É quase patética a situação que se criou em torno dos "briefings" do governo, que inicialmente eram para ser diários, depois passaram a ser "quando o rei faz anos" e agora terão uma periodicidade a definir, a tudo isto se cumulando registos em "on" e em "off". A iniciativa parece ter partido de dois académicos recrutados recentemente para o executivo, que terão seguido o princípio de que "se nós explicarmos bem o que estamos a fazer, os portugueses compreenderão e valorizarão isso". Enganaram-se e agora, como já se percebeu, não sabem bem como hão-de descalçar a bota.
A ideia deve ter surgido a alguém que viu muito as séries "Os homens do presidente", que achou que se podia transpor uma prática americana de décadas, com regras próprias e há muito testadas, típica de uma administração presidencialista centralizada, para um ambiente nacional marcado por um "malaise" conjuntural fortíssimo. Acresce a óbvia impossibilidade de, num governo de coligação, com a sustentação de um quadro de ambições estratégicas só conjunturalmente próximas, manter uma "unicidade" no discurso, até porque todos sabemos que há protagonistas que gostam de escrever o seu próprio "script" e não estão dispostos a prescindir da sua autonomia de afirmação pública, nomeadamente no "dourar" da sua atividade pessoal.
A ideia deve ter surgido a alguém que viu muito as séries "Os homens do presidente", que achou que se podia transpor uma prática americana de décadas, com regras próprias e há muito testadas, típica de uma administração presidencialista centralizada, para um ambiente nacional marcado por um "malaise" conjuntural fortíssimo. Acresce a óbvia impossibilidade de, num governo de coligação, com a sustentação de um quadro de ambições estratégicas só conjunturalmente próximas, manter uma "unicidade" no discurso, até porque todos sabemos que há protagonistas que gostam de escrever o seu próprio "script" e não estão dispostos a prescindir da sua autonomia de afirmação pública, nomeadamente no "dourar" da sua atividade pessoal.
Nos dias que correm, o sentimento dominante nos "media" face ao governo não é favorável e isso não é uma coisa de "esquerda" ou de "direita" - bastando refletir no que se passou nos últimos tempos da administração Sócrates. O país anda mal disposto com o governo e a imprensa, sentindo isso, segue-lhe o "mood". Daí que os famosos "briefings", em lugar de serem um tempo de esclarecimento da "bondade" das opções do governo - como se as medidas políticas fossem "neutrais" e houvesse uma espécie de "objetividade" natural que se revelasse pela simples explicação -, acabem por ser uma oportunidade mais para a imprensa explorar as debilidades do executivo. O governo vai para os "briefings" tentar mostrar "obra feita", mas a agenda dos jornalistas é outra, é aproveitar essa ocasião como uma trincheira para sublinhar incoerências, frases ou atitudes contraditórias, bem como a fragilidade de certos atores políticos convidados, alguns com dificuldades insuperáveis - como, há dias, se notou com o (então ainda) secretário de Estado do Tesouro, cuja prestação se converteu num penoso suicídio político em direto televisivo.
Há uma obra clássica de comunicação política que se recomendaria que o secretário de Estado Lomba lesse: "Kill the messenger", de Bernard Ingham, assessor para a comunicação social de Margareth Thatcher, depois de o ter sido de figuras tão diferentes como Tony Benn, Lord Carrington ou Barbara Castle. Ingham não era membro do governo, nunca fazia "briefings" em "on", pelo que os seus cuidadosos "off" eram sempre atribuídos a "senior government sources". Mas, tal como o secretário de Estado Lomba, nem sempre era feliz na sua tarefa de "spin doctor", talvez menos por culpa própria do que pela dificuldade de "vender" algumas das mensagens, em especial quando as coisas corriam mal. É que as mensagens, quando são vistas, mesmo que com eventual injustiça, como tendo a qualidade de um produto de quinquilharia de loja chinesa, acabam por dar ao mensageiro a sorte política que o título do livro de Ingham anuncia.
20 comentários:
Aqui, entre nós, a coisa fia mais fino.
Aqui não é apenas uma questão de amadorismo ou de infantilidade. A questão, cá para mim, é mais séria.
Desconfiei logo no primeiro dia e a minha suspeição tem vindo a confirmar-se à medida que os lombinha briefings foram tendo lugar. Aquilo ali parece que é encosto mesmo, coisa de mau olhado. Os lombinha briefings dão azar ao governo, é o que é.
Se o lombinha e chefe verdinho (que maduro é que ele não é) tivessem sentido prático, faziam uma reza, faziam umas defumações, coisas assim dessas, e talvez a coisa se resolvesse. Assim, como não passam de uns académicos, são bem capazes de ir estudar um modelo que lhes pareça mais adequado aqui à piolheira.
A ver vamos. Só espero é que não demorem muito que a gente diverte-se à brava com os números deles.
Um bom domingo!
O problema está em que a autoridade está minada. Bem se pode tentar explicar o inexplicável que a mensagem não passa. É uma camisa de onze varas para os laranjas terem de optar por escolher entre um Maduro, simpático, mas que não convém queimar demasiado, um Lomba que não sabe ainda onde esconder os punhos da camisa e o estilo arruaceiro de jadis de Marco António Costa, Monterroso ou Teresa Leal Coelho que desagrada e parece uma relíquia de tempos remotos. É uma maçada.
E andam mestres a mestrar-se para esta mestrice...
a) Feliciano da Mata, simples licenciado
Nao esqueça que o Mestre Pedro Lomba chegou a fazer parte do júri do concurso de ingresso na carreira diplomática...
a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)
O MNE desde sempre que só escolhe professores de direita como membros do júri do concurso de admissão de adidos de embaixada.
Quando um "briefing" consiste a dizer aos jornalistas "aquilo que devem compreender" e não "aquilo que vai ou está mesmo já a acontecer", estamos muito perto do sistema dictatorial .
O peso dos factos e dos expertos em todos os géneros induz uma reacção em cadeia que é, ela, perfeitamente previsível particularmente no Ocidente. Daí, a procura quase frenética do controlo da opinião da parte dos governos. Todos os governos.
Os intelectuais, não conscientes de serem manipulados e tendo bastante ego para se vangloriarem de ter um "ponto de vista" pessoal, podem debater as migalhas das suas conclusões e das suas explicações; os jornalistas podem investigar as falsas pistas, interpretando os silêncios embaraçados dos seus interlocutores como comportamentos suspeitos.
E portanto, existe uma questão que resume tudo, como num inquérito de polícia e não mudou desde o principio das sociedades humanas: " a quem beneficia o crime?". Uma vez esta questão posta sem tabu, pode-se ver com transparência os interesses de uns e de outros e a opinião pessoal é finalmente possível. E ela é possível porque é recolhida no campo dos factos.
Quem não se recorda do horror anunciado das "armas de destruição maciça" de Sadam Hussein, apresentado por um governo que possui o maior exército do mundo? A opinião tendo sido "convencida" quem se preocupa hoje do resultado da invasão - centenas de milhares de mortos- e agora uma guerra civil que fez mais de 1 000 vitimas num mês ? E quem se recorda da verdadeira motivação da invasão?
Um governo cínico "aux abois" , isto é " embaraçado pela situação geral e a percepção que o povo tem dele", como muito bem explica o Sr. Embaixador, pode ser tentado pela manipulação da opinião e mesmo dos eventos mediévicos:
.seja na cadeia de transmissão da informação,
.seja através daqueles que são considerados como as "autoridades" reconhecidas para analisar os factos,
.seja na criação mesmo de certos acontecimentos ( o impacto e a pesquisa das responsabilidades dos "swaps", por ex.)
O que me impressiona nesta historia dos "briefings" ,é que todos os governos democráticos os praticam, embora com certas diferenças. Ontem, Obama, sentiu a "necessidade" de vir "explicar-se" pessoalmente em frente dos jornalistas , na Casa Branca, sobre o triste "facto" da espionagem dos seus amigos e aliados pela CIA ,que vai (?) controlar, aproveitando a oportunidade para informar que vai também procurar modificar o Patriotic Act, herdado de Bush , que espiona os próprios americanos em todos os seus actos e gestos.
O PMS ( prime minister spokesman) inglês , que habitualmente comenta só factos, não se pode comparar ao porta voz do governo francês, ( que é na realidade "uma" porta voz , Madame Belkacem), que se limita a informar sobre os temas discutidos em conselho de ministros, e, eventualmente, um comentário sobre "factos", comentário devidamente enquadrado pelo primeiro ministro.
Resta que, se a manipulação da opinião é considerada como uma necessidade fundamental das sociedades humanas, a pesquisa da verdade deve ser uma direcção fundamental à qual os jornalistas se devem consagrar.
Os dois "especialistas" da "comunicação" que estão agora nas luzes da ribalta, parecem-me, entretanto, longe do "profissionalismo" do Antonio Ferro.
O Lomba evidencia um ar desengonçado que não funciona em televisão. Um briefing sentado também não ajuda. Faz falta a assertividade e o desembaraço de personagens de séries americanas que interpelam os jornalistas pelos próprios nomes.Mas isso é ficção.
Vai longe o tempo em que se isto se resolvia com doutores de Coimbra....
a) Haroldo de Menezes Vasconcellos (Vinhais)
"se nós explicarmos bem o que estamos a fazer, os portugueses compreenderão e valorizarão isso". Nem eles explicam bem, nem sendo bem explicado os portugueses perceberiam. O ministro adjunto caiu da árvore antes de amadurecer e o secretário de estado adjunto do ministro adjunto não vê para além da lomba da estrada. O que mais aprecio é quando eles fazem "beicinho" e reviram os olhinhos quando não conseguem fazer passar a mensagem. Garotada.
E não haverá um cozinheiro que pomha no seu restaurante (por exemplo n' O Comilão) um prato "Briefings do lomba" e uma sobremessa de "Maduro de Poiares"?
uma triste figura faz o governo neste terreno dos briefings, com regras estranhas e inconcebiveis, com uma periodicidade diferente decidida em cada momento, sem gente preparada ou habilitada, etc.
mas que se exponham, que deem esses espectaculos, que se sujeitem a perguntas incomodas e deem respostas ridiculas e hipocritas, isso é bom, exporem o seu estilo, intenções e má fé, etc, embora pelos vistos pouco lhes importe...
Caro Haroldo
"Atão" e indo a pé descalço ao S. Caetano?...
GIL VICENTE escreveu as cantigas de mal-dizer com saber e graça, neste tempo, todos querem dizer mal sem graça nenhuma.
BH
Desculpe-me, mas eu retiro o "quase".
Estou cansada de ouvir falar em problemas de comunicação (já no anterior governo se falava nesse factor), porque não é aí que reside o mal: as medidas, a política , é que são péssimas.
Para noticiar a morte de alguém que diferença faz dizer-se :"morreu" , "deixou de respirar", " Nossso Senhor chamou-o"?! Nenhuma, porque o facto inalterável e real é que a pessoa faleceu!
Bem podem continuar com esta patetice de encontros ( porquê o termo inglês?), em que -para cúmulo - umas coisas são para serem noticiadas e outras só para ouvir!
Por mim, até será bom que prossigam, porque , pelo menos, tem sido desastroso para a coligação.
Como é possível Lomba querer impor limites às perguntas dos jornalistas e , ainda por cima, direcioná-las?
E Maduro, o ministro que tanto fala em consenso, abandona uma reunião a meio?!
Outra coisa ainda: não é suposto o Governo, qualquer que seja, conhecer o currículo de quem convida?
Desejo bom domingo.
Pouco percebo de inglês. Depois de ler o post e comentários, briefing quererá dizer "alombar"?
O Mestre Gil era um artista, por aqui é só bloggers mas
"Sentou-se bêbado à mesa e escreveu um fundo
Do Times, claro, inclassificável, lido,
Supondo (coitado!) que ia ter influência no mundo....
Santo Deus!... E talvez a tenha tido!"
Se me permite o bem licenciado Feliciano da Mata, já está tudo dito nas sua económica frase...
Sempre desconfiei de briefings à americana, feitos na Europa e em particular em Portugal.
Nem Lomba nem Maduro podem dourar o material de que se servem. Espera-se que estes "encontros do 3º grau" terminem de vez!
Gil Vicente vem uns séculos depois das cantigas de escárnio e maldizer, mas tudo se perdoa a juventude...
a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)
Senhor Embaixador: apetece-me dizer muito prosaicamente que os meninos continuam no recreio tal a sucessão de brincadeiras em que andam entretidos.
Enviar um comentário