Há dias, li que uma atriz portuguesa sofreu gravíssimas queimaduras e se mantém em estado crítico. Recordo-me de ter lido o nome da senhora nos jornais e, ao ver a sua fotografia, a sua cara não me era estranha. Mas nada mais.
Hoje, faleceu, vítima de acidente, um ex-vocalista dos D'zrt, um grupo cujo nome me diz alguma coisa, mas do qual não conheço qualquer música. A morte provocou uma forte emoção nos seus admiradores, como se constata da comunicação social.
A condição de "estrangeirado" provoca esta sensação de "dépaysement", um sentimento que não é necessariamente cómodo e que se liga a uma certa distância que fomos criando face ao país real. Tenho esta mesma reação quando, nos aviões ou nos consultórios médicos portugueses, me confronto com certa imprensa que trata o mundo da moda, da televisão ou dos "reality shows". Não conheço imensa gente que hoje é muito popular no país que represento.
Há um Portugal desconhecido que (não) espera pos nós.
29 comentários:
Caro Sr. Embaixador
Sónia Brazão é (ou era) uma mulher muito interessante que brilhou durante anos nas novas novelas portuguesas. Julgo que vivia apenas do seu trabalho.
Fala-se que andaria perigosamente deprimida porque acabava de ser dispensada pela TVI.
Angélico era um daqueles jovens que se tornou de há anos para cá um ídolos sobretudo das adolescentes que têm (decerto)posters suspensos nas paredes dos quartos. Quem os não teve? Cantor e actor, fazia sonhar com aquele olhar doce num visual corpolento...Filho único.Um namoro conturbado com outra actriz de sucesso.
Famílias inconsoláveis e a gente a pensar com lágrimas nos olhos: Como tudo é efémero...
Dois jovens. Duas promessas. Dois acidentes terríveis.
Acabo de ver as cenas de desespero
à porta do Hospital.
Demasiado triste. Que desperdício!
Nem eu conhecia nenhuma das duas estrelas.
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Infelizmente no nosso Portugal, alguma comunicação social, inventa e promove herois do nada para embutir o cérebro da juventude com ideias bacocas.
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A mercadoria que temos para vender com "marketing" efectuado por pessoas experientes na matéria em promover detergentes, cremes, cerveja e outras mistelas a que lhe dão o nome de refrigerantes.
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Espectáculo patético, que ontem assisti, pela RTP, à porta do Hospital de Santo António juventude a velar pela vida do Angélico e à espera de um milagre.
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Temos aquilo que valemos e mais nada a fazer e aquele tempo do antigamente foi para as urtigas e a gente fica-se a coçar a comichão e a lembrar-se na nossa juventude
e de quando em Portugal havia herois e heroínas como o Toni de Matos, o Fernando Farinha, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro e outros.
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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e crescem as vaidades do nada.
Saudações de Banguecoque
José Martins
É(...)
Isabel Seixas
Faco minhas as suas palavras senhor embaixador. 7 anos fora do pais e ha' uma serie de gente que nao conheco. Nao e' so em Portugal que idolatram 'famosos' que nao se sabe muito bem o que fizeram pela sociedade. Aqui em Inglaterra e' bem pior, veja-se os exemplos Cheryl Cole (cantora que nao sabe cantar) e Katie Price. Sinais dos tempos modernos...
Mas... a criação de "famosos" é fenómeno exclusivamente nacional? Por amor de deus... Qualquer manifestação de "decadência" que cá surja já vem requentada de outros países onde foi bem testada durante anos e anos.
Que mania de querer sempre achar-se em nós defeitos "típicos"...
Quanto às figuras propriamente ditas, trata-se de uma profissional do espetáculo de terceira linha e de um cantor do qual apenas conheci uma canção (e que nem sequer era um original) - é produto para o nicho das adolescentes borbulhentas.
A vida continua.
Penso que não é preciso estar fora do país...
Eu estou por cá e faço minhas as suas palavras também.
Caro José Martins
Concordará decerto comigo que a liberdade é um valor fundamental da humanidade...
Assim sendo, era o que faltava que os nossos jovens não pudessem escolher livremente os seus ídolos, promovidos ou não pelos média.
Afinal, sempre assim foi, aqui ou em qualquer parte do mundo. Ou não?
Quem conheceria Toni de Matos ou Fernando Farinha se não levássemos com eles todas as semana na velha RTP a preto e branco? E no entanto, havia quem preferisse José Afonso ou Adriano, sem nunca os ter visto no écran. Tudo dependia do gosto, da inteligência e da motivação. Há sempre outros caminhos.Bacocos ou não.
As cenas de histerismo de tristeza são genuínas e têm a dimensão das cenas de histerismo dos concertos. Nesta idade...tudo é "bué da bom ou bué da mau"
Nós os crescidos já devíamos ter aprendido a respeitar os seus gostos...
E já agora...se de vez em quando esquecermos os mercados, os sacrifícios, as agências de rating, a crise,os nossos gostos mais sofisticados e formos capazes de nos comover e de soluçar diante de uma morte prematura, inesperada e dramática...então ainda bem... ainda somos GENTE.
Calculo que seja isso mesmo. Ao invés, acontece-nos agora, por via destas novas tecnologia, conhecer o pensamento de os que regularmente lemos e, quando nos cruzamos com eles, sentimos uma proximidade e uma distância muito estranha. Os desconhecidos que, muitas vezes, se conhecem melhor!
Há dias subimos juntos as escadas rolantes do Amoreiras...
Leonor Pinto
Não é no País... é no Mundo. As crianças e os jovens precisam de modelos de conduta como de pão para a boca e procuram-nos ávidamente. O sistema capitalista, tal como qualquer outro sistema sabe disso. Formatam as mentes muito jovens e moldam-nas. Mostram a casca da noz, mas quando a abrimos está literalmente vazia, embora o seu aspecto seja perfeito. Existe sim um Portugal e um Mundo escondido, porque esse é o dos Valores e não convém aos interesses de alguns. Nada melhor para demonstrar esse fenómeno, que este pequeno trecho de um filme de Jonh Carpenter de 1988, completamente dentro da actualidade. Parece um pouco exagerado, mas infelizmente é a realidade pura e dura.
Essa sensação de "dépaysement" é mais geracional do que geográfica. Parece-me.
Senhor Embaixador
Para quem ensina jovens universitários, gente entre os 18 e os 21, estas cenas não constituem surpresa. Talvez porque estes jovens já não têm os pais como referência. Nem sequer os avós.
Mas ERA UMA VEZ faz uma anális bastante serena da situação.
Eu, se os conheço, é porque - para o bem ou para o mal -, trabalho em televisão.
Pior foi não conhecer o Prof. Miguel Tamen que ouvi, deleitada, Domingo passado. E isto, vivendo aqui uma boa parte do meu tempo!
excelente filme!
...faz-me lembrar uma frase escrita numa parede numa rua do Porto: "Hoje, foste um bom robot?"
"Há um Portugal desconhecido que (não) espera por nós."
...pode crer, senhor embaixador : (
Dear Ruby, p'ra si sao 7 em Inglaterra, para mim 19 em França (e ja nem conto os passados em Espanha na infância).
Mas aqueles que sao verdadeiramente importantes para "o MEU pais" acabo sempre por conhece-los, saber de onde vêm e o que fizeram : )
Ao mundo da moda, da televisao ou dos "reality shows"...apenas interessa gente bronzeada e de pestana alongada com rimmel...mas nao é so la, é ca também.
E tenho quase a certeza que os nomes de ca na mesma "branche" também nao lhe dizem nada...
Habitando o retângulo, recebi o impacto mais intensamente o impacto que as duas tragédias provocaram no estranho mundo dos consumidores do ultra-efémero, esse universo de ilusões, feito de vazio, de frustração e de cores berrantes mas pouco espessas.
É o reino da mediocridade transformada em padrão do gosto, da fantasia narcótica, das celebridades esferovite.
Tudo isso seria risível se não terminasse, tantas vezes, em drama; drama, nestes dois casos, só aparentemente não relacionado com a vertigem da "Fama", deusa cruel porque se retira depois de seduzir os mortais.
E, claro, lembramo-nos de outros "faits dives" da mesma natureza, os mergulhos no alcool e nas drogas, os percalços psiquiátricos, o suicídio e o crime.
É penoso, é triste e é sórdido.
Como não sou cliente de telenovelas,não conhecia a personagem mas, ainda não consegui perceber a diferença de tratamento aos acidentados.Gostaria
de entender este critério jornalistico.
C.C.
Excelente filme, Fada do Bosque, sem dúvida!
“Bué”??’ – “Qé isso?”
O que me impressiona é a quantidade de gente que compra e lê, avidamente, essas revistas! Espantoso! Sem distinção social. Por mim, tinha uma ideia vaga da figura feminina e nenhuma da masculina.
Na verdade, o tal sistema capitalista de que Fada fala, criticamente com razão, limita-se a tirar partido das mentes baças que hoje pululam neste país e nos outros, pois o fenómeno das ditas “socialites” e revistas que as cobrem, é generalizado.
É um pouco como o de se possuir o último modelo de viatura, de telemóvel, de computador, enfim, de uma multitude de “gadjets” electrónicos e outros bens dispensáveis e acessórios, que pouco ou nada acrescentam à nossa felicidade, so to say, ou ao nosso dia a dia. Mas a malta tem de estar orgulhosamente “up to date”!
E, deste modo, lá se vai satisfazendo a ganância do tal capital. É igualmente incrível a cada vez maior dependência que uma boa parte das pessoas, designadamente jovens, têm perante a publicidade, largamente enganosa, fraudulenta, mas que ninguém trava ou simplesmente disciplina.
Quanto aos Tónis de Matos e companhia, ao que consta, partiram uns corações à época, a mesma que assentava num regime que em simultâneo perseguia ou censurava o excelente Zeca e outros e que ainda hoje, extraordinariamente, deixa saudades em muita gente! Há gente para tudo.
Até a imprensa está cada vez mais refém do tal capital e sensacionalismo. Basta lê-la com atenção, em certos casos; e basta olhar para o destaque que dão à desgraça, à tragédia, etc.
Ainda aqui há tempos, numa reportagem qualquer numa TV, um repórter perguntava a um familiar de um falecido: “Como se sente? Como vê a morte trágica desses seu familiar? E agora como será doravante?”, seguido de comentário: “a pobre mãe, como podem ver, mal pode falar, tal a dor que sente pela perda do filho”, etc!
Uma GT 3 e zaca, já estás feito!
P.Rufino
Também não conhecia nem um nem outro.
Muitas pessoas (que parece não terem mais nada que fazer?) estiveram desde o fim-de-semana passado à porta do Hospital de Sto António, entre eles muitos jovens e “jornalistas”.
Em todos os telejornais essas pessoas respondiam a perguntas da treta. Não houve nenhum jornalista que aproveitasse o acidente da “estrela” para, numa atitude pedagógica, mostrar os problemas que podem ocorrer da não utilização do cinto de segurança, como foi o caso. Uma boa oportunidade que foi perdida. Se fosse no Brasil, tenho a certeza que teria sido aproveitado para educar o povo. Só temos jornalistas da desgraça…
Estimado Senhor Embaixador,
Creia V. Exa. que, tendo de conviver diariamente com os seus conterrâneos, neste solo pátrio, já há muito teria perdido todo o alento para defender Portugal, o que excelentemente tem feito, com um ânimo só comparável ao do malogrado D.Duarte d'Almeida, nos campos de Toro.
Não se lamente, Senhor Embaixador. Deixe-nos a nós, por cá, lamentarmos a decadência do Reino e as comissões liquidatárias que dele têm tomado conta . Brincado com o poeta, diria que viver em Portugal "incomoda como andar à chuva".
Bem haja, Senhor Embaixador, pelos raios de sol com que ilumina os nossos dias.
PS - Consta que D. Duarte d'Almeida pereceu na maior das misérias, desprezado pelos grandes da sua Pátria. Não sei se foi verdade, mas desejo-lhe muito melhor sorte.
Exacto, os cintos de segurança e o acidente ter acontecido por o rebentamento de um pneu!
Um BMW topo de gama emprestado por um stand e sem seguro.
Se fosse um fiat uno, acreditava que se tivesse um acidente por um pneu rebentado...
a avaliar pelas veladas de fãs e os sentimentos que expressavam, o actor era sem duvida popular e apreciado.
O acidente poderia ser ocasião para uma boa campanha oficiosa na televisão sobre acidentes automóveis, de caracter pedagógico, algo em que praticamente não se investe em portugal
Meu caro Patrício Branco
Num programa em que participei disse isso mesmo. Ou seja, este caso só servia para mostrar:
- que as escolas de condução, para além de ensinarem a guiar, deveriam ser obrigadas a ministrar normas de conduta ao volante;
- que as regras de transito deveriam ser ensinadas às crianças nas escolas como componente de regras de civismo;
- que os exames para a carta, além da prova de condução e de código, deveriam conter questões sobre estes temas; e
- finalmente que urge uma sinalética decente no país.
Mas o rebentamento de um pneu é algo de incontornável e não há regras. Quando muito, experiência e sorte.
Caro Patrício Branco
Junto a minha à voz de Helena Sacadura Cabral. É tão fácil partir do princípio que os média fazem tudo errado. Curiosamente vi a notícia tratada nas manhãs da SIC com toda a dignidade.
Ontem aproveitaram para debater sobre a inesgotável prevenção rodoviária. Hoje, uma excelente psicóloga explicou a forma como se ajuda um jovem ou uma criança a entender e aceitar a mo
Gostei. Foi uma forma inteligente e útil de, sem fugir ao inevitável assunto do momento, abordar com delicadeza problemas tão delicados.
Claro que há exageros mas também devemos estar atentos e aplaudir quem sabe fazer a diferença.
Quanto aos famosos estou farta de gente pretensiosamente culta que está a par de tudo o que se passa por aí, mas nunca se esquece de referir que só vê estas revistas horrorosas "no cabeleireiro" Como se fosse uma inevitabilidade!!! Já agora porque não leva um bom romance ou um livro de poesia??? Vendem-se em todo o lado sabiam???
Desculpe Sr Embaixador. É que já ouvi hoje tanto disparate, que até parece que quem matou o pobre jovem foi uma troika de "Fama/Revistas Cor de Rosa/Fãs desesperados"
JÁ agora, só para lembrar: FOI UM MALDITO PNEU QUE SALTOU.Um abraço para todos os que o amavam muito.
Concordo na íntegra com os comentários de ERA UMA VEZ.
De facto, goste-se ou não, deve-se perceber que se trata de um jovem cantor e actor apreciado pelos adolescentes (principalmente do sexo feminino).
Quanto à histeria das fãs, não vejo diferença em relação às de outrora. E as dos Beatles eram santinhas?
Há a tendência para se considerar que tudo o que se faz actualmente é rasca. Pode haver certos exageros, mas os tempos mudam e a opinião dos mais velhos em relação aos mais novos é cíclica - também já dou comigo a pensar e dizer que no "meu tempo" não era nada assim (exactamente o que a minha avó dizia!!!).
Os portugueses, por snobismo intelectual, têm o hábito de dizerem que não conhecem este ou aquele...
Neste caso específico, peço imensa desculpa, mas quem reside permanentemente em Portugal e afirma que desconhece ou desconhecia a existência destas duas pessoas só pode viver numa redoma de vidro. Nem que seja só das capas da imprensa cor-de-rosa!
As minhas sentidas condolências à família do Angélico Vieira e força à família da Sónia Brazão.
Isabel BP
cara HSC, é isso mesmo.
o estado e regiões autonomas investirem em boa publicidade civico educativa informativa oficial não só sobre condução, tambem sobre boa alimentação, cigarro,higiene publica, durante as eleições (pode reduzir a abstenção), sobre o irs nos periodos de declaração, etc.
Passam p.ex. maravilhosos e convincentes spots civicos na tv espanhola com bons actores sobre aspectos que interessam ao cidadão.
Pode parecer que custa mas compensa investir na informação/educação/formação civica.
Eu não sei o que é pior: se a manipulação feita aos fans destas
personagens se a hipocrisia dos que perguntam "E dos anónimos, ninguém
fala?". É claro que não. É essa a condição de um "anónimo" - alguém
que se desconhece, que não interessa -, por oposição a um "famoso" (alguém que se conhece e diz algo às pessoas).
Será assim tão difícil sermos honestos intelectualmente?
Sr. Embaixador, este desconhecimento que refere cinge-se a uma realidade que poderá ser importante para manter conversa num consultório medico ou numa paragem de autocarro, e nada mais.
As Mortes abruptas assim em vida desnudam almas adormecem corpos...
Identifico-me na integra com Era Uma Vez nesta reflexão que nos proporcionou...
Isabel Seixas
Sr. Embaixador, para mostrar esse Portugal desconhecido que não espera por quem vive no estrangeiro encontrei aqui um artigo muito pertinente, escrito por um professor e a resposta dele, à reacção das pessoas a esse mesmo artigo. Vai ver como está realmete esse país que não espera... e está realmente visto, de um prisma muito interessante.
Afinal li mal... não é professor, o autor dos artigos. as minhas desculpas...
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