quinta-feira, maio 04, 2017

O adeus de Philip


Foi hoje anunciado que o príncipe Philip, duqie de Edimburgo, vai deixar de surgir em cerimónias públicas. A sua fragilidade física justificará que deixemos de o ver ao lado da raínha Isabel II. Enfim, ao lado não, porque há uma arte que ninguém como ele domina: estar sempre dois passos atrás da soberana, garantindo, não obstante, um lugar com suficiente proeminência na cena, a que a sua estatura também ajudava. Do príncipe, a História não reteve grandes tiradas e, bem pelo contrário, fixou mesmo algumas "gaffes". Não deve ser fácil ser príncipe consorte, mas, jogando o trocadilho, ele tem, no entanto, a sorte de sê-lo de uma raínha que é uma excelente profissional na função que exerce.

Há já uns bons anos, na Noruega, tive uma simpática amiga, diplomata equatoriana, de seu nome Marta Dueñas. Era casada com um norueguês "muito norueguês", daqueles que construíam (não sei se ainda constroem) as próprias casas familiares de madeira, ao longo de vários meses ou mesmo anos. Chamava-se Erik e recordo-me que tinha um humor já algo "sulista", por virtude do convívio com os colegas da mulher, como era o nosso caso.

Um dia, o Erik contou-me uma troca de palavras que teve com o príncipe Philip, durante uma visita de Estado da soberana britânica à Noruega. Como era de regra, após o jantar oficial, o protocolo ia convidando os diplomatas, por uma ordem vagamente próxima da respetiva antiguidade, para se aproximarem do rei norueguês - à época Olav V - e da sua convidada. Numa linha mais atrás, o príncipe Philip exibia o seu sorriso e deixava cair alguns comentários.

Quando a diplomata equatoriana e o seu marido foram apresentados aos reis, o duque de Edimburgo acercou-se de Erik e, num aparte só ouvido pelo dois, comentou: "você e eu temos uma coisa em comum: são as nossas mulheres que trabalham!" Erik não sabia o que dizer: ele próprio tinha uma exigente profissão e vir a ser toda a vida "consorte" da mulher era a última coisa que lhe passava pela cabeça. Mas não quis desiludir o príncipe e deixou escapar: "De facto, é um privilégio estar na nossa posição..." Não contava com a reação de Philip: "Privilégio?! Isto às vezes é muito aborrecido, pode crer! Para si não é?". O norueguês, que detestava cocktails e jantares oficiais, a que só assistia por virtude da profissão da mulher, achou que tinha ganho espaço para uma graça: "Ao menos, bebemos uns copos!" Ao que Philip, sorrindo, respondeu: "Pois hoje, a mim, de nada me valeu ainda ser marido da raínha! Ainda não consegui que me servissem um scotch..."   

8 comentários:

patricio branco disse...

saídas do principe filipe:

when asked if he would like to visit the soviet union, prince philipp said: "I would like to go to russia very much, although the bastards murdered half my family."

"aren't most of you descended from pirates?", he asked an islander in the cayman islands.


na austrália: prince philip once famously asked an aboriginal elder: “do you still throw spears at each other?” and william brim jokingly replied that yes, they did."
william brim, the aboriginal, said he and his father were not offended. “I didn’t mind - it was quite funny. I found it amusing, but I was rather surprised he said it”

Francisco Seixas da Costa disse...

Que é feito de si, Patrício Branco?

Anónimo disse...

Numa recepção, Filipe aproximou-se de um convidado com a casaca repleta de condecorações, apontou para elas e perguntou: " Onde as comprou? ". A resposta veio pronta: " No mesmo sítio onde Vossa Alteza comprou as suas".

patricio branco disse...

tudo optimo, obrigado

Anónimo disse...

O "Evening Standard" de ontem tinha uma boa recolha de gaffes. Deixo aqui algumas

- "If it doesn't fart or eat hay, she's not interested" (On the Princess Royal)

- "The Phillippines must be half empty as you're all here running the NHS" (On meeting a Filipino nurse at a Luton hospital in February 2013)

- "You are too fat to be an astronaut" (To 13 years old Andrew Adams who told Phillip he wanted to go into space, in Salford in 2001).

Certamente a lista vai aumentar nos proximos dias. Ficarei atenta.

Bom dia com sol

F. Crabtree



Anónimo disse...

Vocês têm de perceber que as culturas anglófonas têm... sentido de humor.
Exemplos:

1) Em Gibraltar, num bar inglês, está pendurado um aviso dizendo "Crianças não acompanhadas serão vendidas a piratas."

2) Num albergue, em Londres, anuncia-se um bar australiano: "Venha ter connosco e seja atendido por descendentes de assassinos."

Vocês é que não chegam lá. E, depois, admirem-se que uma das notícias do dia seja uma empresa em Portugal que se recusa a contratar mulheres portuguesas por não terem... humor.

Anónimo disse...

Obrigado pelo post divertido. Só um a parte: a palavra rainha não leva acento gráfico. https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/rainha-sem-acento-no-i/10443

Anónimo disse...

O Principe Phillip se fosse português poderia ter dito:
Nestes banquetes só me dão salmão fumado. Já pedi um bacalhau com batatas e um bom vinho a acompanhar, mas ainda não me deram. LOL

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