregação de nenhuma das personalidades...
Isabel Seixas

José Barros disse...

Quando José Saramago escreveu sobre « O Ano da Morte de Ricardo Reis” comprei logo o livro e li-o de uma ponta à outra sempre com a mesma delícia! Assistimos aqui ao regresso de Ricardo Reis do Brasil, para onde Fernando Pessoa nos havia dito que ele emigrara e, francamente, mesmo sabendo que um já tinha morrido e que o outro era pura invenção, o Saramago consegue baralhar de tal ordem a trama que tive dificuldade em compreender qual dos dois era mais vivo e real.
Quanto à “credencial” de Barthes, não vejo como Augusto Seabra poderia analisar Pessoa sem falar dos outros: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis...e por isso penso que Barthes não exagerava porque os quatro estão “intrinsèquement” ligados. Seria por não precisar de “introduções” na Gulbenkian que o Seabra (interveniente de prestigio na emigração) não a utilizou...

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador, apesar das desgraças que grassam pelo mundo, este seu post fez-me dar outra gargalhada. Que uma personalidade como Barthes faça tal afirmação, já justifica que um aluno meu que fazia mestrado, me tivesse dito que Camus era a versão francesa de Camões. Ia-me dando um treco e zanguei-me.
Agora até fiquei de mal com a minha consciência. Mas como ele anda por aí na política, quando o encontrar peço-lhe desculpa...
Perdõe-me Embaixador, mas de facto a Isabel Seixas, também fez um comentário excelente. Como sou mais velha e de certo vou primeiro, prometo à Isabel que lhe farei, lá em cima, a marcação do encontro. Depois do meu, claro!

Helena Sacadura Cabral disse...

E agora mais a sério, julgo dever a este propósito destacar o trabalho que Inês Pedrosa tem desenvovido na Casa Fernando Pessoa, com os parcos meios de que dispõe. Não ficaria de bem com a minha consciência, se lhe não prestasse este louvor.

Anónimo disse...

Ai vai "Helena"
Isso é o que vamos ver...
P`ra já...
Não Sei, é que não Sei mesmo, Se me apetece ter um funeral sem o protagonismo auferido pela vida activa e a presença dos conhecimentos dos amigos, e remeter-me a um funeral cuja audiência seja determinada pelo protagonismo social dos filhos e sobrinhos...

Faltava Essa...
Eu é que decido...

Fique descansada... ainda vou Pensar...

De qualquer forma ... Para Mim

Foi o Homem que criou Deus...
Fazia-lhe Falta...

O Meu, talvez porque é comandado e gerido por Mim... Ás vezes parece Sendeu,só ás vezes... e já herdou por hereditariedade aquela rebeldia incontornável e incontrolável que ás vezes não me obedece...

Quanto à marcação do encontro, não consigo dar-lhe a primazia...
Simplesmente porque O Fernando ao conhecê-la primeiro... Depois para que Me Queria?...Não me remeta para Pau de Cabeleira... por favor, tive que o fazer dos dez aos dezoito anos com a boca cheia de rebuçados para me provocar miopia e mudez, daquela não digas nada do que viste... Já agora ...Atrevam-se a Chatear-me...
Que eu denuncio de imediato o método anticoncepcional que usas, vá lá que és esperta, para cima tudo para baixo nada... Aí Sim, Aí não... quem é que disse que os rebuçados provocam surdez, provocam é cáries...

Quanto à idade então não me conferiu idoneidade para a poder tratar por Helena... Isso na minha interpretação, significa, que ainda que de forma remota, me confere alguma possibilidade de proximidade de idade mental.

Ou seja a idade cronológica não é para aqui chamada...
Isabel Seixas

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo Embaixador Francisco Seixas da Costa, achei tão interessante e caricata esta história que nos teve o prazer de recontar que a republiquei no blogue do Milhafre com a clara indicação da sua autoria e da proveniência( www.mil-hafre.blogspot.com ) e ainda crei um texto meu intitulado "Econometria e cultura - breves considerações sobre a obsessão mundial com econometria", publicado no meu blogue e no blogue do Movimento Internacional Lusófono, em que o citei neste último episódio hilariante descrito neste post!

Cordiais saudações, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogspot.com

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