Há dias, aqui em Paris, uma amiga estrangeira revelou-me ter sido assaltada na linha mais conhecida dos elétricos lisboetas, o "28", onde lhe roubaram uma máquina fotográfica. Contou-me que conhecia várias outras pessoas, todos turistas estrangeiros, que aí tinham tido idênticos problemas, nessa linha recomendada a todos quantos nos visitam, por atravessar várias e tradicionais zonas da cidade. Na conversa, e para minha tristeza, alguns dos presentes, maioritariamente de nacionalidade francesa, ecoaram a atual má fama universal do velho "28".
Dias depois, num jornal português, li uma notícia segundo a qual, diariamente, há registo de imensos roubos a turistas, dentro do "28". O caso já começou a aparecer em alguma imprensa internacional, identificado como um dos "cancros" no turismo de Lisboa, com uma dimensão só superada pela dos famigerados taxistas das chegadas, no aeroporto. No mesmo texto, era revelado que a quantidade de "carteiristas" que atuam, simultaneamente, naquela linha de elétrico, em certos dias, chega a atingir a dezena!
Neste tempo em que o turismo constitui um dos importantes fatores de ingresso de divisas para a nossa economia, em que procuramos, por todo o lado, promover a ida de estrangeiros a Portugal e em que sempre gabamos o nosso proverbial bom acolhimento, não será possível fazer nada pelo clássico "28", ajudando a que os turistas possam, sem assaltos nem sobressaltos, descobrir a "Graça" e os "Prazeres" da nossa capital, sem terem de passar pela "Feira da Ladra"?
Neste tempo em que o turismo constitui um dos importantes fatores de ingresso de divisas para a nossa economia, em que procuramos, por todo o lado, promover a ida de estrangeiros a Portugal e em que sempre gabamos o nosso proverbial bom acolhimento, não será possível fazer nada pelo clássico "28", ajudando a que os turistas possam, sem assaltos nem sobressaltos, descobrir a "Graça" e os "Prazeres" da nossa capital, sem terem de passar pela "Feira da Ladra"?
28 comentários:
Não é uma coisa de hoje, infelizmente. Há muito tempo que a própria Carris tem avisos nos eléctricos em inglês a advertir os turistas...
Igualmente grave é o constante assédio na rua Augusta para venda de droga, normalmente a jovens turistas (já me aconteceu quando andava a mostrar a Baixa a uns italianos...).
Já cheguei a escrever sobre isso aqui:
http://lodonocais.blogspot.com/2009/08/onde-para-policia.html
Mas dá-me ideia que continua tudo na mesma...
Conheço bem o problema do 28 e da Baixa Pombalina no que se refere à criminalidade. Também um dia fui assaltado, por acaso no eléctrico 15, em dia de São Vapor (um dia de navio de cruzeiros), na Rocha do Conde de Óbidos.
O caso da Baixa no que toca à venda de droga, sei de fonte policial que algumas vezes o produto é falso.
A situação do 28 é um caso de globalização controlado por organizações criminosas internacionais a operar especialmente com gente do Leste. O contingente de ladrões é reforçado durante os fins de semana e utilizam mão de obra feminina. Os ladrões são rodados regularmente por diferentes cidades da Europa, utilizam menores, mulheres, etc...
Os maus conhecem os elementos da polícia que operam à civil e inclusivamente controlam razoavelmente bem os movimentos destes. Conheço polícias a trabalhar nesta área com enorme dedicação pessoal superando em muito a sua obrigação, etc... A sofisticação dos carteiristas é tal que os mesmos indivíduos chegam a ser detidos com passaportes e identificações diferentes. Estes polícias têm de ter um sentido de dedicação à segurança e causa pública muito grande, pois é frequente que após apanharem em flagrante ladrões, os mesmos sejam levados a um juiz e tratados com toda a benevolência da lei possível. São expulsos e voltam com outros nomes e nacionalidades. Um problema a necessitar de mais meios e de cooperação internacional...
Não é um caso só de Lisboa, afecta todos os grandes destinos turísticos, há o mesmo problema em Barcelona, etc...
Este é mais um problema que só não é resolvido porque as "autoridades" não querem e assim, de boca a boca, se vai espalhando uma imagem de uma cidade, que deveria ser um exemplo de segurança, para quem nos visita.
O problema tem vários anos. E a ele não é alheio o facto dos homens do poder (mesmo a nível autárquico) não andarem nos transportes públicos. E não terem a perceção dessas coisas.
No caso do 28 chegou-se ao desplante de dois jornalistas do "Expresso" terem acompanhado carteiristas em ação:
http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2009/05/os-carteiristas-do-expresso.html
É escandaloso, enquanto estudei e trabalhei em alfama, durante alguns 6 anos, apercebi-me que os carteiristas já eram identificaveis, e muita gente dizia ao vêr dois ou três a subir em direcção a uma paragem de eletrico: Lá vêm os choriços.
É raro quando os apanham, mas já vi serem apanhados.
Tem uma rede de tipos e vão passando o saque de uns para os outros para não serem apanhados com algo...
Com a vossa licença: que se danem os turistas!!!
O 28 toda a vida existiu e não foi criado para os turistas. Qualquer problema que afete os visitantes e que esteja relacionado com a utilização dos transportes e espaços públicos, antes de mais, afeta a população local.
(desde logo, quem precisa de usar o elétrico vê a qualidade do serviço diminuir pelas enchentes de "estranhos" à cidade).
As pessoas também têm de se precaver. Eu, antes de ir de férias informo-me sobre os "problemas" dos sítios. A única vez em que andei sozinho de táxi foi em Buenos Aires. Cometi um erro que foi ignorar um aviso da "comunidade internética" (não apanhar táxi no aeroporto) e, por isso, fui enganado numa data de dinheiro. Redimi-me lembrando-me de outro aviso da mesma comunidade sobre um esquema com troca de notas. Não fosse isso e tinha ficado "sem cheta" logo à chegada. Serviu de lição. Há que ligar ao que quem viajou antes tem para dizer.
A questão dos ciganos a vender droga (falsa, segundo se diz) é gravíssima. Ainda ontem fui insultado por um (de um grupo de três) por não ligar patavina à descarada oferta de "droga" que ele me fez. É vê-los ao fim do dia, em grupo, fazendo a "caixa" do dia. A Polícia não age, porque não quer! E se os agentes são conhecidos, mandem vir uns de fora, só para o efeito.
Posso dizer que desde os meus 15 anos que não frequento a Rua Augusta por me ter fartado do assédio dessa cambada de inúteis e criminosos. Não consigo dizer "obrigado mas não" a um patife, portanto, é passar na rua ao lado.
Permitam-me ainda mais uma nota: a questão dos carteiristas é universal. A da ladroagem em geral, também.
Lembro-me de, num hotel em Hong-Kong, haver no quarto um aviso explicando o modo de funcionamento dos "indianos de fato e gravata" que se dedicavam aos furtos.
Lembro-me das coisas horríveis que li sobre Marselha (revelando-se a cidade um ótimo local para passear).
E lembro-me de como a má fama do Brasil me impediu de conhecer melhor Foz do Iguaçu porque, sinceramente, eu só queria era pirar-me de volta para a Argentina (onde me sentia - apesar da história do taxista -, perfeitamente seguro).
Problemas há em TODO o lado.
Agora, não posso de achar um estúpido exagero o que se passa no Metro de Lisboa, com avisos sonoros e escritos constantes, em Português e Inglês, chamando a atenção para os carteiristas. Se não fosse a propensão nacional para o exagero, até eu, alfacinha dos quatro costados, tinha medo de entrar na "minhoca"...
....O 28 é um passeio mítico por Lisboa, e sim, á semelhança de Paris,Londres e Barcelona, tem muitos carteiristas....Mas desde o condutor do eléctrico, que informa no percurso e em várias linguas o cuidado a ter com os carteiristas, não há assaltos violentos. É mesmo, só preciso ter cuidado e andar com a mala ou a máquina fotográfica ao pescoço, e bem resguardada, é um percurso muito bonito, mas sem violência, e tem dutante os meses de verão ás 4F, sessões de fado, ao vivo, e com as mais promissoras vozes do fado em Portugal....Carminho, Cristina Branco,Camane e muitos outros....O País está mal, mas também não é preciso tanto exagero, só é preciso tere muito cuidado....e muito interessante é até alguns velhotes portugueses que fazem a viagem, que conhecem os carteiristas, e quando eles entram começam a avisar em voz alta. Não é questão para tanto medo. Já agora, mais preocupante e dificil de controlar são os roubos que se vão fazendo na alma e no quotidiano dos portugueses, nos rostos crispados das pessoas que passam na rua e há muito deixaram de saber sorrir, o bom dia que não dizemos com quem nos cruzamos no elevador, a desconfiança com que nos olhamos...a impunidade dos que assaltam,violam, dos que têem fome, falta de dinheiro para os medicamentos, dos que não podem usufruir das lindas esplanadas que proliferam pela cidade (a do Terreiro do Paço, é tão agradável, pena que só estrangeiros,e alguns a possam usufruir), a cidade está linda, e andar no 28 não é dramático...eu nunca fui roubada nem assaltada....
Caro Catinga: gostei imenso do seu "quem precisa de usar o elétrico vê a qualidade do serviço diminuir pelas enchentes de "estranhos" à cidade".
Vou passá-lo ao Turismo de Portugal, para emoldurarem.
Sempre acertar os erros no começo, dá ótimos resultados.
A Polícia tem que agir com energia e rapidez, pra extirpar esse mal antes que tome proporções que fique fora de controlo.
Um dos cartões mais lindos no mundo, o Rio de Janeiro, faz tempo que está fora de controle e sem solução.
Lisboa, Elétrico 28, ainda está em tempo.
Caro Embaixador, confesso que a ironia me escapa. O elétrico, antes de ser um passeio, é, efetivamente, um transporte público ao serviço da população local.
Talvez possa dirigir antes os seus esforços à Carris para que aumente a frequência dos elétricos turísticos, ou retome a utilização dos atrelados.
Um pormenorzinho: um bilhete a bordo do 28 passou a custar a módica quantia de EUR 2,5. A medida foi adotada para tentar diminuir os incómodos causados precisamente pelos passageiros ocasionais...
Caro Catinga: também acha que devemos evitar que os turistas almocem nos restaurantes portugueses, para podermos ter sempre mesas vagas para nós?
Caro Embaixador,
Que péssima comparação...
Desde que Catinga defendeu aqui, neste blogue, que os nomes das cidades angolanas deveriam continuar com os nomes dos colonialistas, Cating dixit, com nostaligia, mais ou menos, "à semelhança dos americanos" que deixaram "Los Angeles" e etc, que sou fã dele!!!! Agora, apenas falta o eugenismo e o delito da cara feia no 28 e no resto!!! Vamos embora...viajado, Catinga e amigos!!! Os mal-encarados não entram no metro nem podem andar na rua aqui em Liboa, no Porto e no Rio e o assunto fica resolvido! Que desgraça: e o crime dos corruptos engravatados branquinhos e bem-postos que levaram bancos e o país etc e tal à falência? Olhe que os mal-encarados trabalham mesmo, até os coitados dos carteiristas que se vêem à rasca para roubar uma carteira seml dinheiro e com cartões de crédito que não lhes servem para nada. Agustina bessa-Luís, que até era conservadora, disse um dia em Paris numa entrevista na R. Alfa de Paris (ouvi-a um dia destes, através de um amigo que me passou a gravação, e a entrevista era genial), e essa emissora, têm muita sorte entrevista pessoas com piada, que preferia a companhia dos cateiristas e esses bandidecos do 28 e outros que tais do que os engravatados dos palácios de Lisboa e do Porto e..., desculpe, senhor embaixador, mesmo das embaixadas! Duia ela que, pelo menos, tinham mais graça e a surpreendiam!
em tempo, como se diz, esta do JN, que confirma, caro Catinga, que as forças da ordem seguem as suas ideias:
"Detidos vendedores de bolas de Berlim de praias de Albufeira e Portimão"
O 28 está na moda, mas não são só os turistas, que são assaltados. Parafraseando um político rendido à gestão empresarial, quem entra no 28, leva. Ou antes, fica mais leve.
Não sei como estão actualmente as coisas no 15 e no 43, mas, quando eu morava em Belém (durante 20 anos), estas linhas também eram muito frequentadas por turistas e, consequentemente, por amigos do alheio, que não eram esquisitos: qualquer valor que estivesse à mão era surripiado sem dó nem piedade, independentemente da nacionalidade do dono.
Raramente andei no 28 (no meu tempo do Liceu Gil Vicente andava mais no 10 ou no 11), mas como tive um escritório na Vitor Cordon durante oito anos, foi um vizinho de convivência diária.
Carlos Fonseca
Ando há muitos anos no 28 e não percebo a complacência de alguns comentadores com os carteiristas e outra tropa que lá apareceu. Até parece que esses carteiristas são pagos pelo Turismo oficial para insuflar um pouco de "frisson" aos visitantes... Durante muitos anos não havia carteiristas no 28. Porque os há agora?
Antes de mais nadas, qual seria a adequada classificação de "estranhos", uma morada além de um raio convencionado a partir da Praça do Comércio? alguém de Setúbal ou de Vila Franca? ou ultrapassaria as fronteiras da União Européia?
Levei, uma vez, um psicanalista Junguiano a passear no 28 e fiz-lhe perceber que o elétrico passa os dias a ir da Graça aos Prazeres e volta. Quase entrou em orgasmo!
Caro Catinga
Parece-me, que se o Sr é “Porteño” já ajudou a diminuir a qualidade dos serviços no Brasil, ou se o nao é, já ajudou a diminuir a qualidade dos serviços na Argentina.
Francisco F. Teixeira
Bem... parece-me que há quem confunda este sereno blog com as piores páginas de comentários do DN...
É pena.
... "descobrir a "Graça" e os "Prazeres" da nossa capital, sem terem de passar pela "Feira da Ladra"
:)! esta deliciosa frase podia ser utilizada como leitmotiv no Hall das chegadas do aeroporto da Portela e em todos os transportes e guias turísticos de Lisboa.
Quando morei no Castelo de São Jorge, há uns anos atrás, viajei no 28 e nunca fui "aliviada" mas fui roubada na Feira da Ladra.
...outra opção é os turistas fazerem o percurso (do 28) a pé, sem carteiras e sem maquinas fotográficas ! : )))
Pois eu, durante mais de seis anos subi e desci a pé do Cais do Sodré à Graça e a S. Vicente e foram raras as vezes em que o 28 me ultrapassou.
Quando o fez... pendurei-me pelo resto do percurso. Isso sim era pitoresco para os turistas que lá iam dentro! hehe!
Neste post há comentários que são verdadeiros tratados de humor, mas confesso que me fartei de rir com o do "zamotanaiv" e o da Julia (pensei o mesmo!).
Isabel BP
Depois de ler tudo o que neste blogue se escreveu sobre o "28", atrevo-me a sugerir que dêem uma vista de olhos por um livro que saiu há poucos meses e que se chama A Beleza de Lisboa - Eléctrico 28 - Uma viagem na história, de Nysse Arruda (texto), Clara Azevedo (fotografia) e Henrique Cayatte (design). Se não quiserem lê-lo, fiquem-se pela capa, rara, e pelas fotografias. A edição é da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Será que anda nas bancas ou nas prateleiras das livrarias? Não o tenho visto.
faltam as camaras de vigilancia e gravação de imagens, tão uteis, mas que em portugal nos sitios publicos, continuam a ser consideradas um atentado contra a "intimidade" das pessoas, mesmo que necessitem de ser protegidas.
Parece que no Turismo de Portugal continuam em grande forma: www.conquistaelalentejo.com
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