Cada vez me "passo" mais com os toques e as conversas de telemóvel em público. Eu sei que isso acontece a muitos, mas eu queixo-me aqui das minhas penas.
Há poucos dias, numa cerimónia religiosa com elevada tensão emocional, um telemóvel tocou. Pode acontecer a qualquer um, por distração. Porém o "paralelepípedo batizado" (era assim que o meu pai qualificava alguns patetas) em lugar de desligar de imediato, atendeu em voz baixa, para espanto de todos. Grunhiu uma coisas e - pensámos nós! - desligou o aparelho. Qual quê! Um minuto depois, o telefone voltou a tocar e, não fora uma espécie de onda de ameaça física de toda a vizinhança, preparava-se para responder de novo.
No dia seguinte, na sala de espera do aeroporto de Lisboa, uma mulher incomodou todos os circunstantes, alimentando com voz de ave canora uma longa conversa, como se os outros fossem obrigados a aturar as peripécias da sua vida e da família. Alguns estrangeiros, à volta, riam do ridículo da situação. Há leis para tudo, menos para acabar com estes espetáculos.
Recordo-me que, um dia, em Brasília, o pianista Adriano Jordão - que era também conselheiro cultural da nossa embaixada - dava um concerto. A sala estava cheia. O pianista iniciou a peça. Tocou um telefone. O Adriano Jordão parou de tocar e, voltando-se para a senhora que, com desespero, tentava calar a máquina, disse:
- Faça-me um favor. Se for para mim, diga que não estou...
25 comentários:
oh!Que sentido de oportunidade...
Isabel Seixas
Sr. Embaixador,
Não sei se a norma se mantém mas, em 2005, era proibido atender o telemóvel nos supermercados de Copenhaga. Lá vinham os seguranças a falar em dinamarquês e a gesticular explicando que tínhamos de desligar ou ir atender para a rua.
É um desespero - e não apenas em locais públicos.
Convidados ocasionais e mesmo amigos de longa data, são cada vez mais os que não se coíbem de atender telemóveis, em nossas casas, para tratar longamente dos seus problemas familiares ou profissionais, deixando a impressão de que fizeram um favor em aceitar o convite, porque o que os preocupa está noutros lugares.
Quase se sente necessidade de lhes pedir desculpa por os ter incomodado.
E ocorre-me o comentário ouvido há tempos de um empregado de café ao tropeçar, de bandeja na mão, numa senhora de idade que procurava, trôpega, uma mesa desocupada:
"Pois! Vêm parra aqui estas velhas a incomodar uma pessoa no local de trabalho!".
Ao longo dos anos, tenho vindo a desenvolver aversão crescente aos telemóveis e aos seus toques inconvenientes.
Passei uma das maiores vergonhas da minha vida na Missa do galo de 1995, quando o meu próprio telefone tocou. Em minha defesa tenho apenas a alegar que na época ainda havia poucos em Portugal, e que não me passou sequer pela cabeça que alguém me telefonasse a essa hora a desejar feliz Natal. Fiquei vacinada, nunca mais me esqueci da precaução elementar de o desligar ou de, pelo menos lhe tirar o som, e já lá vão muitos anos.
Há coisa de um ano, na Missa de Corpo Presente de uma pessoa que tinha ocupado um alto cargo público, mesmo atrás de mim, o telefone de uma senhora começou a tocar furiosamente. E ela nunca mais o encontrava na carteira. E percebia-se a indignação de toda a gente, já nem falo na enorme falta de respeito pela família enlutada e pelo facto de se tratar de uma celebração religiosa.
Hoje em dia, confesso que até nos restaurantes me irrita ouvir o toque de telemóveis, tal como me irrita vê-los em cima da mesa. Por razões de trabalho, até há pouco tempo tinha de estar permanentemente atenta ao telefone. No restaurante tirava-lhe o som e enfiava-o no bolso ou deixava-o no colo, para isso inventaram a vibração.
A cena mais cretina que lembro passou-se há uns 13 anos. Jantava com um amigo num restaurante bastante conhecido. Perto de nós, numa mesa com umas seis pessoas, uma delas tinha um telemóvel novo com variadíssimos toques diferentes (um dos novos Nokia, a primeira marca a explorar até ao infinito o número de toques disponíveis). e entretinha-se a mostrá-los, um a um, aos amigos. Aí ao sétimo toque diferente já estávamos com os nervos em franja, o meu amigo chamou um empregado e sugeriu-lhe que dissesse àquele senhor que gostaríamos de poder jantar em paz. O senhor ficou muito incomodado e ainda refilou.
Há muitos anos atrás um telemóvel começou a tocar insistentemente durante um concerto da Ute Lemper, no CCB. Tocou, tocou, até que ela parou o concerto e, falando na direção do som disse "Pode atender" (ou coisa parecida). O dono da maquineta lá conseguiu desligá-la e o espetáculo prosseguiu, após um comentário do tipo "Foi uma nota desafinada...", feito pela cantora, correspondido com uma risada geral.
Comentário "a latere":
Será possível acabar com o pleonasmo "há (segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses) anos ATRÁS"?
É tão pleonasmo quanto subir para cima...
A 'moda', parece-me, começou na douta televisão e propagou-se com grande sucesso até às elites. Lamentável!
Vai uma 'forcinha'para acabar com o erro?
nota: espero comentário 'condimentado' da velha rimalhadeira sarrazineira, claro!
xg
Caro/a xg
Lisongeada e divertida, a velha não esteve para rimalhar como devia e saltou logo, toda ts, sobre a ocasião:
há atrás
há à frente
suba acima
desça abaixo
entre.
ATENÇÃO: Por lapso, acabo de eliminar seis comentários que pretendia... publicar. Coisas de quem não tem tempo! Por favor, repitam!
Caro/a xg
Lisongeada e divertida com o desafio, a velha saltou logo, toda ts, sobre a ocasião, sem tempo para rimalhar a preceito como pensa ser seu timbre:
há atrás
há à frente
suba acima
desça abaixo
entre
saia pra fora
entre pra dentro
pleonastico-redundante-tautologicamente
entre.
O meu pai também não gostava nada de ouvir conversas alheias mas um dia chegou a casa divertido porque pela primeira vez, tinha ouvido uma história engraçada!
Conversa entre duas senhoras:
Bom dia!
Então e o rapaz, deu notícias?
-Nem me fales...recebi um postal a dizer:
MÃE, CHEGUEI BEM, ESTOU, FICO BEM.
Gostei muito da sua divertida historia.
Nos aeroportos internacionais basta seguir o rasto dos telemóveis para se saber qual é a zona de embarque para Portugal:
- "Já estou quase a embarcar!"
- "Como está o tempo por aí?"
Para não falar das inúmeras basófias...
Isabel BP
Eles, elas e os respectivos telemóveis são uma autêntica praga!
Também não tenho paciência para certos individuos que não se coibem de utilizar os telemóveis em público sem qualquer pudor, obrigando os circundantes a ouvir conversas absurdas.
Recordo-me que há alguns anos atrás num elevador repleto de gente num centro comercial do Porto, alguém atendendo o telemóvel
respondeu: " Sim, ainda estou em Guimarães..."
REPITO: HAVER anos ATRÁS é PLEONASMO, vulgo, asneira!
Ou já fez jurisprudência por usocapião e eu não dei conta? ;-)
xg
Repetir comentários é REDUNDÂNCIA, vulgo "seca".
Para pensar...
Se o problema dos telemóveis é tão "nosso" (como todos os problemas no mundo...), porque razão, nas sociedades "avançadas", tiveram de impor restrições à utilização de telemóveis?
Seria por causa dos emigrantes portugueses?
Caro Catinga...um pouco mais de abertura...sff !
Pare de "bater" nos emigrantes !
Oh Júlia, se não conseguiu perceber a minha ironia, eu vou mesmo ter de "bater" numa emigrante!
Para a próxima escrevo em Francês, pronto.
Para além do (consciente) uso tecnico-juridicamente desapropriado de usucapião... dei erro (inconsciente) ao escrever usOcapião! Antes que alguém me puxe as orelhas, aqui fica a 'ortografia correcta' (mais um pleonasmo para a colecção e para continuar na 'seca').
xg
Já agora, queria aqui deixar bem expresso que não tenho nada contra os que vivem fora da santa terrinha (não vá mais alguém partilhar da confusão da Júlia relativamente à minha ironia).
E quando isto digo refiro-me a todos o que estão fora, a saber:
1) os emigrantes
2) os expatriados
3) os técnicos qualificados
Os "emigrantes" são pouco educados, têm trabalhos pouco qualificados e falam em Francês com os filhos.
Os "expatriados" são educados e cultos, trabalham (ou não) e falam em Francês com os filhos.
Os "técnicos qualificados" só se preocupam com aquilo que fazem e falam em Inglês com toda a gente.
NOTA: excluo os diplomatas (porque trabalham muito tempo em território nacional) e os presos (porque a sua estadia é involuntária)
Catinga nao me "bata" que eu agora estou de vacanças. E não me responda em francês senão nunca mais brinco consigo ; )
Catinga 13 de julho de 2011 12:53
" Oh Júlia, se não conseguiu perceber a minha ironia, eu vou mesmo ter de "bater" numa emigrante!
Para a próxima escrevo em Francês, pronto."
Quelle bonne idée, Catinga! Faites nous donc profiter de l'ampleur de vos talents...
Sauf erreur de ma part, depuis 5 siècles les Portugais – toutes origines sociales confondues – vivent éparpillés sur tous les continents. Mais il semblerait que ce fait historique, facilement vérifiable, soit considéré avec le plus grand dédain - pour ne pas dire plus - par bon nombre de nos compatriotes.
mpereiradecastro
P.S.J'aime beaucoup votre « profil », je parle bien sûr de celui qui accompagne vos messages. Quelle personnalité complexe se cache derrière ce sourire, sans parler de votre nom pour le moins enigmatique?...
Ao Sr. anónimo do pleonasmo me penitencio pela minha falha mas "errare humanum est".
Por outro lado, e para que conste não é usocapião mas sim usucapião...
Cara Teresa:
Agradecimentos! Erro é erro e não me abespinho, até gosto, quando mo corrigem... "errare humanum est, perseverare autem diabolicum"!
Dei conta dessa minha (des)ortografia e 'apressei-me' a corrigir a 13.07 às 14:12, como poderá ver.
mpereiradecastro, o que interessa é que se tenha divertido.
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