Há mais de três décadas, fui viver para a Noruega, por alguns anos. Era um dos países mais pacíficos do mundo. Recordo-me de ver o primeiro-ministro percorrer a pé a rua Karl Johan (na imagem), no caminho para a estação de caminho de ferro, que todos os dias o levava e trazia para o trabalho. Muitas vezes, cruzei-me com ministros que se deslocavam de bicicleta. Vivia-se então em Oslo um sentimento de segurança quase plena.
O rei da época, Olav V, costumava deslocar-se de elétrico, como qualquer vulgar cidadão. Um dia, testemunhei uma cena deliciosa. O soberano, já nos seus 80 e tal anos, conduzia placidamente um carro pelas ruas da capital, apenas com uma pessoa a seu lado. A certo passo, parou junto a uma passadeira, para deixar passar uma senhora. A meio da travessia, a senhora reconheceu o rei e fez-lhe uma grande vénia. O rei retribuiu o gesto e, por uns instantes, ambos repetiram as inclinações de cabeça, numa coreografia de mútuo respeito, recheada de sorrisos.
Era assim a vida na Noruega, nesse final dos anos 70, do século passado.
A Noruega é, de há muito, um país dedicado à paz. Talvez não por acaso, o respetivo prémio Nobel, contrariamente a todos os outros, é decidido e atribuído em Oslo. Ao longo de muitos anos, os governos noruegueses, de várias orientações, empenharam-se, em diversas ocasiões e cenários geopolíticos, em operações de paz decididas pelas Nações Unidas, sendo também protagonistas, de há muito, de importantes processos de ajuda ao desenvolvimento. Foi em Oslo, e com os noruegueses, que a causa palestiniana deu passos que só não foram decisivos porque Arafat, como alguns diziam, "nunca perdia uma oportunidade para perder uma oportunidade". A diplomacia norueguesa é conhecida como uma diplomacia de bem.
Ontem, uma bomba explodiu, causando muitas vítimas, junto à sede do governo norueguês. (Mais tarde, veio a saber-se que um outro ato celerado provocou largas dezenas de mortos). Ainda não se sabem bem as causas desta barbaridade. Mas tudo muda, até a pacífica Noruega.
Deixo aqui um abraço solidário a todos os meus amigos noruegueses, cidadãos de um país com o qual Portugal tem, desde sempre, excelentes relações, reforçadas pelo generoso apoio dado pela Noruega ao processo de desenvolvimento português, no pós-25 de abril.
Deixo aqui um abraço solidário a todos os meus amigos noruegueses, cidadãos de um país com o qual Portugal tem, desde sempre, excelentes relações, reforçadas pelo generoso apoio dado pela Noruega ao processo de desenvolvimento português, no pós-25 de abril.