Como orador na conferência "Portugal europeu - e agora?", organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em 13 e 14 de setembro, foi-me pedido pelo "Diário de Notícias" um curto depoimento, em resposta à questão "Quando se sente europeu?".
Aqui fica o texto, a que o DN deu o título de "Nunca me engano de pátria":
"Sou um europeu pela razão. Até à idade adulta,
olhei a Europa de fora. Vivia num país que tinha por opção o isolamento, tido
como virtude patriótica. Dizia um jornal do regime: “Portugal não é um país
europeu e tende cada vez mais a sê-lo cada vez menos”. A Europa era o lugar
onde estava a liberdade. Desconfiei da Europa “unida”, apresentada num registo
demasiado maniqueu, que não ia de par com o meu radicalismo de então. Depois,
também pela razão, acabei por tomá-la como sinónimo da democracia em que quero
viver. Hoje, sendo europeu, prefiro dizer quando me não sinto como tal: quando
olho a triste “realpolitik” externa de Bruxelas, o silêncio cobarde face às
manifestações de intolerância cívica de dirigentes europeus, o cínico abandono
da solidariedade, agora que as vantagens do mercado único já estão adquiridas
para alguns. Sou europeu porque os interesses de quem por aqui nasce se sentem
melhor protegidos nesta Europa. Mas nunca me engano de pátria, mesmo sabendo
que é politicamente incorreto dizê-lo."
16 comentários:
sim, a europa começava onde começavam os paises democraticos, a frança, a inglaterra, aqui faltava nos tudo isso, as liberdades, tinhamos inveja da sorte dum inglês por ser inglês, etc.
agora a nossa democracia é uma hipocrisia e é defeituosa e ainda por cima convem aos paises ricos ainda democraticos da europa internamente, e se noutros paises da ue já só existe um simulacro de democracia, isso pouco importa à ue, etc
sim, a europa é o que é, foi o que foi...
Para se pertencer à U.E são necessários alguns requesitos que nem sempre teem a ver com o ser-se europeu. Recentemente parece-me que se quer voltar ao isolamento do regime anterior. Mas... veremos
Como nunca acreditei no projecto, aqui vai.
Uma adesão de países candidatos, que devia ter sido extremamente contida.
Muito mais lenta e diluída no tempo.
Um projecto que se pretendia de povos, que logo que testado em eleições, foi substituído pelas burocracias, as novas nomenclaturas em Bruxelas.
Nascido para falhar.
O jornal referido - se a memória não me trai, O DEBATE - defendia o regime terminado em 1910!
amf
Caro AMF: tem toda a razão. Era "O Debate", órgão da Causa Monárquica
A Europa ? Quem não vê a construção metódica dum plano europeu da oligarquia capitalista visando a submeter e/ou desmantelar os Estados historicamente constituídos, que estes sejam já membros da UE ou que desejem ser admitidos?
Quem não vê que este plano, que está hoje em plena aceleração, é de constituir um Império europeu do grande capital ? Centrado sobre Berlim ( posto avançado : Bruxelas) e largamente teleguiado por Washington por meio da NATO e do FMI, este Império, chamado "Europa Federal", tem por missão de "limar" os últimos obstáculos nacionais que travam ainda a concentração monopolista e a caça ao lucro máximo no sub-continente europeu. Caça ao lucro màximo que sub entende o desmantelamento em curso do Estado social existente.
Se bem que o eixo Washington-Berlim seja o "pivot" desta manobra giga-imperialista, a grande burguesia francesa é igualmente cúmplice deste suicido organizado das nações da Europa. Aliás os grandes tenores da economia francesa não escondem as suas intenções!
Quem não leu o PRCF, intitulado "Besoin d'aire", ("necessidade de área", fazendo pensar no famoso "Espaço Vital" de Hitler,) o manifesto tipicamente imperialista e anti-nacional publicado pela ex-chefe do MEDEF, Laurence Parisot, no qual ela exige cinicamente "novos transferes de soberania", a "reconfiguração dos territórios" (! eh oui), isto é a "landerisaçao à moda alemã - ou melhor ainda, a "hol/anderisaçao" da ex- Republica Francesa, e claro está os "Estados Unidos da Europa" designados como a sua " nova pátria" pela organização patronal.
A marchas forçadas para uma Europa Federal, e nenhum "não" das populações não será permitido. Serão varridos como o foi o "não" francês e holandês sobre a Constituição Européia.
Senhor Embaixador : Veremos dentro em pouco desaparecer o seu caro MNE, que será obsoleto, quando a nova" Carolingia" unindo a Alemanha e os seus "territorios" (arrière-cour") do sul, da Áustria às zonas "uteis" ( para a produção do lucro) à França e à Itália do Norte.
Assistiremos à nossa própria "balkanisaçao"! Serà coisa fàcil : Quando se viu de que maneira a RFA tomou conta da RDA, e, drogada pela reunificaçao, "engoliu" os países baltas ex-soviéticos, semi recolonisou a Polonia, a ex-Tchècoslovaquia, e a Jugoeslàvia ( ah o lindo golpe do reconhecimento da Croácia "católica" pelo Helmut Kohl e pelo Vaticano) !
A Europa do Sul começou a entrar na marcha lenta mas certa para a "terço mundializaçao" e a sub industrialização perpétua! A Grécia, a Espanha, Portugal, a Italia do Sul, como a Costa Brava, deverão contentar-se do turismo e do imobiliário, mesmo da venda de algumas ilhas ou patrimônio valioso ao Minotauro berlinense quando a balança comercial helena, espanhola, portuguesa ou italiana será de novo menos deficitária!
Tenho receio que os nossos países, que uma vaga de emigração priva actualmente das forças vivas da juventude, educada e formada à nossa custa, acabarão, para aqueles que ficam, por se transformar em países de mão de obra "bon marché", como a chantagem actual da Renault em Espanha deixa prever. Enquanto que, ao mesmo tempo, a nação se evapora inexoravelmente.
Há uma coisa que fez mudar muito o projecto europeu: a queda do muro de Berlim e com ele as ideologias das Repúblicas Democráticas. É assim que se teve de repensar a Europa. Mas... em Portugal não é fácil pensar-se políticamente sem o vector república democrática.
Assino por baixo.
Cumprimentos
Ao anonimo das 10:38 : Francamente, "'o vector republica democrática" não sei o que é!
Ao anonimo das 10:38:
Se fosse só a queda do muro que destruiu o sonho europeu! Mais grave ainda é o declínio econômico como conseqüência da crise financeira e das políticas implementadas para "desviar" de maneira infinda os biliões de fundos econômicos para o sistema bancário e o pagamento dos juros da divida em detrimento das condições sociais dos cidadãos europeus.
Mas não me parece que na Europa se presta suficientemente atenção à derrocada moral dos governos europeus. Submetidos, corrompidos, lacaios de poderes financeiros sem fé nem lei, e, por vezes, assistimos mesmo à situação vergonhosa onde se vê um Primeiro Ministro europeu condenado por prostituição sobre menor. Largamente conhecida do publico, da qual o culpado se glorificava e que não foi sanccionada pelos seus eleitores nem publicamente reprovada pelos seus colegas responsáveis dos governos europeus.
@ Joaquim De Freitas:
Compreendo que não saiba o que é uma república democrática e esse é que é o problema.
Ao anonimo das 16:28:
Se me desse um exemplo talvez eu pudesse chegar là ! Obrigado.
Ao anonimo das 16:28:
Se me pudesse dar um exemplo de república democrática, talvez eu pudesse chegar lá! Obrigado.
@ Joaquim De Freitas
Ele há a República Democrática de Angola e até outras. Houve também a R.D.A.
O que é preciso reter é que há democracias que não são repúblicas democráticas e vice-versa.
Senhor Embaixador,
Não percebo porque, "sendo europeu" é "politicamente incorreto" dizer "nunca me engano de pátria"?
Cara Helena: o que eu quis sublinhar é que a minha pátria não é a Europa, é Portugal. A minha adesão e afetividade face à Europa não é emocional, é racional. Sendo geográfica e culturalmente europeu, olho para o projeto de unidade europeia como uma ideia a que, muito simplesmente, dei a minha adesão. E por uma razão essencial: porque assenta num conjunto de pressupostos ético-políticos que se cruzam com a ideia de convivência democrática que considero ser favorável aos interesses dos portugueses e de Portugal. Sendo que Portugal é a minha única pátria.
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