Acabo de ver na televisão a minha equipa londrina, o Arsenal, vencer a "Cup final", num jogo emocionante até ao fim. (Tenho estas defesas internacionais afetivas, talvez para compensar azares desportivos domésticos). Lá por Londres, no antigo Wembley, tive em tempos o supremo privilégio de assistir a algumas finais, espetáculos memoráveis nessa insubstituível "catedral" histórica do futebol.
Hoje, acompanhei a segunda parte do jogo com um belo "Earl Grey" da Twinings, com a água na temperatura certa, porque, como dizia a minha mãe, não se deve "cozer o chá".
Há minutos, ao dar pela falta dos "scones" a acompanhar, lembrei-me do Nuno Brederode Santos. Quando eu vivia por Londres, o Nuno passou por lá algumas vezes. Na primeira, encontrámo-nos para um copo no bar do Browns. "Eu, nesta terra, fico sempre no Browns", tinha decretado o Nuno. E ficava muito bem. O Browns era um hotel clássico, numa transversal a Picaddilly (não tenho pachorra para ir ao Google ver o nome da rua), à época bastante agradável. O Nuno explicou-me que o "afternoon tea" do Browns era tido por um "must". A verdade é que não me recordo de alguma vez ter tomadi chá com o Nuno.
Meses mais tarde, num sábado, com os meus pais, que estavam por ali em férias, fomos lanchar o Browns. À entrada, corretíssimo, um funcionário observou-me: "I'm afraid, sir, but you forgot your tie!" De facto, eu não levava gravata. Lembrava-me lá eu de andar de gravata num fim-de-semana! "May I ask you to select the one you like the most from our 'private' collection?", disse, gongórico, sorrindo. E lá lá fui a um "closet" descortinar uma tira de pano, de que escolhi a mais berrante (para escândalo de quem ia comigo, mas não do empregado), para pôr ao pescoço, autorizado assim a poder degustar a seleção magnífica de compotas com que por ali se acompanhavam as mini-sandwiches, os "brownies" e aqueles imbatíveis "scones", nos "trays" cónicos de regra.
Por uma única vez, bem mais tarde, dormi uma noite no Browns - e disso não guardo nenhuma memória impressiva, embora me digam que o hotel hoje está esplendoroso. Não sei se agora (com os russos e árabes a pagar) o hotel ainda exige o uso da gravata, nem se o chá da tarde por lá ainda se recomenda, Só sei que, com o Nuno, não poderei nunca mais comentar essa Londres de que ele tanto gostava (e houve outras Londres que partilhei com ele e o seu grande amigo Zé Laranjo, que também já se foi).
Por que é que me lembrei, nesta hora da final da Taça de Inglaterra, do chá? Pela "falta" dele por parte dos jogadores e dirigentes do (meu) Arsenal, pelo modo miserável como deixaram isolado no meio do campo, sem um abraço, sem um gesto de solidariedade, o (agora) mal-amado treinador Arsène Wenger, um "gentleman" (embora francês) que deu mais de vinte anos pelo clube e que parece destinado a ser escorraçado (embora lhes ofereça a "chapada" derradeira da vitória de hoje).
O "meu" Arsenal era outro, era o de Highbury Park, do "Fever Pitch" do Nick Hornby, do bairro operário das fábricas militares em que prosperou. Beber uma "pint" no "Wig and Gown", em sábados em que, anónimo e sozinho, ia de metro a Islington, foi uma espécie de batismo no mundo dos "gunners". É que, à época, muitos grunhos, arrotando cerveja e grunhindo interjeições num indecifrável "slang", talvez tivessem "mais chá" e sentido de gratidão do que esta tropa de hoje, que não respeita quem os serviu com lealdade e bastante sucesso por tanto tempo.
Hoje, acompanhei a segunda parte do jogo com um belo "Earl Grey" da Twinings, com a água na temperatura certa, porque, como dizia a minha mãe, não se deve "cozer o chá".
Há minutos, ao dar pela falta dos "scones" a acompanhar, lembrei-me do Nuno Brederode Santos. Quando eu vivia por Londres, o Nuno passou por lá algumas vezes. Na primeira, encontrámo-nos para um copo no bar do Browns. "Eu, nesta terra, fico sempre no Browns", tinha decretado o Nuno. E ficava muito bem. O Browns era um hotel clássico, numa transversal a Picaddilly (não tenho pachorra para ir ao Google ver o nome da rua), à época bastante agradável. O Nuno explicou-me que o "afternoon tea" do Browns era tido por um "must". A verdade é que não me recordo de alguma vez ter tomadi chá com o Nuno.
Meses mais tarde, num sábado, com os meus pais, que estavam por ali em férias, fomos lanchar o Browns. À entrada, corretíssimo, um funcionário observou-me: "I'm afraid, sir, but you forgot your tie!" De facto, eu não levava gravata. Lembrava-me lá eu de andar de gravata num fim-de-semana! "May I ask you to select the one you like the most from our 'private' collection?", disse, gongórico, sorrindo. E lá lá fui a um "closet" descortinar uma tira de pano, de que escolhi a mais berrante (para escândalo de quem ia comigo, mas não do empregado), para pôr ao pescoço, autorizado assim a poder degustar a seleção magnífica de compotas com que por ali se acompanhavam as mini-sandwiches, os "brownies" e aqueles imbatíveis "scones", nos "trays" cónicos de regra.
Por uma única vez, bem mais tarde, dormi uma noite no Browns - e disso não guardo nenhuma memória impressiva, embora me digam que o hotel hoje está esplendoroso. Não sei se agora (com os russos e árabes a pagar) o hotel ainda exige o uso da gravata, nem se o chá da tarde por lá ainda se recomenda, Só sei que, com o Nuno, não poderei nunca mais comentar essa Londres de que ele tanto gostava (e houve outras Londres que partilhei com ele e o seu grande amigo Zé Laranjo, que também já se foi).
Por que é que me lembrei, nesta hora da final da Taça de Inglaterra, do chá? Pela "falta" dele por parte dos jogadores e dirigentes do (meu) Arsenal, pelo modo miserável como deixaram isolado no meio do campo, sem um abraço, sem um gesto de solidariedade, o (agora) mal-amado treinador Arsène Wenger, um "gentleman" (embora francês) que deu mais de vinte anos pelo clube e que parece destinado a ser escorraçado (embora lhes ofereça a "chapada" derradeira da vitória de hoje).
O "meu" Arsenal era outro, era o de Highbury Park, do "Fever Pitch" do Nick Hornby, do bairro operário das fábricas militares em que prosperou. Beber uma "pint" no "Wig and Gown", em sábados em que, anónimo e sozinho, ia de metro a Islington, foi uma espécie de batismo no mundo dos "gunners". É que, à época, muitos grunhos, arrotando cerveja e grunhindo interjeições num indecifrável "slang", talvez tivessem "mais chá" e sentido de gratidão do que esta tropa de hoje, que não respeita quem os serviu com lealdade e bastante sucesso por tanto tempo.
7 comentários:
Posso ajudar com o nome da rua: Maddox Street.
Scones- comi de manha, hora errada,bem sei,Em vez de d eram 1 pouco "de fabrica" e faltava o "devon cream". A substituir compota de morango tinha compota de abobora...
Mr Wenger, sempre o tive como holandes, sabe-se la porque, gtalvez o nome... fui ao Dr. Google e claro que e de Estrasburgo.
Ou muito me engano ou o Ze Laranjo era do Chelsea.
Tambem vi o jogo mas a essa hora bebia um temperanillo. Nem me meto nas guerras do cha, qual e o melhor earl grey: do Harvey Nichols, Harrods ou Fortnun's? Quero calma neste dia.
Pensamentos de quem gosta de ver 1 jogo mas ano entende muito do assunto.
Bom fim de semana.
F. Crabtree
O que se pode concluir é que vossa excelencia tem um fraco por equipas dirigidas por grunhos. Bom... quem não tem?
Vou agora continuar a comer os meus scones "de fabrica" com um café bem forte e geleia de marmelo...
Esta noite, no sono entrou-me novamente o Arsenal com duvidas sobre algo nao definido. Acordei, li o Guardian e fez-se luz...
Acho que gosta de bons policiais mas nao sei se leu este: "Kissing the Gunner's Daughter" de Ruth Rendell. Faz parte do conjunto do Inspector Wexford e foi publicado em 1 de Junho de 1992. A altura nao sabia que o Arsenal era conhecido como "the Gunners" e um dia indo para Plumstead passei por "Woolwich Arsenal". Vi logos com canhoes na parede. Fui averiguar, ler mais sobre o Arsenal enquanto me embrenhava no policial. E realmente um dos meus preferidos da R. Rendell, sombrio ate dizer basta mas descreve bem as zonas de Islington, Woolwhich, clubes de futebol, classes sociais, etc. Pergunto-me hoje se a data da publicacao do romance no inicio de Junho sera so uma coincidencia ou tem a ver com o final da taca.
Ja divago, vou-me aos scones
Domingo feliz com calma
F. Crabtree
isto dos chás tem muito que se lhe diga, mais do que os cafés e tanto como os whiskies.
twinings, harrod's, whittard's, mariage frères, imperial teas, indianos, do ceilão, do quénia, de moçambique ainda há? dos açores, teekanne, russian não sei quê, house blend, ligeiro, normal, forte, amargo, preto ou verde (nunca percebi as outras cores), com leite, sem leite, mistura chai, fermentado, broken, leaf, em saquinhos, a indian tea house (desapareceu?), servido por espanhóis, earl grey, jasmin, gunpowder green tea, ao quilo, aromatizado, já vi aromatizado ao café (!!!), para acompanhar isto e aquilo, torradas, scones, caris, sanduíches, chá para o pequeno almoço, breakfast, o da tarde, afternoon tea, chinês não, obrigado, nem japonês, e os bules? ingleses? vista-alegre? de metal? de vidro? pois pouco a pouco fui atrasando a hora do chá da tarde, antes às 5 e 1/2, depois às 6 e 1/2, agora às 7, pois um conhecido que tinha viajado em navios dizia-me que os criados de bordo, os ship stewards, batiam à porta da cabine às 6,30 da manhã e diziam, o chá sr, uma chávena de chá forte e quente para reconfortar e continuar a dormir, ao levantar está bem o chá, aos domingos o café, já bebi o meu da manhã hoje, etc etc
Eu cá sou do Chelsea há 60 anos!
Fernando Neves
O Nuno podia ja nem se lembrar de mim , ou talvez lembrasse, do tempo de tropa com o capitao azevedo. Mas eu recordo o com profunda saudade.. e eu nem sequer era oficial, era cabo miliciano. Lin sempre as suas cronicas e lembro me sempre dele como um rapaz... um bom rapaz. E diga sel la que nao ha bons rapazes que sao pessoas inteligentes e integras e gente que se distingue pelas suas altas capacidadesintelectuais e outras.....
Q mesmo sendo bons rapazes
Fernando Neves. Imagino que, nos teus tempos de Londres, morasses lá para Fulham Road ou mesmo na King's dos "swinging sixties". É verdade que eu também não morei em Islington...
Enviar um comentário