segunda-feira, janeiro 30, 2012

"Diplomatas"

Reproduzo hoje aqui, porque há novas razões para o fazer, um post que publiquei no dia 5 de junho de 2011:

"A nossa imprensa é sempre muito lesta quando lhe cheira a qualquer esturro que possa ligar-se negativamente à imagem da diplomacia lusa.

Há meses, um "cônsul honorário" na Alemanha apareceu envolvido em maroscas financeiras. De imediato, os títulos e os textos apontavam para "diplomata recebe luvas em negócio" ou "diplomata acusado de corrupção".

Há dias, um "vice-cônsul" no Brasil, uma categoria administrativa em má hora recém-renascida, que alguns, premonitoriamente, advertiram que poderia vir a redundar em "vício-consulados", foi acusado de desvio de fundos. Como era expectável, a comunicação social logo trouxe títulos como "diplomata roubou" e coisas do mesmo jaez.

Vamos a ver se nos entendemos: ambos os cavalheiros envolvidos no que parece serem atividades criminosas* não são diplomatas - eu diria mesmo, estão mesmo muito longe de o serem. A qualidade de "cônsul honorário" ou de "vice-cônsul", que, por todo o mundo, é exercida por pessoas geralmente muito estimáveis e de impecável honestidade, não confere a ninguém a qualidade de "diplomata", categoria profissional que tem requisitos de formação, recrutamento e responsabilidade muito específicos. Repito: um "cônsul honorário" ou um "vice-cônsul" são categorias funcionais que nada têm a ver com a carreira diplomática, salvo na circunstância de exercerem uma atividade na dependência desta.

Por essa razão, é completamente abusivo utilizar o termo "diplomata" para qualificar quem o não é, fazendo recair sobre uma profissão os "salpicos" de eventual falta de ética de quantos, noutra qualidade, agem em nome do Estado português no exterior.

Só lamento** que a entidade representativa dos diplomatas portugueses (que, por alguma razão, se não chama "sindicato dos diplomatas e ofícios correlativos"...) não tenha saído a terreiro em todos os casos, pondo "os pontos nos is", denunciando a difamação e ensinando, por uma vez, aos plumitivos de serviço aquilo que a sua profissão, pelos vistos, não lhes soube ensinar."

*Em tempo: o vice-cônsul na Alemanha foi já condenado. O vice-cônsul no Brasil está fugido

**Em 1.2.02, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses veio a público clarificar este assunto. Fico satisfeito.

28 comentários:

jj.amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Já tinha reparado que o nome mais citado recentemente não me parecia ser o de um diplomata e pude confirmar que não consta, de facto, de anuários recentes. Também achei estranho que o próprio MNE não tivesse esclarecido os órgãos de comunicação social, estando em causa actuações que atingem a honorabilidade de uma classe de representantes do Estado, nomeadamente no estrangeiro. Felicito-o por ter tomado esta iniciativa.
José Honorato Ferreira

Anónimo disse...

Brilhante Seixas! Aplaudo!
Na "classe" (sobretudo os mais antigos, que ainda têm um especial "amor à camisola" que se vai perdendo com os tempos actuais...) muitos pensam o mesmo do que aqui Você veio aqui dizer.
Mais uma oportunidade para nos interrogarmos para que serve a "velha" ASDI?
Recordo-me do homem, sorriso beato, quando por ali andava para as "bandas" do Protocolo (de Estado), antes de ter sido enviado para terras do Brasil.
E vejam, em que estado deixou a imagem do Estado!
Nem Deus (com a compaixão que lhe é reconhecida) lhe valeu nesta "hora difícil" (compreensivelmente, dadas as circunstâncias).
Rilvas

Anónimo disse...

Não gostei de ler.

Peço-lhe desculpa, mas o tom é demasiado corporativista.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, temos que concordar que um "cargo" denominado de vice-consul e quando essas pessoas se apresentam com diplomatas para toda a gente, é normal que o povo os designe por diplomatas também. O problema está na criação desses "cargos" e na qualidade de quem os assume. Terão que ser as pessoas do MNE (onde o Senhor Embaixador terá que ser das vozes mais respeitadas) a terminar com isto que se está a passar. Diplomata é quem se formou para tal e não é para quem não teve qualquer formação e não tem qualquer responsabilidade para exercer.É a mesma coisas que termos no mercado um dentista sem ter sido formado e sem nada saber da profissão...Um perigo.

Anónimo disse...

É lamentável que este tipo de gentalha envergonhe quem devia honrar. Se um já foi dentro o outro também devia lá estar. E deviam de lá estar acompanhados por mais uns tantos.
Pena é que se fale só do peixe pequeno. Aqui à tempo ouvi falar de um caso bem sério em Dakar, que envolvia um embaixador Montenegro e um diplomata da embaixada e não mais se ouviu nada. Será porque era um embaixador e um outro diplomata?
O sr sabe o que lhes aconteceu?

EGR disse...

Senhor Embaixador: a nossa imprensa tem,efectivamente, uma irrestível atracção pelo esturro que refere. Mas,atrevo-me a propósito do caso concreto, a enunciar uma outra hipotese,qual seja a de que alguns dos escreventes,por ignorancia,pensarem que as pessoas em causa são,de facto, diplomatas.
Claro que,mesmo que assim seja, as coisas não se tornam desculpaveis.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro JJMarante: para evitar especulações, eliminei o seu comentário. Lamento.

Francisco Seixas da Costa disse...

Quem prevarica, seja diplomata ou não, deve ser punido, com justiça. O que eu não admito - e não estou a ser "corporativista" por isto - é que os diplomatas paguem na sua imagem os erros de quem não é da profissão.

jj.amarante disse...

Caro Francisco Seixas da Costa, pensando melhor e dadas as circunstâncias acho que fez muito bem, este não é o sítio ideal para o meu comentário (embora viesse a propósito).

Anónimo disse...

"os pontos nos is"...

É evidente que o Senhor é um Homem duma educação exemplar.Homem de grande cultura.
A sua longa caminhada na Diplomacia, prova que é um talentoso diplomata que domina a "ciência" da diplomacia.Grande profissional com competências, personalidade,capital de credibilidade et autoridade (entre outras).
Do meu ponto de vista, penso que o Embaixador FSC é o Diplomata indicado para criar em Portugal o que não existe: Inventar as novas regras e procedimentos apropriados que melhorem a resposta a futuros casos.
Motivação?

Respeitosamente
C. Falcao

Armando Pires disse...

A confusão de número e de género é um manancial enorme para muito do "jornalismo" que por cá se faz.
A fonte é inesgotável e só assim muitos dos "jornais" que circulam por aí se aguentam.
A mentira vende e sujidade também.
Felizmente ainda há gente de bom caráter.

Anónimo disse...

Descobri a solução, ao passar hoje por uma "Parafarmácia". Chamemos-lhes "Paradiplomatas"...

Anónimo disse...

Não há muito tempo, uma conhecida revista noticiava algo sobre um diplomata, que tinha exercido funções de embaixador algures e que tinha sido objecto de um processo disciplinar por causa de "usos indevidos" de dinheiro do Estado. E tinha sofrido uma qualquer pena. Vejo agora que esse diplomata, vai regressar ás lides de embaixador neste movimento diplomático assinado pelo actual MNE.
E o caso do Senegal, que vai a julgamento, é outro a lamentar.

Portas e Travessas.sa disse...

Caro, Senhor Embaixador,

Estamos na época do "tirinho ao boneco" - como se trata-se numa barraca do Parque Mayer.

Com as minhas Saudações Benfiquistas

Portugalredecouvertes disse...

Sr. Embaixador,
o fenómeno será semelhante ao que se passa com os "doutores"

há gente com o segundo ano que deseja ser tratado por doutor,
então não é uma fraude em relação aqueles que estudam e trabalham com o seu maior empenho para conseguirem ter o doutoramento, ou seja mais uns 5 ou 6 anos de estudos universitários, o que não é coisa pouca!!

Portugalredecouvertes disse...

Sr. Embaixador,
o fenómeno será semelhante ao que se passa com os "doutores"

há gente com o segundo ano que deseja ser tratado por doutor,
então não é uma fraude em relação aqueles que estudam e trabalham com o seu maior empenho para conseguirem ter o doutoramento, ou seja mais uns 5 ou 6 anos de estudos universitários, o que não é coisa pouca!!

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,

A falta de carácter é uma moléstia que atinge todas as classes profissionais. No caso, manifestou-se num indivíduo que foi nomeado Vice-Cônsul quando, pelo que li, o seu passado e presente o desaconselhavam fortemente. Será caso para se perguntar porque não se preveniu?
Acabo de ler nos jornais que foi demitido pelo Ministério e, se ficar por aqui a sua penalização, acho que é muito leve face ao acto ignóbil que cometeu e que a todos atinge.
Dito isto, não posso deixar de lamentar o tom dos comentários gerado pela repetição do seu post, uma espécie de auto de fé contra os vice-cônsules, demonizando quem não é diplomata e endeusando quem o é.
Por isso não me permiti ficar em silêncio.
Sou Vice-Cônsul de Portugal, funções que desempenho com muita honra e orgulho, trabalho no Ministério há mais de 30 anos, onde fui chefe de divisão, director de serviços e representante português em diversas instâncias internacionais, e desafio qualquer um, porteiro, telefonista, motorista, administrativo, técnico, ou diplomata (sim, porque o Ministério tem todas estas carreiras e não só), a demonstrar que é mais digno ou que desempenha a sua função com mais dedicação, honestidade e empenho do que eu.
Nunca me apresentei como diplomata, nem sequer como cônsul. Nunca gostei de confusões nem de usurpações.
Tenho orgulho na diplomacia portuguesa que, no estrangeiro ou não, dignifica Portugal e os portugueses. Como me orgulho, também, dos médicos, escritores, cientistas, pedreiros, etc., que da mesma forma nos prestigiam. Tive o privilégio de trabalhar com grandes Diplomatas, entre os quais incluo o Sr. Embaixador. Porém, tal não me permite concluir que em qualquer uma dessas classes não possa haver aquilo a que o povo chama de ovelhas negras. Tal como na classe – se assim lhe podemos chamar – dos Vice-Cônsules. (Não acho boa ideia, como sugerido num post anterior, calmar-lhes de paradiplomatas. É que se começamos a criar categorias, temos que criar, entre outras, a dos paracompetentes.)
Por isso, lamento que estejamos aqui a tomar a árvore pela floresta, embora eu saiba que no seu post ressalta esta diferença.
Sei, também, por razões que – confesso - nunca entendi, que o Senhor Embaixador é contra os Vice-consulados, tendo sido o pai do apelido “Vício-Consulados”, sabendo nós que estes Serviços não terão exclusividade na matéria.
Na minha opinião, é sempre muito perigoso confundir as coisas e as pessoas. Vice-Cônsul não pode, nem deve, confundir-se com Diplomata. Porém, desde que cada um exerça as suas funções com profissionalismo e dignidade, ambos deverão ser merecedores do nosso respeito.
Os trafulhas, esses são uma classe à parte, que não deverão ser confundidos, nem com uns nem, com outros.
Acho eu…

Joaquim Rosário

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Joaquim do Rosário:

"A qualidade de "cônsul honorário" ou de "vice-cônsul", (que,) por todo o mundo, é exercida por pessoas geralmente muito estimáveis e de impecável honestidade"

É a partir desta frase, inserida no meu post, que deve ser lido o que escrevo a seguir.

As categorias profissionais têm uma designação e é a simples preservação dessa designação que eu defendo.

"Diplomata" é um servidor público que, detentor de um curso superior e tendo sido sujeito a uma rigorosa prova de entrada no MNE, faz parte dessa carreira profissional. Só essas pessoas podem ser qualificadas com esse epíteto. Há bons e maus diplomatas, claro, sendo que os bons devem ser notados e os maus denunciados - se necessário na imprensa. Tão simples como isto.

O lugar de "vice-cônsul" existe, de há muito, no organigrama consular. Ao longo de bem mais de três décadas de funções no seio do MNE, conheco excelentes e dedicados funcionários que exerceram e exercem essas funções e cujo trabalho muito dignificou o Estado português.

Porque tenho opinião e a digo, fui um severo crítico da "recriação" (porque é uma figura institucional existente no regulamento consular) dos "vice-consulados". À época em que a decisão do "ressuscitar" dessas entidades foi tomada, fui de opinião de que se estava a correr o risco de, em determinados casos, essas estruturas poderem vir a transformar-se em "vício-consulados". Não disse isto pelos "corredores": escrevi-o numa comunicação oficial para Lisboa, porque quem me conhece sabe que assumo sempre as minhas opiniões e que assino por baixo.

Por que razão afirmei isto? Pelo caráter arbitrário e descricionário que está subjacente ao modo de nomeação do titulares de "vice-consulados". A aplicação disso tanto pode dar origem à designação de pessoas com a qualidade e o brilhante perfil profissional do Dr. Joaquim do Rosário como, sabe-se lá por que razões, dar origem à colocação de pessoas como as que agora estão a contas com a justiça.

Anónimo disse...

Critério arbitrário e descricionário existe igualmente para os Conselheiros Sociais, Conselheiros Economicos, Coordenadoras de Ensino nas embaixadas, Conselheiros de Imprensa, Culturais, e por aí fora. Não quer dizer que seja a regra, mas que tal prática existe em vários casos é um facto. Por razões de amizade, políticas, etc (tráfico de influências muita das vezes), et.

Anónimo disse...

O sr Embaixador tem um discurso algo ressabiado com a imprensa portuguesa!!!
O Socrates também andou tal maneira ressabiado que mandou comprar um canal de televisão e 2 jornais !

Caro embaixador , ñenhuma profissão é o garante de qualquer crédito ético ou moral, per si !

Não quero trazer para aqui o caso do seu ex-companheiro de profissão ( está jubilado com uma choruda reforma) que esteve recentemente preso e aguarda os recurso interpostos e está ligado a crimes que para mim metem nojo no entanto atingiu o patamar mais alto da carreira e com grandes distinções ! Uma andorinha não faz a primavera mas esqueça as perseguições pois isso é vitimização sem sentido !

Anónimo disse...

1- Felizmente os diplomatas de carreira não são peixeiras do Bolhão senão o anónimo das 19:11 de ontem teria já muitos "coloridos" e merecidos comentários.
2- Não se vê nada de ressabiado num post que se limita a explicar (bem) aos menos esclarecidos o que é e o que não é um diplomata.
3- A pessoa mencionada pelo referido anónimo tem de ser presumida inocente dado que ainda não é caso julgado.
4- Quanto aos media portugueses, sugeria que se fizesse uma ETAR só para eles.
xg

Anónimo disse...

A velha Senhora diz que sente a sua honra de médica ferida e solidariza-se:

uma vez mais de acordo caro embaixador
como é que um qualquer tordo se arma em diplomata
e a imprensa barata cobre o impostor
e com vil despudor por diplomata o trata?

arme um enfermeiro em médico ou doutor
que logo o mundo inteiro lhe condena a lata
doutor ou diplomata o falso causa horror
que o falso é um estupor que asneira e até mata.

Anónimo disse...

As peixeiras do Bolhão ao pé do embaixador que insino-ei são umas Deusas!

Todos querem ser importantes até a dizer disparates !

O COSMOPOLITA disse...

Senhor Embaixador o problema está de facto nos jornalistas e muitos comentadores mal preparados ou informados. Infelizmente é o dia-a-dia em muitos jornais e programas de radio e TV. Fico triste que muitos desses até licenciados (Dr.s ?)acabem por abordar questões das quais nada percebem. Mas é "chic" e ...

Anónimo disse...

Ao anónimo das 20:49 de 1 de Fevereiro:

insino-ei? o que é isto?
As senhoras peixeiras do Bolhão ao pé de si são catedráticas da língua portuguesa com graça e inteligência nos impropérios que dizem.
xg

Anónimo disse...

xg ,

Foi só essa "insino-ei" que não percebeu ?
Se foi, você é um génio!

Anónimo disse...

Concordo com o Anónimo das 17:29.

Isabel BP

25 de novembro