Há tempestades anunciadas, pelo que é irresponsável não
tomar, a montante de ventos e chuvas fortes no horizonte, medidas que possam
atenuar os seus efeitos. O que está prestes a ocorrer nas relações económicas luso-angolanas
é uma dessas tempestades. E o Estado português parece ter enterrada a cabeça na
areia.
O país não terá ainda plena consciência das ameaças que hoje pairam sobre o futuro de largas dezenas de milhares de portugueses que trabalham em Angola, com as dificuldades que já sentem nas transferências salariais que suportam outras tantas famílias em Portugal. Quem encheu de PME’s sucessivas caravanas ministeriais, com “números” otimistas nas televisões, tem hoje a obrigação de se revelar eficaz em iniciativas políticas para compensar os efeitos da crise que afeta conjunturalmente a economia angolana.
Foi garantido pelo senhor ministro dos Negócios Estrangeiros que o chefe de Estado angolano declarara ultrapassada a tensão política bilateral. Então por que esperam as nossas autoridades para daí tirar as necessárias consequências? A relação luso-angolana é estratégica? Em que é que isso se pode traduzir, em gestos pró-ativos de boa vontade por parte de Angola ou no tocante a facilidades de crédito a implementar por Lisboa, com vista a apoiar pontualmente os nossos operadores económicos, naquele que é um dos mercados essenciais para as nossas empresas?
Os empresários e os trabalhadores portugueses deram provas, ao longo das últimas décadas, de uma cooperação leal com um país que, se lhes deu oportunidades, beneficiou também da sua competente retribuição, de que a paisagem contemporânea da vida angolana é talvez o melhor testemunho.
Não quero ensinar o pai-nosso ao vigário, mas lembraria que a diplomacia económica não é apenas o passarinhar entre aeroportos e salões dourados, não se esgota na assinatura de protocolos de duvidosa implementação. A ação dos agentes diplomáticos só é eficaz se reforçada pela intervenção dos atores políticos, cuja determinação visível na defesa do interesse nacional é também a condição sine qua non para a sua avaliação.
O senhor presidente da República tem aqui uma particular responsabilidade. Nesta especial relação, o papel dos chefes de Estado tem sido historicamente essencial. O professor Cavaco Silva prestaria um último serviço ao país – e, por consequência, ao seu próprio prestígio – se desse mostras públicas de se empenhar ativamemente na procura de soluções com vista a minorar os graves problemas que, no relacionamento entre Portugal e Angola, estão aí já ao virar da esquina.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
O país não terá ainda plena consciência das ameaças que hoje pairam sobre o futuro de largas dezenas de milhares de portugueses que trabalham em Angola, com as dificuldades que já sentem nas transferências salariais que suportam outras tantas famílias em Portugal. Quem encheu de PME’s sucessivas caravanas ministeriais, com “números” otimistas nas televisões, tem hoje a obrigação de se revelar eficaz em iniciativas políticas para compensar os efeitos da crise que afeta conjunturalmente a economia angolana.
Foi garantido pelo senhor ministro dos Negócios Estrangeiros que o chefe de Estado angolano declarara ultrapassada a tensão política bilateral. Então por que esperam as nossas autoridades para daí tirar as necessárias consequências? A relação luso-angolana é estratégica? Em que é que isso se pode traduzir, em gestos pró-ativos de boa vontade por parte de Angola ou no tocante a facilidades de crédito a implementar por Lisboa, com vista a apoiar pontualmente os nossos operadores económicos, naquele que é um dos mercados essenciais para as nossas empresas?
Os empresários e os trabalhadores portugueses deram provas, ao longo das últimas décadas, de uma cooperação leal com um país que, se lhes deu oportunidades, beneficiou também da sua competente retribuição, de que a paisagem contemporânea da vida angolana é talvez o melhor testemunho.
Não quero ensinar o pai-nosso ao vigário, mas lembraria que a diplomacia económica não é apenas o passarinhar entre aeroportos e salões dourados, não se esgota na assinatura de protocolos de duvidosa implementação. A ação dos agentes diplomáticos só é eficaz se reforçada pela intervenção dos atores políticos, cuja determinação visível na defesa do interesse nacional é também a condição sine qua non para a sua avaliação.
O senhor presidente da República tem aqui uma particular responsabilidade. Nesta especial relação, o papel dos chefes de Estado tem sido historicamente essencial. O professor Cavaco Silva prestaria um último serviço ao país – e, por consequência, ao seu próprio prestígio – se desse mostras públicas de se empenhar ativamemente na procura de soluções com vista a minorar os graves problemas que, no relacionamento entre Portugal e Angola, estão aí já ao virar da esquina.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
8 comentários:
As relações jurídicas mudaram consideravelmente de há uma década para cá com os negócios a suplantarem fronteiras num minuto. Portugal está hiperdependente de Angola embora há pessoas que não tenham percebido isto. O jornal Sol noticiava há uma semana, com profunda ignorância e soberba, um alegado encontro em Nova Iorque entre Sócrates e o Vice-Presidente de Angola como mais um indício de crime. Como português, esse ou outros congéneres, só me posso congratular em tudo o que possa representar retorno de capital para Portugal. Sarkozy sempre favoreceu os negócios, inclusive pessoais, com os países africanos, inclusive com a Líbia de Khadafi, só what? Deveremos deixar aos outros o espaço que Portugal pode e deve ocupar? No dia em que os magistrados perceberem isto daremos um passo para ultrapassar a nossa tacanhez e a nossa mediocridade num país onde toda a gente tem convicções. Ainda antes de elas se formarem.
vamos a ver que fazem espanha, frança, eua, venezuela, enfim, outros países que lá têm grandes interesses económicos e empresariais mesmo que uma menor comunidade de nacionais
há sempre lutas de países a arrebatar espaços aos outros na procura de lucro sem olhar a meios,
não seria de admirar que muitas boas vontades queiram construir paredes em Angola, publicitando serem mais aprumadas do que as que são feitas pelos portugueses
Salvar um regime agonizante (e cujo modelo nos não é particularmente grato) à custa do contribuinte português não parece boa opção, sobretudo para quem não tem dinheiro para mandar cantar um cego e anda lá fora a agachar-se de forma vergonhosa e sem espinha, sem uma sombra de ideias. O caso do aval estatal cancelado que afundou o BES, empresários (do calçado ao tomate) arruinados, um enorme volume de dívida «soberana» a prazos inacreditáveis (fatal exposição a Angola), enfim, tudo coisas que deveriam fazer pensar. Também Mira Amaral quis, há poucos dias, triangular os interesses cruzados BPI - BFA acenando com promessas de crédito a Angola. Não me parece que o contribuinte português (que, em última análise, paga a conta dos bancos que estouram) esteja muito virado para esse género de «solidariedade», sobretudo atendendo aos indignos incidentes ocorridos nas relações bilaterais, ainda bem recentes... Parece um investimento ingrato, com riscos elevados. Financiar Angola, para esta, como vinha fazendo, comprar Portugal? Há uma grande quebra de sentido: de galinha dos ovos de ouro, Angola tornou-se num monstruoso sorvedouro de dinheiro?
Mas, para já, talvez o Estado português pudesse fazer alguma coisa, como reforçar o dispositivo diplomático em Luanda, para apoio ao retorno dos portugueses, «just in case». É que sendo apanhados desprevenidos, esses serviços podem entupir. Julgo que o senhor embaixador, com a sua influência, talvez pudesse orientar discretamente aquela que não passa de uma medida de bom senso, prestando assim um bom serviço ao país. Sem pretender ensinar o padre nosso ao cura, apenas me move a intenção de salvaguardar a dignidade nacional.
Cavaco Silva só pensa nele, como se viu no dia em que abdicou do seu salário. Preferiu o BdP ao Povo. Este que tire as suas ilações. Eu já as tirei há muito.
JPGarcia
Senhor Embaixador : peço desculpa mas o apelo que faz ao PR não sera pedir de mais ao Prof. Cavaco Silva?
Não creio que o PR Cavaco mexa uma palha. A questão não envolve acções que lhe interessem.
Carlos Serra
http://jornalf8.net/2015/trabalhadores-lusos-fogem-de-angola/
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