- Fiquei com a sensação de que foi ainda o "professor Marcelo" quem ontem falou ao país. Estava lá a pedagogia, a apresentação académica e equilibrada das teses e a avaliação neutral da racionalidade das mesmas. Só faltaram as notas... Mas não desgostei, confesso.
- António Costa não se pode queixar do PR. A cooperação institucional esteve presente e, de certo modo, uma certa "presunção de eficácia" do executivo também.
- Marcelo Rebelo de Sousa foi social-democrata no modo como descreveu as posições em confronto e até no modo subliminar como deixou expressa a sua simpatia pela forte dimensão social do projeto inicial de OGE. E foi visível a ausência de qualquer empatia com a teoria do rigor europeu (que não se coibiu de colar ao anterior executivo), que terá impedido o sucesso da fórmula "inspiradora" portuguesa.
- Quem contava com o presidente para poder criar um fácil incidente de percurso ao governo parece poder começar a "tirar o cavalo da chuva". Ele deixou claro que o governo só cairá se quem o apoia assim quiser. Lembram-se dos tempos em que bastava eleger um presidente "de direita" para se poderem marcar logo novas eleições? Eram em julho, não era?
- O presidente deu ontem, de forma clara, um "salvo-conduto" ao governo, embora apenas com a validade de um ano. Já se percebeu que isto irá de orçamento em orçamento. Entretanto, sem o dizer, o presidente não deixou de lembrar que o Plano Nacional de Reformas tem de ser aprovado - e convém não esquecer que subsistem dúvidas se ele vai a votos na AR e o que daí poderá resultar.
- Os avisos sobre a necessidade de rigor na execução orçamental e sobre o otimismo, talvez excessivo, de algumas projeções vieram bem acompanhados pela (potencialmente desculpabilizante) ideia de que se situam fora do país, e fora do controlo deste, algumas das variáveis que podem vir a ter um efeito sério na equação final. António Costa não esquecerá (e agradecerá) isto.
- Quanto à oposição, a vingança serve-se fria (como a "vichyssoise", aliás). Mais do que nunca, o PSD vai ter oportunidade de recordar, durante o seu nostálgico congresso do próximo fim de semana, como MRS lhes raptou idêntico evento anterior: desembarcando inopinadamente na sala, com um discurso galvanizador, remeteu então Santana Lopes à Misericórdia, atemorizou de vez Rui Rio e encostou definitivamente à parede Passos Coelho. O "catavento mediático" venceu-os a todos. Com um sorriso (que eles conhecem bem).
- Contudo, o "estado de graça" de Marcelo perante alguma direita mais "caceteira" está a esgotar-se, talvez mais rapidamente do que esperado. O "Observador" já esbraceja desespero pela opinião, alguns colunistas do "Negócios" e certos jornalistas "independentes" ("independentes", na novilíngua mediática, significa "que não são de esquerda") também não disfarçam, os porta-vozes da Santana à Lapa, atrapalhados entre Belém e a "geringonça", esfalfam-se por ora em circunlóquios de advocacia hábil. Quando perderão a cabeça?
- Marcelo Rebelo de Sousa é hoje, como nunca foi um outro presidente, um "one man show", com a força que isso dá e os riscos que acarreta. Ganhou as eleições pela exploração hábil de uma notoriedade que só a si deve. Tem à sua frente um governo no fio da navalha, dependente da gestão das contradições de quem o apoia e de uma multiplicidade de vetores que desafiam a "lei de Murphy" ("se alguma coisa pode correr mal, ela correrá mal, no pior momento possível"). Não deve um voto ao entusiasmo oficioso do seu partido de origem (e este sabe isto). E, ainda à direita, conta com um CDS à procura de razões para existência própria, isto é, em busca de um registo distinto de um PSD que vive em estado de "negação", com as malas prontas para regressar a S. Bento.
- Vai ter imensa graça (embora vá ser simultaneamente algo penoso) assistir ao congresso do PSD. Se o partido enveredar por um elogio póstumo a Cavaco Silva, terá dois resultados inevitáveis: cola-se a uma figura que não soube acabar o seu tempo com um mínimo de "dignidade" (mal Cavaco sabia que, ao usar a palavra para Soares, estava a escrever o seu destino) e, a contrario, irá provocar Marcelo, o qual, em Belém, parece estar a escrever uma espécie de manual de "como Cavaco não faria".
terça-feira, março 29, 2016
O novo presidente em dez pontos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
14 comentários:
marcelo quer o tal 2º mandato que disse nunca querer e para isso precisa dos votos da esquerda, portanto irá reinventar a cooperação estratégica, mas com de cara alegre e com bués de folclore. por outro lado precisa de tempo para que o psd se recomponha e seja alternativa a qualquer coisa, o que vai demorar tempo, correr com o velho passos e botar lá sangue novo, tipo manuela ferreira leite. o post é publicidade ao marcelo e à direita, como vem sendo hábito.
Digno de Talleyrand, Senhor Embaixador, em todos os aspectos. Do 1° ao 10° "round" !
A proposito da direita
tenho impressão, talvez errada, que a direita europeia estara' cada vez mais debilitada. parte dos amantes desta austeridade cruel, que foi e ainda é, para os países do sul da europa, tratam-se hoje entre si a golpes de machadada. a crise dos refugiados e da integraçao, não tocando o sul da ue, (exceptuando a grécia, e mesmo essa), toca é exactamente esses países defensores que foram da solução neoliberal, e maiormente os seus eleitorados. Essas direitas da divida dividem-se hoje entre as que são pro-merkel pro-refugiados, e as que são contra merkel. os coelhistas que ha, terao por agora ainda orelhas em bruxelas, mas com as crises internas de alguns paises dessa europa, que se adivinham mas esperemos nao se concretizem, as orelhas essas ficarao menos disponiveis.
é curioso de verificar a ascensao de uma certa direita moderada e interessante (juppé, marcelo, ciudadanos)
cumprimentos
uma notoriedade que só a si deve
Não bem: deve-a também em grande medida à televisão que lhe ofereceu um ambíguo lugar de comentador/participante d(n)o jogo político.
O Senhor Joaquim Freitas e a sua prosápia. Claramente um dogmático, logo não é para ser levado a sério.
Dar aulas é teorizar e exemplificar conforme. Enquanto tiver que decidir o que é de decidir não vai haver problema porque sabe tudo o que vem nos cânones. Quando o assunto for novo é que se verá!
Estou expectante... mas já não muito...
A Direita (PSD/CDS) vai ter de conviver com este governo e este apoio parlamentar até 2019. Ano a ano, os respectivos OE serão aprovados e depois Marcelo irá precisar dos votos da Esquerda (PS) para garantir nova vitória à 1ª Volta. Conseguirá. Um país a ser governado em compasso de espera, de cada vez que o governo tiver de aprovar um OE. Mas, esta originalidade vai funcionar. O que constituirá uma nova situação política. Em minha opinião, saudável. Porque haverá mais controlo da A.R sobre o governo. Revigorará o prestígio do Parlamento. É lá que estará a condução da Democracia deste país. Vai ser engraçado.
Sou uma pessoa que trabalhoua anos a fio junto Partido Socialista. Ha uns anos atras ja teria votado Marcelo para Primeiro Ministro, se o tivesse deixado la chegar. Pessoas muito amigas procuravam dissuadir=me dizendo que ele era um "género de picareta falante, amigo do outro" , o original. Mas que se fosse ao trabalho "real" seria uma gesgraca. Que foi uma desgraca foi, estes liberais desenfreados terem estado estes anos todos na chamada "real governacâo" que foi a maior partida para nos venderem aos privados as empresas que nâo davam prejuizos! Os privados seriam, mais capazes de nos criarem riqeza e emprego no pais... Agora so ha que rir, pois o leite... ja esta todo derramado... Quem quiser que entenda uma socialista leal ao PS, que nâo foi "infiel" ao ter votado neste Presidente. Ate achei que muitos direngentes do PS, me parecem "ja" menos socialistas do que eu... Que o Presidente tenha a saude que merece, pois me vai dispensar das discussôes que mantinha com as minhas primas para a necessidade de termos: "um Presidente festeiro, pronto para viajar, adepto do Braga e principalmente amigo de si mesmo, mais seguro do que o que nâo quer para os portugeses do que os ultimos liberais mais velhos, e os desenfreados liberais que acabaram de passar à oposicao, "invejosos" dos portugueses que tinham visto as suas vidas e a dos filhos estudiosos serem vidas mais desafogadas e com melhor futuro. Para esses governantes tinham vivido acima das suas possibilades! Com a postura do nosso novo Preidente podemos nâo ficarmos depressa economicamente e socialmente melhores, mas vamos ser mais respeitados... Adaram a assaltar e a vender bancos sem sabermos como foi... e nos é que vivemos acima das nossas possibilades. Isto é no dizer daqueles de quem neste momento ja fez o retato; para eles algumas empresas... tinham direito a tudo; filhos nas faculdades com os automoveis e os tapetes de arroiolos em casa (ainda quando so tinham uns 19 anos) tudo compradinho, mais os imoveis com dinheiros que nâo pagam à Banca...So se fossem estupidos haviamos de acreditar quando nos diziam que nâo nos ia custar 1 cêntimo aos contribuintes... Felizmente a populaçâo tem andado a acompanhar as noticias, mesmo que com aqueles progressos de raciocicio, que aqueles pacotes de novelas, os distrairam durante uns bos anos!
Francisco
A sua análise, como sempre, é clara e até... contundente. E é este último facto que me leva a perguntar se o meu amigo está mais contente pelo trabalho desenvolvido pelo actual governo ou pela incapacidade revelada pela oposição. O que pesa mais?
Mas que é uma bela análise, disso não duvido!
Lá foi o PMDB a sair da companhia de Dilama, é caso para dizer corruptos a deixarem de estar ao pé de outros corruptos. Daqui a pouco os Dógmáticos do Joaqum Freitas e do Ng, vem já aqui carpir as mágoas dos seus bandidolas de estimação.
Ó Dona Helena Sacadura, já viu como se comportam por aqui alguns dogmáticos, quando falam de submarinos, ai são os primeiros a descarregar, mas quando lhes mechem nos bandidozitos descamisados de estimação deles, ai tá queto, calam-se como todo o bom cobarde.
Há por aí uns provocadores de Direita rafeira que gostam de atacar o Leitor Joaquim Freitas. Pois eu acho que o referido Leitor faz comentários bastante interessantes, embora, por vezes, um pouco extensos, para um Blogue. Mas, repito, de interesse. Se tais comentários mexem com alguma Direita que aqui vem cheirar, é la´com ela. Não existe falta de elegância nestes seus comentários, caso contrário o autor do Blogue tê-los-ia cortado. Assim sendo, manda a boa educação que não se façam comentários críticos como os que temos lido, sobre o que Joaquim Freitas escreve e diz. Ou não estamos num Blogue livre e democrático e num páis igualmente livre e democrático?
José Maria Ferreira Alves,
Carcavelos
eu, ainda sou daquele tempo, em que Sócrates primeiro-ministro, disse numa audiencia pública com Cavaco:
"nós gostamos muito de trabalhar consigo, muito"
Existem imagens RTP do facto. E depois foi o que se viu. De modo que tudo pode voltar a repetir-se.
ó senhora de Carcavelos. Eu não sou de direita, apenas critico o dogmatismo do senhor Freitas. Ele para as mesmas situações, tem dois pesos e duas medidas como tal é um dogmático e já vi que a senhora será outra. Vá ver os barquinhos á praia.
Enviar um comentário