Passámos a semana a olhar
para Londres, como se o nosso futuro dependesse dos humores britânicos, o que
não deixava de ter alguma verdade. Mas, por detrás da bruma britânica,
esconde-se uma instabilidade ibérica cujo desenlace não é menos relevante para
nós. Bem pelo contrário !
Desde a nossa entrada comum
para a União Europeia e, em especial, desde que a Espanha é membro da NATO, a
variável distintiva da política externa portuguesa, que fazia com que Lisboa e
Madrid pertencessem a sistemas distintos de alianças, diluiu-se.
O contexto de acrescida
intimidade ibérica evidenciou as capacidades relativas de cada um e o resultado
está à vista. A Espanha é a real ganhadora no terreno económico bilateral, como
a concentração bancária ibérica o demonstra à saciedade. No âmbito NATO, a sua
recentragem atlântica tornou-a num parceiro preferencial dos EUA, como o prova
o menor interesse revelado pelas Lajes e o privilegiar das recentes facilidades
concedidas em Sevilha.
As coisas são o que são. A
relação Portugal-Espanha é, por natureza, desequilibrada, só que desapareceram alguns
elementos que no passado nos permitiam gerir, de forma relativamente autónoma,
essa equação. Pelo contrário, no estado atual da arte, há dois fatores que não
controlamos mas que temos de sofrer, se se desregularem.
O primeiro é uma evolução do
processo europeu no sentido do surgimento de uma diferente formatação da integração,
que possa colocar a Espanha num futuro « núcleo duro », com Portugal
de fora. Isso poderia acontecer num cenário de « refundação »
europeia, à volta do euro, espurgado da Grécia e Portugal. Nada que alguns
círculos alemães não tenham já abordado.
O segundo fator é,
naturalmente, a questão da estabilidade interna da Espanha. E essa está em
causa nas eleições do próximo domingo. Precisamente porque as nossas economias
estão, e permanecerão, fortemente interligadas, uma crise prolongada no nosso
único vizinho terrestre, importante investidor, destino de grande parte das
nossas exportações e local de trabalho de muitos portugueses (coisa que, por já
ter sido mais relevante, alguns tendem a menorizar), seria um elemento mais a
somar-se ao pacote de debilidades que hoje nos afetam no plano económico.
O resultado do sufrágio
anterior levou a um impasse. Se as coisas se reproduzissem de forma similar,
criar-se-ia um cenário muito preocupante. Como não gosto de ambiguidades, deixo
muito claro que o cenário do Podemos, com os seus aliados, poder vir a ser o
partido mais votado é, a grande distância, o desfecho que considero mais
perigoso para o futuro da estabilidade espanhola. Tenho esperanças de não ter
de o comentar num próximo artigo.
A Espanha está próxima demais
de nós para a podermos olhar como um laboratório político.