Começou em Portugal há poucos anos, insinuou-se em alguns discursos - primeiro nos académicos, depois nos mais vulgares -, foi retomada, como nota de procurada erudição, pela imprensa escrita (neste sábado, contei-a um monte de vezes em vários textos no "Expresso") e agora persegue-nos por todo o lado, dos blogues à conversa: é o uso intensivo da palavra "narrativa".
Estejam atentos! É um dos vocábulos da moda. Dele não vem mal nenhum ao mundo, mas a mim irrita-me, por ser hoje produto de uma espécie de mimetismo. Neste blogue, garanto, não haverá nunca "narrativas"...
13 comentários:
Aprovado. Temos uma língua tão rica e muitas vezes recorre-se a estrangeirismos por ignorância e ou desconhecimento dos nomes equivalentes em Português. Esse fenómeno é particularmente evidente em referências a termos técnicos, nomeadamente marítimos e navais, sector em que descobrimos e inventámos muita coisa apesar da desmaritimização das últimas décadas.
Recentemente também se tornou moda em Portugal falar do Mar, mas curiosamente a maior parte dos especialistas não sabem o que dizem, inventam teorias absurdas e depois são tão doutos que nem se preocupam em manter aspectos de honestidade intelectual nos pormenores mais básicos. Há dias foi publicado um livrinho em Lisboa por um desses especialistas reputados que entre inúmeros mimos
situa a conquista de Ceuta em 1420. No século passado, quando frequentei a Escola Primária, aí na terceira classe, ensinaram-me que o acontecimento deu-se em 1415... O meu ilustre Pai lá dizia que a ignorância é atrevida.
Ora aí está uma expressão que uso muito pouco. Talvez porque nada tenha a narrar...
Tem o meu apoio incondicional.
Junte, pf, ao seu index o "putativo", sempre erradamente utilizado,e o inenarrável "dizer que" a começar uma frase para anteceder uma qualquer afirmação.
Há muitos outros modismos igualmente deselegantes, a maior parte das vezes bárbaros e sempre pretenciosos, a armar ao pingarelho.
Como, por exemplo, em:
"Dizer que devem ir estudar português".
Senhor Embaixador
Lembrei-me que nesta onda de retorno ao passado a expressão virá das "Lendas e Narrativas".
Caíram as primeiras - já temos muitas e recentes - e ficaram as últimas.
Eureka!
Não dei por isso, vou verificar
não concordo com Gil quanto ao "putativo". O Senhor Embaixador usou-o na postagem anterior para designar Dominic Strauss-Khan e o nome foi bem adequado à figura...
ahahahah o Patrício Branco foi e ficou! :)) Esta sucessão de comentários, está um must! :))
Também me ocorreu "Lendas e Narrativas".
Isabel BP
Como leitora assídua, tomo a liberdade de lhe deixar um 'post' em protesto relativamente ao mau uso e abuso do termo - é mesmo perigoso.
http://menagerie.helenabarbas.net/search/label/narrativa
Saudações virtuais
Helena Barbas
Tem razão Senhor Embaixador!!!
Não falando em "sistémico" que é outra expressão que vem andando pulando por aí!
É caso para dizer: se outra coisa não nos valha, que nos valha Deus!!!
(Curioso que tenha reparado nisso num jornal como o "Expresso". Muito curioso!)
Bravo, Menagerie. Afinal, em 10 de maio, já tinha dado conta do que eu só agora detetei.
A proposito da forma como certas palavras entram num uso sem critério deixo aqui um testemunho.
Num ofício normalizado proveniente de uma entidade publica, convocando um cidadão, viitima de um acidente de viação,para um exame pericial pode ler-se que ele deve fazer-se acompanhar da "documentação cliníca relativa ao evento"
EGR
Bondade sua - é a minha área, e fico com erisipela com tanta narrativa a disfarçar a pura aldrabice.
Helena
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