sexta-feira, janeiro 01, 2010

Marão


Atravessar o Marão, na minha infância e adolescência, era uma programada aventura. A serra era uma imensa barreira entre o nosso mundo e o mundo, centenas de curvas que davam direito a enjoos, que se iam atenuar com um copo de "Pedras" na "Lai Lai" ou no "Zé da Calçada", logo que chegados a Amarante.

Mais tarde, as idas para a universidade, na camionete do "Cabanelas" para o Porto, representavam mais de três horas de viagem, sempre com paragem obrigatória em Amarante, desta vez no largo do Arquinho, para um "reforço" no "Príncípe".

Nos eternos regressos a Vila Real, recordo o conforto psicológico que era descortinar, lá ao alto, as luzes da Pousada de S. Gonçalo, uma espécie de posto avançado da cidade, a qual se iria vislumbrar, quilómetros depois, numa certa curva de Arrabães.

Graças ao IP4, o Marão é hoje um "tigre de papel". Há dias, de Vila Real, fui jantar a Amarante e regressei em cerca de meia hora. Há quem vá, a meio da manhã, de Vila Real ao Porto, e volte para almoçar. Com o futuro prolongamento da A4 a Trás-os-Montes, tudo vai ser ainda mais fácil.

Portugal está bem mais pequeno. Não tenho a mais leve saudade daquele passado. Ou melhor: apenas me faz falta a Pousada de S. Gonçalo, ali perto do Alto de Espinho, ingloriamente "terceirizada", como dizem os nossos amigos brasileiros.

8 comentários:

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
A designação do restaurante "Zé da Calçada", em Amarante, avivou-me a memória (de há meio século) e bem me lembro de quando inserido numa excursão de um grupo de 20 amigos, partimos do Porto para Chaves para assistirmos ao jogo entre o Salgueiros e o Chaves.
As curvas do Marão, apertadas, foram temíveis desde o Alto de Espinho a Amarante.
Coração nas mãos.
Mas, depois, o susto lá se foi, com um bacalhau à "Zé do Pipo", no Zé da Calçada, regado com o verde da região.

Alcipe disse...

Eu de Chaves levava um dia para chegar a Lisboa... E era mais fácil ir de carro a Orense do que a Vila Real!

Anónimo disse...

Pois eu teria milhares de histórias reais protagonizadas no Marão...

Se me permite vou deixar uma...

À altura exercia funções de Enfermeira no serviço de Urgência no Então Hospital de Chaves...

Duas horas da manhã noite de Sábado para Domingo, quatro jovens têm um acidente em Sabroso vindos da discoteca das Pedras por excesso de velocidade e embriagues. Três cadáveres uma das miúdas 18 anos coma profundo, transferida para o Santo António para a Neurocirurgia por fractura craniana.

Ofereci-me eu para fazer o acompanhamento na ambulância, porque o colega que fazia noite comigo passava as passas do Algarve no malfadado Marão com enjoos e vómitos incoercíveis...

Bem ... A ambulância velha tinha a cadeira do tripulante atrás (normalmente o lugar da Enfermeira)avariada e rodava incessantemente provocando-me um síndrome vertiginoso insuportável e incómodo, impeditivo de exercer a minha função de cuidadora em rigor... fiz o que pude, avaliei os sinais vitais que indicavam que a miúda se estava a debater com a indesejada e precoce morte, utilizei as mãos como tranquilizante, nos intervalos da observação do seu ritmo respiratório e cardíaco, e a pouca estabilidade que a condução desastrosa do bombeiro (Que aliás honestamente pelas cores rosadas e excitabilidade me parecia ébrio)me permitia...

O Marão Ajudou/não ajudou sei lá...
Chegamos ao Santo António às seis e meia da manhã entreguei a miúda moribunda á equipa que a aguardava para ser imediatamente transferida para o bloco operatório e ser intervencionada...

Cheguei a Chaves às 10h e 3om de Domingo, ligeiramente exaurida após uma viagem de regresso em que o Bombeiro na sua verborreia oriunda da pseudoembriagês que lhe atribuí, me pagou um café(nem dinheiro levei) numa taverna que ele conhecia e estava aberta ás sete, e me queria persuadir a beber um copo com a desculpa que me fazia bem, já agora e Eu era anjinho se calhar...

Telefonei a saber da Miúda... Sobreviveu... Já estava em cuidados intensivos a convalescer dos danos físicos os psíquicos nem hoje sei se já os superou... Mas anda por aí...

Quanto ao Marão...
Prefiro a A24...
Isabel Seixas

PS: Acredito que ser Embaixador é privilégio de alguns, provavelmente e Só para Quem Merece... Mas Ser Enfermeira...
Exactamente cocem os cotovelos... Hum permitam-me O regozijo Mórbido
E é claro que faço Bom Proveito...

Anónimo disse...

Pois eu, sempre que viajo em férias, nunca faço uso de uma auto-estrada, ou itinerário principal. Jamais! Em circunstância alguma! Só utilizo essas vias rápidas em caso especiais (uma viagem urgente, por razões de trabalho, por exemplo). Caso contrário opto por seguir por vias secundárias, ou ainda mais discretas, atravessando terreolas, paisagens que de outro modo nunca se conhecem, parando aqui e ali, para comer, ou mesmo passear, mas, sobretudo, para conhecer este estraordinário país que é o nosso, no que respeita a cenários paisagisticos, costumes, terras, gentes, etc, tão diversificado de Nprte a Sul. Em Setembro passado, convidado a ir a casa de uns amigos no Algarve (evito aquela região entre Julho e Agosto, nunca lá vou, regra geral, por razões óbvias) e a propósito de se estar a comentar o tempo de demora entre Lisboa e o Algarve (entre as “heróicas” 2.30 e 3.00 horas), referi, para espanto geral, que tinha levado “um pouco mais”, ou seja, 7 horas e tal. E ninguém percebeu a lógica da coisa, pois o que para aquelas mentes fazia sentido era ir dali para acoli num rápido, para quê perder tempo em ziguezagues, aldeolas e paisagns. São conceitos diferentes de como viajar. Mais recentemente, levantei-me ás 5 menos um quarto da manhã e cerca de 1 hora depois estava a partir para a Beira-Alta. Depois em vez do clássico percursopela A-1 e depois apanhar um daqueles intinerários principais até à aldeia serrana da família, fui até Vila Franca de Xira, atravessei a ponte, subi até Constança, atravessando as diversas terras ribatejanas, fui até Vila Velha de Ródão, Portas do Ródão, visitei aldeias históricas, Covilhã, Manteigas, dei a volta à Estrela, devagar, fui a Lnhares, dali até Seia, ainda fiz m desvio para ir até Caldas da Felgueira e só depois “apontei” para o meu destino final. E cheguei para jantar, ou seja, cerca de 12 horas depois! Mas diverti-me muito mais do que se tivesse ido directo, em pouco mais de 3 horas. Por norma, nunca alinho em idas a distâncias de mais de 100 km por dia (200 ida e volta). Prefiro então ir, ficar uma noite e regressar depois. Não porque me canse, longe disso, simplesmente não me dá qualquer prazer guiar em vias rápidas e olhar a paisagem a mais de 120 km hora. Tão só. Agora, isto não é uma crítica ao que se tem feito de tornar este país mais acessível. Totalmente de acordo. Todavia, convinha que simultaneamente se estimulassem as pessoas para irem viver no interior. Que vale a pena.
Bom Ano!
P.Rufino

estouparaaquivirada disse...

Eu, levava 11 horas para chegar ao meu destino!
Era miúda e ia com os meus pais e irmão passar as férias para casa da avó.
Lembro-me que tinha muito medo do Marão porque ás vezes ouviam-se os lobos.
A viagem parecia interminável...
Este Verão, vim pela nova autoestrada: saímos ás 14h e chegámos ás 18h10! Que maravilha.

Anónimo disse...

Gostava de co-testemunhar, Sr Embaixador, o martirio da serpenteante travessia do grande macico transmontano: voltas e mais voltas nas soberbas encostas eram voltas e voltas ao estomago, que quantas vezes eram tormentosos enjoos que nos punham a cabeca à volta(roda)...

cunha ribeiro

Luís Bonifácio disse...

Eu apenas tenho saudades do planeamento da Viagem Porto-Algarve, feita em dois dias e cujo o percurso era pensado não na duração, mas sim em que restaurantes se parava para Almoçar, lanchar (com petiscos) e jantar.
Hoje ao viajar na auto-estrada sempre que entro numa área de Serviço, que por norma são caras e com um serviço de nota -10 (numa escala de 0-100) dói-me o coração.

Anónimo disse...

portugal está de facto mais pequeno, medem-se as distâncias em minutos e não em Quilómetros, mas a avaliar pela crise económica e pela futura crise energética (combustíveis fosseis)eu diria que temos que avaliar as distâncias em euros.

Arménio Carvalho Ribeiro

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