domingo, janeiro 01, 2012

Sensatez

Com os anos, aprendi que uma das maiores provas de maturidade é fugir à tentação fácil, no primeiro dia de cada ano, de começar a fazer dieta, de organizar estantes e papelada, de escrevinhar com cuidado a nova agenda e lista telefónica, de procurar preparar, a tempo e horas, a vida lúdica (espetáculos, férias) para os meses que aí vêm e outras coisas assim ditadas pelas regras de uma efémera previdência, na lógica sergiana (não de António Sérgio, mas de Sérgio Godinho), de que "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". Se o Natal é quando um homem quiser, o ano novo também deve ser. Mudar de vida porque se muda de ano é entregar a nossa existência ao calendário. E isso é muito triste, a menos que ele seja da "Pirelli"

A grande sabedoria é ter coragem para continuar a fazer, no "ano novo", exatamente o que se fez no "ano velho". Nem mais nem ontem. Se há coisa a que é preciso resistir é ao "agora é que é!"  

28 comentários:

J. F. Borges disse...

A decisão é sensata. Também pode acontecer que muitos, ao tentarem resistir ao "Agora é que é!", digam: «"Agora é que é" altura de resistir ao "Agora é que é!".»

Anónimo disse...

E os desejos, senhores? Aquelas coisas sentimentalonas que as pessoas dizem ao telefone, de voz quase chorosa, falando com gente de quem só se lembram nesta altura? Há pachorra para isso?

Anónimo disse...

Leio e ouço com frequência essa frase [“Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”] atribuída a Sérgio Godinho, mas conheço-a em inglês desde o início da década de 70, muito divulgada em "posters". Foi popularizada numa canção por John Denver, no album "Rhymes and Reasons" (1969). Começa assim:

Today is the first day
Of the rest of my life.
I wake as a child
To see the world begin.

Não se sabe ao certo a origem dela mas é mais frequentemente atribuída a Charles Dederich que, tendo-se libertado de um problema de alcoolismo num programa do AA, iniciou ele próprio um, na Califórnia, nos anos 60, destinado a drogados.
Há outras versões acerca da origem da frase, todavia esta parece ser a que reúne mais consenso.

Feliz Ano Novo para si, que espero poder continuar a ler com gosto.

onésimo almeida

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Onésimo: em 1972 fui aos EUA e comprei um poster com a frase. Bom ano para si também.

patricio branco disse...

esses projectos para o 1 de janeiro, embora legitimos, são formas de nos enganarmos a nós próprios, não têm seguimento. Entretanto já fiz 1 ou 2 projectos para este ano.

Anónimo disse...

Mas a frase fica muito mais bonita em Português, não acham?

Anónimo disse...

Le premier jour de l’année doit être un jour d’action ! L’indignation suivra les jours après pour corriger les imperfections insupportables et même les légèrement injustes.
L’indignation, oui, à casser le glas ambiant, à faire réagir la justice au sens « juste » du terme, à harmoniser les égalités…
Agissons toujours, en toute liberté et indépendance, hors religions des chapelles… saisissons fermement toute pointe d’espoir et avançons.
Si nous sommes exigeants avec nous-mêmes, si notre posture fait envie au point d’être copiés (ou copiées) par les autres, par tous les autres, si nous poursuivons le chemin dans cet esprit peut-être avançons nous vers la perfection… au sens de corriger les injustices, les inégalités, et imposer une lecture universelle de la vérité.
Poursuivons sans cesse même si le chemin parait long, même si l’histoire parfois nous répète les injustices de nos ainés, même si des interrogations sur la dureté des obstacles émergent en nous… poursuivons et ne perdons pas le sens…
Voilà mes premiers vœux pour cette nouvelle année bien que ce soit un programme à long terme !
À tous ceux qui reçoivent et veulent bien lire ce texte je leur demande de bien vouloir y croire, aussi, en ma motivation dans ce sens. Toujours. Hasta siempre !
José Barros

Helena Oneto disse...

Subscrevo -tim-por-tim- o excelente comentario de José Barros e as sabedouras intençoes do nosso "très cher" embaixador.
Bom ano, a resisitir, car(a)os (amiga)os!

Fada do bosque disse...

Pois eu gosto é daqueles, que todos os anos, no dia 31 de dezembro afirmam a pés juntos, que vão deixar de fumar! Já estão "entradotes" na idade, mas o mais incrível, é que não aprendem! Como diz Catinga, haja pachorra!!

Feliz Ano Novo cheio de Saúde, Paz, Amor e já agora, Alimentação, (visto que começa a escassear para muitos) são os meus Votos para o Sr. Embaixador e a todos os que, tanto aqui, como aí, lhe fazem companhia.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Onésimo de Almeida
Saiba Vexa que tem toda a razão na preciosa informação que nos fornece!

Guilherme Sanches disse...

Sim, mas este ano é diferente.

É que o dia 1 de janeiro acumula com o síndrome de domingo à tarde - porque o dia anterior foi sábado e ao jantar, como todos os sábados, a mesa estava alargada e cheia, porque o chef se esmerou, porque o Douro produz cada vez melhor tinto, porque os amigos são "xelentes" e as asneiras cada vez maiores, e depois, no dia 1 de janeiro à tarde, porque hoje é domingo, a promessa de passar a semana inteira a pão e água, como prometido em todos os domingos à tarde.

Mas como no post, continuar a resistir ao "agora é que é"!

Mas convenhamos que por muitos lembretes, alertas digitais e sincronismos que tenhamos entre todos os gadgets, uma agenda de secretária de papel, que hoje será mudada, sempre é outra coisa.

É como os livros digitais - o monitor tem quase tudo, mas falta-lhe o cheirinho a tipografia, de um livro acabado de imprimir.

Um grande abraço, e um ótimo 2012

Julia Macias-Valet disse...

En cette début d'année je vous transmets ce tuyau, parce que pour moi ça a marché :

A la télé j'ai regardé une émission, dans laquelle un représentant du Dalaï-lama affirmait que pour obtenir la paix intérieure nous devions toujours finir ce que nous avions commencé et qu'à cette condition nous bénéficierions d'avantage de calme dans nos existences.
J'ai regardé autour de moi, j'ai fait le tour de la maison pour trouver les choses que j'avais commencées sans les terminer.....
Et j'ai fini une bouteille de rosé de Provence, une bouteille de Châteauneuf du pape, une bouteille de côte du Roussivon, une vouteile de bodka, un buteil de rom, le rest dwiski, et 1 bpoit de choccccla.
Tou nimaggine pa com jem sens achemen mieu mintnan.
Psasse el mssage a tou ceux con bsoin de paixintrieur et di leurrke jeu lé zèm.

PS Senhor embaixador completamente d'acordo com a sua "Sensatez" so discordo do que diz respeito ao calendario...prefiro "Les Dieux du Stade"...les goûts et les couleurs ne se discutent pas ! ; )

Isabel Seixas disse...

Além da sensatez de continuar a auferir do querido duas ou três coisas que do seu ciclo vital nos oferece reflexões partilhadas num registo inteligente e diversificado claro que também é continuação...

Anónimo disse...

Cara Fada, parece que os "bujardos bilingues" fizeram escola e já estamos nos comentários monolingues em... estrangeiro.

É como eu digo: a língua dos 200 milhões sempre a bombar!

Anónimo disse...

Junto os meus votos de Bom Ano aos da velha senhora que, ao saber das amigas juntas hoje aqui, riu e rimou:

'pràs fada e júlia três helenas e isabel
jovens amigas minhas um ano bom de mel'.

E prosseguiu:

helena oneto
peço perdão
mas não resisto
esses car(a)..os
junto a (amiga)..os
(é amigalhos?)
davam soneto
dos que eu cometo
com palavrão
do meu registo
dos que não lê
porque o 'très cher'
sei lá porquê
cá os não quer

jovem amiga
isto é cantiga
(não não catinga)
não leve a mal
ria e prossiga
com jeropiga
(rima e não xinga)
ou pinga igual
sem nenhum dano
tenha bom ano
seja feliz
de rubro pano
resisa ufano
todo o país.

Anónimo disse...

Em 2012 não haverá condições para fazer - exactamente - o que se fez no ano velho. Há coisas, pequenos prazeres, que, muitos de nós, já naõ poderemos fazer. Recentemente, sucedeu-me querer comprar um livro na Fnac, mas acabei por não o fazer. Terei poupado uns meros 20 e coisa euros, mas que significavam alguns produtos de supermercado que me faziam mais falta. Já não vou comer fora, mesmo que ocasionalmente. Deixei de ligar o aquecimento em casa e acrescentar, em vez disso, mais roupa em cima dos ossos. Quando sou obrigado a utilizar a viatura, evito sempre que possível as auto-estradas. Não compro roupa, uso a que tenho até ao limite. E por aí fora. Um amigo meu, pessoa com qualificações q.b está há algum tempo desempregado. Como está com "cinquentas" está com enorme dificuldade em conseguir emprego. Esta socieade actual tolera cada vez menos os "velhos" (entre os 40entas e 60entas).Há muito que não faz - exactamente - o que fazia. Perdeu, até, 9 quilos.
Enfim, caro autor deste Blogue, muitas vezes não é uma questão de coragem. Bem sei que neste seu Post se referia a outras coisas, mas, hoje - em 2012 - tendo em conta a crueza e insensibilidade deste orçamento, que atinge sobretudo quem mais sofre com esta situação económica (com empresas e empresários a desaparecer a um ritmo assustador e desemprego a atingir números preocupantes!)há que pesar bem aquilo que se diz. Mesmo que não se tenha a intenção de magoar quem quer que seja.
Tenha um Bom Ano. Melhor do que o meu, que vai ser -muito - difícil.
Mas, tal como dizia, na sua última frase, vou resistir. Como muitos outros portugueses atingidos pela injustiça desta austeridade. Para mostrar a quem é por ela responsável e quem lhe esteve na origem que há gente de fibra. Ainda que tenha de deixar de fazer - exactamente - o que fazia no ano velho.
Anónimo de 1 de Janeiro de 2012.

Anónimo disse...

Errata
Erro da velha senhora na terceira linha:
'pra fada júlia guida helenas e isabel'

Erro meu na penúltima linha:
'resista ufano'

Helena Sacadura Cabral disse...

Júlia, uma maravilha essa do Dalai Lama. Se eu a tivesse lido antes, terminaria da mesma forma!
Velha Senhora minha,
que tento na língua não tendes, mas que perdão mereceis ao lembrar-vos destas fiéis amigas.
Entrai bem o Ano Novo!

Anónimo disse...

Entretanto, o Vatefantasma volta a atacar…


O Ano Novo já entrou
pé ante é, de mansinho;
quem já dormia acordou
pra despedir o velhinho

De muletas e alquebrado
o velho nem quis saber
onde seria enterrado;
estava farto de viver

Mas o novo, um folgazão,
nem sequer lhe deu abraço
que era muita a confusão

Deu-lhe só um empurrão
pra ganhar o próprio espaço
ou escolher a… emigração


‘té parece que sou poeta… da treta

Julia Macias-Valet disse...

Cara velha senhora
obrigada pelo reparo...
faltar aqui a Guida
era grande o desamparo

Cuidado com a pinga
Que tento na lingua ha que ter
Um ano tem mandinga
E durante este vamos ter que nos reter !

Feliz ANO Old Lady !

Anónimo disse...

A velha senhora quer-se solidária com a uma das suas jovens amigas, a cara Julia Macias-Valet (eufemisei um con para evitar línguas estrangeiras - e forçar a portuguesa, hélas! - ... e para ver se isto passa):

consigo julia vou
votar catinga rei
de com a apúlia ou
doutro lugar qualquer

velha sem tento inteiro
e dada à pinga eu sei
que tais talento e cheiro
tão mais não pode haver.

Mônica disse...

Francisco
Sensatez.
Uma palavra que pode ser o meu primeiro pedido a Deus.
com amizade e carinho de Monica

Julia Macias-Valet disse...

Oh ! Velha Senhora...
A senhora diz eufemismo e eu compreendi hipérbole : (

Mas cuidado com a utilização de 'cons' entre aspas...complicada esta historia de surfarmos entre idiomas : )))

Anónimo disse...

Júlia, essa du representante du Dalaï-lama à la télé, faz-me lembrar uma que se passou durante o jantar du réveillon de fim de ano:
Dois convivas conversando. Um diz:
- A minha sogra é um anjo.
O outro diz:
- Você tem sorte, a minha ainda está viva!

BOM ANO !

Carlos Falcao

Anónimo disse...

Pode ter-se passado no "reveillon" deste ano mas foi encenação porque não é original. Tenho essa estória numa crónica que publiquei no "Jornal de Letras" nos anos 80 e que depois reuni num dos meus livros. E não a inventei. Contei-a porque já circulava por aqui há muito tempo.
Estou armado já em velho sempre a chamar a atenção para o facto de que aquilo que passa como novo afinal é reciclagem.

Onésimo Almeida
Providence, Rhode Island, EUA

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Onésimo: este é um blogue de memória. A luta continua, até que nos esqueçamos do apelido daquele tipo alemão começado por "A"...

EGR disse...

Senhor Embaixador: inteiramente de acordo com o post.
Mas,ainda mais, quanto a necessidade de continuar a luta.

Maria Soares disse...

Concordo, até porque a vida começa todos os dias...

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