Este é um verão cruel. Há dias, partiu a Maria José. Hoje, saem de cena o Henrique e a Maria Lúcia.
Nunca me tinha acontecido: olhar um jornal e descobrir, por ele, a morte de um amigo, o local e hora do seu funeral. Fiquei parado, desejando, por um instante, que se tratasse de um confusão de nomes, hipótese logo afastada por outra identificação inequívoca. Morreu o Henrique Bandeira Vieira.
À noite, no telejornal, sou surpreendido com a noticia da morte de Maria Lúcia Lepecki.
No início de Maio, em Paris, o Henrique apareceu-nos, para jantar. Foi um reencontro alegre, uma bela noite de conversa. Meses antes, eu falhara um encontro em sua casa, em Portugal, onde queria juntar-nos com outros amigos. Falámos longamente das pessoas do nosso tempo comum em Angola, onde nos conhecêramos no início da década de 80, dos anos em que depois coincidimos em Londres. Recordámos noites calmas de conversa com a Pascale - em Bruxelas, no Algarve e em Cascais. Era um homem positivo, com uma família unida, com projetos, com vontade, sempre construindo futuros, que progredira, com muito sucesso, no mundo empresarial internacional. Revelou-nos o seu entusiasmo com um empreendimento turístico alentejano, de grande vulto, em que se envolvera recentemente. Soube, há pouco, que, nessa mesma noite parisiense, ele tinha já preocupações com o seu estado de saúde. Mas nada nos deixou transparecer, salvo uma magreza que nos pareceu um tanto excessiva.
Encontrei a Maria Lúcia, pela última vez, há mais de um ano. Cruzámo-nos num centro comercial. Prometemo-nos um encontro que adiávamos há muito. Conheci-a no final dos anos 60, quando ela vivia com o Carlos Eurico da Costa, meu primo e meu grande amigo. Vinha do Brasil, professora universitária, interessada na literatura portuguesa, sobre a qual escreveu. Os serões lá em casa tinham imensa graça, com Orlando da Costa, José Cardoso Pires, Jacinto Baptista, Maria Velho da Costa e outras tantas figuras de um mundo literário lisboeta da época. Viajámos pelo país, passámos férias juntos, discutimos a vida, por horas perdidas de conversa. Essa mesma vida deu muitas voltas, o casal acabou um dia e eu passei a ver a Maria Lúcia só a espaços. Comigo no Brasil, trocámos e-mails, mandei-lhe um livro que tinha escrito sobre a minha experiência no seu país, felicitei-a pelo imenso sucesso académico do seu filho André, um dos orgulhos da sua existência.
Um adeus para a Maria Lúcia e para o Henrique.
Encontrei a Maria Lúcia, pela última vez, há mais de um ano. Cruzámo-nos num centro comercial. Prometemo-nos um encontro que adiávamos há muito. Conheci-a no final dos anos 60, quando ela vivia com o Carlos Eurico da Costa, meu primo e meu grande amigo. Vinha do Brasil, professora universitária, interessada na literatura portuguesa, sobre a qual escreveu. Os serões lá em casa tinham imensa graça, com Orlando da Costa, José Cardoso Pires, Jacinto Baptista, Maria Velho da Costa e outras tantas figuras de um mundo literário lisboeta da época. Viajámos pelo país, passámos férias juntos, discutimos a vida, por horas perdidas de conversa. Essa mesma vida deu muitas voltas, o casal acabou um dia e eu passei a ver a Maria Lúcia só a espaços. Comigo no Brasil, trocámos e-mails, mandei-lhe um livro que tinha escrito sobre a minha experiência no seu país, felicitei-a pelo imenso sucesso académico do seu filho André, um dos orgulhos da sua existência.
Um adeus para a Maria Lúcia e para o Henrique.
9 comentários:
Senhor Embaixador:
Sem outras e escusadas palavras: partilhamos inteiramente do seu pesar pela perda de seres que lhe são tão queridos.
Nuno Matos
Não adie nada que lhe seja essencial e caro ao seu coração.
Não suspenda palavras ou gestos, outrora e agora hesitantes, resguardados da verdade imperativa e urgente.
Não creia na bondade do tempo - muito menos dos homens -, antes da sua, que sabe deveras e parta.
Aja.
Diga palavras de vida e não de despedida.
Abrace, segure, recorde em presença para não lhe falhar na ausência.
Não receie, o primeiro gesto é o esperado, o sinal.
Todos murmuramos a antecâmara do fim e, depois, viramos o rosto à verdade, iludimo-nos, cedemos oa nosso medo mais covarde.
Cara Estrela N.
Deixe-me que lhe diga que a aqui a velha senhora, rimalhadeira de ocupação, coitada, adorou este seu poema e gostaria de lhe sublinhar a urgência, para todos, antes do fim.
É por isso que defendo e pratico, de há muito, o "não deixes nada por dizer nem nada por fazer", o que já me tem custado alguns dissabores, mas me deixa a consciência limpa!
Maria Lúcia era uma Mulher de calibre excepcional e de uma doçura imensa.
Quando será que estas mortes aliviam?
Apenas um fait divers. Conheci há muitos anos um Carlos Eurico da Costa, com quem convivi bastante. Mas creio que a sua mulher se chamava Zulmira.
Era publicitário e crítico de cinema. Depois foi administrador da LEVER. Será o mesmo, Senhor Embaixador?
Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: o Carlos Eurico da Costa foi diretor-geral da Ciesa-NCK, uma empresa de publicidade pertencente ao grupo Sociedade Nacional de Sabões. Foi jornalista e crítico de cinema. A sua primeira mulher chamava-se (e chama-se) Magda Fonseca. Pode ler mais sobre ele aqui:http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Eurico_da_Costa
Não devia meter-me na conversa, mas queria só lembrar que Carlos Eurico da Costa foi também um notável poeta do Grupo Surrealista Português.
Senhor Embaixador
O alemão anda a visitar-me e a deixar-me apenas lembranças vagas.
Não era Lever. Era a Ciesa. Não era Zulmira, era Magda. Apesar de toda esta confusão, era ele mesmo, sim senhor. E fez parte de um núcleo ao qual devo alguma abertura de espírito...
E o caro Alcipe veio por a cereja no bolo. Meu Deus, tanta gente aqui falada, que eu já conheci!
Começo a assustar-me.
Enviar um comentário