quinta-feira, fevereiro 19, 2015

O nosso amigo Jean-Claude


Um dia de 1998, acompanhei António Guterres ao gabinete do primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker. A Comissão europeia tinha acabado de apresentar a sua primeira proposta para as "perspetivas financeiras" para o período 2000-2006, o orçamento plurianual de onde decorrem os fundos comunitários. O resultado, maugrado as diligências que havíamos feito nos meses anteriores junto de diversos setores da Comissão, era dececionante para o nosso país. Agora, tornava-se importante mobilizar os nossos amigos europeus a fim de fazer evoluir a proposta, em moldes que pudessem acomodar os nossos interesses.

Nunca mais me esquecerei das palavras espontâneas que ouvimos de Juncker, logo que António Guterres acabou de lhe expor o nosso problema: "António, podes contar comigo a 100%. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para beneficiar Portugal". E fê-lo, a partir daí, de forma exemplar, passando a defender-nos em todos os contextos possíveis. Não houve Conselho europeu em que Juncker não tivesse estado abertamente ao nosso lado, movimentando-se, além disso, junto de outros parceiros para fazer valer os argumentos portugueses.

Jean-Claude Juncker é um exemplo de um grande europeu, da escola de um Jacques Delors, uma das poucas personalidades que, pela sua inigualável experiência e pela profunda coerência e verticalidade que o carateriza, merece o respeito da grande maioria de quantos se movimentam pelos corredores da União europeia. Mas, do mesmo modo, a sua independência face aos grandes Estados europeus, bem como o modo frontal como a assume, não terão sido estranhos à sua liminar exclusão, quando o seu nome surgiu mencionado para a presidência da Comissão europeia.

Se Portugal tem verdadeiros amigos entre os dirigentes desta Europa, a experiência demonstrou-me que Jean-Claude Juncker é o mais dedicado deles.

(Este é um post "reciclado". Relembro-o hoje, num dia em que a minha admiração por Jean-Claude Juncker aumentou).

13 comentários:

Anónimo disse...

Tarde de mais piaste, mas mais vale tarde do que nunca. O Barroso, o homem dos americanos, dos mercados e dos alemães, não deve ter gostado. E depois assiste-se aquela encenação tristíssima e patética do ministro Marques Guedes, "ofendido"! E Portas a ignorar que achava que o País estava sob um Protectorado, como dizia, ou seja, a viver uma situação indígna, por conseguinte, dando razão a Juncker. E lá vieram as diatribes contra o anterior governo, quando foi este que afundou o País. E ver imagens como Passos Coelho junto de Merkel, conforme foram divulgadas, ela zangada, ele servil e ontem a Luis Albuquerque como cão de trela de SShaulber, é de nos lamentarmos.
Que País este, o nosso! E onde pára a Oposição? Não existe!
Tomaz Dias Alves

Anónimo disse...

Caro Francisco,
Como compreendo o seu comentário! Há uma enorme diferença entre os diferentes políticos europeus dos últimos 30 anos. Juncker é um dos que sempre lutou por uma Europa de princípios, acomodando devidamente os interesses dos Estados-membros. Eis a escola Delors. Outros foram mais "pragmáticos", olhando primordialmente para os "seus" interesses. O resultado está à vista! O preço, esse, está a ser pago por todos nós.
J Honorato Ferreira

Anónimo disse...

O comentário do ministro Marques Guedes às declarações de Juncker é de uma falta de categoria...

Percebe-se a razão de ser do que disse (a política e o salvar a cara), mas, às vezes, é mesmo melhor estar calado.

Anónimo disse...

Este é o mesmo Junker que montou um esquema de roubar milhares de milhões de receita fiscais de países da União Europeia entre os quais Portugal?? Belos amigos que temos!

Anónimo disse...

Pobre Delors... Não merece ser comparado com tal indivíduo.

Justiniano disse...

" Farei tudo o que estiver ao meu alcance para beneficiar Portugal" Esta expressão se não é, manifestamente, infeliz será indigente!! Parece conversa de lota!!
É possível que o patético Juncker a possa subscrever. Mas, que tal empregar o magnanime - persuadir, e enaltecer, das justas propostas de Portugal...

Quanto às palavras de Marques Guedes. Como poderá, superiormente, explicar aqui o caríssimo Francisco Seixas da Costa, são expressão de reserva de dignidade do Estado Português e estranho seria se o não fizesse. Como é evidente, ninguém atenta, incolumemente, contra a dignidade de Portugal. Admitir o contrário será humilhantemente insuportável.

Justiniano disse...

Caro Honorato Ferreira, isto, "Juncker é um dos que sempre lutou por uma Europa de princípios, acomodando devidamente os interesses dos Estados-membros. Eis a escola Delors. Outros foram mais "pragmáticos", olhando primordialmente para os "seus" interesses." depois disto, "Farei tudo o que estiver ao meu alcance para beneficiar Portugal".!?
Realmente, o resultado está à vista!!

Luís Lavoura disse...

Provem de um país que deve muito aos portugueses que nele trabalham, e que o sabe.

Justiniano disse...

Mais uma pequena coisa, permita-me caríssimo FSC, e sem querer abusar da sua paciência. Parece-me, ressalvo e desde já me penitencio por eventual tresleitura da minha parte, pelo que já lhe li, criticar a arquitectura da união monetária. O papel neutral do BCE, os limites cegos aos défices orçamentais e aos mecanismos de dívida das repúblicas. Tudo isto instituído em 1992, num célebre tratado. Esse tal tratado, como bem saberá, foi desenhado por uma comissão pessoal do preclaro Delors com o assentimento Francês e Alemão da altura (o essencial já vira luz nos anos 80)!! O texto que saiu dessa comissão foi exacta e precisamente o que veio, como pacto de adesão, a dar à estampa!!
As regras fundamentais do euro foram aí instituídas!! A tal construção liberal avassaladora estava aí!! Não era semente, era enxerto!! Os sucessivos tratados mantiveram, no tocante ao euro, o fundamental - alterações orgânicas actualizadas e outras substancialmente formais, sem desprimor para a forma que tem sempre alguma substancia.
Com isto, Não compreendo o seu louvor ao preclaro Delors com repúdio pelo seu fundamental legado!! Esquizofrenia!? Nostalgia!? Verdadeiramente, a coisa parece-me relevar da psicanálise!!
Leia-me, caríssimo FSC, como um curioso leitor. Creia-me com o mais absoluto respeito e sem a mínima intenção de o melindrar. Se alguma das "palavras" que aqui deixei em comentários o ofendeu a si ou a algum outro leitor, desde já as minhas sinceras desculpas pois que relevam da falta de arte, quando apenas intento provocar quanto a contradições que me intrigam.

Anónimo disse...

Quem se queixava da oposição que Seguro fazia, deve estar revoltadíssimo com Costa. De oposição, ZERO. Ainda nada fez, mas também nada se vê fazer pela CML. Onde andará ele?

Anónimo disse...

@Tomaz Dias Alves (1º comentário)

Na sua ânsia de criticar ignorou as afirmações do Paulo Portas e desvirtuou de tal maneira que até parece desconhecer que o Vice Primeiro apoiou, desde inicio, a candidatura de Juncker e que com o mesmo partilha, publicamente, algumas das afirmações com as quais parece concordar.

O seu a seu dono:“Vocês ouviram-me muitas vezes dizer que a situação para que em 2011 o Governo socialista atirou Portugal era a situação de um protectorado. Vocês ouviram-me muitas vezes dizer que o co-governo com o sindicato de credores era um vexame para uma Nação com nove séculos de história. Vocês ouviram-me muitas vezes criticar a divergência – ou até uma certa hipocrisia – entre as lideranças políticas, por exemplo, do FMI que diziam uma coisa e as equipas técnicas das entidades que no terreno faziam coisas diferentes”

Supra transcrição das declarações de Paulo Portas de ontem, por sinal convergentes com as de Juncker.

N391111

PS. Há mais vida além da crítica!

Anónimo disse...

"Desculpas" não se apresentam: pedem-se!

José Neto disse...

Alheio aos meandros diplomáticos, sabia muito pouco do atual Presidente da Comissão. Assim, ao contrário do Senhor Embaixador, não tinha a seu respeito qualquer opinião, boa ou má.
Hoje ganhei-lhe respeito; espero não ter, no futuro, razões para ficar desiludido, coisa que me tem acontecido com alguma frequência em relação a políticos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...