Há uns anos, o lugar de conselheiro jurídico da nossa Representação permanente junto da União Europeia ficou vago. Competia-me escolher uma pessoa para ocupar a vaga, para a qual se exigiam vários requisitos. Começaram a "chover" currículos, uns para mera informação, outros mais ou menos bem "cunhados" (quem me conhece sabe o destino que eu dou às "cunhas"). O lugar era de importância, porque as dimensões jurídicas são das mais sensíveis no trabalho junto das instituições europeias. Estudei com atenção todos os perfis, "short-listei" três nomes e fi-los analisar por pessoas que tinha por independentes e qualificadas. Por consenso, emergiu um único nome. Nomeei-o, sem sequer o ter conhecido pessoalmente.
Um dia, num restaurante de Bruxelas, uma pessoa veio ter comigo: "O senhor não me conhece, mas queria agradecer-lhe, porque sou eu a pessoa que nomeou para consultor jurídico na Reper". Não tinha nada que agradecer, porque se tratava de um excelente técnico e porque viria a prestar ótimos serviços a Portugal no exercício do cargo. Poucas vezes o encontrei, desde esse dia. Soube que, mais tarde, foi nomeado diretor dos serviços jurídicos do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Ontem, ao ler o jornais, verifiquei que Miguel Serpa Soares foi designado consultor jurídico das Nações Unidas, um lugar da maior importância no seio da ONU. Eu, que às vezes tenho dúvidas e que também me engano, parece que dessa vez terei acertado.
4 comentários:
A sua sorte, Francisco, é ter dúvidas. Porque quem tem muitas certezas, tem enorme propensão para errar!
Oportuna ocasião para nos brindar com a isenção que devemos ter, no que toca à escolha a fazer, quando ela diz respeito a pessoas que vão servir e representar o nosso país!
Ora aqui está um exemplo de como deveriam ser escolhidos os candidatos a cargos de responsabilidade. Mas parecem-me ser tão raros, que quando acontecem, quase nos custa a acreditar. No caso, os meus parabéns!
É que não é Francisco Seixas da Costa quem quer para recusar com firmeza um lugar de Enviado Especial da UE para o Médio Oriente da UE para onde os seus "amigos" do MNE o quiseram empurrar. Mas considero ainda assim o seu raciocínio viciado: O Senhor Embaixador "escolheu" para colaboradores directos jovens que obviamente não eram e não estavam qualificados e que têm progredido, por razões óbvias, na carreira em regime de ascensão rápida. Isso não é cunha, ou deveremos empregar um eufemismo à portuguesa, "empenho", "patrocínio"...?
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