quinta-feira, maio 31, 2018

Por esse Rio abaixo

O anúncio do afastamento de Santana Lopes do apoio ao líder partidário tinha prenunciado que algo começava a gerar-se contra Rui Rio, no seio de um PSD cujo grupo parlamentar já se percebeu que ele nunca vai conseguir controlar. Depois, reemergiu Passos Coelho, com “opinião” na folha informática que, depois de alguma hesitação editorial, é hoje uma espécie de “Povo Livre” do passismo. Abreu Amorim, com a habitual subtileza, deixou nas redes sociais uma nota clara do que aí vinha. Fechou o círculo Luís Montenegro, com o mais violento ataque ao líder desde o congresso. O pretexto imediato, frouxo, foi o voto sobre a eutanásia.

Rui Rio, nos seus 100 dias como presidente do PSD, parece estar já debaixo de fogo cruzado. Os motores podem estar a começar a aquecer para tentar criar uma onda de fundo para a sua substituição até ao fim do ano. A mensagem dos críticos, para dentro do partido, é simples: Rio “não vai lá!”, é uma muleta de António Costa, não tem estratégia, o grupo parlamentar é vítima dessa desorientação. Com ele, a derrota em 2019, além de certa, será estrondosa, dizem. O “pote” fica mais longe, para citar um conhecido “clássico”.

A rotura, como é óbvio, terá de de se produzir antes das eleições europeias e legislativas de 2019. Porquê? Porque, sendo óbvio que o PSD vai perder ambos os sufrágios, se acaso Rio sobrevivesse politicamente até lá, as listas para Estrasburgo e para Assembleia da República seriam feitas por ele. Isso significaria que os seus adversários perderiam, com toda a certeza, o acesso ou a manutenção nesses palcos políticos e que, mesmo que Rio viesse a ser substituído no pós-eleições, quem lhe sucedesse viria a ficar com grupos parlamentares hostis... como hoje acontece ao próprio Rio.

É assim importante, para os “passistas”, conseguir remover Rio nos próximos meses. O grupo parlamentar é a sede central da manobra, alguma imprensa está a pôr-se a jeito e a fazer o frete. 

Para seguir as cenas dos próximos episódios é preciso estar atento a outros atores que devem estar prestes a assomar à boca de cena. Nada garante que a “peça” seja um sucesso, mas o “script” parece já estar escrito.

quarta-feira, maio 30, 2018

Cavaco “vermelho”?

Ao recomendar aos portugueses, na sua “alocução ao país”, que nas próximas eleições não escolhessem partidos que tivessem defendido a eutanásia, o professor Cavaco Silva deu uma clara recomendação de voto: é preferível votar PCP do que PS. Ele há cada surpresa! 

Os da estrada de Damasco

As prioridades mediáticas, entre a Coreia e a Itália, fizeram esquecer que, nas últimas semanas, Assad reforçou o seu poder na Síria, que os russos estão a tentar um “modus vivendi” dele com Israel e que a Jordânia já quer reabrir a fronteira. 

Até Trump parece ter desistido do “regime change” em Damasco, que, a bem dizer, nunca foi um verdadeiro objetivo central de muitos poderes ocidentais. A começar por Israel, que conseguiu coexistir com o Assad pai e a quem uma vizinhança de regimes autoritários, mas estáveis, sempre conveio.

Se o Irão conseguir equilibrar as ambições que projeta através do Hezzbolah, se a Turquia se sentir confortada e aceite na zona síria que hoje controla e se se souber conter perante os aliados curdos dos EUA, o futuro imediato de Assad poderá vir a ser menos turbulento. Mas os “se”, no Médio Oriente, são como o “diabo” nos pormenores.

Por cá, a vitória de Assad é um regalo para os anti-americanos da paróquia, os mesmos que o apoiam como antes apoiavam Milosevic. Eles estarão sempre ao lado de qualquer regime que desafie Washington, do de Putin ao norte-coreano ou dos clérigos iranianos. E com Trump a fazer piorar ao limite a imagem americana, o seu ódio à América (onde, aliás, adoram passar férias) sente-se hoje confortado. 

Esses viúvos não assumidos da União Soviética, com um ”penchant” nostálgico para ditadores ou para autoritarismos, desde que anti-ocidentais, são uma raça velha em extinção. Uma espécie de lince da Malcata, só que sem futuro. Ah! E acham-se de esquerda, o que é o cúmulo das ironias.

terça-feira, maio 29, 2018

Ainda pensar

No último post, falei por aqui da palavra “penso”, numa perspetiva um tanto bizarra. Mas há mais vida para o conceito, como verão. Deixo uma história verdadeira, passada num Centro de Saúde, contada por quem assistiu à cena.

A telefonista do Centro atendeu uma chamada de uma senhora. Parecia aflita. Queria falar com o seu marido, que tinha ido lá a uma consulta. Explicaram-lhe que era difícil chamá-lo ao telefone. “Por que lhe não liga pelo telemóvel?”, foi-lhe perguntado. “Nós não temos dessas coisas”, explicou a senhora, que era claramente de alguma aldeia das redondezas. Foi decidido ligar para um telefone fixo perto do balcão e chamar o marido da senhora. E assim foi feito.

O telefone, contudo, ficava ainda a uns metros do balcão. Do outro lado da linha, a senhora explicou que, na verdade, não precisava de ser ela a falar com o marido, queria apenas fazer-lhe uma pergunta. “Até pode ser a senhora a perguntar-lhe. Eu só queria saber se ele pensou ou não”. A funcionária do Centro estava perplexa: “Se pensou ou não?”. “Sim, pergunte-lhe só isso”. 

A conversa, entretanto, “socializou-se” aos utentes à espera. Um tanto atrapalhada, perante o olhar da sala, a funcionária, de dentro do balcão, perguntou, alto, ao senhor, um homem de aldeia, já idoso, muito simples de modos: “A sua senhora pergunta se já pensou”. O homem foi rápido: “Diga-lhe que sim, que já pensei”. A resposta foi transmitida de volta, mas a maioria das pessoas ficou intrigada, alguns sorrindo.

O homem foi sentar-se no lugar, à espera da consulta. E comentou, também alto: “Atão eu ia lá sair de casa sem pensar o gado!”. 

É que, nas aldeias, “pensar” significa dar comida, o penso, ao gado. A língua portuguesa, além de traiçoeira, é muito rica.

Tertúlia

Ontem, regressei a uma tertúlia jantante de amigos, de que tinha “desertado” nos últimos meses, por razões que foram sempre diversas, a cada semana. Foi muito agradável o reencontro com amigos (há quase sempre mais mulheres do que homens). E ontem até tivemos direito a caras novas à mesa.

Uma das novas convidadas, brasileira, contou uma história divertida, ocorrida na sua família. Tinham contratado uma empregada doméstica para algumas horas de limpeza. Quando chegou a hora de discutir preço, a empregada perguntou se a patroa ia definir qual o trabalho a fazer ou se seria ela a ter de tomar essa iniciativa. E, antes que a empregadora pudesse esclarecer, esclareceu ela: ”É que eu tenho um preço “com penso” e outro “sem penso” “. O que é que isso significava? Muito simples: se tivesse de ser a empregada a decidir o que fazer, era um preço, se fosse a patroa era outro. Se tivesse de “pensar”, cobrava mais...

Adoro estas tertúlias em que, por umas horas, também “penso” noutras coisas.

segunda-feira, maio 28, 2018

O congresso e a geringonça

O Partido Socialista realizou o seu Congresso num ambiente que se pré-anunciava algo turbulento. 

À súbita reemergência do caso Sócrates, estranhamente potenciado pelo caso Pinho, somaram-se as trapalhadas de incompatibilidades de dois governantes. Alguma direita cavalgou a onda. Melhor do que todos, António Costa manteve-se impassível, não deixando poluir o Congresso. Com maestria, concentrou a reunião no futuro e ganhou a parada. Verdade seja que algumas “bombas” não rebentaram na Batalha porque se aproxima o desenho das listas para 2019, europeias e não só...

O Congresso fez o elogio da Geringonça. Com razão. Contra o parecer de muitos, a opção de apoiar o governo à esquerda provou ser correta. Ela só foi possível porque BE e PCP, depois do trauma da governação da direita, teriam grande dificuldade em fazer perceber ao seu eleitorado se se recusassem a favorecer uma solução governativa que lhe permitiria partilhar os louros da recuperação de alguns rendimentos. Depois disso, com a economia a correr bem, ficou feita a quadratura do círculo: respeitaram-se os compromissos com a Europa e retificaram-se algumas injustiças. O país gostou, não achou nada demais e vive confortável com a solução.

Mas a Geringonça teve outro efeito - e este Congresso mostrou-o bem: sublinhou, no seio do PS, a expressão política de quantos entendem que o futuro da governação socialista deve projetar, precisamente, o modelo de ação política dessa mesma Geringonça. Na leitura de alguns, esse será o “segredo” para a maioria absoluta, isto é, colocar o PS declaradamente à esquerda, reforçando, dentro do partido, a ala que considera ser esse o seu destino natural, por forma a não perder votos para a “esquerda da esquerda”. 

Uma coisa é hoje muito clara: aqueles que, num passado não muito distante, viam a “ala esquerda” do PS como um bando de lunáticos irrealistas, tiveram de meter a viola no saco. Essa ala está hoje reforçada pelo teste da realidade. 

A continuidade da sua prevalência no eixo da decisão socialista tem, contudo, dois potenciais problemas. Desde logo, a hipótese de um afastamento de um ou dos dois “compagnons de route” que sustentam o modelo, por opção estratégica ou qualquer outro fator conjuntural. O segundo problema prende-se com a hipótese de uma desregulação económico-financeira externa poder vir a provocar uma tensão entre o cumprimento das regras europeias e algumas das atuais políticas públicas mais identitárias para essa linha. Nos dois casos, a “ala esquerda” socialista poderia vir a confrontar-se com a (re)emergência de uma linha mais centrista, dita “realista”, os profetas do “eu bem dizia”.

O PS vive hoje muito confortável com a Geringonça, a qual já não assusta ninguém, como aconteceu em 2015. Porém, há algo indesmentível: António Costa continua a personificar, aos olhos de muito eleitorado, o fiel da balança que permite aos socialistas um crédito público de confiança. Isto é, continua a ser indispensável.

domingo, maio 27, 2018

Eutanásia

Não tenho ainda uma opinião formada sobre a legalização da eutanásia. 

Por ser uma questão de grande sensibilidade, bastante divisiva na sociedade portuguesa, e pelo facto de não vislumbrar nenhuma urgência especial na tomada de uma decisão, preferiria que o assunto fosse mais maturado.

Porém, reconheço plena legitimidade a que os deputados a esta legislatura da Assembleia da República, se assim o entenderem, legislem sobre o assunto.

sábado, maio 26, 2018

Do ramo


Chama-se Benjamin Brafman. Esteve ao lado de Dominique Strauss-Kahn. Agora está com Harvey Weinstein. O “ramo” é o mesmo.

sexta-feira, maio 25, 2018

São todos iguais ?



O tema da distância entre a “classe política” e os cidadãos é eterno e universal, mas o modo como tem vindo a evoluir na sociedade portuguesa contemporânea começa a não ser democraticamente saudável.

Às vezes, pergunto-me se os responsáveis eleitos, que hoje titulam cargos públicos, têm real consciência do risco que o alastrar deste sentimento faz correr às instituições, de como subliminarmente isso as deslegitima aos olhos do cidadão comum.

A História, mesmo entre nós, dá-nos exemplos de tempos políticos que se degradaram, nalguns casos até à rotura, por virtude da vida cívica ter passado a deixar de estar em sintonia com o sentir dos eleitores, sendo a abstenção o sintoma mais evidente desse estado de coisas. 

O alheamento da vida cívica, longe de ser uma espécie de mandato de confiança nos titulares saídos do sufrágio, é um atestado de desinteresse, que em versão benévola configura indiferença e, num registo menos agradável, traduz uma surda indignação. 

Se olharmos para o Brasil, vemos aquele que, nos dias de hoje, é talvez o caso mais óbvio de uma sociedade política onde, pelo facto dos vícios terem passado a ser a regra, se instalou uma desesperança que traz riscos imensos à democracia. Ora esse é precisamente o pasto ideal para o surgimento dos “salvadores”, de regeneradores da ordem decadente, dos modelos autoritários que estão sempre à espreita.

Entre nós, alguma comunicação social cavalga com gosto a onda de descrédito sobre os agentes públicos, metendo no mesmo saco flagrantes atos de corrupção com suspeitas levianas ou questões de gravidade muito inferior, ciente de que a ideia de que “são todos iguais” é muito popular e cai garantidamente no goto do preconceito estabelecido. 

A luta interpartidária, ao dar eco fácil a esse sentimento, que sabe popular, potencia os episódios e contribui para os tratar por igual, não cuidado de os graduar na sua importância objetiva. O resultado é um ambiente instalado de desconfiança em torno dos agentes políticos, da sua honorabilidade, quase que dando por adquirido que, entre eles, o surgimento da menor oportunidade será aproveitado para o usufruto de vantagens materiais ilegítimas, dando razão ao dito de que “a ocasião faz o ladrão”. 

Ora a honestidade e a seriedade continuam a ser valores que muita gente mantém como sentido orientador na sua vida, na política ou fora dela. Essa, porém, não é uma verdade aceite com facilidade pela opinião pública. Daí que só a plena transparência, de quem nada teme porque nada deve, possa ajudar a estancar a perigosa onda demagógica do “são todos iguais”, a qual, quase tanto como a real corrupção, põe em causa a democracia e fragiliza a legitimidade do sistema político.

quinta-feira, maio 24, 2018

Beira Interior



Tive uma bela jornada, ontem e hoje, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, onde fui falar a convite do professor Samuel Paiva Pires, da respetiva Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

No primeiro dia, integrei um painel onde se trocaram experiências sobre o destino profissional possível para os detentores de um curso de Relações Internacionais. No segundo dia, dei uma aula aberta sobre “O papel de Portugal em Organizações Internacionais”.

Vou tendo a sensação de que Donald Trump, com a sua imprevisibilidade, terá o involuntário mérito de estar a contribuir para que as pessoas estejam cada vez mais conscientes de que aquilo que se passa no mundo global condiciona a nossa vida coletiva como Estado, pelo que a atenção à política internacional, bem como à “coreografia” diplomática à sua volta, é apenas uma exigência de bom senso cívico. Por essa razão, dou sempre por muito bem empregue o tempo que passo a transmitir a minha perspetiva sobre o modo como as instituições e os Estados funcionam e fazem evoluir certos equilíbrios.

Letrados

Depois de bastantes horas, ao volante de um automóvel, a ouvir música portuguesa contemporânea, quero apresentar um sincero pedido de desculpas aos intérpretes do “nacional-cançonetismo” dos tempos “da outra senhora”. 

Andei anos a zurzi-los, por darem voz a letras de uma pobreza indigente. Agora, ao ouvir com alguma atenção alguns nomes por aí renomados, dou-me conta de que o nível poético daquilo que é cantado é, frequentemente, inferior ao dos tempos que então desprezávamos, mesmo com alguma arrogância.

Assim, “Nóbrega e Sousa/Jerónimo Bragança”, as minhas desculpas!

O “reviralho”

Há qualquer coisa de comum entre os termos “reviralho” e “geringonça”. Ambos são expressões depreciativas crismadas pelos opositores situados mais à direita.

Os “reviralhistas” ou “os do reviralho” foram historicamente os opositores democráticos ao golpe militar autoritário de 28 de maio de 1926, que instituiu a Ditadura Militar (1926-1933), a que se sucederia a ditadura civil que se auto-intitulou de Estado Novo (1933-1974). 

Os adeptos da “situação” (nome comummente dado ao regime ditatorial, mesmo pelos seus apoiantes, para contrastar com “oposição”), chamavam “reviralhistas” aos republicanos, que tinham como programa da sua acção de resistência (política e revolucionária, em inúmeras intentonas) regressar ao regime da I República (1910-1926). Também no seio da oposição à ditadura, onde passaram a florescer tendências mais ideológicas (anarquistas, comunistas, socialistas) o nome de “reviralhista” era dado, também depreciativamente, a esses “democráticos” ou “republicanos”.

Havia gente “do reviralho” um pouco por todo o país, embora, com o avançar dos anos, eles constituíssem cada vez mais uma minoria no seio das estruturas que, aquando dos atos eleitorais permitidos pela ditadura, se organizavam de forma unitária para ações de oposição.

Por altura das “eleições” legislativas para a Assembleia Nacional, em 1969, em Vila Real, percebi um dia o que era o “reviralhismo”, na sua forma mais caricatural. 

Tinha calhado à conversa, na sede da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), com um velho democrata local. Era uma figura pouco prestigiada, às vezes mesmo objeto de algum gozo por parte de quem tinha com ele mais confiança. Porém, com os meus vinte e poucos anos, eu mantinha naturalmente uma atitude respeitosa perante alguém que era mais velho do que o meu pai. 

Procurava eu demonstrar-lhe, com argumentário da época, que era necessário assumirmos uma postura anti-colonial no discurso oposicionista da nossa candidatura local. O tema era polémico entre os oposicionistas do distrito e eu fazia parte da ala mais radical. O meu interlocutor, contudo, era da “velha guarda” republicana, defendia o “colonialismo” de Norton de Matos e, para ele, a preservação do “império” era ainda sagrada: “foi para defender as colónias que a República quis que entrássemos na Grande Guerra”, proclamava (e era verdade). E, claro, tinha expressões como “os pretos não sabem governar-se” e coisas assim.

A certo ponto, com grande respeito mútuo, “acordámos em discordar” no tema, como se diz na gíria das negociações internacionais. Foi então que o homem, para selar um terreno comum de entendimento, me disse esta frase que nunca mais esqueci: “Há uma coisa em que concordamos, não é? É preciso tirar esta gajada do poleiro. Já é tempo de irmos nós para lá. Não acha, ó Costa?”

Até hoje, interrogo-me sobre qual terá sido a minha resposta. Mas, naquele instante, fixei para sempre o sentido concreto do “reviralhismo”.

quarta-feira, maio 23, 2018

Honestidade

Acho, com toda a franqueza, que a questão da notificação atrasada do primeiro-ministro ao Tribunal Constitucional, por uma pequena aquisição imobiliária, é um “fait-divers” burocrático, de quase nula importância.

Já o “lapso” do ministro Siza Vieira é talvez um pouco mais grave, mas, ainda assim, é também uma “technicality” formal.

Dito isto, o PS e o governo - que, note-se, apoio e defendo - deveriam coibir-se de atacar a oposição por estar a explorar politicamente estes casos. 

Porquê? Porque ninguém tem a mais leve dúvida de que, fosse a atual oposição governo e estivesse o PS a lutar pelo poder, o PS estaria a fazer uma enorme “barulheira” política sobre o assunto. Com o PCP e o BE por arrasto.

Sejamos honestos, pois...

Wall Street

Pela primeira vez, uma mulher assume a função de líder da poderosa Bolsa de Nova Iorque. 

Ao ler a notícia, não pude deixar de ter um pensamento para Benjamin Mendez Seixas, filho de um português ido de Lisboa, fundador daquela ”catedral” financeira. 

Infelizmente, os factos provam que os genes de genialidade naquele domínio não se adquirem por via familiar.

terça-feira, maio 22, 2018

Pomar


Morreu Júlio Pomar. Tinha 92 anos. Conheci-o tarde na vida, em S. Paulo, um pouco antes de ter trabalhado, com sucesso, para a recuperação de um seu painel de azulejos que está hoje numa parede da biblioteca de Brasília, graças ao entusiasmo de Silvestre Gorgulho, então secretário da Cultura.

Em Paris, numa noite do ano estranho que foi 2011, jantei com Pomar e a sua mulher, numa galeria onde era feita a apresentação, para venda a investidores, de várias obras de pintura portuguesa, do espólio de Jorge de Brito. 

A mim, o momento entristeceu-me bastante. Ver fantásticos óleos de vários e renomados autores portugueses prestes a serem passados a patacos, para as mãos de estrangeiros, colocou-me a interrogação sobre o que estava por ali a fazer o embaixador de Portugal. 

Disse-o a Júlio Pomar, que me respondeu, com aquele seu amplo sorriso: “Deixe lá! Faça como eu. Aquilo que está ali a ser vendido já não tem nada a ver comigo. É do mercado!”. Como o país.

Encontrei-o, uma última vez, a jantar com Carlos do Carmo, seu grande amigo. Despedimo-nos sem saber que era para sempre.

(*) Reproduzo um quadro de Pomar que estava à venda na galeria, que faz parte do meu “top” de pintura portuguesa. É o “Mai 68 (CRS-SS II)”. Nem arruinando-me alguma vez o conseguiria comprar...

Do Porto? (2)

A propósito da referência que aqui fiz a Carvalho Araújo como “vila-realense”, alguém fez notar que ele nasceu no Porto.

É verdade. Os seu pais viviam em Vila Real. De visita casual ao Porto, a mãe teve a criança, regressando depois à cidade onde residia e onde Carvalho Araújo foi educado.

Assim, o caráter “portuense” de Carvalho Araújo é em tudo idêntico à ligação que uma figura como Medeiros Ferreira tinha com o Funchal, onde nasceu, precisamente nas mesmas circunstâncias. E ninguém se lembra de chamar-lhe “madeirense”, não é?

Do Porto? (1)



A designação de “vinho do Porto” nem sempre foi consensual para as gentes da região. 

Tempos houve em que os lavradores sentiam necessidade de marcar distância face à cidade em que os exportadores tudo controlavam. 

O meu amigo Manuel Cardona, à mesa de um almoço este domingo, recordou uma quadra que ouvia na família:

Vinho “velho” para os antigos,
“tratado” para os lavradores,
“generoso” para os amigos,
“do Porto” para os doutores

segunda-feira, maio 21, 2018

Um magnífico gesto

O presidente da República subscreveu a decisão do governo de decretar luto nacional pela morte do “pai” do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut. 

Um magnífico gesto de Marcelo Rebelo de Sousa, que muito o honra.

António Cabral



António Cabral morreu há mais de uma década. A recolha e divulgação da cultura popular ocupou muito tempo da sua vida, após o 25 de abril. Dirigiu estruturas dedicadas à cultura e editou interessantes livros sobre jogos populares transmontanos. E escreveu muito - poesia, teatro, variada ficção. 

Era padre, quando eu o conheci. Era professor e explicador de literatura, um pedagogo notável, como atestam os que com ele aprenderam. A literatura estava-lhe nas veias e, nela, era à poesia que mais se dedicava e seria o género em que mais se destacou, com obra publicada desde muito cedo. 

Foi o grande animador, na primeira metade dos anos 60, do movimento “Setentrião”, que editou uma revista cultural que foi uma lufada de ar fresco na cidade abafada que Vila Real então era. Com ele estiveram António Barreto, Eurico de Figueiredo, Carlos Loures, Eduardo Guerra Carneiro, Gonçalinho de Oliveira e alguns outros. 

Um dia, em 1969, conheci-o melhor. Coincidimos na aventura política que foi a Comissão Democrática Eleitoral (CDE) de Vila Real, o movimento oposicionista que concorreu às “eleições” legislativas desse ano, liderado no distrito por Otílio de Figueiredo. António Cabral esteve envolvido na CDE até que o bispo de Vila Real lhe deu instruções para se afastar dessa “perigosa” atividade cívica. Discretamente, continuou sempre a acompanhar-nos. 

Desde então, mantive com ele uma relação amiga. Recordo-me que, a seu convite, comigo já há muito a viver em Lisboa, escrevi vários artigos sobre Sociologia do Desporto para o jornal do Sport Clube de Vila Real, que dirigiu.

António Cabral viria a abandonar a vida religiosa. Casou, continuando a viver em Vila Real, onde se consagrou como uma prestigiada figura do mundo da cultura. Era um homem do Douro, região que esteve no cenário de fundo de muita da sua poesia. 

No passado sábado, no Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta, estivemos a homenageá-lo através da reedição dos seus “Poemas Durienses”, com capa de uma obra de Nuno Barreto, bem como de uma excelente e comovida evocação feita por Vitor Nogueira.

domingo, maio 20, 2018

O Sporting é isto?

Nas últimas semanas, tenho ouvido e lido vários adeptos do (meu) Sporting afirmarem, com esforçada convicção que “o Sporting não é isto!”.

Com isso, essas pessoas querem afirmar que uma instituição centenária e com um historial como o do Sporting é algo de muito distinto de um clube que hoje é formalmente tutelado por um evidente perturbado mental que apoia a sua alegada “liderança” num bando de arruaceiros e energúmenos, oriundos de uma claque que, tal como ocorreu noutro tempo no Reino Unido, deveria ser de imediato interditada por decisão judicial.

Voltamos à questão: o Sporting é isto? Na realidade, goste-se ou não, o Sporting, infelizmente, será hoje isto se os seus associados não forem capazes de afastar e substituir de imediato o bando que, com a cumplicidade do seu voto, o tomou de assalto. Tão simples como isto!

Como adepto, deixo uma saudação grata a Jorge Jesus e aos jogadores. Compreendo perfeitamente a impossibilidade de um melhor resultado no ambiente miserável que a direção do clube lhes proporcionou.

No Panteão Nacional

No dia 8 de janeiro de 2025, José Maria Eça de Queirós entrará no Panteão Nacional.  Finalmente!