Há um notório fascínio, em França, pela escrita de António Lobo Antunes. Com exceção de dois dos seus livros, toda a obra do escritor português está já traduzida em francês. Ontem, no centro cultural da Gulbenkian - que estás prestes a mudar de endereço, aqui em Paris - Lobo Antunes falou, para umas largas dezenas de atentos ouvintes, sobre o modo como um livro nasce.
Na sua exposição solta, de mais de uma hora, deu exemplos curiosos sobre a experiência de alguns autores e, com grande franqueza, não se eximiu a expor a sua (às vezes chocante) hierarquia de preferências literárias, dando também notas sobre o modo como avalia o estado atual da literatura em diversos países. Na resposta a uma pergunta, referiu que talvez nunca viesse a escrever "o" livro, considerando que a consumação de uma obra, para um escritor, seria o "encadernar da vida". E, citando John dos Passos, concluiu que escrever é, no fundo, "passear pela rua".
A contrastar com a cruel ironia que marcou muito da sua palestra, pude observar, horas depois, toda a frágil sensibilidade do escritor exposta na emoção com que evocou, num pequeno grupo, a saudade do seu íntimo amigo Ernesto Melo Antunes.
A contrastar com a cruel ironia que marcou muito da sua palestra, pude observar, horas depois, toda a frágil sensibilidade do escritor exposta na emoção com que evocou, num pequeno grupo, a saudade do seu íntimo amigo Ernesto Melo Antunes.
16 comentários:
Parece incrível, mas ainda não li nenhuma obra deste senhor...
Eu ia escrever nada de nada, mas corrigi a tempo, pois costumava ler os seus artigos na revista Visão.
Curiosamente a minha relação com o escritor e o homem é complicada.
Umas vezes gosto do primeiro e não gosto do segundo. Outras vezes é o contrário. Mas, raramente têm coincidido. Tenho pena!
Em algo, porém, sempre estivemos de acordo: na estima e admiração por Melo Antunes!
Conheço-o desde as carteiras do Liceu Camões. É um homem muito difícil. Eu lembro-me dele perfeitamente; ele diz que não se lembra de mim. Os génios têm coisas assim...
... e concordo com a Helena Sacadura Cabral.
Tentei ler Os Cus De Judas e não passei da terceira página. Não volto a comprar outro.
Gostos..
Ah! mas ando maluco com o manuscrito original do On The Road do Keruak!
Comprado no mesmo dia.
Gostos..
Li tudo do nosso grande escritor e de quase tudo gosto muito. Opinião de anónimo, eu sei, não conta, mas conta e muito, para mim, o gosto da 'minha' velha, que tem nome (a revelar quando e se lhe aprouver), Pois adora o Lobo Antunes e com seus escritos se regala, até por ser, diz ela, homem bonito e capaz de usar palavrões sem medo. (A velha é ts e lê poesia erótica e satírica, de Martim Soares a Adília Lopes, cada noite. Que fazer-lhe?)
Pois eu partilho o fascínio dos Franceses...E não só.
Ando e andarei a ler os Mal-Entendidos...
Não faço grande questão de o conhecer por outra via, é médico...
e eu sou Enfermeira.
Isabel seixas
Ai... sr. Embaixador Que gaffe confundi o "Nuno" com o "António"
Não que não sinta o mesmo face ao "António"...
Mas os Mal entendidos são do Pediatra Nuno não do Psiquiatra António... Por favor corrija-me se possível.
obrigada
Isabel Seixas
Cara Isabel Seixas: pode ter confundido, mas o efeito é o praticamente mesmo. António Lobo Antunes também é médico.
Por falar em Lobo Antunes e Melo Antunes, acabei há horas de reler o seu Manual dos Inquisidores onde o primeiro dedica a obra ao seu capitão de há vinte e cinco anos.
Ainda tenho aquele "eu" final atravessado na garganta...
Cara Isabel Seixas
Congratulamo-nos, a velha e eu, por conosco comungar da fruição dos Lobo Antunes. Só que a velha insiste que o António é um pão e que gostaria de o conhecer por qualquer via. Diz o mesmo do Nuno, mas tem consciência da diferença de idades e medo da Filipa. (A 'minha' velha é médica - reformada - e adora trabalhar com colegas).
Assisti, há tempos, a uma sessão de homenagem a Ernesto Melo Antunes, promovida por alguns amigos, na Gulbenkian.
A genuína emoção que de António Lobo Antunes falando da sua amizade, (quando descreveu, por exemplo, a inutilidade de troca de palavras entre os dois que prolongava os silêncios, por vezes por horas, quando se encontravam) foi contagiante.
Confesso que tive os olhos cheios de lágrimas e notei que estava longe de ser o único.
Oh!!!!!!!!!
Sr. embaixador e caro anónimo ...
Que deferência...
"Consciência"(Mais com António Damásio) da diferença de idades...Que sensatez "sensaborona" e cómoda a da nossa Amiga Velha, assim já acredito ...
É mesmo por aí que se envelhece
Medo... Hum Não me vai dar razão?!
Agora a proximidade real às vezes desvenda a fantasia do encanto...
Dar conCelhos só o de Chaves...
Mas diga -Lhe que chega-me auferir da obra escrita e gosto de quase toda dos dois manos.
(Também são mais que as mães)
não me permito autoridade moral para ajuizar sobre a obra como profissionais de saúde, simplesmente não sei.
Caro "zamotanaiv", comigo passou-se o mesmo, com a diferença de que não cheguei com o livro à caixa registadora... :)
Quanto mais ouço e leio sobre este escritor mais me apercebo de como são ridículas certas comparações e rivalidades que se querem criar entre "artistas da palavra"...
Ler António Lobo Antunes é encontrar nos seus livros profundos traços dos brilhantissimos e inesquecíveis « O que diz Molero » de Dinis Machado e « Autópsia de um mar de ruínas » de João de Melo. Também foi um imenso prazer ler « Yaka » de Pepetela. A influência desses escritores portugueses é mais que óbvia no estilo dele sobretudo em « As naus » e « A ordem natural das coisas ».
Em França uma faceta de ALA (para juntar as siglas propostas há pouco) sempre verificada nas suas entrevistas é de nunca mentionar escritores portugueses! Nesses momentos, ouvir a sua conversa deixa a impressão que não temos, nem mais nem menos, nada de relevante para assinalar... antes dele!? Mas quais outros? Um ALA não aparece para falar da obra dos outros portugueses! E depois, não há tempo para tudo: e logo vem uma carregada lista de autores de varios paises que isso sim, que se diga, só pode ser a prova do peso da sua cultura.
Domingo 3 de abril passado, no quadro do programa da MC93 de Bobigny, a peça "L'état civil"(em Francês numa adaptação de Georges Lavaudant)foi transmitida na emissão "Fictions/Théâtre et Cie" de France Culture. Todo mimado, ALA aproveito o convite para sublinhar duas vezes a seguinte notícia: « de todos, o meu escritor preferido é espanhol! Estou a falar de [ nome incompreensível... terá exagerado a pronúncia ou será ignorência minha? ] do século XVI. E, ainda mais mimado, o luso « caramelo » chamado para o oficio, de declamar ums versos do dito espanhol,claro, na versão original. Enfim, António Lobo Antunes no seu esplendor...
António Lobo Antunes terá iniciado uma variante daquela patética propaganda a relembrar um Saramago de triste memória? As regalias pagas pelos espanhóis abriram-lhe o apetite?
mpereiradecastro
Caro mpereiradecastro, talvez tenha sido Francisco Quevedo que o ALA (pronto...) referiu.
Quanto ao grande, ao enorme Saramago (assim dita o meu gosto por ele os adjetivos), há que lhe dar o desconto de alguém que, com avançada idade conheceu uma trintona engraçada... Pode acontecer a todos: o resto, é folclore e sopa caseira. :)
Garanto-lhe que Saramago sentia Portugal como muitos "patriotas" não sentem.
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