Quando
ocorre uma guerra, costuma dizer-se que a diplomacia falhou. Quando "não
ocorre" uma guerra, graças à ação da diplomacia, ninguém põe a crédito
desta os mortos, os sofrimentos e os prejuízos que se pouparam. A diplomacia é
a arte discreta de tentar fazer pontes, compromissos, de fazer "não
acontecerem" as guerras ou outros conflitos de monta. Assim, é difícil ser
elogiada pelo que (de mal) não aconteceu...
Porque uma
ação diplomática foi titulada a um nível elevado, o caso do entendimento
conseguido com o Irão, que envolveu a generalidade da comunidade internacional -
mas, essencialmente, os EUA, a França, o Reino Unido, a Alemanha e a UE -, ela acabou
por dar um inusitado relevo ao papel da negociação e da diplomacia. E, pelo
menos nos tempos mais próximos, terá evitado ações militares que, em certos
momentos, pareceram iminentes.
Recordando:
o Irão tinha enveredado por um programa de enriquecimento de urânio que foi
considerado prelúdio para a construção de uma bomba atómica. Teerão argumentava
que o objetivo era civil; o mundo suspeitava que a finalidade era militar. A
relutância iraniana em permitir uma fiscalização por parte da Agência
Internacional de Energia Atómica adensou as suspeitas e acabou por levar à
imposição de duras sanções económicas. O braço-de-ferro prosseguiu por muitos
anos e, finalmente, o Irão cedeu e as sanções vão agora ser levantadas,
persistindo ainda algumas limitações à importação de armas convencionais pelo
país. Esta é uma
vitória da persistência, do diálogo, da não-cedência ao tropismo jingoísta de
alguns. É uma vitória do bom-senso.
Os Estados
Unidos são um poder estranho. Na sua ciclotimia externa, hesitam entre um
unilateralismo arrogante, frequentemente agressivo, e a busca de compromissos abrangentes. Na matriz de todas as suas intervenções
está a preeminência absoluta do seu interesse nacional (o que é natural),
sempre identificado como sendo o indiscutível interesse da comunidade “do bem”
(o que, frequentemente, é bastante duvidoso). Com o seu antigo poder colonial, Washington
terá aprendido que “não tem amigos, tem interesses”. Com o tempo, tem vindo a
entender que, às vezes, é do seu interesse ter amigos...
Esta
operação diplomática de sucesso dos EUA no Médio Oriente não vai nunca redimir
o imenso erro do Iraque, que todos estamos ainda hoje a pagar, a começar pelo
próprio Iraque. Mas é, com toda a certeza, o produto das “lessons learned”
nesse cenário, confirmando a velha máxima de que os Estados Unidos acabam
sempre por encontrar a melhor solução, mas só depois de terem experimentado
todas as outras...
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")