Acabo de saber, pela charla televisiva de Marcelo Rebelo de Sousa, da morte de Rui Brito e Cunha.
Mais de uma década de idade e algo mais em anos de carreira nos separava. Porém, desde que nos conhecemos, beneficiei da parte dele de uma atitude de generosa atenção, que cedo nos trouxe uma boa amizade.
O Rui era um "public relations" excecional, com uma grande elegância e "savoir-faire". Foi um magnífico chefe do Protocolo do Estado, posto que começou por ocupar interinamente no auge do período revolucionário, tempo em que o bom senso e o equilíbrio eram aí mais do que essenciais.
Recordarei para sempre a sua imagem a recolher a bandeira nacional, em S. Tomé e Príncipe, no dia que consagrou a independência daquele país. Lamento que ele não tenha passado a escrito as histórias deliciosas que testemunhou ao longo da sua multifacetada carreira, de Paris a Tóquio, de Belgrado a Islamabad, de Madrid a Argel, de Maputo a Rabat. Recordava esses episódios com graça, mas sempre com a discrição que a deontologia lhe recomendava.
Um dia de 1989, entrou esbaforido pelo meu gabinete das Necessidades. Soubera que o ministro de então tinha a intenção de nomeá-lo para o cargo de Inspetor Diplomático e Consular. A ideia de ter de instaurar processos disciplinares a colegas aterrava-o. Pediu-me se o podia ajudar a evitar ser nomeado para esse cargo - uma importante Direção-geral das Necessidades. Não se importava de assumir na casa uma função hierarquicamente inferior, mas nunca aquele lugar. Com algumas artes, astúcias e cumplicidades, conseguiu-se o que pretendia. Celebrámos mais tarde, num almoço, o êxito dessa "operação".
O Rui Brito e Cunha deixa uma grande saudade nos seus amigos. Daí a pouco, às 13.30 horas, estaremos na igreja da Estrela a despedirmo-nos dele.
3 comentários:
Uma vida dedicada à diplomacia com profissionalismo, humor, simpatia, bom gosto e elegância.
Apaixonado pelo Japão, a esse país dedicou uma tese que defendeu com brilho e entusiasmo num concurso para ascender no MNE. Uma declaração de amor ao país, foi como o júri se referiu à sua tese.
Detestava certo tipo de tarefas, quando foi para Madrid pediu aos colegas do serviço da Cifra que não lhe enviassem comunicações codificadas, tudo menos ter que as decifrar com os dicionários.
Gostando de vestir bem, e estando farto da roupa leve de verão, apareceu num dia 1 de Outubro com um elegante fato grosso de lã inglesa, embora o dia continuasse quente como de verão.
A sua casa, numa ruela dentro do Castelo, com vista para o Tejo, encantava quem a visitava.
Chefe do Protocolo num período difícil, como dito acima, teve a seu cargo as negociações para se indemnizar a Espanha devido à ocupação e destruição da embaixada em Lisboa em 1975.
Um homem do Porto. Pois também soube ontem pelo programa do MRS.
Bela homenagem a este homem que tive a sorte de ter com padrinho. Tal deve-se ao facto de, por um lado, ser o amigo mais antigo de meu pai, e, por outro, de ter nascido (tal como o seu filho, Gonçalo) em Tóquio em 1966.
O Ruy Brito e Cunha era de facto um Homem do Norte, não do Porto - como dizem -, mas de Matosinhos
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Um Senhor
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