terça-feira, maio 17, 2011

Justiça

Todos vivemos, desde há décadas, com o mundo judicial americano perante os nossos olhos, pelas centenas de filmes e séries que fomos consumindo, pelas cenas das audiências e de interrogatórios cruzados que fazem parte do nosso imaginário.

Um dia, na minha adolescência, fui assistir, presencialmente, a um julgamento num tribunal português. Lembro-me de ter ficado surpreendido, porque a realidade que observava, em toda a sua liturgia e coreografia, era substancialmente diferente daquilo que eu considerava normal. É que a "normalidade", para mim, eram Perry Mason e outras personagens desse universo judicial onde se jura sobre a Bíblia.

Lembrei-me disto ao ver, há minutos, já não em ficção mas em crua realidade, Dominique Strauss-Kahn, com algemas nos pulsos, a comparecer, sob a curiosidade das câmaras de todo o mundo, a um tribunal novaiorquino. Chocou-me o tratamento humilhante a que um suspeito é sujeito nos Estados Unidos, numa exposição cruel e prematura da sua imagem, sem direito à uma proteção salvaguardadora da presunção legal de inocência, nesta fase primária do seu processo.

Dir-me-ão que cada sistema judicial tem as suas regras, que a justiça americana é eficaz e deve ser respeitada nos métodos que utiliza, pelos vistos aceites pelos seus cidadãos. Concedo que assim possa ser. Contudo, ninguém me pode negar o direito de pensar que, tal como considero bárbara e inaceitável a pena de morte, tal como lamento que os EUA eximam os seus cidadãos ao Tribunal Penal Internacional, há aspetos do sistema americano de justiça que ficam muito àquem dos valores de civilização a que devo obediência. Mesmo sem Bíblia.

Gosto demasiado da América para me privar do dever de dizer aquilo que nela não gosto.   

37 comentários:

Teresa disse...

Não poderia estar mais de acordo, e ainda bem que não vi tais imagens.

Talvez seja por isso que 12 Angry Men, do recentemente desaparecido Sidney Lumet, seja um dos filmes da minha vida. A campanha quase quixotesca daquele jurado solitário (Henry Fonda) é comovente. Presunção de inocência. And Justice for All.

http://en.wikipedia.org/wiki/12_Angry_Men_(1957_film)

jj.amarante disse...

Contaram-me uma vez que as algemas começaram a ser usadas nos EUA como procedimento sistemático para protecção do prisioneiro. Parece que era frequente os polícias matarem os prisioneiros, alegando depois que estes tinham tentado fugir ou que os tinham atacado e tinham tido que os abater por causa disso. Estando algemados estariam assim mais protegidos da própria polícia. Uma vez que o sistema judicial Português está em tão mau estado não me sinto em condições de condenar esta prática. Já o mesmo não se passa em relação à pena de morte, um dos aspectos mais censuráveis da justiça americana.

Anónimo disse...

Também por gostar dos EUA é que me chocam certas imagens e atitutes de prepotência dos americanos.

Fosse um qualquer dignatário daquele país a ser preso na Europa e lá vinham os marines em força tentar resgastar um dos seus.

É essa falta de bom senso e o excesso de cenas cinematográficas transpostas para o dia-a-dia que me causam alguma indignação.

Neste caso, considero que algemar o Dominique Strauss-Kahn é um exagero, bem como o excesso de imagens quando é suposto o respeito pelo princípio da presunção de inocência.

Isabel BP

Rui Franco disse...

Exatamente. E a tudo o que diz acresce a desproporcionalidade das penas. Vinte anos por tentativa de violação?

Anónimo disse...

Concordo,é como se coartassem sensibilidades e direitos à humanização,como se só houvesse um lado...

Há um sentimento impetuoso de primário onde a emergência da inquisição condena de forma implacável a suspeita de certos crimes,a ser verdade de punir claro, mas ainda que se obtenha um qualquer valor pedagógico para a moral"o crime não compensa" já foi babujado pelo grotesco sistema hipócrita de planeamento de mortes autorizadas também de seres humanos inocentes noutros países ao abrigo do direito a promulgar guerra por conselhos e conselheiros desde logo justos...

Daí que essa "imparcialidade" com foguetes da justiça Deles não me convence... Show off
É das tais situações em que é bem bom ser anónimo, ou ocultar uma expectativa de delito tão grave e severa para toda a humanidade, que per si, logo lhe dá o direito ao sigilo profissional e a um entorno de mistério com direito a espias secretos e silenciosos...
É é ...
Isabel Seixas

Anónimo disse...

João Manuel disse...

Desculpe Sr. Francisco de ainda de me interpor ante a justiça! Desde que nasci vivi coisas que não me parecem dar um sentido comum e verídico a justiça.
Para que o Sr. saiba, e embora me exprime num português muito ruim (fui criado entre a França e Portugal) não creio na justiça porque os nossos congéneres ou mais bem dito as nossas famílias usaram de toda discriminação. (...). Por isso quando fala de justiça, hoje ainda não tenho muita confiança nela. Como me ensinaram na França as leis foram concebidas por pessoas para serem contornadas!
Gosto muito de ler o seu blogo. É para mim uma maneira de estar em contacto com a realidade portuguesa (seja ela do nível que seja). Neste caso posso citar o Mourinho que é o que menos me agrada. De facto lutei tanto como pude quando residi na França para tentar dar uma imagem diferente do português da “valise en carton” e fazer com que os meus compatriotas vissem outra coisa que o folclore “da terra”. Infelizmente sou um ser humano que nunca conseguiu atingir a meta, e nunca conseguirei.
Bem, não é necessário expandir-me tanto aqui neste temas porque sei que o Sr. com a inteligência e sabedoria que tem (como no seu sentido latino) já entendeu perfeitamente. Pelo menos quero significar que gostaria que mais portugueses pudessem fazer falar deles a través o saber viver, a cultura, a educação e muitas coisas mais….

Helena Sacadura Cabral disse...

Senhor Embaixador
Nesta triste história esquece-se quem possivelmente mais está a sofrer nesta altura: filhos e mulher.
Porque só DSK sabe se é inocente ou culpado. Mas que dizer da família que, numas ocasiões, terá a certeza da inocência e noutras, humanamente, pode até vacilar?

Maria Climénia Rodrigues disse...

Pois é.... é claro que a presunção de inocência se deve manter sempre, mesmo havendo antecedentes....é claro que, mostrar qualquer ser humano algemado perante a opinião pública não é correto, quer ele seja uma figura ilustre,quer seja um tal de Renato Seabra(não sei se o nome é bem este:::), agora achar que a violação é um crime menor, e que normalmente é a mulher que o provoca, volta Maria Lamas,que há tantos anos defendeste a mulher ... sobretudo num país, em que os violadores saiem em liberdade, ou nem sequer são julgados, quer se trate de mulheres e crianças,e então se são nomes sonantes na "suposta sociedade portuguesa", mais abafados ficam.... Por isso temos a justiça que temos....

Anónimo disse...

É pratica corrente nos EUA,julgo que na maioria se não em todos os Estados e no sistema Federal, TODOS os detidos serem algemados, não competindo aos agentes da autoridade que os detem ou transportam julgar da sua perigosidade,risco de fuga ou de qualquer modo diferenciar entre os que necessitam ou merecem tal prática(discriminar...).

domingos disse...

Do pouco que convivi com o sistema judicial dos USA ficou-me a ideia que aquilo é mais uma farsa para americano ver. O tratamento dos suspeitos indicia tudo menos a presunção de inocência. Depois, as estranhas negociações com o Ministério Público para um acordo confissão/ pena são falaciosas. A acusação pública mete-se em trabalhos quando um acusado é dado por inocente e aos juízes agrada sempre o conforto do réu dar-se por "guilty". E este acaba por preferir reconhecer uma pequena falta (que por vezes não praticou sequer) a enfrentar as fúrias dos magistrados e da polícia. Considerar o uso das algemas uma "technicality" demonstra o cinismo de quem não tem a menor consideração por uma pessoa que ainda beneficia da presunção de inocência. E se a polícia está disposta a matar um prisioneiro sem algemas, o problema não é do prisioneiro, é da polícia e é grave.
Claro que se o DSK for dado por culpado deve sofrer as consequências como todo e qualquer outro cidadão. Mas nem por isso o sistema vai melhorar.

patricio branco disse...

Que pensará ou sentirá sarkozy intimamente do caso dsk?
E martine le pen?
E o psf?
Que razões levam o juiz a medidas tão fortes, prisão, nem fiança (1M)nem liberdade vigiada?
Que irá fazer o fmi, até quando será sk o seu director?
Que fez sk na manhã de sábado? Com quem almoçou?
Quem será o candidato substituto do psf?
Etc, etc.

Anónimo disse...

Muito bem observado !
Também gosto muito do comentário da Exma. Senhora Dra. D. Helena Sacadura Cabral.

Cunha Ribeiro disse...

Desculpem, mas não tenho qualquer sentimento de compaixão por DSK.
Compreendo a fraqueza do sexo. Mas não entendo qualquer tipo de violência para satisfazer tal fraqueza.

Anónimo disse...

Este Post é muito interessante pois toca numa questão – a Justiça nos EUA -que poucas vezes é equacionada e analisada. Na verdade, com pertinentemente aqui se refere, a ideia que muita gente tem da prática da Justiça naquele país é aquela que os tais filmes norte-americanos veiculam. Como se essa fosse a forma correcta e normal de se proceder e aplicar a Justiça por esse Mundo fora. Não é assim. E ainda bem que assim não é.
Nos EUA e no Reino Unido o Direito Romano nunca teve a mesma influência que teve nos restantes sistemas jurídicos e judiciais do resto da Europa. Enveredou-se por outros caminhos e, por exemplo, recorre-se ao sistema de júri (que está longe de ser justo, em minha opinião) nos tribunais e julgamentos como em nenhum outro sistema judicial europeu. Apesar de tudo, há nuances, importantes, entre a gestão da Justiça nos EUA e no R.U, mais sério, menos mediático e mais justo e equilibrado no sistema inglês, apesar de tudo.
Nos EUA o sistema de Justiça deixa muito a desejar. Está longe de ser perfeito (ao contrário do que a propaganda cinematográfica deixa transparecer) e contém métodos que não permitem uma aplicação equilibrada dessa Justiça. Ao contrário dos sistemas europeus. Por exemplo, como referi atrás, o recurso ao júri. Nos EUA os jurados são chamados a pronunciarem-se mesmo por ocasião da instrução do processo. DSK vai ser presente a um júri que decidirá leva-lo, ou não a julgamento, desde logo influenciando a acusação. Cada país tem o seu sistema judicial, mas não concordo com o papel excessivo do júri por não dar as mesmas garantias de defesa que um processo sem júri. Os jurados são influenciáveis e manipuláveis. Os juízes, por regra, como no sistema europeu, não. Permitir que um júri se pronuncie numa fase de instrução do processo, choca (-me). Essa investigação e inquérito devem ser conduzidas no silêncio e privacidade dos gabinetes judiciais, perante um magistrado, com a presença do advogado e cabe ao juiz de instrução, no final, decidir se o processo deve, ou não, ser remetido a julgamento. Esta prerrogativa nunca deveria ser objecto de apreciação de jurados. Outro aspecto chocante e condenável no sistema norte-americano consiste na exposição das testemunhas. Uma testemunha deve ser protegida do olhar do acusado/réu (hoje apenas arguido) e do público e, nesse sentido, deve sentar-se de frente para os juízes, procuradores e advogados e nunca sentar-se a olhar o arguido, o público e o júri, como sucede nos EUA. Tal exposição da testemunha inibe de algum modo as suas declarações. No sistema americano o papel do juiz durante o julgamento está reduzido ao de árbitro da sessão. Os “actores” principais de toda aquela envolvência teatral são a Defesa e a Acusação. Lamentável. Num sistema mais democrático, objectivo e justo, como é o europeu, opta-se por um colectivo de juízes que têm, também eles (para além da Acusação/Procuradores e Advogados/Defesa), um papel interventor, muitas vezes de grande relevância para o apuramento da verdade, podendo em qualquer momento interrogar o arguido durante o julgamento, o que não acontece nos EUA. Naquele país, durante todo o julgamento e sobretudo na fase final, nas alegações, o papel do júri assume uma importância particular, na medida em que tem de ser convencido da inocência, ou culpabilidade do réu, responsabilidade que recai sobre a Defesa e Acusação, cujos dotes de manipulação e capacidade de influenciar esse mesmo júri são determinantes, pois caberá aos jurados deliberar sobre o arguido, contrariamente ao sistema europeu onde as tais defesa e acusação têm perante si, uma tarefa mais responsável, digna e menos teatral e quiçá mais difícil, que é a de tentarem convencer um colectivo de juízes, homens e mulheres experientes, profissionais da Justiça, com capacidade de se distanciarem das emoções e concentrarem-se apenas nos factos – da validade dos seus argumentos. E a quem cabe decidir a culpabilidade, ou não, do acusado. E depois absolver, ou condenar após a prova feita em julgamento.

(primeira parte)

P. Rufino

Anónimo disse...

(Segunda parte)

Outra situação que se verifica nos tribunais norte-americanos, a meu ver reprováveis, são os contactos, diálogos, conversar antes e durante o julgamento, com vista a negociar as decisões (!), entre o juiz, a acusação e defesa. No sistema europeu esse tipo de contactos, não existe como regra, mantendo cada elemento (juiz, procurador e advogado) a distância necessária, em que assenta a separação de acções e poderes de cada um. O que é judicialmente saudável e evita influenciar decisões. Nos EUA negoceia-se a confissão, a pena a aplicar em função disso e discute-se de forma promíscua (considero promiscuidade a proximidade de contactos com vista a negociar e influenciar o desenrolar do processo judicial e julgamento entre juiz, acusação e defesa, como acontece nos EUA) todo o envolvimento processual. Depois há outro aspecto que repugna no sistema americano que é a enormidade das suas molduras penais. Já nem falo da aplicação da pena de morte em vários Estados, mas nos diferentes crimes, como por exemplo este de DSK. São exageros brutais, que não se justificam. Concedo que existem crimes e criminosos que os praticam que merecem condenações pesadas, mas no sistema americano, minado por falsas morais puritanas, exagera-se de forma inqualificável. E o recurso ás algemas é degradante. Um dia um jurista norte-americano deu-me a entender tal atitude transmitir o poder da Lei e da Justiça sobre o arguido. É humilhante e reduz perante o público, de algum modo, a percepção da presunção de inocência, um direito de todo o arguido. Compare-se a forma como Oliveira e Costa do caso BPN foi levado a tribunal. Era e é arguido, mas o nosso sistema não permite que seja humilhado publicamente. Outro aspecto reprovável nos EUA consiste nas nomeações – políticas – dos magistrados, o que muita gente possivelmente ignora. Na verdade, uma larga maioria dos cargos, quer de juízes, quer de procuradores, nas diversas instâncias, tribunais e Estados daquele país resultam de nomeações políticas, Republicanas, ou Democráticas. É certo que os referidos magistrados estão obrigados ao dever de isenção, todavia, essas suas carreiras e promoções fazem-se através das políticas que abraçaram. Ora, tal procedimento é impensável no sistema europeu. O que dá, sem dúvida, mais garantias de isenção dos nossos magistrados. Um comentário final sobre o juramento sobre a Bíblia: não é em absoluto obrigatório. O sistema (julgo que em todos os Estados) salvaguarda o facto de um acusado ser muçulmano, judeu, budista, ou mesmo ateu e, nesse sentido, não jurar sobre a Bíblia.
Em resumo, por mim, julgo haver razões suficientes para preferir o sistema de Justiça europeu, onde se inclui naturalmente Portugal, ao sistema judicial dos EUA. Faça-se-lhe, todavia, alguma justiça: a sua celeridade, pelo menos comparado com o nosso. Mas aqui a culpa é sobretudo da Legislação existente (Penal, Civil e Administrativo, etc), que é aprovada em sede da A.R. Os magistrados limitam-se a aplica-la. E os advogados a explora-la. Não se culpem uns e outros. Mas, tão só, quem fez aprovar tal e tal Legislação.
O ilustre autor deste Blogue que me desculpe por tão extenso comentário. Deixo ao seu critério publica-lo, ou não.
P.Rufino

Maria Climénia Rodrigues disse...

Patricio Branco, levanta aqui uma questão muito oportuna e interessante...como estará o sr sarkosy a assistir a tudo isto? Vem mesmo á medida toda esta situação, até se pode imaginar o guião para um filme de espionagem em que vem mesmo a calhar o fim politico de um homem como DSK, e o respirar de alívio do futuro papá....Agora que não podemos vir com a velha história (sempre salvaguardando a presunção de inocente,claro)bem á portuguesa, do coitadinho que foi seduzido pela piquena,e em que a mulher é que é a culpada porque se pôs a jeito, isso também não, H.S.C. tece um comentário muito certo, no meio deste triste e lamentável caso..

Anónimo disse...

Apesar das suas imperfeições o sistema de justiça norte-americano funciona; o mesmo infelizmente não se pode dizer do português onde quem tem o poder poder prevaricar impunemente.

Se a França não desse proteção a um pedófilo (violador confessado de uma menor) como o Polanski talvez os americanos pudessem ficar mais descansados, mas assim não.

Julia Macias-Valet disse...

Christophe Barbier (que conheço pessoalmente), director da revista L'Express faz sobre este assunto uma analise que me parece bastante sensata :

http://www.lexpress.fr/actualite/politique/dsk-le-choc-des-photos_993616.html

A vous de juger...

José Barros disse...

Duas ou Três Coisas:
Constatar, na prática, que a justiça é igual para todos deveria ser uma nota satisfatória para a solidez de uma democracia. Constatar que um homem da craveira de DSK é acusado de crime com a mesma imparcialidade que seria acusado um qualquer cidadão desconhecido de roubo de galinhas aparece, à primeira vista, como justo. Mas a diferença está precisamente no facto de DSK ser conhecido como é e ter o prestígio que tem e o outro não. Ao aplicar o mesmo procedimento, aparentemente igual e imparcial a justiça está, na prática, a permitir uma desigualdade terrível! Para o que é acusado de “roubar galinhas” não haverá um único jornalista interessado em dar cobertura ao acontecimento e para DSK todas as televisões e jornais do mundo correm dar cobertura. A desigualdade, em prejuízo de DSK, está precisamente aqui.
DSK foi já condenado antes mesmo de ser julgado. A sua eventual inocência, agora, só poderá vir a atenuar o tempo de prisão. Mais nada. O terramoto provocado pela encenação que se fez na procura de desvendar a verdade destruiu tanto à sua volta que nenhuma eventual inocência pode dirimir.
A justiça francesa, com todos os seus defeitos, impõe uma obrigação de sigilo durante a constituição do processo e a americana até parece que não pode prender ninguém na rua sem primeiro convocar todas as televisões do planeta!
Na América, francamente, acontecem coisas surpreendentes. Surpreendentes, também, pela sua magnitude que de tão dimensionais a própria razão sofre para as integrar como verdades: Foi assim com os aviões a sobrevoarem os espaços proibidos sem que a segurança do Estado interviesse antes de eles atingirem os seus objetivos com aquela precisão; foi assim com a captura de Laden, “telecomandada” à distância pelo próprio Presidente da América; agora é assim com a prisão de DSK com toda esta encenação que acaba por parecer incrível...
Com este tratamento continuará a haver mentiras a parecerem verdades e verdades a parecerem mentiras...

Anónimo disse...

O Bernard Tapie, quando andava nos seus "affaires" judiciais espectaculares (agora continua, mas noutros)ia da prisao para as audências a rir... é mais humano, de facto. Tmbém sao mais humanos, em França, os "quartiers" VIP (é assim mesmo que os chamam!)nas prisoes. Os coitaditos dos vendedores de hashishe, de 19 anos anos ou coisa assim, vão à trancada, no tribunal Créteil, com sacos na cabeça e os putos SUSPEITOS de violaçao vao com moças e olhos à belenenses... é mais humano, também... Enfim..Deus nos livre das justiças! DSK, afinal, foi CONSENTIDO pela emigrante, que até era feiosa e tudo e vai ter a vida devassada pelos advogados à americana do DSK e que se lixe... Nao tinha nada que ir ao quarto dele, foi seduzida por ele!!! que desgraça: e, agora, vamos apanhar com o OUTRO, mais uns aninhos... E as mulheres que deixem de andar de minisaia!

Uma mulherzita

diogo disse...

mas o problema é exactamente esse , os EUA não devem de servir de modelo para ninguém . Urge mudar a nossa mentalidade em relação a esse tipo de países

patricio branco disse...

Será que se fosse num hotel de lisboa, sempre dsk, a nossa policia iria ao aeroporto, entraria no avião na pista e levaria o importante suspeito para a esquadra para começar logo a ser interrogado? Ou a policia receberia ordens para não se meter no assunto, deixar o avião ir para o seu destino, etc.
Possivelmente a empregada seria despedida do hotel, não interessa perder clientes desse calibre, etc.
Bem, isto é suposição, raciocinar sobre um cenário que não aconteceu.
O exemplo de polanski aqui levantado noutro comentário é ilustrador, 17 anos depois não pode pisar os eua. E trazia dinheiro e fama aos eua com os seus filmes.
Li hoje sobre a questão do secretismo na europa e nos eua, a diferença no tratamento desse aspecto das vidas de certas personalidades publicas.
Esconde-se em frança (e não só)até ao limite o estado de saude ou a doença dum presidente, uma relação ou uma tendencia sexual, uma filha extra matrimonial, um erro cometido.
Um jornal francês trata esse aspecto, a cultura do segredo em frança e a transparencia no mundo anglosaxonico.
A tendencia mulherengo de dsk era bem conhecida, mas fechava-se o olho, sussurrava-se apenas entre amigos e colegas. Não foi factor pesado pelo seu partido.
Aliás, mesmo que ele tivesse agora caido numa armadilha que lhe fosse preparada, por razões politicas ou para lhe sacar dinheiro, teoria do complot, o senhor tinha mais que obrigação de não se deixar cair, um homem com as responsabilidades dele e futuro candidato tem de tomar atenção, muita.
O assunto vai ser esclarecido, a justiça nos eua não é lenta e não olha a quem é, já veremos se é inocente ou não. Vamos seguindo a novela.

Anónimo disse...

As algemas, eufemisticamente consideradas como sendo uma defesa do arguido perante o polícia que o guarda e que o pode matar, são o exemplo de que nem tudo o que luz é ouro.

No fundo, e a ser assim, os americanos têm suspeitas da sua polícia e... medo dela. Sendo como sou, fui e serei contra a pena de morte (maioritariamente existente nos Estados dos EUA), não me fio também nessa necessidade das algemas.

DSK é meu Amigo. De há largos anos. Já aqui o disse: não o iria renegar, mesmo depois de condenado. Iria lamentar que o fosse, mas teria de aceitar a condenação desde que a achasse justa.

Mas, agora está na moda a justiça popular e mediatizada. As imagens de Strauss-Kahn algemado vendem, aumentam as vendas, significam muitas mais receitas com que os órgãos de Comunicação rejubilam.

Mas, infelizmente, este é o Mundo em que vivemos e que, muito ou pouco, ajudámos a construir. Gostar da América é uma coisa; gostar de muitos métodos americanos são outros quinhentos mil réis.

A dimensão humana significa muito pouco ou quase nada nestes transes. Pode ser que DSK seja um tarado sexual - o que está a ser afirmado, antes de confirmado, antes mesmo de ser julgado. Mas, e um ser humano: Pelo menos, até ver...

A ofendida e queixosa, as outras duas alegadas vítimas de Stauss-Kahn merecem-me o respeito que lhes é devido. As mulheres têm o direito de ser respeitadas, tal como os homens o têm. Por algum motivo se afirma que somos todos iguais.

Mas, há uns mais iguais do que outros.

Rubi disse...

Está a ser tratado como qualquer cidadão americano seria, independentemente do número de zeros da conta bancária. Justiça igual para todos, até na injustiça, e célere ao contrário da nossa. Nada a apontar!

Anónimo disse...

Mas para quê tanta celeuma?...

O senhor enganou-se, e em vez de tomar um comprimido tomou dois...

Incompetências...

Madoff,(seis meses de processo),está na prisão sem prazo...

Anónimo disse...

As imagens da detenção de DSK, evidenciam bem a necessidade que o sistema judicial norte americano tem em mostrar a sua força, relegando a presunção de inocência, a dignidade do acusado para a sub-cave dos direitos fundamentais. Era importante registar a saída da esquadra algemado e rodeado de 5 policias? era imprescindível manter a prisão preventiva? era fundamental a câmara de filmagem na sala do tribunal? a quem serve a humilhação e a demonstração de força? à justiça?, não creio.
Desagradam-me profundamente os tiques de cowboys do faroeste de policias, promotores e juízes.

Eduardo Antunes

EGR disse...

Inreiramente de acordo Senhor Embaixador e excelentes os textos de P.Rufino naa análises comparativas entre os sistemas norte americano e europeus.De facto não me parece que em termos processuais os suspeitos gozem nos EUA de garantias que lhe assegurem um julgamemto verdadeiramente imparcial. E, em termos substantivos é indigno de um país democrático se mantenha, em muitos estados a pena de morte.
Ainda esta noite vi na TV,em nota de rodapé,que fora aplicada uma nova forma de execução com recurso a um anestesiante veterinário.
EGR

Fernando B. disse...

Sobre aquele show, o M s Tavares, hoje no Jornal da SIC, esclareceu:
aquilo é cultura do Faroeste...
Bem dito.

Anónimo disse...

E,quanto a celeridade dos processos é bom não esquecer que a Justiça é necessáriamente lenta,isto é, exige tempo.Isto nada tem a ver com excesso de formalismos, ou expedientes dilatorios que,como sucede frequentemente entre nós,servem para protelarem decisões de tal modo que estas,quando chegam já não produzem,o efeito desejável.
Aqui chegado peço licença Senhor Embaixador, para fazer um pequeno desvio e referir que o Dr. Ricardo Sá Fernandes foi,na semana passada, absolvido naquele estranho processo em que era arguido por causa de umas declarações proferidas em relação com um caso de corrrupção.
A absolvição ocorreu por efeito da repetição do julgamento ordenada pelo Tribunal da Relação.
Assina-lo este facto de o Senhor Embaixador o ter commentado,há meses, por ocasião da condenação inicial.
EGR

Anónimo disse...

De facto todos estes fenómenos são devastadores para as vitimas e "famílias".

Alguém me confidenciou como teoria explicativa, da dimensão, a metáfora da galinha depenada ao vento aquando da exortação...

Mesmo no rescaldo da reversibilidade é impossível apanhar todas as penas...

Isabel Seixas
o que eu aprendi com a análise critica da diversidade na operacionalização da justiça.
Obrigada P.Rufino, e não só

Helena Oneto disse...

Subscrevo as palavras de Helena Sacadura Cabral. O pesadelo que vivem a mulher e os filhos de DSK deve ser tão ou mais terrível que o dele. Aconteça o que acontecer, inocente ou culpado, com os antecedentes que lhe colam à pele, a duvida fica.

patricio branco disse...

ao contrario do acusado, verifica-se um blackout quase total em relação à queixosa e presumivel vitima. Apenas o nome, a idade, que é negra e trabalhava no hotel. Nem sequer uma fotografia. Há portanto tambem o outro lado da justiça americana, a grande protecção dada à queixosa.
Mesmo a televisão ou os jornais não fazem investigação por conta propria, mostrando p.ex. o sitio onde ela vive, entrevistando familiares, vizinhos e amigos, como acontece em portugal, ou falando da sua vida presente ou passada.
Outras terras, outras gentes.

Em relação ao fmi e futura chefia, começa a haver um forte movimento para dsk se demitir e ser substituido rápidamente, sendo vários os possiveis candidatos de várias nacionalidades.

Anónimo disse...

A mim o que me espanta é que não se pense , aqui, na emigrante e criada do quarto e que não se denuncie aqui a outra face da Justiça americana: a de que a pobre rapariga vai ver agora a sua vida completamente devassada pelos advogados e detectives e vai ser chamada de puta, todas as suas ligações amorosas eventuais, etc... é isso que me espanta neste seu texto senhor embaixador: é porque o arguido é um homem conhecido? é que, na minha opinião, também tem de haver a presunção de que a rapariga fala verdade e, tendo em conta o perfil do homem, é bem capaz de o ser. O que se vai passar com ela, com a criada, vai ser, na minha opinião, muito mais violento do que o que se passou e vai passar com o eventual violador. é isso que me choca, não ver uma linha com alguma preocupação com a violencia contra as mulheres que, a ser verdade, é muito pior do que o fato de DSK ir algemado. era isso que queria dizer. obrigada. R.Tomé

patricio branco disse...

Transcrevo uma com humor lida hoje na imprensa, cito:
"DSK still favourite for the presidential erection?".

Anónimo disse...

Manifesto o meu respeito pela publicação do e pelo comentário do SR. R.Tomé.

Penso no entanto, que o post se refere à estratégia de mediatização com prós e contras da justiça americana, não à tomada de posição individual sobre os factos e os direitos e deveres de respeito ou o género e as suas diferenças sociais das pessoas envolvidas.
Isabel Seixas

Anónimo disse...

Uma boa, que li algures:

"Apenas as criadas resistem ao FMI".

Helena Sacadura Cabral disse...

No meio de tanta seriedade, Patricio Branco e Anónimo das 21:00fizeram-me mesmo rir!

Viva o 25 de Abril!

Por esta hora, e nesta precisa data, um grupo de quase duas dezenas de "implicados" no 25 de Abril reune-se numa almoçarada que te...