Na vida diplomática, acontece-nos ter na ideia nomes de algumas figuras estrangeiras que, por uma razão ou por outra, se dedicaram ou dedicam, nos respetivos países, às coisas da cultura portuguesa. Solange Parvaux é uma dessas figuras míticas ligadas ao ensino da língua portuguesa em França, mas já havia desaparecido quando, em 2009, fui colocado na Embaixada em Paris.
Pedagoga e inspetora do ensino francês, Solange Parvaux "apaixonou-se" pelo português, tendo estado na origem da "Association pour le Développement des Etudes Portugaises, Brésiliennes, d’Afrique et d’Asie lusophones" (ADEPBA), sendo autora de vários livros sobre a nossa língua. A ela se deve um impulso decisivo para a consagração do português no ensino oficial francês.
Na terça-feira passada, tive o gosto de proceder, na Embaixada, à assinatura, em representação do Instituto Camões, conjuntamente com a presidente da universidade Paris III (Sorbonne Nouvelle), Marie-Christine Lamardeley, de um protocolo que institui a cátedra Solange Parvaux, naquela universidade.
Responsáveis universitários, amigos e admiradores de Solange Parvaux estiveram presentes nesse evento, onde tive ocasião de lembrar que o ensino da língua portuguesa na Sorbonne data já de 1919 e que, em 1930, foi criado naquela universidade o primeiro leitorado de português. Nestes tempos em que continuamos a procurar garantir um melhor lugar para a língua portuguesa no sistema oficial francês, o empenhamento do Estado português na criação desta cátedra parece-nos ser um bom testemunho da nossa determinação em assegurar esse objetivo.
Porque a ocasião foi também um momento festivo, houve música pela pianista Clare Longedike, numa colaboração com a Casa de Portugal/Residência André de Gouveia, na Cité Universitaire de Paris.
5 comentários:
Uma coisa que já devia ter sido feita há muito tempo era acabar com o ensino do Francês nas escolas públicas portuguesas.
Não se admite que o Estado Português se responsabilize economicamente pelo ensino de uma língua que há décadas deixou de ser língua franca e cujo lugar no ensino se deve a ideais pouco práticos do que deve ser a educação dada aos cidadãos.
Eu aprendi Francês no liceu e na Alliance Française. Gosto imenso da língua, sou consumidor muito frequente de produtos culturais franceses (e do Quebeque), mas sou obrigado a confessar que o seu conhecimento nunca apresentou qualquer vantagem para mim que não fosse maior facilidade em fazer turismo.
(por curiosidade, em Marrocos foram diversas as vezes em que os naturais faziam questão de falar comigo em Castelhano ou Inglês...)
Longe vão os tempos do "tocar piano e falar Francês" e a verdade é que o Estado não nos ensina a tocar piano. Porquê insistir no Francês?
(ou, já agora, em qualquer outra língua que não uma que nos assegure a comunicação internacional e o acesso ao conhecimento?)
Como agravante, o Estado Francês sempre teve políticas agressivas de competição com a nossa língua em África. Na nossa própria casa, ensinamos, a custas nossas, a língua da concorrência?
Nem sequer os filhos dos emigrantes conseguimos por a aprender Português decentemente (em França), a existência de rádios lusas em terras gaulesas esteve sujeita a chantagem feita à volta da RPL (Radio Paris-Lisboa) e, em contrapartida, temos este comportamento ingénuo (como em TANTAS coisas)...
Já agora, pergunto a quem o saiba: no fim dos anos 90, quando fui ao Louvre, não consegui, sequer, uma brochura em Português. Havia-as em Castelhano, Italiano, Inglês, Alemão, Holandês, Russo, Checo, Mandarim, Japonês, Grego, Polaco, Sueco e, até, em Coreano. A coisa mudou, entretanto?
Este ano deparei-me com a necessidade de orientar o meu filho na opção da 2ª língua ao ingressar no 7º ano.
Eu ainda a pensar no Francês,percebi que não haveria possibilidade dado todos os estudantes inclusive o meu filho enveredarem como 1ªopção pelo Espanhol.
Isabel Seixas
Quando, há alguns anos, vivi numa cidade do 92, limítrofe de Paris, pensei em colocar o meu filho a aprender português. Ele tinha entrado em CP, no ensino regular francês, em tudo muito bom, excepto que não garantia o português na mesma escola. As aulas de português decorriam numa escola um pouco mais afastada e, para meu espanto, eram apenas duas horas por semana, às 4as-feiras, dia de interrupção das aulas no ensino elementar e em que a maioria dos alunos fica no centro de tempos livres. Apesar da perturbação que isto iria causar na minha rotina diária, procurei inscrevê-lo. A directora da escola (uma mulher cuja coloração capilar mudava com as estações e que parecia saída de um filme de Tim Burton - mas isso é outra história), dizia que não era com ela, na outra escola nunca consegui avistar a professora das aulas de português, bref... Rapidamente me apercebi de que os meninos luso-descendentes da vizinhança que frequentavam aquelas aulas tinham sérias dificuldades com o vocabulário mais básico. Comecei, pois, a ensinar eu mesmo o meu filho, 30 minutos por dia, 5 dias por semana, com base nos manuais usados em Portugal. Coisa nada difícil, afinal, e de que não me arrependi.
Não me posso pronunciar quanto ao ensino do português a nível universitário, mas quanto ao ensino básico posso dizer que fiquei bastante mal impressionado. Se é assim numa cidade em que vivem tantos portugueses, como será no resto da França?
Conheci Solange Parvaux e tive oportunidade de apreciar o seu trabalho em prol do ensino do português durante duas "passagens" profissionais em França.
Mais do que profissional e pessoalmente interessada no tema, era uma militante que punha em toda a sua actividade nessa área um entusiasmo contagiante e mobilizador.
A homenagem que lhe é prestada com a criação da cátedra que leva o seu nome é singela - em comparação com os longos anos de vida que dedicou ao português - e mais do que merecida.
A Solange Parvaux, sim-senhor, ainda mais por se tratar de uma estrangeira que defendeu com garra a língua portuguesa. Mas as distinções não podem “responder” à ausência de “resposta” do essencial. E o essencial é responder às dificuldades de liberdade e desenvolvimento da língua lusa por quem muita gente se tem batido aqui em França.
Recordo um conterrâneo, o Dr. José Terra, que também soube pôr muito do seu esforço a favor da nossa língua, entre muitos outros, que convém de vez enquanto recordar.
Enviar um comentário