Foi anunciado que o diário britânico "The Independent", que tinha uma edição dominical autónoma, "The Independent on Sunday", vai deixar de publicar ambas as edições em papel, ficando reduzido ao "on-line".
O "The Independent" nasceu em 1986 e constituiu uma saudável revolução no meio dos chamados "quality papers" britânicos, desde logo no caráter mais "arejado" do seu grafismo. Um pouco mais à esquerda do que os clássicos "The Daily Telegraph" e "The Times", e de diferente natureza do "The Financial Times", competia, de certo modo, com o espaço político do "The Guardian", embora se distanciasse mais do Partido Trabalhista do que este último, afirmando uma atitude bastante "business-friendly". Nos fins de semana, o "The Independent on Sunday" era também um apreciável jornal, embora, na minha perspetiva pessoal, fosse inferior ao "The Observer", a edição dominical do "The Guardian". E dava-me menos gozo do que o "The Sunday Times", onde alguma irreverência conservadora assegurava grandes textos (não sei como hoje anda).
Quando fui trabalhar para a nossa embaixada em Londres, em 1990, comecei por pedir como jornal diário o "The Independent", que estava então "na moda". Ao final de algumas semanas, dei-me conta de que uma boa parte da "inside information" sobre o governo conservador da senhora Thatcher me escapava, pelo que passei também a ler diariamente o "The Times". Com a as questões europeias a tornarem-se cada vez mais decisivas em Londres (como agora volta a acontecer), passei a mandar vir também o "The Financial Times". Mas, pouco tempo depois, continuando por preconceito a fugir aos tablóides matinais ('The Sun", "Daily Mirror", "Daily Mail", "Today", "News of the World"), converti-me à leitura diária do "The Evening Standard", um (bom) vício do qual nunca me libertei até ao meu último dia em Londres (ainda ontem o li com proveito, agora gratuito). Eram assim quatro os meus jornais diários, para além do americano "The International Herald Tribune" (hoje transformado em "International New York Times", depois de perder as contribuições do "The Washington Post" e do "The Los Angeles Times") e do francês "Le Monde", a que se somavam ainda os semanários "The Economist", "The New Statesman" e o "The Private Eye". Aos domingos, o "vício" era ainda bem maior: comprava o "The Telegraph on Sunday", o "The Independent on Sunday", o "The Observer" e, claro, o "The Sunday Times". Cerca das duas da manhã, saía de casa e ia a uma "loja de conveniência", aberta 24-sobre-24 horas, adquirir todos aqueles quilos de papelada (esses jornais dominicais pesam aí dois quilos cada um), regressando a casa, regalado, para lê-los pela madrugada dentro. Outros tempos, que eram também uma implícita homenagem à melhor imprensa do mundo, a britânica! Qualquer dia, o "on-line" muda tudo e reduz-nos ao iPad.
Quando "morre" um jornal em papel sinto alguma pena, confesso, embora compreenda que não podemos contrariar o destino. E ele vai inexoravelmente no sentido da eliminação do papel, em favor da imagem por via informática. É bom? É mau? Acho que não devemos ter grandes estados de alma. É a vida!
Daqui a pouco, aqui por Londres, vou comprar o "The Independent", quanto mais não seja para verificar se, muito saudavelmente, anuncia o jantar anual da Crabtree Foundation, que aqui me traz.
Daqui a pouco, aqui por Londres, vou comprar o "The Independent", quanto mais não seja para verificar se, muito saudavelmente, anuncia o jantar anual da Crabtree Foundation, que aqui me traz.