O anúncio do afastamento de Santana Lopes do apoio ao líder partidário tinha prenunciado que algo começava a gerar-se contra Rui Rio, no seio de um PSD cujo grupo parlamentar já se percebeu que ele nunca vai conseguir controlar. Depois, reemergiu Passos Coelho, com “opinião” na folha informática que, depois de alguma hesitação editorial, é hoje uma espécie de “Povo Livre” do passismo. Abreu Amorim, com a habitual subtileza, deixou nas redes sociais uma nota clara do que aí vinha. Fechou o círculo Luís Montenegro, com o mais violento ataque ao líder desde o congresso. O pretexto imediato, frouxo, foi o voto sobre a eutanásia.
Rui Rio, nos seus 100 dias como presidente do PSD, parece estar já debaixo de fogo cruzado. Os motores podem estar a começar a aquecer para tentar criar uma onda de fundo para a sua substituição até ao fim do ano. A mensagem dos críticos, para dentro do partido, é simples: Rio “não vai lá!”, é uma muleta de António Costa, não tem estratégia, o grupo parlamentar é vítima dessa desorientação. Com ele, a derrota em 2019, além de certa, será estrondosa, dizem. O “pote” fica mais longe, para citar um conhecido “clássico”.
A rotura, como é óbvio, terá de de se produzir antes das eleições europeias e legislativas de 2019. Porquê? Porque, sendo óbvio que o PSD vai perder ambos os sufrágios, se acaso Rio sobrevivesse politicamente até lá, as listas para Estrasburgo e para Assembleia da República seriam feitas por ele. Isso significaria que os seus adversários perderiam, com toda a certeza, o acesso ou a manutenção nesses palcos políticos e que, mesmo que Rio viesse a ser substituído no pós-eleições, quem lhe sucedesse viria a ficar com grupos parlamentares hostis... como hoje acontece ao próprio Rio.
É assim importante, para os “passistas”, conseguir remover Rio nos próximos meses. O grupo parlamentar é a sede central da manobra, alguma imprensa está a pôr-se a jeito e a fazer o frete.
Para seguir as cenas dos próximos episódios é preciso estar atento a outros atores que devem estar prestes a assomar à boca de cena. Nada garante que a “peça” seja um sucesso, mas o “script” parece já estar escrito.