terça-feira, fevereiro 03, 2015

Grécia

É uma evidência que a União Europeia e a zona euro estão hoje, no tocante aos seus mecanismos de regulação, muito melhor equipadas do que estavam nos tempos conturbados da crise financeira. Os diversos instrumentos de ajuda postos em funcionamento, associados aos passos que já foi possível dar na União Bancária, foram importantes para uma certa acalmia que regressou aos mercados. E, pense-se o que se pensar do Tratado Orçamental, é óbvio que ele teve um papel não despiciendo no ambiente que hoje se vive, porque reforçou a confiança num Pacto de Estabilidade e Crescimento que parecia ferido de morte. Dito isto, falta dizer o essencial: sem a política indutora de estabilidade posta em prática por Mário Draghi no Banco Central Europeu, as coisas não estariam tão sólidas como hoje parecem estar. Esses gestos começaram por uma determinação política e prolongam-se hoje no quantitative easing que era impensável para alguns há não muito tempo.
 
A Europa acorda sempre tarde para as crises e só na iminência dos desastres reage, o que lhe dá um eterno ar de andar a correr atrás dos acontecimentos, tendo depois de pagar um preço muito superior ao que lhe teria custado uma intervenção atempada. Mas há uma razão simples para esse procedimento, por muito que ele pareça irracional. Os dirigentes dos Estados membros da UE e da zona euro não têm mandato político para colocarem no terreno medidas que não sejam pressentidas pelos seus parlamentos e eleitorados como essenciais à defesa dos seus interesses e à sobrevivência do projeto comum. Só perante ameaças “existenciais”, a Europa pode ser conduzida a reagir. A “saúde pública” do projeto europeu não contempla, em regra, o estabelecimento de medidas de “profilaxia” que possam prevenir “doenças” ainda não disseminadas. Esta política de “casa roubada…” tem um forte custo, mas é a única que se tem mostrado compatível com o processo democrático.
 
Na história recente da União, as coisas têm sido sempre assim. Por isso, não devemos estranhar que, por Bruxelas, a verdade seja por vezes aquela que um dirigente desportivo por cá lapidou um dia: “o que é verdade hoje pode não o ser amanhã”. É evidente que o sismo que a Grécia provocou na Europa tem uma natureza diferente de tudo aquilo a que as suas instituições estão habituadas a reagir. A Grécia deu ares de estar a funcionar “fora da caixa”, porque colocou questões numa matriz diversa da que está nos “manuais”.
 
Mas a Europa tem uma sabedoria maior do que vulgarmente se pensa. Nas horas que correm, interroga-se sobre o limiar de intransigência da Grécia, tentando perceber como lhe será possível negociar algo que seja um face saving para ambas as partes. Se Atenas der algum espaço de manobra, a Europa encontrará uma solução. Foi sempre assim, recordem-se.

(Artigo que hoje publico no "Diário Económico")

8 comentários:

Manuel do Edmundo-Filho disse...

É a sabedoria de dar tempo ao tempo de maturação, que as coisas sempre têm.

pvnam disse...

A firmeza do contribuinte alemão, não cedendo à pressão vinda da imprensa marioneta da superclasse (alta finança - capital global), É FUNDAMENTAL PARA SALVAR A EUROPA!!!
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-> Depois de andar a 'cavar-buracos' um pouco por todo o lado (nas finanças públicas, na banca)... a superclasse (alta finança - capital global) quer pôr o contribuinte a tapar os buracos por si cavados!
-> Ora, de facto, depois de 'cozinhar' o caos..., a superclasse apareceu com um discurso, de certa forma, já esperado!... Um exemplo: a conversa do mega-financeiro George Soros: «é preciso um Ministério das Finanças europeu, com poder para decretar impostos e para emitir dívida».
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-> O discurso anti-austeridade que circula por aí... pressupõe a existência de alguém que vai pagar/suportar o deficit... e já existe um alvo escolhido: o contribuinte alemão!
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-> A superclasse pretende 'cozinhar' as condições que são do seu interesse:
- privatização de bens estratégicos: combustíveis... electricidade... água...
- caos financeiro...
- implosão de identidades autóctones...
- implosão das soberanias...
- forças militares e militarizadas mercenárias...
resumindo: estão a ser criadas as condições para uma Nova Ordem a seguir ao caos - uma Ordem Mercenária: um Neofeudalismo.
{uma nota: anda por aí muito político/(marioneta) cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da superclasse}
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PARA 'CORTAR' COM AS REGRAS DA SUPERCLASSE HÁ QUE:
-1- REDUZIR O PODER DOS POLÍTICOS... leia-se: votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa/endividamento poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte)... isto é... deve existir o DIREITO AO VETO de quem paga!!!
{ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'}
-2- garantir o DIREITO À SOBREVIVÊNCIA DAS IDENTIDADES AUTÓCTONES... ou seja: não existe problema em os 'globalization-lovers' gostarem de o ser; há é que criar condições para que as Identidades Autóctones possam sobreviver... leia-se: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!
{ver blog 'Separatismo-50-50'}
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P.S.1.
O novo Primeiro Ministro grego Tsipras e o seu Ministro das Finanças Varoufakis, contrataram como conselheiros do governo a empresa Lazard.
A empresa Lazard é uma instituição financeira de New York, e fica entre os tubarões mais tubarões da Finança especulativa.
A Lazard em 2013-2014 trabalhou com JP Morgan e Deutsche Bank para "tratar" do governo da Etiópia... pois sim, a Etiópia: aquela onde existe a fome... agora a Etiópia ficou presa numa armadilha especulativa feita de obrigações de uma magnitude suficiente para colocar o País e seus recursos nas mãos de Chicago e Wall Street para os próximos 70 anos.
{http://informacaoincorrecta.blogspot.pt/}
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P.S.2.
Uma das primeiras medidas do novo governo grego foi a (re) contratação das 595 (!?!?!?!?!?!!!) empregadas de limpeza do ministério das finanças.
{http://31daarmada.blogs.sapo.pt/}

Anónimo disse...

Claro que a maior intransigência da Grécia diminui a cada hora que passa, claro que Atenas já está a dar espaço de manobra, claro que a Europa encontrará uma solução. É essa a vitalidade do projecto europeu: renascer a cada vez que o querem enterrar. E renascer com mais integração como resposta ao fantasma da desintegração.

Anónimo disse...

Aumentam os candidatos á chegada "Syriza mood" a Portugal!

"no money no clowns"

Anónimo disse...

O Freitas arranjou um concorrente à altura (de texto)!

Anónimo disse...

O que se passa na Grécia não tem importância nenhuma, se compararmos ao que se passa na Ucrânia.
JPGarcia

Unknown disse...

Não vejo objectividade nos comentários sobre a UE. Será que os comentadores não acham que num processo em construção é mais que provavel que haja avanços, mudanças de rumo e até recuos?
Basta ver as bacoradas que até governantes em exercicio por vezes são apanhados a dizer quando apanham um microfone irresistível a frente, para ser mais que natural um periodo de carencia faça sentido para a consolidação das regras.

Anónimo disse...

"Ninguém deposita mais esperança em Varoufakis, o ministro das finanças, que a esquerda dos unicórnios."

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