terça-feira, fevereiro 24, 2015

Esse mesmo!

Custa-me falar deste assunto, por razões facilmente compreensíveis. Mas sentir-me-ia pior não o fazendo.
 
Nos últimos três anos, este governo foi acusado de não ter uma política europeia. E não teve. Ou melhor, tinha a que lhe ditava o seu tropismo para um mimetismo silencioso e sorridente para com quem distribuía as cartas do jogo. Era cómodo, era barato e sempre ia "dando" uns milhões - pagos com juros de palmo a quem, na Europa rica, vive à tripa forra com a desgraça, e com os juros, dos outros. E ainda ficávamos obsequiosamente gratos, o que deve dar um gozo imenso a quem nos olha hoje com um irónico e sobranceiro sorriso setentrional.
 
Subitamente, o governo "decidiu" ter uma política europeia. Do silêncio fragoroso, emergiram vozes, que surgiram das Finanças, essência da política externa que nos resta. Só que, ao contrário daquilo que foi o sentido do combate europeu de Portugal durante décadas, a nova "coragem" política à mesa do Conselho de Ministros, que no passado nos colocava em saudável confronto com os contribuintes líquidos, na linha de defesa de uma Europa mais solidária, passou a revelar-se face aos deserdados da sorte europeia. Portugal "faz" de Benelux, finge de nórdico, tem tiques de ricaço, p'cebe?. Num duplo sentido, só percetível por alguns, quase poderíamos dizer que é a Cova da Moura a "armar" a Quinta da Marinha.
 
Aprendi na escola primária que colocarmo-nos ao lado dos mais fortes para poder bater nos mais fracos tem um nome muito feito. Esse mesmo!

27 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Perfeitamente, Senhor Embaixador. Muito bem dito. A verdade é que a pequena Grécia, arruinada, sozinha contra 27 países europeus, não foi capaz de dar a " fessée" histórica (et déculottée) à Ângela Merkel, secundada por François Hollande.

A verdade é que a Alemanha, o FMI, o BCE, a UE, Wolfgang Schäuble e Jean Quatremer têm uma grande experiência do crime económico.

E agora, vão esperar que Tsipras , condenado como Socrate a beber o "elixir" mortal até à derradeira gota, vilipendiado pelos seus, se ponha a vender os portos gregos e as ilhas, a privatizar as administrações, a multiplicar os mendigos, a criar a fome, a fazer morrer os velhos e os bebés, a incitar os seniores ao suicídio e os jovens ao exílio. Ao mesmo tempo que a dívida vai aumentar.

Que pena que não sejamos capazes de sair para a rua (como por Charlie) para apoiar o povo grego neste combate que é o nosso!

Estamos na situação na qual vemos um "sacana" atacar um transeunte . Sem abandonar a nossa janela, criticamos este último, o transeunte, que se defende mal.

O "gag" é que um cúmplice está a introduzir-se em casa!

Vemos isso nos comentários do "post" precedente, mesmo aqueles que oriundos da nobreza, reconvertidos na burguesia dos negócios, se felicitam da vitoria do liberalismo, bem representado ao nível do executivo, por uma ministra das finanças "competente" e um governo submisso. Uivam com os lobos, ou antes com as hienas e os chacais, e precipitam-se para acabar o agonizante.

Um dia, pagarão caro a cobardia de se atacarem aos mais fracos.

Anónimo disse...

Excelente! Já me sorri.
P.

Anónimo disse...

Comentando apenas e só o início do post "custa-me dizer" gostaria que esclarecesse, visto que desconheço a doutrina: Um embaixador que passa à reforma e que mantém o título e o prestígio profissional do cargo, pode inverter a regra de quando está no activo não se pronunciar contra o seu governo, não tomar posições partidárias, e não desconsiderar o presidente da República?
João Vieira

Anónimo disse...

Caro Embaixador, é impressão minha ou a Friedmanização do Syriza causou-lhe algum ardor de estômago?

É que só uma forte indisposição justifica a frase "pagos com juros de palmo a quem, na Europa rica, vive à tripa forra com a desgraça, e com os juros, dos outros".

Juros de palmo?! Vive à tripa forra com a desgraça e com os juros dos outros?

Oh boy...

Anónimo disse...

Eu acho que a questão se coloca a um nível mais geral. O da decência. e não só nos assuntos europeus.
JPGarcia

Anónimo disse...

Acho que a estratégia sujacente à actuação do Governo não tem a ver com ficar do lado dos mais fortes, nem "bater" nos mais fracos.
Como em qualquer estratégia negocial, o que está em causa é a procura da melhor defesa dos interesses portugueses, avaliados prospectivamente e em conjugação com o maior nº de elementos passíveis de serem carreados para o processo na altura de decisão. É essa equação que permite a quem decide, dispondo da melhor informação, tomar a melhor decisão.
Quero crer que, também aqui, foi isto que se passou.
O que nós não conhecemos é os dados todas da equação e que nos ajudariam a compreender uma decisão "avant la lettre", mas plena de sentido.
Falamos daqui a uns tempos.

opjj disse...

Alguém que explique com números. Cobram-se 76 biliões de impostos e a despesa é de 90 biliões, faltam 14 biliões. Como pagam pensões, salários, educação, saúde, justiça,defesa, transportes, etc. Pedimos a quem?
Omeletes sem ovos.
A Maria Luís recebeu 78 biliões isentos de juros e por isso o déficite teria de baixar.
Enquanto o chapéu do Estado pagar a 5 milhões tudo vai bem, não se nota, aparece na nossa conta bancária sem esforço.
Cumps.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Vieira: A doutrina é muito clara. Um diplomata é um cidadão como qualquer outro. Nessas condições, pode, sem qualquer limitação, ser membro de um partido político. No exercício das suas funções, enquanto representante de Portugal, representa o Estado, não representa o governo. E, ao representar o Estado perante estrangeiros, não pode, naturalmente, comentar os atos do governo que circunstancialmente titula esse mesmo Estado. Na minha carreira, tive 21 ministros dos Negócios Estrangeiros e desafio quem quer que seja a ter descortinado, da minha parte, a menor deslealdade face aos diversos poderes políticos das últimas quatro décadas. Quaisquer que sejam as nossas opiniões íntimas, são os eleitos do povo que têm legitimidade para definirem as orientações em matéria de política externa. Ao diplomatas, sem prejuízo de poderem dar a sua opinião, cumpre executarem fielmente aquilo que os executivos determinarem. Sempre funcionei assim e nunca tive o menor problema - e, volto a dizê-lo, nunca ninguém, de qualquer área política de governo, me manifestou nunca o menor desagrado pela minha prestação. Bem pelo contrário, como poderá, por exemplo, perguntar a todos, repito todos, os membros do atual governo com quem trabalhei.
Tendo passado à reforma - e não à "jubilação", que cria outros deveres, embora tenha outras vantagens financeiras - recuperei a plena liberdade de afirmação cívica. Sou um funcionário público reformado como qualquer outro. Assim, é-me dado afirmar abertamente o que penso do atual governo do país e faço as críticas que muito bem entendo aos órgão de soberania, quaisquer que eles sejam. Mas, em nenhuma circunstância, "desconsidero" o senhor presidente da República; apenas o critico, como cidadão que sou e que tem esse direito.
Um ponto importante: eu não "mantenho" o título de embaixador, eu "tenho" esse título, que adquiri ao final de 26 anos de carreira, e que significa ter chegado ao topo da mesma, em que aliás me mantive por mais 12 anos. Pode-se ser "embaixador" sem nunca ter chefiado uma embaixada (Franco Nogueira nunca chefiou nenhuma, sabia?). É um caso idêntico a um general ou um professor universitário.
Espero que esta explicação seja suficiente.

Anónimo disse...

Ainda bem que admite que já há uma política europeia.

Correia da Silva disse...


Muito bem Senhor Embaixador

Cordiais e Patrióticos Cumprimentos

Anónimo disse...

Fui engenheiro (curso de seis anos)na activadade privada, reformei-me pela Segurança Social. Na questão dos títulos direi o mesmo:

Um ponto importante: eu não "mantenho" o título de engenheiro eu "tenho" esse título passado por instituição universitária superior e que dentro da profissão fui sempre engeneiro nos diversos lugares que desempenhei.
Se a diferença se faz pelo título, vale tanto um embaixador como um engenheiro, e quanto sei não existe alguma instituição universitária que forneça as necessárias ferramentas básicas e ao exercício dessa actividade.





A carreira é outra coisa.


Pável Rodrigues disse...

"Greece could overlook European laws and allow hundreds of thousands of immigrants to leave the country if European member states do not agree to share the burden of migrant influxes.
“If the Europeans do not understand what we are telling them... let’s give documents to 300,000 migrants who will disperse across Europe".

Depois disto, digam-me francamente: - O que distingue estes Syrisas dos facínoras do Estado Islâmico?

Anónimo disse...

Aprendam: um bilião é um milhão de milhões, não é "mil milhões"!!!

Joaquim de Freitas disse...

Ao anónimo das 17:19 :


Quando escreve : " o que está em causa é a procura da melhor defesa dos interesses portugueses,"

eu direi, que não importa quem pode e deve subscrever a este objectivo. Mas sabendo que a coligação de países que se opõem à Grécia, liderados pela Alemanha, que é a potência que formula e impõe a todos os outros países uma politica de austeridade que provou ser destrutora, não lhe parece que apoiar um pequeno país, que pretende provocar a revisão geral das politicas em vigor, nefastas, sobretudo para os países do Sul seria mais conforme às nossas necessidades?

Porque a teoria que pretende que fora da austeridade não existe outra alternativa, isto é, a teoria Merkel, consiste a dizer que o afrontamento entre a Alemanha e os seus aliados, dos quais Portugal, é inevitável.

Quaisquer que sejam os artifícios da linguagem, sem crescimento não há hipótese de sair do círculo vicioso da divida, se se impõe o sacrifício do investimento na economia para reembolsar as dívidas, em prazos incompatíveis com a capacidade financeira dos países.

Anónimo disse...

Esse mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Joaquim de Freitas disse...

Acrescentaria algumas palavras ao comentário precedente:

A troika assumiu há meses atrás a responsabilidade pela recessão e pelos prejuízos sociais que se se seguiram aos resgates na Europa, após a descoberta do erro por um funcionário do FMI, no que concerne o multiplicador.
O problema não foi só a Grécia, mas também a Irlanda, Portugal, a Espanha e, até, a Itália. Em todos estes casos, a troika colocou todo o fardo do ajustamento sobre os ombros dos países devedores, sem levar em conta que a responsabilidade não é apenas daqueles que contraem empréstimos de forma imprudente, mas também daqueles que os concedem. Esta atitude é compreensível da parte de instituições que representam os credores, como o FMI e o BCE, mas é menos compreensível da parte dos governos nacionais, que deveriam ter defendido os devedores. Será pedir demais pretender-se que estes assumam a sua parte da culpa?

Alguém pensou rectificar ? Tarde demais, porque o mal estava feito e continuamos a pagar.

Anónimo disse...

É estranho o João Vieira perguntar se um funcionário público reformado pode criticar publicamente um governo ou um presidente da republica e até, pasme-se, ter posições partidárias. Julguei que isso era universalmente pacifico. Aliás, peço desculpa, até o entendo perfeitamente, agora que penso melhor. Um embaixador, na visão de muitos, seria uma ave rara, digamos que uma ave canora emplumada, não exatamente um funcionário público. Também eu julgava, quando era pequeno, que os professores não satisfaziam certas necessidades fisiológicas...

Anónimo disse...

Francisco Seixas da Costa tem todo o direito, como bem explicou num seu comentário de resposta, a escrever o que aqui e noutros anteriores Post tem feito.
FSC é Embaixador, foi promovido a essa categoria, tem pois todo o direito em ser chamado por essa designação, como um General, ou um Juiz Conselheiro do STJ.
Como optou pela Aposentação, tem o direito a opinar como bem entende, visto, como sublinha, não ter optado pela Jubilação, como outros colegas, que assim se veem mais limitados nas suas acções, por exemplo, de participação cívica, num Seminário, Colóquio, Congresso, numa entrevista, etc, etc.
O que aqui é dito, neste Post, custa a certas orelhas da Direita, a mesma que deixou este pobre País em estado de choque – económico, financeiro e social.
Algumas das críticas que lhe são dirigidas, que aqui vejo são lamentáveis, mas é a Democracia.
a)Claustros (Ministro Plenipotenciário)

Anónimo disse...

Eu já adivinhava que isto terminava assim depois da escolha do Maçães. Ele decide a linha do governo praticamente sozinho, sem rédea do Ministro

Joaquim de Freitas disse...

Não se pode dizer melhor. Subscrevo inteiramente as palavras de Claustros (Ministro Plenipotenciário)

Joaquim de Freitas disse...

Tenho a impressão que o Senhor Pavel Rodrigues ignora que só no ano passado, a Grécia acolheu mais de 150 000 imigrantes na ilha de Lesbos, provenientes dos países em guerra do Médio Oriente e da África. Precisamente vindos dos países desses "facínoras" islamistas! E que a Grécia não tem os meios de os receber dignamente. Como os Italianos em Lampedusa. Mas isto é um problema da UE. Mas o Senhor Pavel Rodrigues não lê e confunde os "Syrisas" com os Daesh !

Anónimo disse...

Pavel Rodrigues faz uma "confusão" miserável e provocadora.

Anónimo disse...

Não tenho a menor dúvidas que o diplomata FSC cumpriu com brio as suas funções: nunca chegaria a embaixador de topo se o não tivesse feito. E as ditas funções impõem contenção de opiniões pessoais em público- não impedem que estas sejam defendidas dentro do processo de decisão; se tiverem seguimento transformam-se em posições do Estado, se não tiverem obtêm a categoria de "contributos não adoptados". Obtendo ou não vencimento a opinião pessoal não existe, depois deste processo. O título de embaixador é um título profissional. Não é um título honorífico. Duvido que haja legitimidade, depois de terminada a carreira, de emprestar o prestígio de topo de carreira para, com outras regras, furar a descrição diplomática. A meu ver devia apresentar-se ao combate político como o cidadão FSC, defensor assanhado do PS Seguro/Costa Porque existe uma enorme diferença, testemunhada pela evolução deste blogue, na minha opinião de direita- para pior- entre o antes e o depois. Com o "depois" um embaixador seria chamado à ordem.
João Vieira

PS desprezo a pertença superioridade moral da esquerda, por isso afirmo a minha posição de direita

Joaquim de Freitas disse...

Ao Senhor Joao Vieira, com os cumprimentos dum homem de esquerda:

« Le monde de chacun dépend des yeux que l'on a reçus en partage » in. Le Dieu manchot, 1982. Saramago.

Anónimo disse...

Ao sr. Joaquim de Freitas, igualmente com cumprimentos: " Ė melhor nascer rico e nobre do que patife e pobre" ( D. Tomás de Noronha, séc XVIII)

Joaquim de Freitas disse...

Ao Senhor anonimo das 15:19 :


Na minha vida, cruzei muitos ricos que não tinham nada, e também cruzei pobres que eram muito mais ricos. Mas depende de quê.


Com os meus cumprimentos.

Anónimo disse...

Pois eu desprezo a pertença superioridade da Direita (veja-se as boutades destes governantes) e afirmo a minha posição de Esquerda. Quanto à evolução do autor do blogue, FSC, como bem explicou, na medida em que está Aposentado e não Jubilado, tem o direito, hoje, de opinar como o tem feito ultimamente. Antes era um funcionário diplomático em serviço devendo obediencia hierarquica, hoje é um cidadão livre.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o sempre a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma extraor...