O tema da liberdade de expressão e da utilização das caixas de comentários, ligadas às edições informáticas dos jornais, é hoje abordado no "Diário de Notícias" por Ferreira Fernandes, de um modo em que me revejo.
Valeria a pena fazer um estudo sócio-psicológico do que se escreve nesses espaços da nossa imprensa, sob nomes falsos, em moldes muitas vezes insultuosos, dando curso a rumores e a insídias que esses escribas nunca teriam a coragem de colocar, se houvesse lugar a uma clara identificação do autor. Com grande irresponsabilidade, esses sítios informáticos abrem as suas colunas a energúmenos que, sob um cobarde anonimato, dizem o que lhes vem à cabeça, como quem escreve numa parede de um WC público, embora neste caso haja a atenuante do nível que o lugar inspira.
Às vezes, salta por aí uma frase desesperada: "não foi para isto que se fez o 25 de abril!". É verdade. A liberdade da Revolução dos cravos não foi criada para abrir caminho à impunidade. A liberdade de expressão é um bem suficientemente sagrado para não ser colocado em causa por quem dela se aproveita para a expressão vulgar dos seus ódios e fantasmas pessoais. É que, pouco a pouco, o surgimento de uma reação legítima contra esses abusos pode vir a criar um ambiente propício ao apelo a certos tipo de censura. A solução? Muito simples: acabar com os anonimatos e pseudónimos e só aceitar comentários sob o nome registado e público de quem os escreve. Podem crer que a "coragem" se esvairia.
Às vezes, salta por aí uma frase desesperada: "não foi para isto que se fez o 25 de abril!". É verdade. A liberdade da Revolução dos cravos não foi criada para abrir caminho à impunidade. A liberdade de expressão é um bem suficientemente sagrado para não ser colocado em causa por quem dela se aproveita para a expressão vulgar dos seus ódios e fantasmas pessoais. É que, pouco a pouco, o surgimento de uma reação legítima contra esses abusos pode vir a criar um ambiente propício ao apelo a certos tipo de censura. A solução? Muito simples: acabar com os anonimatos e pseudónimos e só aceitar comentários sob o nome registado e público de quem os escreve. Podem crer que a "coragem" se esvairia.
34 comentários:
Há mais de um ano, num jornal de referência, ousei, assinando-me, fazer um comentário sobre algo relacionado com a justiça. A coberto do anonimato, obviamente, recebi alguns insultos. Foi o meu contributo para as caixas de comentários. Já não os leio sequer.
Por outro lado, aumentariam os processos em tribunal...
A velha Senhora aduz argumento livre, 'dignigual' e fraterno q. b. a favor do anonimato:
se o 'meu amor' - já lho disse? -
contra anónimos porfia,
perde a minha rimalhice
e o mundo inteiro a perdia
...troca a sua dignidade
plo bem da humanidade?
No Estado de Minnas daqui de Bh os comentarios são a maioria para falar de estradas ruins, buracos, barulho muito pouco de politica. Amanha vou dar uma olhada por curiosidade e te contar.
com amizade e carinho de MOnica
se não gosta, não publica ou pretende uniformizar a opinião?
para responsabilidades fica com o registo do ip.
Caro Anónimo (claro!) das 19.09: em não falei de blogues, falei de jornais.
Pois não sei se o anonimato não permite melhor uma opinião mais genuína... claro quando ela não for insultuosa, porque um insulto encoberto é muito cobarde.
Caro Anónimo das 19.53: "mais genuína"? Mas, que diabo!, porque raio é que não assumimos as coisas com o nosso nome? Ainda há PIDE? As coisas que me apeteceria dizer, mas que não posso com o meu nome, devo-as dizer sob pseudónimo? Não seria uma forma de cobardia?
Começo por dizer que não percebo porquê que não existe a anónima como opção. É importante…
Relativamente ao anonimato é um erro fazer publicações de indivíduos que não estão identificados junto do proprietário do veículo publicitário. Entendo até que a responsabilidade tem sempre de ser assacada a alguém que, em 1ª análise é o referido proprietário. Mas não sou jurista e as questões de leis são bem mais complicadas que a teoria da relatividade.
Estou convencido que o meu endereço electrónico, que aparece nas opções, é acessível, no caso de alguém me querer repreender ou elogiar, mas por intermédio do proprietário e, em geral, sou anónimo porque não conheço ninguém, ninguém me conhece e, não acreditando em bruxas, que elas andam por aí, andam…
Caro Senhor Embaixador
Concordaria inteiramente consigo se vivêssemos numa sociedade livre e verdadeiramente democrática, mas o certo é que não vivemos.
A sua liberdade e a minha não são iguais à duma menina da caixa do Pingo Doce,à dum trabalhador contratado a prazo ou a recibo verde, à dum agente da função pública que depende da classificação dada pelo superior hierárquico que é o capanga que o
partido do governo lá pôs como director de serviços, à do trabalhador que se criticar o patrão perde o emprego, etc, etc.
Esses, Senhor Embaixador, só podem expressar muitas das suas opiniões recorrendo ao anonimato, sob pena de não terem com que comprar a farinha Nestlé para os filhotes.
A opressão e a supressão das liberdades não se faz só por via da ditadura formal e das suas polícias políticas.
Quanto aos que, a coberto do anoninato, insultam a esmo, a torto e a direito, até concordo que sejam censurados. Embora sendo a censura pouco democrática, bem menos é a suposta democracia em que vivemos (nós, portugueses, e os cidadãos de todos os outro países que vivem sob o jugo daquilo que o Senhor, meu caro Embaixador, conhece tão bem ou bem melhor do que eu).
Saudações cordiais e a estima deste que se assina quase anonimamente, mas que já uma vez, para esclarecer um equívoco, se identificou junto de si e se identificará sempre que necessário, só o não fazendo perante todos os seus leitores porque não gosta de protagonismos.
V
Embaixador não posso estar mais de acordo consigo.
Há dias passei por vários jornais on-line e fiquei arrepiada com a grosseria da maior parte dos comentários que por lá vi.
Nem é só o insulto. É a mentira descarada feita verdade. Lastimável.
os comentarios dão para tudo mas não servem para nada, quanto aos efeitos, resultados,quero dizer. Bons ou maus, correctos ou mal educados, anónimos ou não, nada mudará. podemos protestar com os melhores argumentos ou com as piores agressões verbais e grosseirismos ofensivos contra as portagens nas scuts cortes nos meses 13 e 14, etc, que nada adianta. Assim como abaixo-assinados, manifestações, petições.
Mas pode dar gosto intelectual expormos a nossa opinião e argumentos num comentario sincero, é uma possibilidade que nos é dada, etc.
Claro que o comentario anonimo, ofensivo e agressivo não é aceitavel e deve ser denunciado. Ou então os jornais têm possibilidades de não os aceitar, não os publicar, as redacções devem exercer essa selecção que não é censura, é filtrar o lixo.
Começo por dizer que não percebo porquê que não existe a anónima como opção. É importante…
Relativamente ao anonimato é um erro fazer publicações de indivíduos que não estão identificados junto do proprietário do veículo publicitário. Entendo até que a responsabilidade tem sempre de ser assacada a alguém que, em 1ª análise é o referido proprietário. Mas não sou jurista e as questões de leis são bem mais complicadas que a teoria da relatividade.
Estou convencido que o meu endereço electrónico, que aparece nas opções, é acessível, no caso de alguém me querer repreender ou elogiar, mas por intermédio do proprietário e em geral sou anónimo porque não conheço ninguém, ninguém me conhece e, não acreditando em bruxas, que elas andam por aí, andam…
A velha Senhora diz concordar com o anónimo das 20:59, com quem aliás até eu concordo, e avança com 'quadrilha' que me lembra António Aleixo:
a mim me interessa bem
mais o que é dito ou escrito
do que me interessa quem
escreveu ou disse o dito.
Pena seja que a gestão desses espaços seja vendida ou gerida pelo facebook...
Cada vez mais isso está a acontecer.
Imagine, embaixador, que num qualquer comentário anónimo, perdido no meio de muitos, aparecia alguém que escrevia "O Seixas da Costa é um malandro". Ligava muito a isso? Perdia do seu tempo mais do que o suficiente para enviar um emailzito ao jornal pedindo a despublicação do texto?
Agora, imagine, que esse comentário estava assinado pelo "João da Silva", com fotografia e tudo. Em que situação ficava? Passava a admirar a "coragem" do "comentarista", irritava-se e telefonava ao seu advogado ou dava uma de valentão e aparecia-lhe à frente para um ajuste de contas?
No fim: tinha ganho alguma coisa com o "dar a cara"?
Não se pode confundir o insulto puro, a grosseria, a defesa de posições inadmissíveis (curiosamente, nunca vejo ninguém preocupar-se com o constante achincalhamento da nossa Nação), com a liberdade de expressão. Esta última, muitas vezes, só é possível através do "descanso" do anonimato. As pessoas não estão para se meterem em chatices e isto não quer dizer que aquilo que escrevem esteja menos certo!
Caro V.
Já aqui há tempos escrevi um comentário exactamente a criticar a maneira de pensar e de agir que ilustra no seu comentário.
É assim que nada anda para a frente.
As pessoas com funções abaixo do pico da pirâmide tem o dever de não baixar a cabeça com medo de um chefe prepotente.
Uma máquina só funciona com toda a engrenagem limpa e oleada.
Damm!
O Sr Embaixador vive numa nuvém !!
Ainda hoje saiu num jornal diário que as chefias das policias andam a meter processos nos policias que fazem comentários no Facebook que desprestigiam a instituição, como dizerem que não têm dinheiro para arranjar as viaturas o que é verdade!!
A liberdade e a Democracia são mitos que só servem para quem está no poder ! O povo , anónimo , hoje passa fome e por isso insulta, como insulta qualquer politico que se atreva a ir hoje fazer campanha politica na rua.
Não é a questão dos comentários dos jornais serem anónimos ( porque não o são: para isso existe o IP) que retira coragem às pessoas! O que retira coragem às pessoas são as imagens do policia a descascar num jovem indefeso numa manisfestação pacifica em Lisboa, que o Sr Embaixador também viu e se calhar nem se importou , nem viu nenhum direito de liberdade infrigido!
E pelo andar da carruagem irá ver muitos policias na rua e muitos politicos insultados num futuro muito próximo.
Eu gostava de ver o que o Sr Embaixador fazia se tivesse perdido o seu emprego e a sua mulher também e ao mesmo tempo passava o Dias Loureiro no seu Jaguar de matricula de Gibraltar! O que é que lhe ocorria comentar ?
OGman
Deixem-me só acrescentar que os jornais precisam do lixo dos comentários para obterem receitas de publicidade.
Cada comentário deixado implica várias páginas vistas (a de escrita, as de consulta e as das respostas - e respetivas consultas, por aí adiante), portanto, o "lixo" convém aos jornais. O Público passou a filtrar (às vezes, demais, até...) os comentários mas também desenvolveu uma zona de conteúdos pagos. Ora, o DN Online (inteiramente gratuito) demonstra uma estratégia editorial em tudo própria de quem desespera por ter páginas vistas. A sucessão de pseudonotícias, títulos absolutamente enganadores, o recurso ao mundano, etc., demonstram que o DN não tem preocupação com a qualidade mas tão só com as páginas vistas. Portanto, o "lixo" dos comentários é o melhor amigo do jornal.
Caro Sr. Embaixador, digno-me a deixar um comentário por ser uma profissional da Internet há mais de 12 anos e ser grande defensora deste meio como forma de expressão livre, capaz de chegar aos quatro cantos do mundo. Apesar de concordar com a sua observação, ocorrem-me várias perguntas quando olho para os comentários aqui publicados, como por exemplo a falta de uma assinatura não será sintomático de uma sociedade democrática longe de estar amadurecida sendo a Internet o seu espelho? E quando verificamos que a liberdade de expressão de alguns "opinion makers" tem sido castrada qual é a mensagem que passa para as pessoas, para a sociedade? E porque será que um meio de comunicação online permite a publicação de tais comentários anónimos, quando têm ao seu alcance mecanismos para filtrar e seleccionar esses mesmos comentários, podendo não só proteger aqueles que são alvo de tais impróprios comentários, como mostrar, explicar e ensinar os cibernautas a utilizar este meio com civismo e dignidade democrática, uma vez que são os meios privilegiados para o fazer? Não será esta atitude também ela sintomática de um jornalismo muito impróprio e desprovido de qualidade e ética? Deixaria aqui muitas mais perguntas mas para não incorrer em excessos e por achar que a partir daqui muito pode ser dito, termino não deixando de assinando. Monica Musoni
Não assino porque não quero, porque não tenho vontade, porque não quero ver o meu nome neste blog. Qual o problema disso? O problema é quando se parte para o insulto, mentira e calúnia. Ai, sim, existe um problema. Ser anónimo não significa ser malandro. Muitos dos insultos que surgem na internet são dirigidos a gente que, muito possivelmente, os merece. Uma vez que vivemos numa sociedade hipócrita nem sempre é possível, para muita gente, dizer de peito aberto o que pensa. Infelizmente é assim. Valha-nos a internet para sabermos muitas coisas que antes andavam encobertas. Quem não deve não teme. O Senhor Embaixador tem este blog há já algum tempo com comentários abertos para anónimos. Já alguma vez foi insultado, vitima de calúnia? Estou certo que não pois não faria nenhum sentido. Enquanto outros que recebem alguns insultos e vão lendo algumas verdades...deixemos que assim continue. Eles merecem....
Caro Anónimo das 14.52: e se lesse melhor? E se tivesse notado que eu expressamente referi que falava dos sites de imprensa e não dos blogue?
Senhor Embaixador, ele li e entendi. Contudo, penso que, o que se aplica ao sites de imprensa, se aplica também aos blogs. Penso da mesma forma para ambos os casos.
Faço minhas as palavras da Dra. Helena Sacadura Cabral.
Também não posso estar mais de acordo.
A cobardia é a força dos fracos.
Faço minhas as palavras da Dra. Helena Sacadura Cabral.
Também não posso estar mais de acordo.
A cobardia é a força dos fracos.
E, para que não haja dúvidas de que o ARPires é um valente, ficam aqui dois comentários. É um por cada punho!
Não seja mau, Anónimo das 22:40. O ARPires só queria ser gentil para a Drª Helena.
V
As condenações morais do anonimato são válidas, bem como os apelos à coragem e hombridade de quem se quer pronunciar. Mas, do ponto de vista psicológico, não deixa de ser interessante como o tema consegue perturbar tanta gente. Parece que todos têm medo de ser Reis, na história do Rei vai Nu. E a propósito, conhece-se o nome do miúdo que gritou que o Rei ia nu? Como se diz aqui no Brasil: Freud explica.
As condenações morais do anonimato são válidas, bem como os apelos à coragem e hombridade de quem se quer pronunciar. Mas, do ponto de vista psicológico, não deixa de ser interessante como o tema consegue perturbar tanta gente. Parece que todos têm medo de ser Reis, na história do Rei vai Nú. E a propósito, conhece-se o nome do miúdo que gritou que o Rei ia nú? Como se diz aqui no Brasil: Freud explica.
Este blog anda com eco :)
Viva,
Não seria necessário um "estudo sócio-psicológico" para perceber que as maioria desses comentários têm alguma razão de ser.
Anónimos ou não, a grande maioria dos comentários reflectem a indignação perante a actualidade portuguesa. Enquanto houverem só comentários é porque ainda sobrevivemos.. o pior será quando estes acabarem e partirem para a rua em conjunto com outras formas menos civilizadas de expressão.
O facto do comentário ter nome ou estar assinado vale o mesmo que não ter nome ou ter um nome falso. O registo não é controlado, o comentário pode ser moderado e o futuro é o anonimato numa destas duas formas ao contrário do que a maioria das pessoas pensa.
Cumprimentos,
Caro Domingo
Se os portugueses fossem brasileiros também falavam como Você e nem precisavam de citar o Freud.
Cumprimentos
V
Nú (com acento) é para se ler como nos Açores?
E anônimo?
Terá alguma coisa a vêr com anona?
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