O jovem diplomata estranhou um pouco, mas alguma timidez levou-o a não inquirir, de imediato, da razão pela qual aquele seu primeiro chefe escrevia todos os seus despachos a lápis. Sempre que lhe chegava qualquer documento, que era necessário enviar a uma Embaixada ou a um outro serviço, lá vinham, no canto superior direito da página, as iniciais do seu nome, a ação a executar, a data e uma vaga rubrica do chefe. A lápis. A reiteração da prática anulou, quase desde o início, a hipótese de se tratar de uma episódica falta de caneta.
Faria isso parte da "liturgia" do Ministério dos Negócios Estrangeiros? Outras bizarrias havia já detetado, nesses seus primeiros dias nas Necessidades: o chefe queria que se usasse a palavra "estadia" apenas para paragem de barcos e aviões e "estada" para pessoas; tinha-lhe também explicado que se devia usar "muito se agradeceria" num qualquer pedido a um embaixador e apenas um seco "se agradece" se o destinatário fosse um cônsul. E, claro, aos primeiros chamava-se "Vossa Excelência" e, aos segundos, "Vossa Senhoria". A escrita dos despachos a lápis era, porventura, um desses estranhos hábitos da Carreira.
Mas não. Numa conversa com colegas, à hora do almoço, ficou a saber que os respetivos chefes usavam abundantemente a tinta, na elaboração dos seus despachos. Um deles, era mesmo famoso por despachar e assinar a tinta verde! Outras cores iria encontrar pela vida fora...
Esta constatação deu-lhe a coragem para, um dia, numa ocasião menos formal, perguntar ao seu chefe a razão por que despachava a lápis. A reação foi de uma cortante simplicidade: "Porque me posso enganar e, se assim acontecer, depois apago e corrijo o que tinha escrito".
O jovem diplomata, surpreendido, ousou retorquir: "Mas, se eu tiver cumprido o despacho e o senhor doutor depois o modificar, quem fica mal sou eu!".
Aí, o chefe, já impaciente e irritado com a inesperada impertinência do jovem colega, deu meia volta, fumegando nervosamente o seu eterno cigarro, e deixou, para trás: "Isso depois vê-se!"
5 comentários:
Os despachos têm muito que se lhe diga, senhor embaixador. Poucos se compararão aos do responsável de um serviço público que escrevia sempre PROVIDENCIAR. Uma forma sintética e expedita de se livrar de apertos.
Senhor Embaixador,
Eu sempre o eterno “manga de alpaca” fui observando muito em relação aos números dois chegados à missão para uma comissão.
Metiam-me dó... Um temor ao chefe de missão incrível.
O martírio de quando escreviam os “finados” Apontamentos de Conversa.
Uma tragédia... e lá tinha eu de emendar com as máquinas de pregar “pregos” (os computadores estavam no imaginário), várias e várias vezes o apagado com a borracha.
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Depois era ler frase por frase se haveria por lá algum erro ortográfico. Nunca foram eles os das asneiras, mas o “manga de alpaca”. Um dia por causa de meia dúzia de folhas A4, um chefe de missão (dos mais cruéis que conheci) tinha acordado mal disposto, gritava comigo porque tinha estragado folhas de papel.
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Não tinha sido eu e tentava explicar-lhe e um grito: CALE-SE!
Tão assustado estava o número dois com aquele berreiro que não informou ser ele o causador da deterioração das folhas A4.
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No meu caso e quando, anos e anos, despachei com vários chefes de missão tinha sempre cuidado com os: volte, arquivar e se alguma documento não estivesse assinado com a rubrica, voltava ao gabinete para lhe colocar a rubrica...
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Nunca me chegou nada assinado a lápis, porque me chegasse fazia logo cópia. Gato escaldado de água fria tem medo... Mas há chefe-de-missão bondosos, “civilizados” e lhes dá gosto de conversar com os mangas de alpaca e beberem um copo com eles...
São os que lucram...!!! E não têm a oposição dentro da missão que é o número dois ligado aos mangas de alpaca, onde vai buscar o conforto... E por vezes diz algo desagravável para o seu colega diplomata.
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Não deixo de aqui frisar que a minha vida e a do Embaixador Seixas da Costa teve, há anos, uma viragem, ao mesmo tempo, de 180 graus.
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Estranho não é?
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A pura realidade que ficará para contar depois...
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Só perde quem tem e o perdedor foi o país Portugal.
Saudações de Banguecoque
José Martins
Submarinos de ataque britânicos lançam ferro na ex-colónia Hong Kong e Portugal?
HMS Cornwall F-99
Royal Navy TYPE-22/batch3 frigate 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
HMS Sutherland F-81
Royal Navy TYPE-23 frigate 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
HMS Newcastle D-87
Royal Navy TYPE-42 destroyer 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
HMS Tireless S-117
Royal Navy TRAFALGAR-class submarine 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
RFA Diligence A-132
British RFA DILIGENCE class fleet salv./rep. ship 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
RFA Fort Victoria A-387
British RFA FORT VICTORIA class repl. ship 08-11 Aug 2000 China, Hongkong port call
Far East deployment Naval Task Group 2000
"A reiteração da prática(...)"
Fica na omissão democrática da sublimação de palavras que possam ferir sensibilidades cristalizadas por trauma azul...
E
O lápis agora de contornos rosa na extremidade periférica tem incorporada a borracha que à medida que se ativa a sensatez verbal apaga qualquer réstia do verde irreverente e libertino, no fundo é um estilo parental atento a emergir(que bonito e que pena, paciência...) é um Por Tento que delineia limites, de modo algum um vaguear de inquisição subliminar que ideia, nem um parece mal...
Que post... Hum
Posso só dizer que as zonas erógenas deste lápis(O que está na imagem precisamente)se situam em conformidade com o protocolo da paisagem mental de quem o vê...
Na, na não me estou a escudar em Freud... Por exemplo o ponto G deste lápis reside "para alguns" como direito inalienável só na utilidade da borracha Rosa...
Ou
Jamais utilizarão a versão expressão da sexualidade é tão natural como a Sua sede e que pode ser através da identificação simples do género, ainda por exemplo o lápis é unisexo... Qual é o mal?...
Adorei a performance do espreguiçar
do boneco que sustenta o lápis como se fosse um haltere...
Quanto ao Sr. personagem do post bem esperto, não!!! Como se se lesse logo o conteúdo e não primeiro a forma, fazia ele muito bem ...
Isabel Seixas
Tenho mesmo que trabalhar além de que o faço com Prazer.
"estada" dá a ideia de passagem temporária, sem grande ligação ao lugar de paragem, algo necessario mas logo andar.
"estadia" é algo tambem temporário, mas com mais elaboração, implica já uma certa vivencia no sítio onde se para.
para navios e aviões está bem "escala".
das 3 palavras, parece me a mais feia e fria "estada", estadia a melhor, com maioe riqueza semantica; e "escala" a mais tecnica e precisa mas limitada naturalmente a certas circunstâncias e objectos.
Pode haver uma "estadia" de 1 ano, mas uma "escala" de um ano é algo forçado que obriga a mudar para outra palavra mais adequada.
Como em tudo o que mete palavras, estudadas pela lexilogia, semantica, linguistica geral, a opinião diverge por vezes entre especialistas da materia.
Uma palavra que vejo por vezes mal utilizada é "hipótese" empregada na televisão e nos jornais quando se devia dizer "possibilidade" apenas. O verde para pintar a parede duma casa é uma possibilidade para a familia que lá habita, não uma hipótese, pois nada há que provar, apenas escolher e decidir. Que os dinossaurios morreram devido a uma catastrofe natural já é uma hipótese.
Enfim, uma estadia em paris é diferente de uma estada em paris e uma escala em paris foi o que fez o meu amigo X quando voou de sydney para paris para aí tomar o avião para lisboa e o amigo diplomata qua lá estava aproveitou para ir ao aeroporto ChdG dar lhe um abraço.
Tudo isto (semantica, uso das palavras, significados)lembra a frase de camilo c b na amor de perdição, creio, quando escreve numa primeira edição qua uma senhora se "manteve viúva" por tantos anos e a alterou numa edição posterior para "conteve-se viúva".
Enfim, conversas e divagações de sábado pela manhã de um leitor (atento)do blogue.
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