Foi Nelson Rodrigues, esse genial cronista brasileiro, quem crismou o termo "a pátria em chuteiras", para sublinhar a comunhão de um povo atrás da sua seleção de futebol. Foi assim ontem, nesta qualificação "à portuguesa", tudo muito à última da hora, como é de regra, com o "salvador" do costume. Um alívio! E sempre um orgulho!
Por algum tempo, os desempregados tiveram horas felizes, os reformados esqueceram os cortes cumulativos que aí vêm, os despedidos da "mobilidade" fizeram de conta que não vai ser nada, as novas rendas de casa só são para pagar daqui a dias, os jovens quadros no estrangeiro internacionalizaram o seu patriotismo, a classe média nem notou os novos impostos e a subida da gasolina para o "Toyota". É como "a banda" a passar na canção de Chico Buarque.
Longe de mim desprezar o que ontem se passou. Sem estas alegrias, toda a gente (eu incluído) estaria mais triste e deprimida. Por algumas horas ou dias, as amarguras atenuam-se. E isso é sempre bom. O futebol vale o que vale, mas vale bastante no nosso equilíbrio anímico, como também no universo do imenso mundo que fala português - e isso será sempre um elemento a ter em conta na nossa política externa. Por isso, esta nossa "pátria em chuteiras", não tendo um PIB por aí além, estando esmagada pela dívida e angustiada pela dúvida quanto ao seu futuro, tem agora este "superávite" de remates a apresentar ao mundo. Não é tudo? Graças a um génio madeirense que se chama Cristiano Ronaldo, hoje estamos felizes. E o resto é conversa, para amanhã.
Nesta hora, aqui dos Açores, não quero deixar de prestar homenagem, e mandar um abraço amigo, a alguém que bem gostaria que pudesse acompanhar Ronaldo, lá na frente, no ataque que precisamos de reforçar: Pedro Pauleta.