Gosto imenso de festas populares. Nos últimos anos, tenho assistido "religiosamente" ao Santo António, em Lisboa, ao São João, no Porto, e à Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. Estou a planear, em anos futuros, estar presente em outras romarias: nunca fui às Gualterianas, em Guimarães, ao São João de Braga ou ao Senhor de Matosinhos. E tenho de voltar aos tabuleiros a Tomar e à festa das flores a Campo Maior. Sinto saudades das Feiras Novas, de Ponte de Lima, da Senhora da Pena, em Mouçós, dos Remédios, em Lamego, dos Santos, em Chaves. Falam-me da romaria na Serra de Arga, da festa da Coca, em Monção e de S. Bartolomeu do Mar, em Esposende.
Gosto do barulho das ruas, da música aos berros, do fumegar das febras, do pessoal "cervejado" a andar aos bordos, dos estrangeiros com os olhos esbugalhados com a nossa alegria, dos feirantes heróicos de terra em terra, dos automóveis elétricos, das rodas só gigantes à nossa medida. Apenas a qualidade do comércio piorou. Desapareceram as magníficas lojas de cutelarias e couros, com aquelas montras vidradas inclinadas, onde se comprava uma imensidão de coisas. Hoje o que se vê (salvo o magnífico artesanato de Viana) são roupas péssimas, "chinesices" e arte africana de décima categoria, para além das carteiras de contrafação para senhoras. Mas ainda fico longos minutos, deliciado, a assistir ao discurso da "banha da cobra" e da venda dos cobertores e panelas, por aqueles cavalheiros num vão de camioneta, com o grosso microfone ao pescoço. E tenho um fascínio pelas mesas "rápidas" de vermelhinha que se montam para os incautos, em lugares esconsos. O ludíbrio é uma arte secular das feiras.
Ontem, com amigos, ensardinhei no Castelo, fui às farturas nas Portas do Sol, emborquei uma ginginha em Alfama. A noite estava um pouco fria, mas o ambiente era explêndido. Para o ano, já prometi a mim mesmo: vou mudar de bairros. Vou andar pela a Bica, Santa Catarina e na animação do Cais do Sodré e Santos. Há muitas Lisboas na noite de Santo António.
Só se vive uma vez. E esta é a última. Vivam as festas!