Morreu Gilberto Ferraz. Chegou-me agora a notícia, de Londres.
No ano passado, voltámos a ver-nos no seu apartamento em Cascais. Depois, entre os lançamento do seu livro de memórias, em Londres e em Lisboa, morreria Marisa, a sua companheira de muitas décadas. A saúde o Gilberto era já então muito frágil e, com certeza, isso e os anos pesaram agora sobre o desgosto. Desaparece agora. Deixo aqui uma nota muito sentida de pesar por um amigo, um homem de bem e um jornalista sério e rigoroso.
Às vezes me pergunto onde conheci, pela primeira vez, o Gilberto Ferraz. Posso estar equivocado, mas tenho a impressão de que foi nas manhãs da TSF, nos anos 80, no meio daqueles noticiários e "gingles" trepidantes, que escutei pela primeira vez a sua voz. Como milhares de portugueses, podia receber, cada manhã, sínteses precisas sobre o modo como a imprensa britânica via o mundo, o seu e dos outros.
Um dia, numa passagem por Londres, coloquei finalmente uma cara naquela voz. Quando, tempos mais tarde, me mudei para ir trabalhar para a capital britânica, na nossa embaixada, passei a contar com o Gilberto Ferraz como um interlocutor regular. Construímos então uma boa amizade, feita de respeito e estima, pessoal e profissional, que se manteve e reforçou a partir de então.
Gilberto Ferraz foi um jornalista que, desde há muitas décadas havia assentado arraiais "Por terras de sua majestade" - e deixo isto entre aspas, porque esse é o título do seu livro de memórias, editado em 2016, que tive o gosto de prefaciar.
O Gilberto teve um pé na política (julgo que chegou a representante do PSD ou do PPD no Reino Unido), tendo sido também correspondente em Londres do "Jornal de Noticias" e colaborado pontualmente com diversos outros órgãos de comunicação social.
Paralelamente a tudo isso, trabalhou, durante décadas, na famosa "Secção portuguesa" da BBC, uma excecional escola de rádio e jornalismo. Em 2012, fui um dia de Paris a Londres e convidou-me para almoçar na Bush House, a sede da BBC, onde notei que ele se sentia verdadeiramente em casa.
3 comentários:
Lembro-me bem dos seus comentários às crónicas de Ferreira Fernandes, sempre bem construídos e interessantes. Senti pesar quando soube da sua partida, através deste post.
Acrescento que aprecio e respeito muito o seu hábito de sinalizar e lembrar aqui a vida dos que vão partindo. Não é muito comum, na nossa cultura.
Convivi com o Gilberto Ferraz durante muitos anos em Londres. Chegou a fazer-me uma entrevista. Uma presença assídua nas recepções da embaixada. R.I.P.
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