No palácio das Necessidades, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, há um andar considerado mais "nobre", conhecido como o "terceiro andar" (na realidade é o 1º andar, para quem entra pelo largo do Rilvas). Nele têm os seus gabinetes o ministro e um secretário de Estado.
O acesso ao "terceiro andar" pode fazer-se por uma escadaria com corrimão de mármore e um confortável tapete (na imagem, à direita) ou, em alternativa e um pouco mais adiante, por uma escada mais modesta, que circunda um elevador.
Um certo ministro que, há muito, passou lá pelo MNE, decidiu, um dia, limitar o uso regular da tal escadaria a si próprio e ao secretário de Estado, para além dos respetivos visitantes oficiais. Ao que consta, não lhe agradava cruzar-se na escadaria com diplomatas ou pessoal técnico e administrativo, o qual, no seu entender, deveria utilizar as alternativas de acesso existentes.
Talvez por ter percebido que a passagem a escrito de uma tal determinação poderia tornar-se polémica, a decisão do ministro foi espalhada apenas de forma verbal, mas com indicação de ser para cumprir.
Um dia, o ministro cruzou-se na escadaria com dois diplomatas, que aparentemente haviam ignorado a sua determinação. Com ar grave, perguntou-lhes:
- Os senhores não ouviram dizer que eu dei ordens para não utilizarem esta escadaria?
- Os senhores não ouviram dizer que eu dei ordens para não utilizarem esta escadaria?
Um dos diplomatas exclamou, em tom baixo, mais para o colega que o acompanhava:
- Pronto! Ganhaste a aposta!
- Que aposta? - inquiriu o ministro, com ar um tanto agastado.
O diplomata esclareceu:
- De facto, senhor ministro, essa ideia da proibição anda por aí. Mas eu apostei com este meu colega que devia ser um boato de algum inimigo seu, que tinha posto isso a correr para lhe prejudicar a imagem. É que eu não conseguia acreditar que o senhor ministro tivesse proibido a utilização desta escada. Mas, afinal, era verdade! Assim, perdi a aposta.
E, voltando-se para o colega, disse:
- Hoje pago eu o almoço.
Não consta dos anais da casa a reação do ministro.
- Pronto! Ganhaste a aposta!
- Que aposta? - inquiriu o ministro, com ar um tanto agastado.
O diplomata esclareceu:
- De facto, senhor ministro, essa ideia da proibição anda por aí. Mas eu apostei com este meu colega que devia ser um boato de algum inimigo seu, que tinha posto isso a correr para lhe prejudicar a imagem. É que eu não conseguia acreditar que o senhor ministro tivesse proibido a utilização desta escada. Mas, afinal, era verdade! Assim, perdi a aposta.
E, voltando-se para o colega, disse:
- Hoje pago eu o almoço.
Não consta dos anais da casa a reação do ministro.
Para a história, diga-se que a proibição se desvaneceu com o tempo, não necessariamente por virtude deste incidente, mas porque se terá provado impraticável. Como é óbvio, quem quiser pode hoje utilizar a tal escadaria.