Filipe Ribeiro de Menezes, um investigador português residente na Irlanda, publicou uma biografia política de Salazar nos Estados Unidos, como aqui já se referiu, há meses. Essa obra está prestes a ser editada em português, pela Dom Quixote.
De uma entrevista que concedeu à última "Visão", acho interessante citar:
"Não encontrei nada que me fizesse acreditar que Salazar alguma vez pensou, a sério, e desejou, sinceramente, retirar-se da cena política e, sobretudo, da presidência do Conselho de Ministros."
"Salazar era mais dono do seu tempo do que qualquer seu sucessor o conseguiu ser. Não tinha de comparecer perante o parlamento, raramente reunia o Conselho de Ministros, não se tinha de preocupar em manter a liderança partidária, não tinha de ir a Bruxelas semana sim, semana não... Tinha a vida que queria e trabalhou como quis."
"Salazar desejava o poder, e convenceu-se que governaria melhor que qualquer outro português. Estou convencido de que ele acreditava ser (ou que a certa altura acreditou ser) uma figura providencial."
"Se o Estado Novo mal sobreviveu a Salazar não foi devido ao enorme vazio que este deixou e que Marcelo Caetano não conseguiu colmatar - foi porque, graças à guerra colonial, Salazar deixou o regime numa situação impossível de resolver."
"O homem que se orgulhava de ter 'nascido pobre' é insensível à pobreza extrema que se encontra no país, ou à emigração que a política económica dos seus governos provoca."
"O facto de Salazar nunca ter denunciado o Holocausto, mesmo depois de finda a guerra, conta contra ele."
"O 'orgulhosamente sós' foi muito mais perigoso para a soberania nacional, e o papel de Portugal no mundo, do que qualquer outra política desde então seguida."
7 comentários:
Aterrador
é o adormecimento da multidão
com alguém alerta, mas na prisão
Aterrador é o torpor que nos veta a postura de um "Homem"que neutraliza outros homens com a verdadeira loucura insidiosa a governar num jogo de autoindagação de poder, ainda por cima é capaz...
Trinta anos de fascismo
Dez de contas sindicais
Quarenta de ditadura
Arre..... que é demais
Pois nem duvido que o livro é capaz de ser uma boa reflexão sobre quarenta anos de solidão...
Por mim...
O Sr., o Escritor dava por mais bem empregue o tempo se fizesse uma biografia Sua.
Isabel Seixas
Alem de alguns erros crassos do pós 25 de abril, Portugal continua a ser um país marcado pelo ferro de salazar que causou cicatrizes e deformações que só muito lentamente poderão saír: a pesada burocracia, o desprezo pela instrução e preparação profissional, o parlamentarismo irresponsável (só o uninominal é um verdadeiro parlamento), a falta de autonomia das regiões, a centralização do poder, a fraca industrialização, a tendência das autoridades em atribuir ao cidadão individuo todos os males, etc, etc.
franco, que tambem nunca pensou deixar o poder (ambos sairam por velhice, doença e morte) teve ao menos o mérito de iniciar a industrialização e desenvolvimento económico do país (e tolerar o cultural) e até de fazer a descolonização das colónias que a Espanha tinha, livrar-se a tempo de elas.
Exm.º Sr. Patrício Branco,
Subscrevo inteiramente o que escreveu. No entanto, para efeitos de análise histórica, não nos esqueçamos que, de entre os raros aspectos positivos do Salazarismo, está a nossa não participação na Segunda Guerra.
António Mascarenhas
É curioso o muito que ultimamente tem sido escrito e publicado sobre Salazar. Interessante também é constatar o crescimento de um certo saudosismo daquele putrefacto regime. Sobretudo na blogosfera. Coincidência, ou não, associado a esse tolo saudosismo, esses mesmos autores apresentam-se-nos como monárquicos e católicos excessivos. A crise económica (e social) que vivemos, onde muita gente desespera, sem perspectivas de futuro, será, de algum modo a causa deste saudosismo manhoso. Que alguns dos seus aderentes sejam gente simples não me surpreende e até posso compreender. Já gente mais esclarecida, só revela que nunca se adaptaram à Democracia e que sempre a rejeitaram.
Quanto ao livro de que o Post fala, cá fico à espera, para então me decidir a ler.
P.Rufino
Numa democracia vale a pena perguntar porque é que tal acontece, se hoje somos mais letrados e mais desenvolvidos.
É urgente perceber a razão de um tal sentimento. E urgente fazer com que tal não aconteça!
Não sei se estou a dizer uma barbaridade, mas parece-me que existe um sentimento de impotência em relação ao futuro ,num país à beira do abismo,mas de que somos todos responsáveis.Temos muito a tendência de apregoar e exigir os nossos direitos e esquecemos os nossos deveres.Falta-nos Ética, faltam-nos Príncípos para regermos o nosso dia a dia.Não adianta culpar só os governantes.Temos todos que mudar mentalidades e mudar a nossa maneira de "fazer".
Não é fácil mudar mentalidades num país de facilitismo, de cunhas, de esperteza saloia, de deixa-andar...
Isabel
Penso que é um excelente livro, talvez o melhor (que eu saiba) que se escreveu até agora sobre Salazar.
Quanto à curiosidade pelo nosso passado recente, acho-a altamente saudável; e a recuperação política de Salazar é feita por sectores muito restritos da nossa sociedade, que nem têm expressão política significativa.
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