sexta-feira, dezembro 16, 2016

Gres

É uma estrutura, dirigida pelo professor Nelson Lourenço, que trabalha no âmbito da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. O logo explica o essencial do que ela é.

Não somos muitos, mas julgo que somos suficientes para levar a cabo um trabalho a que, desde há alguns meses, lançámos mãos e em que temos perdido/ganho bastantes horas. Algo que pode ser relevante para o interesse nacional, única motivação que nos junta - académicos, militares, diplomatas e outras valências especializadas.

Quando houver mais novidades, direi.

quinta-feira, dezembro 15, 2016

Uma história com Mário Soares


Foi no Brasil. Mário Soares tinha sido convidado para fazer uma palestra, num determinado contexto. Quando fui buscá-lo ao aeroporto, e tendo-me ele perguntado o que é que eu pensava da entidade que o convidara, coloquei sobre ela algumas reticências e, com franqueza, disse-lhe que, se acaso me tivesse perguntado antecipadamente, eu tê-lo-ia aconselhado a não ter aceitado tê-la como anfitrião.

"Ó diabo! Se o meu amigo me diz isso, fico preocupado!". Disse-lhe que, agora, nada havia a fazer. Tinha de gerir-se, com cuidado, a sua participação no evento e procurar controlar o aproveitamento que pudesse vir a ser feito da sua presença, em especial evitar fotografias com algumas pessoas eventualmente pouco recomendáveis.

Contrariamente ao que era seu hábito - Mário Soares, quando viajava, não gostava de ficar em embaixadas -, tive o gosto de, nessa vez, poder alojá-lo na residência oficial portuguesa. Conversámos longamente pela noite dentro, como sempre fazíamos, comigo a beneficiar da sua prodigiosa memória e perspicácia analítica, das pessoas e dos factos.

No dia seguinte, acompanhei-o ao evento. À porta, a recebê-lo, estava uma delegação que, para minha surpresa, incluía um cidadão que se apresentou como português. Mário Soares deu mostras de o conhecer, mas pareceu-me também surpreendido com a sua presença. Eu é que não sabia quem ele era, embora a fisionomia me dissesse vagamente algo. A ocasião não se proporcionou para eu perguntar a Soares sobre a personagem, cujo nome, contudo, nada me dizia.

Acabado o evento, o tal português "colou-se" a nós. Ao perguntar-me onde Soares jantava nessa noite, respondi-lhe que seria na embaixada, com outras pessoas, e fiz uma leve menção de saber se ele estaria disponível para se nos juntar. Foi nessa altura que senti o meu casaco a ser puxado para baixo. Era Mário Soares, a dar-me um sinal, claramente para evitar que eu concluísse o convite ao homem. Rodeei o assunto e entrámos os dois no carro.

"Sabe quem é este tipo, não sabe?", perguntou-me Soares. Disse-lhe que o nome e a cara me não diziam nada. "Pois não! Ele cortou a barba e passou a utilizar outro nome!". Tratava-se de uma figura envolvida num escândalo de corrupção ou coisa similar,  com bastante exposição mediática em Portugal, que optara por ir viver para o Brasil. Embora sobre ele, como vim a saber depois, não impendessem aparentemente questões judiciais, poderia ser algo incómodo tê-lo num jantar na embaixada, onde eu iria nessa noite homenagear Soares. Este, prudente, fora mais "rápido" do que eu a reagir ao imprevisto...

quarta-feira, dezembro 14, 2016

Petróleo & etc


O governo cancelou duas concessões de prospeção e exploração costeira de petróleo, alegando razões diversas. Manteve outras duas, mas fica no ar a ideia de que não tem, pelo tema, um apreço por aí além.

Sem prejuízo da necessidade de se preservar uma forte exigência no tocante aos critérios ambientais, espero que o Estado assuma que, no tocante aos recursos necessários para sustentar, no futuro, a nossa dependência energética, vivemos numa permanente navegação à vista, pelo que nenhuma opção é de excluir, em definitivo. Repito, nenhuma.

É muito fácil e popular sustentar opções demagógicas neste domínio, baseadas no clássico "nimby" ("not in my backyard"). Mais difícil, contudo, é ter soluções realistas, suscetíveis de apoiarem o crescimento do país, produzindo riqueza e bem estar.

Mudar de vida ou a Economia portuguesa na Globalização (II)

O segundo artigo coletivo sob o tema em epígrafe, hoje publicado pelo "Jornal de Negócios", pode ser lido aqui.

terça-feira, dezembro 13, 2016

Ai a gravata!


Ontem. Jantar no Cimas/English Bar. Aniversário de uma amiga, entre amigos. Levo gravata? "Vais ver que os homens vão de gravata!" Fui ver. Todos os homens iam de gravata? Não. Eu não ia.

Hoje. Almoço no Pabe. De trabalho. De gravata, claro. Entrei. O meu elegante interlocutor estava sem gravata.

Já não percebo nada...

Paraquerdismo autárquico

Devo ser eu quem não está com o "ar do tempo", mas devo dizer que tenho alguma dificuldade em aceitar a prática, que está a começar a tornar-se partidariamente endémica, de figuras políticas saltitarem entre municípios, para tentarem potenciar as hipóteses do seu partido ganhar mais Câmaras.

O poder local não é isto, é para ser exercido por quem está no dia a dia nas terras a que concorre, quem lhes conhece bem os problemas e as gentes. E é ridículo - e denota oportunismo - andar a saltitar de um lado para o outro. A resposta devia ser dada pelos eleitores, mas a cegueira, somada ao carneirismo político, é muita.

(Sei que alguns amigos não vão gostar do que acabo de escrever, mas é vida!, como costumava dizer um outro amigo que ontem mudou a sua)

Força, Mário Soares!


Olhar o Mundo


Já pode ser visto no RTP Play o último programa "Olhar o Mundo" onde, com António Mateus, converso sobre o momento da Europa, para além de notas sobre a sucessão política em Angola, a surpresa da demissão do primeiro-ministro neo-zelandês, a crise político-institucional que se vive no Brasil, a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao presidente colombiano José Manuel Santos, a demissão da presidente da Coreia do Sul, a tomada de posse de António Guterres como secretário-geral da ONU, o reacender da conflitualidade na República Popular do Congo, as surpresas de Trump em matéria de política externa, o caminho autoritário da Turquia e, finalmente, o problema do pedido de levantamento da imunidade diplomática aos filhos do embaixador do Iraque.

Pensar Portugal

Ao tempo em que ainda vivia em Paris, fui convidado por Miguel Lobo Antunes, diretor da Culturgest, a integrar, quando regressasse definitivamente a Portugal, um grupo que se dedicava a refletir sobre a sociedade portuguesa e o seu futuro. O objetivo do grupo era exclusivamente esse: pensar de forma aberta, sem qualquer espartilho político-partidário, alguns problemas centrais do país, dando especial atenção aos constrangimentos ao seu crescimento, quer na área económica quer na estrutura do Estado, agregando para tal as contribuiçōes externas tidas por interessantes.

À época, para além do próprio Miguel Lobo Antunes, compunham o grupo Fernando Bello, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro e José Manuel Felix-Ribeiro. Com o tempo, juntaram-se-nos João Costa Pinto, Lino Fernandes e Júlio Castro Caldas.

Para além de vários debates organizados na Culturgest, abertos ao público, onde intervieram deputados europeus e muitas outras personalidades, o grupo produziu documentos, que vieram a ser publicados na imprensa, com contributos que, frequentemente, refletiram o saldo de audições feitas a diversos especialistas, num espetro de opiniões sempre muito alargado. Todos os documentos produzidos pelo grupo podem ser consultados no blogue Pensar Portugal (www.pensarportugal2016.blogspot.com).

Hoje, o "Jornal de Negócios" publica o primeiro de dois novos textos do grupo, subordinados ao tema "Mudar de Vida ou a Economia portuguesa na Globalização". Esse primeiro texto pode ser consultado aqui.

E agora, António?


António Guterres foi ontem entronizado como novo secretário-geral das Nações Unidas, cargo em que assumirá funções no primeiro dia de 2017. É o cume da carreira extraordinária deste engenheiro eletrotécnico que, sem nunca ter sido secretário de Estado ou ministro, chegou um dia à chefia do governo em Portugal, onde ficou por mais de seis anos. 

Oriundo de famílias de meios limitados, estudante sem mácula, profissional de excelência no Gabinete da Área de Sines, Guterres é talvez a prova de que a meritocracia funciona, em Portugal, mais vezes do que se pensa. Militante católico fervoroso, humanista por vocação, dialogante por convicção, procurou transmitir na sua governação um choque de modernidade à sociedade portuguesa, conduzindo habilmente o país no plano europeu e internacional. Um dia, sob o cansaço do impasse político, cumulado por questões familiares, pôs fim definitivo à experiência política nacional, a que se dedicara por décadas. 

Remeteu-se a partir de então à dignidade de um quase inquebrantável silêncio e, com o empenhamento total que está nos seus genes, enveredou por uma desafiante experiência internacional, numa área que casava bem com as suas preocupações sociais. Teve sucesso, ganhou prestígio e, aproveitando muito bem uma conjuntura que acabou por sorrir-lhe, viu as suas raras qualidades reconhecidas, na escolha para o lugar mais relevante na maquinaria internacional para a defesa da paz e da segurança.

Guterres chega à ONU num momento muito complexo. A potência que um dia estimulou o desenho da ordem internacional que tem as Nações Unidas no seu centro acaba de eleger, para a chefiar, a pessoa menos propensa a aceitar uma ordem global equilibrada e solidária. Ao "America first" somam-se uma Rússia em pleno curso de recuperação estratégica da humilhação da Guerra Fria, uma China que vive um tempo de afirmação política para sustentar o seu crescente peso económico, um projeto europeu declinante, dividido e sem entusiasmo, que vive um dia-a-dia de mera sobrevivência, com o risco de crise ao virar da esquina. O Médio Oriente está inflamado como nunca nas suas tensões, com efeitos colaterais que desestabilizam largos espaços geopolíticos. A pobreza e a desigualdade continuam a marcar várias regiões do mundo e a liberalização comercial global está em claro refluxo, com o nacionalismo protecionista a ganhar um novo ciclo de popularidade. O mundo está perigoso.

A fé move montanhas, diz-se. Não será por falta dela que esta nova montanha em frente de António Guterres se não moverá.

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Camisola

Não consegui, até hoje, convencer a família de que, a minha prenda de Natal ideal seria uma destas camisolas brancas de alças, sem mangas, que, em matéria de elegância e distinção, disputam com os fatos-de-treino com que alguns se passeiam pelos centros comerciais. A dúvida sobre se isso terá de ser complementado por um cordão de ouro e por uma discreta tatuagem permanece, contudo.

Benfica - Sporting

O Benfica ganhou ao Sporting. Parabéns aos benfiquistas. Não escandaliza a vitória do Benfica, embora o Sporting tivesse, a meu ver, jogado de uma forma em que a sua vitória não seria um resultado injusto. Serve isto para dizer que entendo que o empate teria sido o desfecho mais natural. Não foi assim, o Benfica foi mais eficaz, mais oportuno e, por isso, um vencedor sem contestação. Ponto.

domingo, dezembro 11, 2016

Blogues

Eu que escrevo este blogue com teimosa regularidade diária, desde há quase oito anos, e que não me posso queixar de falta de leitores, estou contudo a criar a ideia de que o tempo dos blogues "já era", que o Twitter, o Instagram e o Facebook, pela sua instantaneidade, prevalecem hoje no "mercado" informático. 

Talvez esta minha perceção derive do facto de, enquanto leitor, ter praticamente deixado de visitar blogues, ao contrário do que fazia no passado - em que "corria" uma dezenas desses "sites", logo ao abrir o dia. Nos dias que correm, se passo por uma meia dúzia de blogues por semana, já será muito.

Será assim? Os blogues estão a passar de moda?

Hoje, é assim!


sábado, dezembro 10, 2016

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Maquilhagem


Gosto bastante das conversas, sempre curtas, com as maquilhadoras dos canais de televisão por onde, às vezes, passo. O ambiente parece o de um barbeiro, mas não é. Nesse caso - em que o meu barbeiro de décadas se converteu num amigo - a interlocução é mais prolongada. Com as maquilhadoras, a conversa é obrigatoriamente mais rápida, mas, às vezes, bem frutífera: já tive, dessas senhoras, boas dicas de restaurantes e de locais de férias. 

Na maquilhagem, há quase sempre, depois do programa, um segundo tempo: a desmaquilhagem. Se o exercício é à noite, salto quase sempre esse passo, optando por retirar em casa, com água e sabão, aquela poeira amarelada que nos dá o ar de velhas senhoras pálidas (já dei cabo de várias toalhas de rosto, porque aquela "tinta" é, de facto, terrível). Há dias, à saída de um debate, ao dizer a um colega de painel, velho "routier" semanal de uma certa televisão, que o não acompanhava à operação de retirada da "cor", ele retorquiu-me: "Não, eu vou sempre à desmaquilhagem. É que aqui fazem isso tão bem que quase parece uma massagem à cara. Há umas semanas, ia mesmo dormindo na cadeira...". Um destes dias, vou experimentar.

Hoje, num outro canal, a conversa foi sobre outro sono, o eterno. Como se sabe, há agora uma mania de maquilhar os mortos. A senhora com quem falava, que nunca atendeu mortos, estava numa tarde "gloriosa", divertida mas algo mórbida: "Deve ser uma experiência interessante: não se mexem, não falam e não se queixam da cor". Não resisti: "E, depois, dão muito menos trabalho, não é?". "Depois"? Ela não percebeu logo. "Porque não há que desmaquilhá-los, depois". Ela concordou, com um sorriso. "Então até já!", esperando que eu regressasse daí a cerca de uma hora. Mas eu fiz de morto...  

O mel de Putin


No discurso politico usado na campanha eleitoral, Donald Trump deixou sinais claros de uma simpatia pelo estilo de liderança de Vladimir Putin. Era óbvio que o fazia para sublinhar o contraste com o modelo Obama, acusando este de fraqueza e de falta de ambição na promoção dos interesses americanos. Daí a ser prenunciada uma entente Obama-Putin, com impacto à escala global, foi um passo fácil para os futuristas de pena ligeira.

O modo como Putin lidera a Rússia tem muito a ver com a circunstância de o fazer num país que se sente visivelmente humilhado pelo modo como terminou a Guerra Fria com o Ocidente. O facto das fronteiras da NATO e da União Europeia terem sido levadas, em poucos anos, até escassas centenas de quilómetros de Moscovo é uma reversão estratégica que a Rússia nunca aceitou. A sua população olha o estilo de Putin, e até às suas ousadias (na Geórgia e depois na Ucrânia, com o flagrante sucesso da Crimeia), como uma desforra ao desafio e ao “cerco” que entende existir à volta do país. E é com orgulho que deve olhar a ação militar na Síria, num Médio Oriente onde Moscovo nunca havia sido um ator no terreno, encenando, embora de forma limitada, uma espécie de “remake” do poder global que a URSS um dia foi.

Num mundo onde o conceito de “democracia”, de que ninguém ousa curiosamente afastar-se, é interpretado do modo mais diverso e antagónico, o modelo russo, a que alguns chamam já “democratura” (de democracia e ditadura), surge como apelativo para alguns – eleições com limitações, pressão sobre os media, fragilização da separação de poderes, intimidação ou repressão sobre opositores, etc. Estados como a Turquia ou mesmo a Hungria, para já não falar da Bielorrússia ou do Azerbaijão ou de todas as Repúblicas da Ásia Central, vão, embora a ritmo diferente, nesse caminho, que quase sempre incorpora uma clara personalização do poder.

O que não deixa de ser curioso é o que se passa entre nós, em Portugal, no que toca a uma sedução caricata em torno de Putin. Alguns setores, que tanto se ercarniçam - e com razão - contra o sectarismo dos Bálticos ou a brutalidade israelita, absolvem alegremente as distorções dos valores democráticos pelo “putinismo”, fecham os olhos à carnificina de Aleppo, valorizando apenas o combate russo ao desequilíbrio estratégico global pós-Guerra Fria. Sem o assumirem explicitamente, o seu raciocínio é caricaturalmente este: se Putin desagrada àquilo de que não gostamos (a NATO, a prevalência do poderio americano, uma ordem no Médio Oriente condicionada por Israel), então “que viva Putin!”. Putin significa autoritarismo e desprezo pelas regras da democracia “burguesa”? Pode ser quem sim, mas isso é apenas um despiciendo detalhe para quem, bem lá no fundo, nunca acreditou que isso fosse o essencial.

quinta-feira, dezembro 08, 2016

8 de dezembro


Por muitos anos, o dia 8 de dezembro foi o dia da mãe. Já não sei por que luas, deixou um dia de o ser, oficialmente. A data ficou-me na memória afetiva, porque acho que, com estas coisas, não se deve andar aos trambolhões pelo calendário.

quarta-feira, dezembro 07, 2016

Um adeus


Uma instituição que, por muitos anos, reforçou as relações entre diversificados setores da sociedade portuguesa e membros de comunidades originárias, em especial, da Europa de Leste e do Brasil, terá cessado agora a sua atividade, ao que me dizem. As relações externas portuguesas sofrerão assim uma perda de tomo - e isso é relevante para uma vertente, embora algo paralela, da nossa diplomacia. Embora nunca tivesse tido o ensejo de conhecer pessoalmente o espaço em causa, inclino-me perante a melancolia que sei que atravessa quantos nele, ou a partir dele, cultivaram laços que agora ficam mais fragilizados.

Parabéns, Mário Soares


Faz hoje anos Mário Soares. O seu estado de saúde não lhe permite usufruir em pleno um aniversário que nós, seus amigos, temos obrigação e prazer em comemorar, por aquilo que ele é, pelo que representa para um país cuja liberdade e bem-estar ele muito ajudou a construir.

Isto é verdade?