Há semanas, em Lisboa, no Chiado, em frente à FNAC, entrei num táxi (para responder a um comentador: é verdade que ando muito de táxi, em Portugal) e disse ao motorista: "Leve-me à Cova da Moura, por favor". O homem voltou-se, olhou para mim com um ar de surpresa, e retorquiu: "À Cova da Moura? Desculpe, mas para aí não vou!".
Por um segundo, fiquei suspenso. O equívoco desfez-se quando percebi que o homem tinha entendido que o meu pretendido destino era um subúrbio com o mesmo nome, para lá de Benfica, na periferia de Lisboa, tido como um lugar altamente perigoso. Mas, afinal, eu estava a referir-me ao palácio da Cova da Moura, perto da avenida Infante Santo.
O palácio da Cova da Moura é um belo edifício, prémio Valmor em 1921, construído para moradia, que passou, em data que não posso precisar, a ter serventia pública. Em 1961, era aí que se instalava o Ministério da Defesa Nacional e nele teve então lugar a tentativa de "pronunciamento" titulada pelo general Botelho Moniz, que pretendeu, em abril desse ano, substituir Salazar na chefia do governo. Em 25 de abril de 1974, o espaço acolhia o Secretariado-geral da Defesa Nacional e foi escolhido para sede da Junta de Salvação Nacional. Como militar, nomeado assessor de um dos membros dessa estrutura de liderança formal da Revolução, aí estive por alguns meses, até que a Junta desapareceu, na ressaca do chamado "28 de setembro", nesses tempos "quentes". Mais tarde, julgo que alojou a Direção-geral da Administração Pública, para, nos anos 90, passar a ser a sede da Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus. Aí trabalhei - bem! - por seis anos e meio e por aí ainda tenho muitos e bons amigos - principalmente amigas, porque há muito mais mulheres que homens a tratar das questões europeias, vá-se lá saber porquê.
4 comentários:
É preciso reabilitar o nome de Cova da Moura, o outro!
José Barros
"vá-se lá saber porquê."In FSC
Basicamente porque sim, porque é justo, dotado de méritos inquestionáveis até os que O levam lá, coincide com o fenótipo do edificio, mais rosa mais vocacionado para a comunicação as sacadas por exemplo, por agora deve chegar...
A Cova da Moura até que já não é o que era. Há uma mulher (nesta Cova da Moura) que andou por lá a tentar recuperar um sítio aonde nem a PSP entrava. Chama-se Leonor Coutinho. Foi sempre destemida, empreendedora e visionária. Esteve na origem do passe social. Em Macau na instalação dos semáferos nas ruas e na lavagem automática dos autocarros. Nesta última empreitada a coisa não foi fácil, bem como na lavagem quotidiana dos restaurantes, pois no Novo Ano Chinês é que era altura das grandes limpezas e de deitar fora todos os utensílios usados. Sinal de sorte fazer tudo isso apenas nessa data. Hoje a Cova da Moura também se apresenta de cara lavada e com equipamentos socias para crianças e idosos bem de vanguarda por sinal.
Foi construido se não me engano para um banqueiro, João Ulrich, e o arquitecto foi Raul Lino. Mas eu não sei....
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