Foi há uns tempos. Íamos numa viagem longa e lembrei-me de um restaurante de que ouvira falar, numa localidade que ficava quase no caminho. Telefonei a reservar. Pela reação do meu interlocutor, percebi que, pelo menos nesse dia, devia ter poucos clientes.
O restaurante era numa moradia isolada, com as várias dependências da casa transformadas em salas de refeição, dotadas de certa privacidade. Hesitando entre duas áreas, que estavam desertas de clientes, sentámo-nos onde nos apeteceu, nos muitos lugares disponíveis.
Contudo, ninguém aparecia. Minutos passados, levantei-me e fui pelo corredor. Encontrei uma pessoa que me pareceu ser o dono. Desculpou-se com a falta de pessoal, após um feriado. Pelo barulho, deduzi, contudo, que havia outros clientes, "lá dentro", em área mais próxima da cozinha.
Decorrido algum tempo, tivemos finalmente os menus. Lá conseguimos pedir os pratos, com todo o resto (pão, couvert, lista de vinhos) a chegar com imensa dificuldade. Mas acabámos por ser servidos. Comeu-se "assim-assim". Depois, foi uma longa espera. Ninguém vinha atender a mesa.
Decorrido algum tempo, tivemos finalmente os menus. Lá conseguimos pedir os pratos, com todo o resto (pão, couvert, lista de vinhos) a chegar com imensa dificuldade. Mas acabámos por ser servidos. Comeu-se "assim-assim". Depois, foi uma longa espera. Ninguém vinha atender a mesa.
Para grandes males... Decidi telefonar, pelo telemóvel, para o próprio restaurante. Respondeu-me a voz do cavalheiro de sempre. "Sabe, somos os clientes da sala de entrada. Pode vir atender-nos?" O homem ficou siderado e logo se despachou pelo corredor, chegando com um sorriso embaraçado, menus na mão. Disse-lhe então que já não queríamos nem sobremesa nem café. Apenas a conta. Paguei e acrescentei: "Vim três vezes a este restaurante: a primeira, a única e a última". E assim foi.
6 comentários:
A melhor sobremesa foi para o "cavalheiro"! Quiça, com tão breve lição, o dona da casa tenha aprendido a receber com profissionalismo os clientes.
Senhor Embaixador,
Não uma sem três e a última foi de vez!
Saudações de Banguecoque
José Martins
Sabe o que são Caniças?...
São aquelas tábuas que amparam os estadulhos nos carros de bois quando levam/transportam por exemplo legumes ...
Quando vi o título do post achei que seria um boufet daqueles que nos induzem a servir-nos mais que as necessidades nutritivas e levam a um desperdício...
Que quase nalguns casos levam a integrar a patente das caniças para os pratos poderem comportar a gula imediata de todos os alimentos ao mesmo tempo no prato...
Mas confesso que adorei o restaurante o Sr.(o funcionário claro) só pode ser Poeta... Então deixa os clientes divagar gratuitamente no espaço, sem tempo determinado,nem só se vai comer comida aos restaurantes...
De qualquer forma gostei imenso das três vezes...quase conseguiu surpreender-me.
Isabel Seixas
Se me permitir vou adotar o comentário. Antes era "não há duas sem três", mas, felizmente para mim, este nem sempre é verdadeiro. Todavia a adaptação para "o primeiro, o único e o último" até me soa a poesia...
Deu-me uma excelente inversa ideia. Muito obrigada!
...pois fiquei com dó do estalajadeiro...; debateu-se logo com um naipe exigentíssimo, habituado à créme de la créme e assim...
Acho que merecia uma segunda chance.
Desejemos ao outros o que almejamos para nós mesmos.
Se voltasse a falhar, então, zás! -
acabava-se a conversa; tout court.
a primeira, a única e a última". E assim foi. Que Mau... Mas é um direito...
O sr. é quem sabe...
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