Um livro recém-publicado aqui em França recorda que Valéry Giscard d'Estaing, depois de ter deixado a Presidência da República, se sugeriu, anos mais tarde, como candidato ao cargo de primeiro-ministro ou, mesmo, de ministro dos Negócios Estrangeiros. A atualidade traz-nos o facto de Alain Juppé, antigo primeiro-ministro, ter sido, posteriormente, ministro de várias pastas, sendo hoje chefe da diplomacia francesa. No passado, também Michel Debré, depois de ser chefe do executivo, desempenhou várias funções ministeriais.
Não passa pela cabeça a ninguém, em Portugal, que um presidente da República ou um primeiro-ministro venham assumir, num governo posterior, um cargo de ministro. Estou certo que, no nosso país, nenhum titular desses cargos aceitaria essa possibilidade e que a opinião pública reagiria, com alguma estranheza, se acaso isso viesse a acontecer.
É muito interessante verificar como as culturas políticas podem ser tão diferentes, de país para país.
23 comentários:
Somos pequenos em tudo, na forma de ser e de estar, mas temos todas as manias, inclusive a das grandezas.
Exercer um cargo abaixo de presidente da república, seria para muitos portugas uma despromoção.
Alguém disse que é o homem que faz o cargo, e não o cargo que faz o homem.
Então colocaria a seguinte questão:
um embaixador, tendo sido anteriormente Director-Geral aceitaria exercer mais tarde o lugar de Director de serviços? ou sendo Chefe de Missão, aceitaria ir para nº 2 de uma outra embaixada?
Ora diga-me lá, aceitaria?
Pois...
Caro Anónimo das 15.14: mas ninguém disse, em nenhum ponto, que a prática portuguesa era pior que a francesa. Apenas constatei as diferenças.
O Dr. Mário Soares, depois de ter sido PR, aceitou candidatar-se - e ser - deputado europeu.
Bem sei que não é o mesmo que ser ministro de um qualquer governo; mas é um exemplo de humildade política.
acontece na russia actualmente
Os franceses têm a 'velha mania' da escola de Sciences Po e de passarem por eleições municipais antes de chegarem a outros 'cargos' no Estado... É relativamente normal ser-se director-geral depois de se ter estado ministro. Práticas francesas. Por cá, calhando, não fazia mal nenhum serem praticadas.
Afonso MG
Pois eu, Senhor Embaixador, quando tive de fechar o meu restaurante "Le Prolétaire Rouge", metro Jaurès, devido à dura inflexibilidade das finanças municipais de Paris (e o Senhor Embaixador não fez nada por mim!), pois julga que aceitaria então voltar a servir o Senhor Alcipe? Nunca! Nunca mais servirei a um senhor, quanto mais a dois...
Limpo ninhos de cegonhas numa aldeia dos Vosges e monto antenas parabólicas dentro dos ninhos, mediante acordo prévio com as cegonhas. Já tenho um parceiro chinês, que antes vendia árvores de Natal de silicone na Alemanha! Hoje sou um empreendedor! Não se volta para trás. Antes cabeza de ratón que cola de león.
Nunca aceitaria voltar a servir.
Para que conste, Senhor Embaixador.
a) Feliciano da Mata
orgulhoso empreendedor, ex-mordomo
Ronaldo amigo, nunca se volta ao passado. O passado é que às vezes volta para nós.
a) Feliciano da Mata
Ó Feliciano: o seu a seu dono. A frase é de:
Crabtree, Joseph William, “The new global philosophy and the impact of the Cornwall school dissent”, London, Barley & Peacock, third ed, 1887, pg. 623.
O meu amigo ainda se arrisca a que os herdeiros lhe arrestem a parabólica
É o que dá ser homem de poucas letras e não entender nem inglês nem mesmo os debates da SIC! Mas ao menos instruo-me a ouvir esses debates, aos quais Vossa Excelência, homem sem parabólica, não tem sequer acesso...
a) Feliciano da Mata
parabólicas altas a baixo preço
E não faz descontos depois do apagão nacional, amanhã? Ou amanhã já cá canta?
PTista
Pessoalmente acho que os ex-presidentes em Portugal fazem muito bem fazerem como fazem.
Já em França foi uma pena para os franceses perderem o presidente Giscard d'Estaing logo ao fim do primeiro mandato. Tanto mais que na altura não havia limite de mandatos e ainda o podiamos ter como presidente. Os franceses, entre os quais me incluo, são uns ingratos.
José Barros
À boa moda portuguesa as coisas valem o que valem.
Nesta linha de pensamento gostaria de lançar ao Sr. Embaixador a seguinte reflexão:
Porque não se podem ter mais diplomatas( Embaixadores, Cônsules, etc.) defora da carreira diplomática desde que fossem pessoas com perfil e idóneas.
Também devíamos ter mais juízes fora da carreira judicial, mais militares fora da carreira militar, mais polícias fora da carreira policial e mais catedráticos fora da carreira académica.
a) Forasteiro
Caro Anónimo das 18.46: o seu comentário pressupõe que, contrariamente à generalidade das profissões, a atividade diplomática é uma função que não necessita de qualquer experiência anterior, que qualquer cidadão, com algum "jeitinho", pode executar. É um ponto de vista.
Republico aqui um post do senhor Embaixador que gardei, por ser de antologia. Vem a propósito:
Um dia, nos anos 70, a Embaixada de Portugal em Londres recebeu a visita de um militar de Abril, membro do Conselho da Revolução, homem muito estimável, que deixou uma rara imagem de educação, elegância e bom-senso na sociedade política de então.
Como se impunha, o embaixador ofereceu-lhe uma refeição. O repasto correu de forma simpática, na magnífica sala de jantar ornada de pinturas, daquela que é, sem sombra de dúvidas, uma das mais belas residências que Portugal tem pelo mundo.
Num determinado momento da conversa, o nosso militar deixou cair uma confissão: "Vou contar-lhe um segredo, senhor embaixador: um dos meus maiores sonhos foi sempre poder vir a ser, um dia, embaixador de Portugal em Londres". Os tempos políticos, à época, não eram já muito propícios a poder garantir, de mão beijada, sinecuras a quem não possuía experiência e qualificações profissionais adequadas à função. Mas nunca fiando...
E, por essa razão, e perante o silêncio protocolar do embaixador, o militar não ficou sem resposta. Um jovem diplomata presente, homem do mundo, cuja inteligência e arte voltariam, no futuro, a colocar Londres no seu destino, não resistiu e retorquiu: "Tem graça, senhor major. No meu caso, é precisamente o contrário: sempre tive como ambição de vida ser comandante da Região Militar Norte"...
O major, inteligente e perspicaz, entendeu o recado. E mudou de conversa.
Ó Sr. Embaixador... em Portugal não precisam disso... é muito mais estimulante para eles, administrarem as suas próprias Fundações...
É interessante verificar que apenas Mário Soares, depois de presidente da República aceitou ser Deputado Europeu.
Será por ter "mamado" muito na cultura francesa?
PS: O termo "mamado" não tem qualquer intuito ofensivo
Embaixador,
Já aqui referido em anteriores comentários mas, nem mesmo assim, quero deixar de ressalvar o Presidente Mário Soares que foi deputado europeu, voltou a recandidatar-se à Presidência e que, com a idade que tem, se mantém dos mais lúcidos, irreverentes e modernos políticos portugueses da actualidade.
Será admissível admitir uma nova diferença entre "cargos" e "encargos"?
Quando se gosta é "cargo" e caso contrário é "encargo"?
Olhando para mim deve ser isso.
M S queria o encargo ou o cargo da presidência da AEU que depois foi "suportado" por uma Srª "dona de casa"?
Senhor Feliciano da Mata
A versatilidade com que muda de profissão é um bom exemplo para os portugueses, neste tempo de crise.
Não me surpreenderia, por isso, que a breve trecho os chineses lhe possam deitar a mão para a administração do que forem comprar a seguir.
E com a experiência que tem adquirido, também me parece presa apetecível para aquela empresa "Estamos indo", vulgo Ongoing, que anda a recrutar secretamente muita gente.
Esteja atento!
Ó Feliciano: o seu a seu dono. A frase é de:
Crabtree, Joseph William, “The new global philosophy and the impact of the Cornwall school dissent”, London, Barley & Peacock, third ed, 1887, pg. 623.
O meu amigo ainda se arrisca a que os herdeiros lhe arrestem a parabólica
Nunca li Crabtree e só conheço a sua obra por por intermédio da sua exegése.
Mas detecto na frase em questão ecos de um conhecido autor alemão do sec. XIX.
Estarei errado, senhor Embaixador?
Senhor Embaixador, desejo que o mantenham no mesmo cargo que tem ocupado ultimamente. Faça por não vir para estas bandas, porque o 'mercado' não está a valorizar pessoas com o seu perfil. O Senhor Embaixador, que recorde Sá de Miranda: homem d'um só rosto, d'um só parecer... Que venha de quando em vez gastar uns euritos, pelas bandas do Douro, que com a sua preciosa avaliação,ainda ganha o prémio...
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