terça-feira, agosto 21, 2018

A casa e as férias

A casa é hoje uma escola de música. Antes, foi a residência da minha avó paterna e dos meus tios, em Viana do Castelo. Nela passei férias “grandes” até ao fim da minha adolescência. A estátua, ao alto, representa o Mercúrio. Por todo aquele espaço, em frente à doca (onde aprendi a nadar), calcorreei muitos agostos. Regresso lá sempre com imenso prazer, como ainda há dias fiz.

O video de Centeno


Acho ridícula, embora talvez inevitável, a polémica em torno do video de Mário Centeno. 

O presidente do Eurogrupo é o porta-voz dos ministros das Finanças da zona euro, fala em nome de todos e, naturalmente, repercute, naquilo que diz, o sentimento maioritário aí prevalecente. E o que Centeno disso foi exatamente aquilo que é a perspetiva dominante nos governos da Europa do euro, coisa de que ninguém tem a menor dúvida - a haver, teriam já surgido colegas de Centeno a reclamarem do que ele disse. E, ao que parece, ninguém se pronunciou.

Estranho seria que Centeno, falando em nome de um Eurogrupo que o elegeu como presidente, viesse a repercutir uma orientação desviante desse sentimento comum. Repito: não foi o ministro das Finanças do governo português que ali se pronunciou, foi o presidente do Eurogrupo.

Mas não haverá alguma contradição entre ser-se ministro das Finanças de um governo que contestou a austeridade e ser-se, simultaneamente, presidente de um Eurogrupo que a tem por doutrina? Semanticamente, e não só, claro que sim. Foi aliás a mesma contradição que esteve subjacente à própria candidatura de Centeno ao cargo.

Mas se Centeno iria ser obrigado a cair nessa inevitável contradição, por que razão o governo português o candidatou? Porque era importante ter alguém no topo do processo decisório do Eurogrupo que pudesse ser a cara de uma “outra” forma de levar à prática, com êxito por todos reconhecido, o cumprimento dos compromissos que o Estado português, através da sua classe política, tinha assumido na Europa - decorrentes dos “leftovers” do memorando com a “troika” (assinado pelo PS, com acordo do PSD e do CDS) e, depois, do Tratado Orçamental (aprovado na AR pelo PSD, PS e CDS). A menos que alguém duvide que o governo de António Costa conseguiu cumprir as regras de Bruxelas “de outro modo”, de uma forma bem diversa daquela que o executivo anterior vinha a fazer! E quem, no desenho e implementação dessa nova política, foi substancialmente diferente de Vitor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, ao ponto de conseguir ajudar António Costa a assegurar o apoio parlamentar de partidos que olham a Europa de viés? O nome, recordo, é Mário Centeno.

E vale ainda a pena notar que, com Centeno, mas também com Moscovici, o diálogo do Eurogrupo e da Comissão Europeia com a Grécia assumiu uma forma bem diferente, quanto mais não fosse no próprio modo de dialogar, daquele que estava a decorrer com Dijsselbloem e com Dombrovskis. Se tiverem alguma dúvida, perguntem ao governo grego!

Ainda uma última nota para o video de Centeno, para sublinhar que ele começa por referir as “lições aprendidas” por todos no processo de resgate da Grécia. Por todos, não apenas pela Grécia. Ora não se aprendem “lições” quando tudo foi bem feito: as lições retiram-se, em especial, das correções assumidas, em face dos erros de percurso cometidos. E Centeno lembrou-o. Schäuble teria gostado? Aposto que não.

Por tudo isso, “kalimera”, Grécia! E parabéns, Mário Centeno.

segunda-feira, agosto 20, 2018

Rubins


Por esse tempo, não tínhamos automóvel. Nos agostos das “férias grandes”, saídos de Vila Real, de comboio, com incómodos transbordos na Régua e no Porto, chegávamos finalmente a Viana, após imensas horas de viagem e esperas. À saída da estação, onde a família nos aguardava, cortávamos logo à direita e, de seguida, à esquerda, “para apanhar a sombra dos Rubins”, no dizer do meu pai, tático experiente dessas comodidades comezinhas. 

A Rua dos Rubins (na imagem) é paralela à principal artéria de Viana do Castelo, a Avenida dos Combatentes. Nos dias ensolados de caloraça, tem uma sombra magnífica. Os Rubins acabam junto ao cais mas, por essa altura, já se chamam, humildemente, Travessa do Salgueiro.

Era pelos Rubins que seguíamos, até cruzar a Rua Manuel Espregueira, que o meu pai sempre designava pelo nome antigo de S. Sebastião. Nas mãos dos homens, que se revezavam, iam as malas, nessa altura sem rodas (o inventor das rodas nas malas merecia ter tido um Prémio Nobel!). Na esquina, numa rotina sem exceção, o meu pai entrava, por um instante, numa casa comercial, para dar um primeiro abraço vianense ao seu amigo Magalhães Monteiro. Depois, um pouco adiante, tomávamos a direção de doca, pela Rua de Santa Clara, até chegar à casa da minha avó. Instalado finalmente no quarto, invariavelmente, eu olhava, lá no alto, a basílica e o hotel de Santa Luzia.

Foi assim, por muitos anos. Saudades desses tempos? Só das pessoas e de mim por esses anos. Mas confesso que me satisfaz bastante, agora, estar a escrever isto, com a paisagem tão simples dos Rubins à minha frente.

domingo, agosto 19, 2018

Um diplomata do bem

Era um homem que projetava serenidade. Kofi Annan, que agora desaparece, tinha uma postura e um leve e constante sorriso que logo criavam um excelente ambiente para as conversas que tinha com os seus interlocutores. Quando nos falava, olhando-nos sempre nos olhos, transmitia confiança e inspirava seriedade. Recordo bem a primeira conversa que com ele tive, comigo acabado de chegar a Nova Iorque, em 2001. Falou-me logo de Timor e, com simpatia, dos seus interlocutores portugueses nesse processo: Jorge Sampaio, António Guterres e Jaime Gama.

A diplomacia portuguesa e a coerência da nossa política externa mereciam grande respeito a Kofi Annan, que tinha mantido uma forte relação de amizade com o meu antecessor, António Monteiro, a qual tinha sido muito importante para todo o delicado processo timorense, em especial ao tempo em que Portugal integrou o Conselho de Segurança. Devo-lhe também, pessoalmente, algumas atitudes de forte simpatia, que nunca esquecerei.

Quando assumi funções na ONU, em 2001, a principal questão que se nos colocava era garantir, por parte dos cinco membros permanentes daquele Conselho, o financiamento com vista a manter em Timor-Leste as forças militares que acompanhavam o processo de transição. Annan era um “aliado” nosso nesse esforço.

A “arte” de qualquer secretário-geral da ONU é conseguir levar à prática a agenda na base da qual foi escolhido, e a que depois dá substância e coerência no cargo, conseguindo para ela o apoio do Conselho de Segurança. Se este último apoio falhar, em especial por parte dos cinco membros permanentes, o trabalho do SG fica totalmente comprometido. Kofi Annan cedo percebeu que o êxito da independência de Timor-Leste dependia da eficácia que só o completo acompanhamento internacional do processo poderia assegurar. Sérgio Vieira de Mello era o seu homem no terreno e, com Portugal e alguns outros parceiros “like-minded”, ele soube criar as condições para, com realismo e sentido da medida, assegurar esse apoio. 

Annan viveu tempos muito diferentes à frente da ONU. Com Richard Hallbrook como representante na ONU da administração Clinton, Annan foi capaz de transmitir à organização o dinamismo e a esperança que se consubstanciaram na Cimeira do Milénio. A chegada de George W. Bush à Casa Branca representou uma completa reversão na atitude americana, que iria ter o seu auge na invasão do Iraque, sem mandato internacional - um desafio à legitimidade que a própria ONU representava.

Kofi Annan foi um arauto do multilateralismo e um promotor da paz global. Não por acaso, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel, simbolizando a confiança que o mundo depositava naquele que foi o primeiro secretário-geral de origem africana da organização.

Com a desaparição de Kofi Annan, Portugal perde um grande amigo na cena internacional. Uma grande figura de bem, um excelente diplomata, um homem de boa vontade a quem a paz e a segurança internacional muito ficam a dever.

sábado, agosto 18, 2018

Manuel Freitas


Manuel Freitas não nasceu em Viana do Castelo. Economista de profissão, ligar-se-ia à cidade através de um tio que foi proprietário da mais emblemática ourivesaria da cidade, a Ourivesaria Freitas, do qual seria herdeiro. 

Por Viana casou e a cidade passaria ser o cenário de toda a sua vida, nomeadamente do seu notório empenhamento cívico. O país, contudo, viria a conhecê-lo mais por momentos trágicos que atravessou - a sua ourivesaria e o Museu do Ouro que criou viriam a ser objeto de assaltos que ficaram na memória coletiva.

Ao ouro de Viana e à história da arte criada em seu torno Manuel Freitas dedicou grande parte do seu talento. Sobre isto escreveu e foi, ele próprio, artífice reconhecido de peças belíssimas que hoje fazem parte do património artístico da capital do Alto Minho. O Museu do Traje da cidade inclui um riquíssimo espaço dedicado ao ouro, por ele oferecido.

Daqui a escassas semanas, passará um ano desde que Manuel Freitas nos deixou. Neste dia das festas da Senhora da Agonia, em que muitas lavradeiras se passeiam com o ouro que ele com tanto carinho estudou, e que se esforçou por divulgar pelo país e pelo mundo, deixo aqui um abraço saudoso em sua memória. E também à Filomena, a sua mulher-coragem, heroína de demasiadas tristezas.

sexta-feira, agosto 17, 2018

Ir a Viana


Pela voz de Amália, Pedro Homem de Melo crismou as palavras - “havemos de ir a Viana” - daquele que é hoje o hino informal de Viana do Castelo. Quem por lá for, por estes dias, ouvi-lo-á por toda a parte, de tal modo a canção se colou à pele da cidade e dos vianenses.

O próprio Homem de Melo, veraneante na vizinha Cabanas, era um visitante regular de Viana. Há muitos anos, no centro da Praça da República, uma figura então muito conhecida da cidade, Zé Rancheiro, ao vê-lo aproximar-se, disse alto, com voz sonante, uma quadra do poeta: “O rio passa em Cabanas / Por entre fragas ... tão lindo / que embora desça da serra / parece que vai subindo”. O declamador concluiu com um admirativo “Belo poema!”, ao que Homem de Melo terá retorquido, com um largo sorriso: “Dito por Vossa Excelência!”, tudo terminando num cumprimento cavalheiresco. 

A Praça da República de Viana - finalmente liberta do “mostrengo” da estátua do Caramuru, que agora, da Praia Norte, para onde foi desterrada, poderá vislumbrar melhor o Brasil da sua lenda - não vai por estes dias ser palco de “jogos florais” com a elegância passada. É que o espaço medieval enche-se agora de bombos, de música no coreto, de gigantones e cabeçudos, imagens de marca da Romaria de Nossa Senhora da Agonia - as Festas, para o vianense.

As Festas andam por toda a cidade: do desfile das Mordomas à Festa do Traje, das procissões ao Cortejo histórico, das cantigas ao desafio às filarmónicas, dos arraiais aos tapetes coloridos de sal da Ribeira, da feira no Campo da Agonia ao variado fogo de artifício, com destaque para a Serenata sobre o Lima. E até se sentem lá no alto, em Santa Luzia, com a basílica agora de faces lavadas.

Sejamos justos! Não se encontra, pela província portuguesa, uma romaria igual. O mundo, aliás, sabe isso. Tirando a coreografia do fado, a única imagem do folclore português que sobrevive no estrangeiro, nos dias de hoje, não é outra senão a das lavradeiras vianenses - dos trajes vermelhos aos azuis, dos verdes de Geraz ao negro das noivas, com o orgulho (“chieira”, diz-se em Viana) do seu ouro por cima. A mulher, aliás, é a dona das Festas. O traje local dos homens é por ali algo incaraterístico, com a notável exceção das camisas de linho bordado (a minha é imbatível, desculpem lá!). 

Se quer um bom conselho, caro leitor, vá às Festas a Viana, durante este fim de semana único. E não se deixe tomar pelo “fica para o ano”, fingindo levar a sério o dito “havemos de ir a Viana”. Vá agora! Eu já lá estou! 

quinta-feira, agosto 16, 2018

Bolas !


Até este ano, sem exceção, o João anunciava na praia, através de uns berros roucos, as “bolinhas” e a “bolacha americana”. Nunca tive curiosidade de espreitar a tal bolacha, mas as “bolinhas” eram, como não podia deixar de ser, as “de Berlim”, com ou sem creme e aquela areia de açúcar por cima a que, se não tivermos cuidado, se junta a verdadeira. “Não engorda! Só alarga!”, proclamava sempre o João, no anúncio ao produto.

Coloquei o verbo no pretérito porque, este ano, o homem decidiu poupar-se na voz e surgiu munido de uma corneta de bicicleta. Assim, em lugar de andar no conveniente “slalom” entre os guarda-sóis, o João faz agora soar a corneta e logo ranchos de gente, em especial pequenada, acorrem ao local onde ele estaciona as caixas de madeira, à cata das bolas. 

Para quem se habituou a ser servido no cómodo das cadeiras de lona (como é o caso deste escriba) e não está em regra disposto a ir fazer fila para as molhadas, a probabilidade de ter acesso às “bolinhas” ficou agora muito reduzida. Isso poupou-me, aliás, um ror de massas e, quero crer, alguma coisa na glicose que a CUF me medirá no outono.

Há dias, saído do mar (o meu comodismo estival tem alguns limites e um banho de quando em vez faz juz à ida à praia), olhei para cima e vi imensa gente junta, no sopé da escada que desce as dunas. Perguntei o que era e alguém quase que me esclareceu: “Ou é o Marcelo nas selfies ou é o João das bolas!”. 

Não era o Marcelo, como constatei quando cheguei mais perto. Quando a pequenada desandou, pedi: “P’ra mim uma com creme, senhor João”. Ainda ajoelhado nos arranjos do material, olhou-me debaixo daquele boné vermelho com pala ao contrário, com um quase sorriso (quem é que consegue sorrir direito, depois de fazer quilómetros com duas caixas de madeira nos braços?) e disse: “Com ou sem, acabaram. Só amanhã”. Bolas!

quarta-feira, agosto 15, 2018

Sete cidades


Ialta – Recordarei para sempre a marginal dessa antiga praia aristocrática do mar Negro, de onde a “nomenklatura” soviética há muito já tinha desertado, nesse ano tão longínquo na história, de 1980. O simbolismo diplomático levou-me a visitar Ialta, atrás da memória da moderna Tordesilhas. Nem a beleza do palácio Livadia, em cujo jardim figurei Stalin, Roosevelt e Churchill, atenuou a tristeza que ressoava das lojas cheias de nada interessante e de gente resignada ao cinzento da vida. Nunca regressei.

Alcântara – Em 2006, esta cidade do silêncio agarrou-me pelo inesperado da monumentalidade das suas casas fantasmas, onde somos obrigados a imaginar uma anterior vida de fausto que não rima em nada com a atualidade. Não deixa de haver uma inescapável ironia na circunstância desta urbe de outros tempos, feita de sombras e ausente de gentes, ser hoje a vizinha mais próxima do avançado centro de atividades espaciais brasileiras. Do outro lado da baía de S. Marcos, fica a sensação que S. Luís do Maranhão, entretida no culto dos seus azulejos, nem parece notar esta sua pérola colonial.

S. Tomé – Foi a minha primeira ida a África, em 1976. A cidade tinha o ritmo, ao mesmo tempo apaziguante e abafante, de uma vilória portuguesa, na qual alguém havia plantado alguns edifícios de soberania, de gosto mais do que discutível. A marginal, que deve ter sido bonita, perdera muita da graça no seu descuido. Era a capital de um país novo, a nascer numa cidade que já estava velha. As pessoas que cruzava nas ruas pareciam estar à espera de alguma coisa indefinida. Regressei algumas vezes, com alguma angústia, a esse país de gente simples e simpática, suspenso no tempo, nosso amigo.

Trieste – Conhecia-a pela filatelia, com o seu particular estatuto internacional, no pós 2ª guerra, que aguçou a minha curiosidade adolescente. Li-a mais tarde como ninho de espiões, de encontro dos mundos da sombra. Em 2004, em alguns dias, pude constatar a ambiguidade de uma urbe italiana pelo nome, austríaca pelo caráter e jugoslava (não eslovena) pela natureza. Percebi então melhor por que Ian Morris escreveu “Trieste or the meaning of nowhere”. Não creio que dois visitantes possam dela trazer a mesma ideia.

Panjim – Em 2007, fui a Goa para tentar perceber o Portugal que por aí passara e o que dele ficara. Saí de lá mais confuso do que quando cheguei. Passar nas Fontaínhas, ou em ruas com nomes que nos são comuns, não obsta a que estejamos num mundo que é bem diferente de nós, porque provavelmente sempre o foi. Como português, senti que o passado que ainda por ali anda em algumas esquinas é já só um pretexto para reforçar a singularidade local. O que, contudo, nos deve deixar orgulhosos, mais de cinco séculos idos. 

Serajevo – A capital da Bósnia-Herzegovina nunca deixou de ser o lugar geométrico mais simbólico das tragédias da Europa. Desde que lá fui, pela primeira vez, em 1996, sempre senti o peso insuportável dos seus imensos cemitérios, uma vida quotidiana recolhida sobre si própria, como que temerosa dos olhos espalhados pela orografia envolvente. Nos seus habitantes, há como que uma espera permanente do dia seguinte, a que o visitante atento não consegue escapar. Para a Europa, Serajevo é a anti-Bruxelas.

Singapura – Pode a perfeição ser um defeito? Há qualquer coisa de totalitário numa cidade que exclui, porque os afasta com vigor, a pobreza e o menor desvio do padrão comportamental definido como ideal. Nas ruas floridas e nas lojas opulentas daquela ilha artificial, onde o sucesso é a lei de vida, há um mimetismo idealizado do ocidente, incrustado numa Ásia de que sobrevivem apenas os clichés desejáveis. Bandeira chamaria Pasárgada a Singapura? 


(Neste tempo em que alguns viajam mais, apeteceu-me recordar uma nota que a revista "Intelligent Life", em 2011, me pediu sobre “sete cidades”)

terça-feira, agosto 14, 2018

Cruzamentos

Cruzei-me há minutos com um colega que já não via há muito. Ele era, nesse outro tempo, um rapaz muito tímido, metido em si, que sempre queria passar desapercebido, com tanto medo de dar opiniões que parecia que pensava duas vezes antes de nos dizer bom-dia.

Agora está mais solto: “Tenho visto que continuas com a mania dos restaurantes”, disse-me. ”Só não percebo como é que tu, andando sempre nessa vida, não engordas...”. Quando me preparava para lhe dizer que ele tinha de recorrer rapidamente a um oftalmologista, completou “...mais!”

Checkámos memórias comuns de terceiros, por uns minutos - “quem morreu foi o...”, ”quem encontrei há tempos foi o...” - e despedimo-nos com a promessa de estarmos naquele imenso almoço que, desde há anos, cada um de nós vem a programar com uma legião de amigos e de conhecidos, e para o qual nem a área total da FIL chegaria. 

“Ah! Mas não pode ser num desses restaurantes estrelados do Michelin, de que tu gostas! É que eu, para estrelados, é só ovos!“ E deu uma gargalhada que assustou duas tisnadas balzaquianas, a darem-se ares de finas lá na esplanada do Pereira.

Soltou-se, com os anos, aquele colega! Ainda bem! É que tenho vindo a encontrar velhos conhecidos que, com o passar do tempo, se tornam “sérios”, com vagares no gesto e pausas nas falas, talvez para ganharem “gravitas”, sabe-se lá bem para quê.

“Restaurante do Rio”


Em Cuba, desde há bastantes anos, a rigidez do regime havia-se flexibilizado ao ponto de permitir que certas casas particulares fossem transformadas em restaurantes privados. Têm o nome comum de “paladares”. A sua qualidade varia muito e não deixa de ser curioso, embora um pouco chocante, ver surgir, num andar de Havana “vieja” ou numa moradia de um bairro residencial da “nomenklatura”, locais onde, a preços elevados, se proporciona uma oferta gastronómica de muito razoável qualidade, perante a penúria proletária da vizinhança.

Ver aparecer uma iniciativa idêntica na península de Tróia foi, para mim, uma agradável surpresa. Há meses, uns amigos comuns, em tom de grande secretismo, vieram falar-me de um tal “Restaurante do Rio”, em Soltróia. Nunca tinha ouvido referências a essa casa, nessa zona estival que é um quase deserto em matéria de restauração, o que, pelo menos no meu caso, me obriga regularmente a deslocar-me a Setúbal, pela Ponte Bocage, que une a cidade do Sado a Tróia, e que agora foi finalmente inaugurada, o que permitiu ontem a muita gente vir para a praia Atlântica ver a “chuva de estrelas”.

Arlinda Reigoso, uma senhora que em Darque, nos arredores de Viana do Castelo, é proprietária da já afamada “Tasquinha da Arlinda”, decidiu, desde há uns tempos, reproduzir a sua interessante experiência minhota, criando em Tróia um espaço, dotado de uma requintada mesa comum, onde, sob a mão criativa da Vivianne, a cozinheira oriunda das Maurícias e que vive com um sargaceiro da Amorosa, nos é proporcionada uma gastronomia de fusão, onde os travos minhotos se aliam a sabores do Índico. 

O “estufado de dodó salpicado a sal marinho, que acompanha com línguas de bacalhau do sul da Islândia” ou “arroz de sarrabulho com caril e coentros, à moda do Barco do Porto” ou, nas sobremesas, o disputado “pudim abade de Darque, com molho de bebinca e redução de ameijoas”, são três “must” que, só por si, justificam a notoriedade da casa. 

A Arlinda já se tornara famosa pela circunstância de, em alguns momentos excecionais, conseguir levitar (embora apenas uns escassos centímetros e em condições especiais de pressão e temperatura), técnica aprendida com um budista de Serreleis, com quem teve um caso sério em tempos.

Imagino que alguns leitores possam, contudo, não apreciar duas limitações que marcam este novo espaço singular de restauração da Arlinda. 

A primeira é que ali só se bebe branco, o que alguns, talvez maldosos, levam à conta do facto do Arnaldo, o atual companheiro da Arlinda, ter vivido, por algum tempo, num bantustão sul-africano, no tempo do “apartheid”. Há semanas, um casal de Armamar pediu um tinto e ouviu-se o berro do Arnaldo: “Aqui só entra branco!” Depois, ainda mais esquisito, acrescentou: “E nada de verde, só maduro! Nem essa mariquice dos rosés!”

A segunda é, com toda a certeza, um forte “senão” para quem vive convencido por essas coisas modernaças do ambiente: é que, à roda da mesa, fumando o seu cachimbo como uma chaminé, passeia-se incessantemente o Arnaldo, impante na sua barriga e com uma alvura de pele que o mostra um eterno refratário à praia logo ali ao lado. Embora o Arnaldo cantarole por ali o “Cara al sol!”

Ah! E o Arnaldo é do Futebol Clube do Porto, provocando com dichotes ácidos os clientes de outras estimáveis agremiações. Ele diz que vermelhos nem passam da soleira da porta! Diz-se que gente do Leixões e do Salgueiros, nem vê-los! 

É, de facto, um ambiente pouco comum, o do “Restaurante do Rio”. Mas interessante. Mais estranha talvez é a fórmula encontrada pelo casal para aceitar reservas. Trata-se de um “site”, assente num “call center” situado no Cais Novo, lá por Darque, onde vive um primo do Arnaldo, o Lalau, que faz uma “perninha” a ajudar no 112, quando tem horas vagas, através do qual se fazem as inscrições. Eu, que já marquei em julho, só consegui vaga para o jantar de hoje. 

No fim das férias, prometo que lhes vou deixar aqui uma dica que vai facilitar muito as oportunidades para lá poderem ir, embora só na “saison” de 2019. Sobre o preço da refeição não me pronuncio, porque sempre aprendi que não é de boa educação, em sociedade, falar-se de dinheiro, de saúde, de religião, de política e de quem não está presente na conversa.

segunda-feira, agosto 13, 2018

Elogio da vilegiatura

Estou prestes a encerrar o capítulo arenoso, aquático e fotovoltaico das minhas férias. Correu tal e qual o tinha pensado, tirando o inferno do calor da semana passada, que não estava no programa. Há quem goste de ter férias excitantes. Que lhes faça bom proveito! Eu excito-me imenso com uma bem gerida rotina de descanso absoluto, tentando não ser confrontado com a menor surpresa (embora ninguém esteja livre de um telefonema no-la poder trazer, e bem desagradável), com a jubilosa antecipação de não ter horas para cumprir quaisquer outras agendas que não sejam as da (minha própria e bem estudada) desorganização, vivendo com serenidade (e sem dramas) a frustração de não ter conseguido ler sequer um terço do que trouxe comigo, acarretando os quilos a mais que já sabia que iria ganhar (medidos "a olho", porque felizmente não tenho balança). O meu "mês Timberland" segue assim, com precisão, o "template" que lhe imprimi nos últimos anos. Prometo (mas só a mim próprio, para poder incumprir sem ter de me desculpar, se tal me der na real gana) que vou pensar se, para o ano, continuarei a (não) fazer o mesmo, isto é, tendencialmente e com o comprovado êxito, a conseguir levar a cabo, de forma esforçada, o desiderato de não mexer uma palha. Fala-vos um "expert": é que requer imenso trabalho, e diuturnidades de aturada prática de sofá, conseguir gerir, de forma sustentada, a preguiça a que conquistámos um inalienável direito, com o suor da completa ausência do menor exercício físico.

Madonna

A presença de Madonna em Portugal é uma benção mediática para o país. Por isso, faço votos que estacione onde quiser e apoio a facilidades municipais para tal. Ela é bem vinda como o são todas as figuras internacionais que aqui queiram viver e com isso ajudem a mostrar, lá fora, a excelência desta terra. Mas posso confessar um segredo? Nunca achei a menor graça à senhora. (Mas não lhe digam, porque eu gosto de ter as melhores relações com os vizinhos).

Elogio da humildade

Cada vez mais gosto de gente que assume os seus erros, que confessa que se enganou, que o que previu não se realizou, que fez o seu melhor mas que esse melhor acabou por não ser o ótimo. Mas não me sinto muito acompanhado neste sentimento.

Elogio da diferença

Às vezes, sinto vontade de ver dirigentes políticos de acordo entre si, subordinados a uma espécie de lógica de racionalidade e bom senso. Mas logo me dou conta que isso não tem o menor sentido, porque é o dissenso, desde que não artificial, que gera as alternativas democráticas

domingo, agosto 12, 2018

Nine


É este verão que vou a Nine! 

A estação ferroviária de Nine faz parte do meu imaginário de infância, quando, em férias “grandes” ou do Natal, ia com a família de comboio, de Vila Real a Viana do Castelo. Passadas as várias horas necessárias nas linhas do Corgo e do Douro, a última etapa da viagem fazia-se entre o Porto e Viana do Castelo. E por lá, a certo ponto, estava Nine!

Nine é um entroncamento. Dali parte um ramal para Braga. Se bem me lembro, na estação, as carruagens do comboio que ia por essa rota, para mim sempre misteriosa, faziam uma ligeira inclinação, ainda na estação. Creio ter usado esse ramal uma única vez, numa ida de Viana a Braga.

Era eu então muito miúdo e o meu pai ensinou-me que “nine” era “nove” em inglês (deve ter sido a primeira palavra inglesa que aprendi). Anos mais tarde, revelou-me que havia o mito (ele sabia que era um mito!) de que a localidade se chamava assim porque os ingleses, responsáveis pela construção da via férrea, haviam designado dessa forma aquela que era então a nona estação a contar do Porto. Ainda outro mito, a que o meu pai nunca aludiu e que só vim a conhecer mais tarde, dava como certo de que esse “nine” era o número de mihas que dali distava Braga...

Afinal eram tudo “escovas”, como na minha família lá por Viana ainda hoje se designam as mentiras populares (não é assim, Filomena e Carlos?) É que documentos antigos, as “inquirições”, datadas de 1220, já falam de “Santa Maria de Nini”, nesse local, o que desmonta todas essas teorias de conveniência.

Por estas e por outras, daqui a dias, vou passar por Nine!

(E lá fui, como se pode ver pela imagem junta! Como se nota, sobrevive, face à imagem anterior, o edifício ao fundo, com três arcos)

sábado, agosto 11, 2018

Chegou o circo!



Já chegou! Mais um ano de irracionalidade, de insultos, de conflitualidade artificial, de “A Bola”, de “foi-não-foi-penalti”, do “Record”, de “estava-não-estava-fora-de-jogo”, de “O Jogo”, de árbitros insultados, de mentiras, de subornos, de advogados comentadores, de luvas e comissões, de claques ajavardadas, de “misters” reverenciados, de “cultura de balneário”, de televisões incendiárias, de conferências de “imprensa”, de dirigentes sempre com ar grave e linguagem primária, de “jornalistas” a fingirem de jornalistas, propalando a sua “verdade” colorida pelo viés clubista. Já aí está montado o grande circo do ano, onde os pais ensinam aos filhos que uma falta de um jogador da sua equipa ”não é bem” uma falta, que o adversário é o inimigo a odiar e combater. Aí está ele, o país sectário que finge que gosta de um desporto chamado futebol quando, no fundo, apenas pretende alimentar o culto acéfalo de uma religião criada em torno de um emblema qualquer, tal como pode ter uma obsessão em favor de um partido ou de uma igreja. E há muito quem leve isso a sério, como se essa adesão a uma cor fosse a coisa mais importante do mundo! E da vida! (E, coitados!, para eles, se calhar, é.) Eu, cá por mim, tendo também afetividade por um clube, gostando de o ver ter sucesso, mas estando muito longe de cultivar essa estima de forma doentia, gosto é de ver futebol. E muito!

Elogio do silêncio?

O descendente da família que ocupou hereditariamente a chefia do Estado português até 1910, personalidade estimável a quem o regime republicano até se dá ao luxo de conceder a amabilidade de um destaque honorífico na coreografia do seu protocolo, habituou-nos a vir a público, episodicamente mas sem regularidade, dizer de sua justiça sobre alguns temas da atualidade. Esse é um direito que democraticamente lhe assiste e que nos cumpre defender e respeitar - tal como a qualquer outro cidadão desta República democrática.

Como não faço parte de quantos - entre os quais conto alguns bons amigos - aguardam um ensejo, numa nova curva da História, para promover a restauração do regime derrubado vai para 108 anos, apenas alguma curiosidade faz com que, desde sempre, esteja razoavelmente atento ao conteúdo desses afloramentos discursivos. Dentre eles recordo coisas sensatas que lhe podem ser creditadas ao tempo da luta pela autodeterminação dos timorenses e, num polo algo contrastante, a sua criativa proposta para que se desistisse da realização da Expo98, a semanas da respetiva abertura. 

No cômputo global, o saldo desses pronunciamentos não parece, até ao momento, ter impressionado excessivamente o país - e daí a estranha ausência, quiçá injusta, de uma recolha escrita das suas ideias e propostas. Diria mesma, na minha perspetiva de republicano, que o que o herdeiro em causa tem vindo a dizer quase sempre me conforta, por não ter condições para ferir, nem ao de leve, a estabilidade do ”statu quo” que favoreço.

Uma coisa é clara: sinto os seguidores da crença monárquica quase sempre bem mais inquietos com o efeito público daquilo que surge dito pelo herdeiro da família Bragança do que ansiosos por acolherem o favor da sua palavra orientadora, como guia e estímulo para servir de alimento doutrinário à sua causa. Deixo o mistério da explicação deste facto para quem faz parte desse ramo de fé institucional a que o destino me poupou.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Desprezo

Sinto um imenso desprezo - é essa a palavra - pela alarvidade de alguma comunicação social que contesta o uso da força democrática para salvar algumas pessoas das consequências potencialmente trágicas da sua teimosia e do seu desespero no quadro dos incêndios.

Loureiro dos Santos


Um dia, nos tempos em coincidimos numa aventura de aconselhamento universitário, em conversa com o meu saudoso chefe da “tropa”, o general Gabriel do Espírito Santo, vieram à baila nomes dos tempos do “verão quente” de 1975. Embora tivessem decorrido algumas décadas, o impacto desses dias comuns mantinha em nós fortes impressões sobre algumas figuras, embora nem sempre coincidentes. Ele conhecia-as mais de perto, eu tinha criado uma visão mais ligeira, feita nos corredores e nos episódios vividos no seio do MFA, por onde tinha “passarinhado” como civil fardado. 

Recordo-me de lhe ter então dito que tinha pena de não ter conhecido bem o general Loureiro dos Santos, de quem tinha uma excelente opinião, em especial depois de ter lido algumas reflexões teóricas que ele vinha a fazer sobre estratégia e política de defesa. Os olhos do “meu general” arregalaram-se: “O Loureiro dos Santos?! Ó homem! Esse é o melhor de todos nós!”

Luisa Meireles, uma jornalista cujo rigor, infelizmente, começa a ser muito raro na nossa imprensa, acaba de publicar uma excelente biografia de Loureiro dos Santos. Li-a de um trago. E através dela pude “recortar”(utilizando uma expressão do léxico das “informações”, que aprendi com Espírito Santo) a figura de Loureiro dos Santos, percebendo assim, não apenas as razões de algum do seu comportamento naqueles tempos revolucionários mas, principalmente, esclarecendo as motivações do seu posterior envolvimento governativo e em funções de chefia militar.

Loureiro dos Santos nunca foi verdadeiramente um político, mesmo quando exerceu funções dessa natureza. Percebe-se bem por este livro que foi sempre um militar, fiel às determinantes de uma condição que, para ele, foi muito menos uma profissão e muito mais uma vocação, um empenho quase obsessivo numa certa forma de ser servidor público. Pelo que a biografia de Luisa Meireles agora nos traz, confirmando o que dele já se conhecia, pode mesmo imaginar-se alguma angústia que o terá atravessado, nesses dias de abril, obrigado ao dever cívico da revolta contra o respeito hierárquico em que fora educado. Este livro ajuda-nos a entender bem que o 25 de abril não foi apenas, contrariamente à perceção comum, uma Revolução “de esquerda”. Foi também, para gente conservadora e patriótica como Loureiro dos Santos, uma revolta essencialmente ética e democrática. Sem gente como ele e como Ramalho Eanes, no seio do MFA, pergunto-me hoje se poderíamos ter escapado então a uma guerra civil.

quinta-feira, agosto 09, 2018

Boa cama? Boa mesa?

Olha-se para as duas “news magazines” que saem à quinta-feira e nota-se claramente que se “policiam” uma à outra, em matéria de temas. Como ambas já perceberam quem as compra, a sociologia empírica de quem as organiza segue uma lógica compatível com os potenciais interesses de consumo desses extratos sócio-económicos. 

Tudo normal e, sejamos justos, o resultado é jornalisticamente bastante apreciável, se comparado com produtos similares estrangeiros - embora apenas se dermos por adquirido que a deriva para temáticas mais “light” é uma coisa inevitável nos tempos que correm.

Com Sócrates fora da prisão a ficar fora de moda (e que belo filão que ele foi, por alguns anos!), deu imenso jeito que o processo tivesse derivado para os Espírito Santo - porque isso misturava, no imaginário do leitor, negociatas, crimes, inveja, glamour social e, claro, Comporta. E quem diz Comporta diz Alentejo, diz praias, restaurantes e “dicas” para “escapadinhas” (termo que ganhou dignidade familiar, depois de décadas em que significou apenas infidelidade hábil ao serralho), agora que o Algarve já está um tanto “démodé” e as coisas com um toque de rústico têm outro charme (o tal “brincar aos pobrezinhos”, frase de uma senhora que, sem o saber, passou a clássico).

Esta semana, imagino o que deva ter sido o sufoco pelas redações da “Sábado” e da “Visão” - e não só devido ao calor. Os tremendistas devem ter puxado por lá pelo destaque de capa ao fogo em Monchique, mas nota-se, claramente, que, em ambas as revistas, ele perderam a luta interna em favor da agenda da rapaziada do “bem-estar”. No fundo, foi a vitória do “mon chic” sobre Monchique! É que o “numerozinho” de Verão alentejano que estava há muito preparado para sair, nesta semana sempre gloriosa de agosto, ou “entrava” agora ou já não ia a tempo. E lá se ia a enxurrada de casas de dormidas e de restaurantes que agora fazem parte obrigatória destes “Time Out” rural, em que os semanários se converteram.

Mas é ou não verdade que essa informação “dá jeito” para quem viaja ou anda de férias? Claro que sim, e eu próprio não a dispenso, embora reconheça que, neste domínio, são-nos dados mais endereços do que verdadeira informação. É que as casas divulgadas são sempre “confortáveis”, ”serenas”, com uma piscina “para refrescar o fim das tardes” e os imensos restaurantes aparecem regularmente edulcorados pela positiva - nos pratos, na variedade ou no serviço. 

Ora o que eu, como regular leitor (e sou dos que compram ambas as revistas, sem falhas, desde os seus “número um”), gostaria de poder obter era uma apreciação relativa, notas sobre não só sobre o que se destaca, mas também sobre as deficiências e limitações de cada local, de dormida ou comida, enfim, algo que me ajude a escolher. Mas como, afinal, ali “tudo é bom”, quase sem falhas, estas revistas acabam por se parecer como o volume que o “Expresso” edita todos os anos, o “Boa Cama, Boa Mesa”, onde se misturam alhos com bugalhos, coisas excelente com locais sofríveis, num reino de adjetivação gongórica que não serve minimamente o utente, exceto para obter o número de telefone e para lembrar um nome qualquer num lugarejo.

Mesmo assim, boas férias! Ah! E querem saber?, comi ontem muito bem no “Museu do Arroz”, na Comporta! Descansem que, um destes dias, digo por onde, nesta geografia, se come menos bem, onde o serviço é medíocre, o ambiente menos agradável.

Nota

Alguns comentadores deste blogue, por coincidência sempre aqueles que vivem refugiados num confortável anonimato ou em pseudónimos, procuram...